quinta-feira, 20 de março de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
Comentários dispensáveis
POR FERNANDA M. POMPERMAIER
Esse blog aceita comentários anônimos.
Infelizmente, meu voto foi vencido, por mim não aceitaríamos.
Mas somos um coletivo democrático, vale a decisão da maioria e nessa, os anônimos passaram.
Para compensar essa tortura, ainda bem, existe moderação.
Não temos nenhuma obrigação de publicar todos os comentários que recebemos.
São publicados os que passam pelo filtro.
E nesse filtro existem alguns princípios básicos que atingem todos os blogueiros, mas também existe uma parcela de julgamento pessoal. Sendo assim, decidimos que cada blogueiro libera os comentários dos seus textos. Nessa questão, como já expressei aos colegas inbox, os considero flexíveis e tolerantes demais. Não tenho a menor paciência/saco/estômago para ler as ofensas ou ignorâncias que comentam nos textos deles, e infelizmente às vezes nos meus.
Difícil compreender o impulso que leva uma pessoa a se expressar com tanta ira quando nos propomos a discutir temas que nos afetam no dia a dia. Usamos para escrever um tempo que retiramos das nossas famílias, do nosso tempo livre, sem nenhum retorno, apenas para conversar, trocar ideias, tentar pensar a cidade, o país ou até o mundo em que vivemos. É uma oportunidade de diálogo, de ver as mesmas coisas sob outros ângulos, de dividir perspectivas. Existe um ser humano desse lado, que merece o mesmo respeito que o leitor.
Não é uma questão de concordar ou discordar. Eu adoro comentários que questionam o ponto de vista, que fazem repensar, que acrescentam informações ou que também dividem experiências de vida. A esses sou extremamente grata, porque compartilham um pedaço de si, me fazem entender que tem gente aberta, receptiva e disposta do outro lado, que também quer conversar. A esses meu caloroso acolhimento. E não se preocupem, pelo menos nos meus textos, poderemos conversar sem comentários ofensivos no meio porque esses não irão passar.
Mas se você é um hater (desocupado que destila ódio pela internet) e tem a intenção de expressar sua raivinha nos textos que eu escrevo, não perca o seu tempo. Não vale gastar as pontinhas dos dedos porque eu deleto sem dó nem piedade. Ou entra para o debate com argumentos e informações de verdade ou vai abrir um blog para você poder escrever o que pensa com a liberdade que deseja.
terça-feira, 18 de março de 2014
O samba do reaça doido
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Você pode não gostar da esquerda. Pode
não gostar do comunismo. Pode não gostar do socialismo. Pode não gostar da
social-democracia. Pode não gostar da própria democracia. Pode não gostar do
grito do Tarzan. Mas só uma pessoa com mingau no lugar de cérebro é capaz de
cair nessa lorota do golpe comunista. É coisa de gente com parafusos a menos.
Mas o pior de tudo nem é essa credulidade
tosca. O verdadeiro delírio é achar que uma ditadura militar pode ser a solução
para alguma coisa, em especial para um problema que nem existe. Só os
esquizofrênicos perseguem inimigos imaginários. E, dizem os
manuais, a esquizofrenia faz ter alucinações, depressões ou discursos
paranóicos.
Há quem se dedique a estudar a
esquizofrenia social. O fenômeno teria origem nas camadas mais abastadas e o poder de espalhar a doideira por todo o tecido social. Antes esse contágio ficava num âmbito restrito,
mas o surgimento das redes sociais facilitou a disseminação do discurso
esquizofrênico. Quem lê os comentários aqui no blog, por exemplo, sabe do
que estou a falar.
Um dos problemas da esquizofrenia
social é que subjaz um instinto de violência e um desejo de autoritarismo. Só
isso pode explicar que ainda haja pessoas capazes de defender uma ditadura. Até
podia gastar o meu latim e tentar analisar por um viés mais filosófico, tipo a
relação “mestre-escravo” de Nietzsche, mas os esquizofrênicos só ouvem o que
querem. Então, vai no popular.
A letra do samba do reaça doido tem uma
métrica manjada. O cara anda deprimido porque não gosta de Dilma, de Lula e nem
do PT. Mas como não consegue apear o partido do poder através do voto, então
apela para a ideia do golpe militar. Se é preciso estropiar o país para tirar
essa gente do governo, então dane-se o país. O preço é acabar com a
democracia? Dane-se a democracia.
A esquizofrenia social também faz delirar. E os
tipos começam a ver comunistas por todos os lados. Aliás, o truque de culpar os
golpistas comunistas (mesmo quando eles não existam) é recorrente. Qualquer
pessoa que tenha passado mais de cinco minutos nos bancos escolares sabe, por
exemplo, que Hitler usou esse artifício para chegar ao poder e para justificar
a guerra. É só para gente insana.
