segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Cidades inteligentes não são feitas por gestões burras


POR JORDI CASTAN
De novo Joinville é citada como uma cidade inteligente. Poderíamos começar discutindo o conceito de cidades inteligentes (smart cities). E, a partir daí, tentar entender  como uma cidade só patina pode ser considerada uma inteligente. Mas a conversa ia ficar enfadonha. Custa acreditar que Joinville possa ser considerada uma cidade inteligente e, caso seja mesmo a intenção, talvez seja mais indicada uma reflexão sobre o nível de indigência mental que anda por aí.

Por causa do meu trabalho, passo muito tempo fora de Joinville e, apenas neste ano, visitei 14 capitais e mais de 50 cidades de médio e grande porte. Em todas elas tenho encontrado bons exemplos do que poderíamos fazer por aqui. Há centenas de boas ideias sendo postas em prática todos os dias em cidades de toda América latina, África e Europa.

A maior parte das ideias está direcionada a fazer as cidades mais eficientes, com gestão mais transparente e de forma a dar mais vez e voz ao cidadão. Eis um exemplo recente de um caso ocorrido em Guadalajara, no México. O sinaleiro do cruzamento, que fica em  frente ao escritório, estragou. O meu colega pegou no celular, acessou o aplicativo da própria prefeitura e enviou a imagem do problema. Em menos de 30 minutos uma equipe estava resolvendo o problema.

Em Bucaramanga, na Colômbia, é possível postar fotos de buracos e denunciar problemas de acessibilidade de forma imediata, incluindo fotos e as coordenadas geográficas. Em Barcelona, a prefeitura coloca à disposição dos seus cidadãos todas as redes sociais para que possam perguntar, denunciar ou questionar. A internet permite que cada cidadão acompanhe o processo da sua denúncia, do seu alerta, do seu aviso. Permite que mais cidadãos contribuam e mantenham a informação atualizada, novas imagens mostram a situação e se ela esta ou não sendo resolvida. A rapidez de resposta é elogiada e a lentidão gera comentários e reprovação.

Aí lembro da Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Joinville e de todas as queixas dos contribuintes: inoperância, da falta de transparência, dificuldade de poder fazer um seguimento adequado e respostas padrão que nada respondem. É evidente que a Ouvidoria esta aí mais para proteger o sistema do que para atender ao cidadão. Dedica mais tempo a justificar o injustificável do que a resolver de fato.

Lembro também que não interessa ao “status quo” que o contribuinte tenha acesso a sistemas mais transparentes e atuais. Ou seja, sistemas e aplicativos que evidenciariam facilmente o tempo de resposta, a resolução efetiva dos problemas, quantas vezes o mesmo problema se repete e tantas outras informações que serviriam para medir a eficiência da gestão municipal. Lembro ainda que essas medidas, que tanto interessam ao joinvilense, não interessam à administração municipal, que poderia ver quantificada e escancarada a sua inoperância.

Aí entendo por que não temos - e não teremos tão cedo - um ouvidor municipal que defenda os interesses e os direitos dos contribuintes. Porque não estamos preparados para ter um “ombudsman”. E, claro, por que estamos tão longe de ser uma cidade inteligente.

Um comentário:

  1. Frequentemente escuto brados sobre a judicialização, querem fazer crer que o problema é o cidadão que ousa buscar ouvidos mais sensíveis a sua súplica.

    Ora, se o Ministério Público é acionado, provavelmente faltou alguma resposta ágil, justa e coerente para necessidades dos munícipes.

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