terça-feira, 21 de novembro de 2017

Não é tempo de falar de aborto a sério?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O Brasil tem sido pródigo em más notícias. Uma das mais recentes vem da ONU - Organização das Nações Unidas, que manifestou preocupação com o projeto de lei que propõe restringir ainda mais a já restritiva legislação brasileira sobre o aborto. O mundo civilizado ficou estarrecido diante da pretensão de proibir a interrupção da gravidez mesmo nos casos de abuso sexual, anencefalia do feto ou risco para a mulher.

Volto hoje ao tema porque muita gente acredita que é o momento de discutir a questão. O debate é positivo, claro, mas a coisa pode desandar. Falar de temas fraturantes exige um nível civilizacional que a maioria dos brasileiros, infelizmente, ainda não atingiu. Nestes tempos de “criptoteocracia”, em que religiosos ditam a agenda política, o país mergulhou numa espiral de obscurantismo e intolerância. É a discussão certa, mas numa hora difícil.

O debate tem que ser feito. O aborto é uma questão civilizacional, de costumes ou de consciência individual. Mas, sobretudo, é uma questão de saúde pública. Lembremos que, de acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde, todos os anos morrem 47 mil mulheres no mundo em consequência de abortos clandestinos. Eis a trágica ironia: as mesmas pessoas que assumem a “defesa da vida”, no caso dos fetos, fazem ouvidos moucos para o número de mortes de mulheres.

E volto a falar da experiência portuguesa, que conheço de maneira mais próxima. Em 2007, o aborto (chamado, de forma eufemística, de interrupção voluntária da gravidez) foi despenalizado. A partir daí o país resolveu um problema de saúde pública, evitando mortes e outros problemas provocados por abortos clandestinos. Hoje a ideia foi assimilada pela sociedade e tornou-se um não-assunto. Ah... e a boa notícia é que, ao contrário do que vaticinaram os moralistas religiosos, o país não foi destruído pela ira divina.

De volta ao Brasil. A ONU alerta para o fato de que o país se desviou dos compromissos internacionais no campo dos direitos humanos, como os direitos das mulheres e a igualdade de género. É um fato preocupante e que exige um amplo debate. Os brasileiros têm uma escolha a fazer:  a aproximação aos países desenvolvidos (há muitos exemplos a seguir) ou o recuo civilizacional que o fará despencar para o nível das sociedades mais atrasadas. Em abstrato a escolha parece óbvia, mas...

Diálogo. Tolerância. Inteligência. Racionalidade. É disso que o país precisa neste momento.

É a dança da chuva.

18 comentários:

  1. Não é questão de saúde pública e sim de defesa da vida.
    A vida não inicia no parto e sim na concepção, como o direito de um não sobrepõe o de outro, ninguém em hipótese alguma pode interromper uma vida sem estar cometendo assassinato.
    Não há qualquer racionalidade, inteligência ou civilidade em defender o aborto, apenas egoísmo de se sobrepor o outro não importa a circunstância.

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  2. Perfeito. És livre para não fazer aborto. Mas não tens o direito de impedir quem quer fazer. O teu moralismo religioso não é universal.

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    1. O meu ponto não é a religião e sim outro ponto, quando começa a vida? Se não houvessem diversos estudos médicos e da psicologia confirmado a vida intrauterina, não veria nenhum problema no aborto.
      Como há vida, tratasse de um assassinato, mas chame como quiser se isso te deixa mais tranquilo.

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    2. Desculpa a falta de interesse, mas já passei por isso faz uns 10 anos, com um referendo pela descriminalização aqui em Portugal. Deu pra bola.

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  3. Sobre o aborto, já fui contra e hoje em dia eu não posiciono. O motivo é simples: eu, homem, jamais conseguirei abortar. Por que eu vou tomar uma posição sobre algo que não posso decidir? É como fazer campanha para o presidente dos EUA.

    Defendo, abertamente, o direito de que as mulheres possam decidir sobre essas questões.
    Homem não pode, em hipótese alguma, ter opinião em casos de aborto.

    É como se diz: se homem engravidasse, o aborto já tinha sido legalizado faz tempo.

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  4. Acho que a mulher deve ter o direito de escolha

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  5. Tudo bem defender o direito à vida. Mas, geralmente quem é contra o aborto, defende a pena de morte. Não é uma contradição. Antes que me ataquem, sou contra o aborto, mas quem deve decidir sobre isso são as mulheres que ficaram grávidas. Se quiserem abortar, devem ter todo o aparato público necessário para a cirurgia.

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  6. A questão da ira divina, não tem um tempo que pensamos que tem, e a europa e sua herança civilizacional,é um defunto, que já há muito tempo esta fedendo.
    E como este argumento é escorregadio, será que vale a pena lembrar ? de sua contra posição mais vulgar? Pq não incentivamos o infanticídio? Em muitas situações a mais segura já que estamos pensando na saúde da mãe e sua vida.

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    1. Bem se o argumento é a saúde materna,o infanticídio seria uma opção. Ou seja, esperar a criança nascer e mata la, o que mostra o absurdo da questão.
      Segundo ponto, no Brasil o que acontece com a questão do estupro é a seguinte: como não a necessidade do BO a muitas mulheres que fazem aborto legalmente sem serem estupradas de fato.

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    2. Li e não consigo desler.

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  7. Sobre o direito de escolha da mulher... Seria como hj acordei de mal humor e vou matar meu filho de 3 anos.

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    1. Um "mal" humor dá direito de matar até o teu professor de português... de desgosto.

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    2. Português? Pensei q fosse esperanto...

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  8. Ô Baço, conta lá a história do work-alcoolick da Dilma Rousseff para um repórter português.
    E a história das flores do “palácio de residência”, que ela não sabia que existiam, e que foram arrancadas pelos golpistas?

    Meudeus, para conhecer melhor o Brasil e o impeachment, o estrangeiro tem de ouvir a Dilma falar.

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    1. Peraê. Mas onde foi que eu falei em Dilma? Como foi que chegamos aqui? Catso. Ao ler este tipo de comentários fico a imaginar que os pais de quem os escreve deviam, pelo menos, ter usado camisinha.

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