Em resumo. Não é de uma intervenção
militar que o país precisa. O que precisamos é de um divã para tratar esses
esquizofrênicos sociais.
segunda-feira, 17 de março de 2014
E as bicicletas?
POR JORDI CASTAN
Alguém lembra a viagem a Europa que o prefeito Carlito Merss
para conhecer o sistema de aluguel de bicicletas em várias cidades, especialmente em Barcelona? E das bicicletas que o Banco Itaú em parceria com o
Instituto Festival de Dança disponibilizou durante os dias do festival em
Joinville? Continuando com o exercício de memória, alguém se lembra da
licitação que o IPPUJ estava preparando para que Joinville tivesse um serviço
de aluguel de bicicletas? Deve haver forças poderosas a impedir que Joinville
disponha de um serviço de aluguel de bicicletas moderno e funcional.
Olhando de um certa distância, a história das bicicletas em
Joinville lembra a conhecida história do governo administrando o deserto do Saara: se o fizesse, em pouco tempo começaria a faltar areia. Só para lembrar o
exemplo do Festival de Dança, o Banco Itaú implantou o serviço de forma
gratuita e o fez usando a experiência e o conhecimento adquirido que o banco já
tem. É bom frisar que o serviço era gratuito e ainda acrescentar que o banco e
a empresa que operava o serviço manifestaram interesse em manter o serviço em
Joinville de forma gratuita.
Alguém parece ter achado que isso seria fácil demais e
decidiu que seria necessário intervir e organizar melhor as coisas. Propor um
sistema de transporte por bicicletas integrando terminais urbanos e converter a
bicicleta num modal de transporte. Com trajetos definidos, contratando uma
empresa especializada em projetar este tipo de trajetos. Nada mais adequado que
uma licitação e resolvido. O resultado é que os anões começaram a crescer e
alguns já estão com tamanho de jogadores de basquete, a mulher barbuda ficou
careca e o leão do circo ficou banguela. Para complicar as coisas um pouco mais, os palhaços, que são sempre os mesmos, deixaram de fazer rir e dão pena e o mágico já não tem mais coelhos para tirar da cartola.
E as bicicletas? Bom... das bicicletas não se voltou a falar e
já se passaram mais de dois anos e meio desde a viagem à Europa. Em 2012, o
presidente do IPPUJ informou que o edital seria publicado ainda naquele ano e
de momento nem sinal. O curioso é que as mesmas bicicletas que seriam gratuitas se operadas pelo banco que já implantou o serviço de forma experimental, na proposta do IPPUJ terão um custo para o usuário.
O que terão as bicicletas que tanto interesse motivam nos técnicos do IPPUJ? Tento imaginar quantas empresas terão interesse em retirar o edital, se algum dia o IPPUJ chegar a concluí-lo?
sexta-feira, 14 de março de 2014
Ditadura nunca mais, Comissão Municipal da Verdade já!
Dona Lucia Schatzmann Foto cedida por Jéssica Michels |
POR FELIPE SILVEIRA
Na terça-feira (11), o Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (CDH), de Joinville, completou 35 anos. Em comemoração, realizou uma audiência pública sobre a ditadura civil-militar, com participação do coordenador da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV), Naldi Otávio Teixeira. O nome da comissão é uma homenagem ao deputado catarinense cassado pela ditadura e exilado que retornou ao Brasil clandestinamente e é um dos desaparecidos políticos do período.
A noite foi emocionante. O depoimento da dona Lucia Schatzmann, companheira do seu Edgar Schatzmann, um dos ex-presos políticos joinvilenses, mexeu com todos no recinto, que aplaudiram de pé ao final, quando ela contou com orgulho que não se arrepende de nada porque estava ajudando a construir um país e um mundo melhor. Tão emocionante quanto foi a fala da senhora de 69 anos que viveu aquela experiência terrível foi a de Luis Carlos Fagundes Lemos, filho de outro preso político, já falecido. Ele contou como foi terrível para a família passar pela prisão do pai, que, levado a Florianópolis, ficou incomunicável por muitos dias. Luis, no entanto, não contou os horrores da tortura que soube pelo pai. Por causa de uma criança no recinto, achou melhor não revelar as barbaridades.
Os depoimentos foram muito tristes. Os horrores da ditadura foram muito tristes. Conhecê-los é chocante, doloroso e triste.
No entanto, eu saí de lá feliz. Talvez por otimismo, interpretei que houve uma sinalização para a criação de uma Comissão Municipal da Verdade. E isso é muito, mas muito mesmo, importante. A comissão municipal, e poderia ser até mesmo regional, faria um importante resgate dessa história apagada, escamoteada a disfarçada que é a história da ditadura em Joinville.
E não conhecer a história, já que ela é apagada, é o que permite que tenha gente que goste da ideia de ditadura, que tenha saudade daquele tempo e todo esse lixo que vemos por aí. Aliás, sempre vai existir gente assim, por mau caratismo. Hoje, a maior parte é por simples desconhecimento. Por isso não podemos esquecer. Por isso temos que trazer a verdade à tona. E o primeiro passo para isso é criar e fortalecer a comissão municipal.
Tão importante quanto é avançar e criar espaços de resgate da memória. Um exemplo disso é o Memorial da Resistência, em São Paulo, criado na antiga sede de uma das polícias políticas do regime. Lá você pode conhecer as celas que abrigaram presos políticos e um trabalho fantástico de resgate da memória e reflexão sobre as violências dos períodos ditatoriais. Foi uma das experiências mais fortes da minha vida.
A sugestão da criação do espaço foi levantada pela comunidade e ouvida por três vereadores presentes. Acredito que haja uma possibilidade real de concretização da ideia, mas para isso ocorrer é necessário envolvimento da comunidade. Esse texto tem o objetivo de espalhar a ideia. Aos interessados, estou à disposição para colaborar e levar adiante o projeto.
Para conhecer mais sobre a história do casal Lúcia e Edgar Schtzmann e sobre a ditadura em Joinville, recomendo o documentário Ditadura Reservada, de Fabrício Porto:
quinta-feira, 13 de março de 2014
Mãos de Copperfield acabam com a ilusão das "mãos limpas" de Udo
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
A gestão Udo Dohler pode ter mãos limpas, como poucos pregam, mas está claro que tem mãos de Copperfield, em alusão ao famoso ilusionista norte-americano (foto).
Esta afirmação foi feita pelo juiz Roberto Lepper ao agora ex-secretário da saúde, Armando Dias Pereira Jr., por este último tirar pessoas da lista de espera de consultas médicas sem justificativa prévia, caracterizando possível improbidade administrativa.
Como um belo show de mágica, as pessoas necessitadas de um médico ficaram sem entender nada, em três atos de grande audácia, típicos dos grandes espetáculos da Broadway: descumprimentos de determinação para regularizar o atendimento de consultas em ortopedia e outra para regularizar as filas de endocrinologia, sem contar a prestação de informações falsas, "maquiadas" para tentar enganar a justiça, no intuito de esconder descumprimentos judiciais anteriores à desta semana. Armando foi exonerado do cargo e agora vai responder processo.
Por mais que eu confie na capacidade técnica de várias pessoas que atuam dentro da Prefeitura (em cargos de comissão ou não), é muito triste acompanharmos a secretaria de saúde envolvida, mais uma vez, com escândalos e irregularidades. Já foi assim na gestão Tebaldi e Norival Silva. E é revoltante saber sobre uma das pastas mais importantes para a população sofrer com péssimas gestões, justamente o que o prefeito Udo Dohler mais diz entender, segundo sua trajetória empresarial.
Enfim, a mágica das "mãos limpas" não seduz mais. Parece aquele truque repetido, o qual convence alguns mas não empolga ninguém. A cidade que tem uma manifestação a cada cinco dias dá sinais de algo não estar bem. LOT, problemas com enchentes, obras recém-inauguradas com péssima qualidade ou com acabamentos faltantes, secretário com problemas na justiça, reforma administrativa que não reforma nada e transporte coletivo sem licitação são apenas alguns dos problemas.
As "mãos limpas" do "não há segredo; há trabalho", agora são "mãos de Copperfield", do "trabalho com segredo".
quarta-feira, 12 de março de 2014
Um final surpreendente. Ou não?
POR ET BARTHES
Um filme feito para falar no dia da mulher (um dia comum). Parece uma coisa, mas termina de forma surpreendente. Ou talvez não.
O ódio conservador
POR CLÓVIS GRUNER
Alex tinha oito anos, gostava
de lavar louças, não gostava de cortar o cabelo e era um pouco desobediente –
provavelmente não mais nem menos que os garotos de sua idade. Desde o dia 17 de
fevereiro ele não lava mais louça, não desobedece e nunca mais precisará cortar
o cabelo. Foi espancado pelo pai, Alex André Moraes Soeiro, com quem vivia desde o ano passado, que o achava
afeminado e queria que ele aprendesse a “andar como um homem”. Morreu com
inúmeros hematomas pelo corpo e o fígado perfurado.
Renato Duarte Horácio, de
16 anos, queria levar de Gastão Vidigal algumas boas lembranças depois de
passar e passear pela cidade nos três dias de carnaval, acompanhado da mãe e do
irmão mais velho. Fotografou lugares, fotografou a folia, fotografou pessoas. Confundido
com um pedófilo e levado à delegacia, terminou seu feriado espancado até a morte por um “justiceiro”, Fabrício Avelino de Almeida, que o encurralou
em frente ao prédio da Delegacia de Polícia e o agrediu com seguidos e
violentos socos na cabeça.
As mortes precoces, trágicas
e violentas de Alex e Renato são a expressão de um estado de coisas que cada vez
mais escapa ao controle e nos ameaça a todos. Estamos envolvidos por um
ambiente de ódio crescente. Alimentado diuturnamente, o ódio que viceja hoje
país afora já não se conforma em permanecer nos ambientes virtuais, onde não faltam
anônimos (e alguns não anônimos) dispostos a trocar a inteligência e o bom
senso pelo simples ranger de dentes. Ele se impõe, cada vez mais e mais
perigosamente, nos espaços do mundo dito “real”, estimulando e chancelando ações
como as de Alex, o pai, e Fabrício. Alex, o filho, e Renato, não foram as
primeiras vítimas dessa escalada de ódio e violência e, temo, não serão as
últimas.
CULTIVAR O FASCISMO – O
fenômeno não é inteiramente novo, embora esteja a ganhar contornos mais
sombrios. A atravessá-lo e sustentá-lo, uma moral e uma conduta conservadoras
(porque não se pode falar, no Brasil, de um “pensamento
conservador”) que não apenas empobrecem o debate e o ambiente políticos, mas
disseminam a truculência e legitimam a intolerância.
Como disse, isso tudo não
é inteiramente novo. Em 2010, principalmente durante as eleições
presidenciais, já era possível perceber que havia algo ruim no ar que
respirávamos. Naquele ano praticamente todo o debate eleitoral do segundo turno
foi pautado pela agenda conservadora e assistimos a candidatura de José Serra e
o PSDB aderirem aos grupos fundamentalistas, ao passo que Dilma Rousseff e o PT
se mostravam incapazes de oferecer uma alternativa verdadeiramente
progressista. Temerosos de confrontar os grupos religiosos, a candidatura
petista sinalizava o rumo que o governo tomaria depois da candidata eleita,
culminando com o vexame da eleição de Marco Feliciano para a presidência da
CDHM em 2013.
Recentemente escrevi no Chuva sobre uma certa monotonia conservadora. No artigo apontava,
entre outros, dois traços fundamentais do que Murilo Cleto chamou, em texto
lapidar, de “a onda”: a tendência crescente entre os grupos e indivíduos reacionários
a ver no outro não um adversário a ser confrontado, mas um inimigo a ser
eliminado; e a dificuldade de conviver em um ambiente democrático e de livre
circulação de ideias. Na ocasião, me referia principalmente ao debate travado
nos ambientes midiáticos – ou talvez seja mais correto afirmar a falta de
debate –, pontuado por uma ausência de ideias e de pluralidade que beiram à
monotonia e caracterizado pela mixórdia argumentativa – a lei de Coqsics, na
definição de José António Baço.
Mas ainda mais preocupante e nada monótono é que o conservadorismo e os sentimentos de ódio que cultiva e dissemina estão agora a orientar não apenas o blá-blá-blá ressentido teclado no conforto covarde do anonimato. Eles estão matando gente inocente: quando um pai espanca o filho de oito anos até a morte porque ele era “afeminado”, e um “justiceiro” mata um adolescente de dezesseis anos porque suspeitava que ele fosse pedófilo, os assassinos podem se chamar Alex e Fabrício. Mas por detrás de seu gesto paira a sombra de um Jair Bolsonaro e de uma Rachel Sheherazade, que tem motivos para estarem felizes e orgulhosos, junto com os milhares que se reconhecem neles e se identificam com sua postura e discursos protofascistas. Não é todo mundo que goza do privilégio de matar sem nem sujar as mãos. E ainda receber aplausos por isso.
Mas ainda mais preocupante e nada monótono é que o conservadorismo e os sentimentos de ódio que cultiva e dissemina estão agora a orientar não apenas o blá-blá-blá ressentido teclado no conforto covarde do anonimato. Eles estão matando gente inocente: quando um pai espanca o filho de oito anos até a morte porque ele era “afeminado”, e um “justiceiro” mata um adolescente de dezesseis anos porque suspeitava que ele fosse pedófilo, os assassinos podem se chamar Alex e Fabrício. Mas por detrás de seu gesto paira a sombra de um Jair Bolsonaro e de uma Rachel Sheherazade, que tem motivos para estarem felizes e orgulhosos, junto com os milhares que se reconhecem neles e se identificam com sua postura e discursos protofascistas. Não é todo mundo que goza do privilégio de matar sem nem sujar as mãos. E ainda receber aplausos por isso.
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