sexta-feira, 27 de outubro de 2017

500 anos de Lutero. E o mundo ainda necessita de uma nova Reforma

POR DOMINGOS MIRANDA
Há 500 anos, um monge agostiniano pregou 95 teses contra a venda de indulgências pelo papa na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha. Com isso deu  início a uma transformação que mexeu com o mundo ocidental, da mesma maneira que aconteceu com a Revolução Francesa e a Revolução Russa séculos mais tarde.

A Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, causou uma fratura no poder da Igreja Católica, até então a autocracia mais poderosa do mundo, capaz de destituir reis e executar quem discordasse de seus cânones. A fagulha que causou este incêndio começou com um protesto contra a corrupção na Igreja, mas em pouco tempo se alastrou para os campos políticos tendo como bandeira a reforma da fé.

A corrupção é uma praga que sempre existiu na sociedade e infectou enormemente a Igreja Católica nos séculos 15 e 16. Os papas criaram a venda de indulgências para arrecadar fundos para a construção da Basílica de São Pedro. Quem pagasse uma certa quantia em dinheiro ficaria perdoado de seus pecados. Isso gerou abusos e revolta e levou o monge Martinho Lutero a contestar esta prática baseado em textos bíblicos.

Como era de esperar, o papa Leão X determinou a ida de Lutero até o Vaticano, de onde teria poucas chances de voltar vivo. No entanto, os príncipes alemães, que também estavam descontentes com a intervenção da cúpula do Vaticano em seus territórios, deram proteção ao reformador. A partir daí o movimento se espalhou por quase toda a Europa, gerando guerras fratricidas.

A nova fé, que lutava contra os abusos da Igreja Católica, mais tarde também entraria para o caminho da intolerância. Um caso bem emblemático foi o do médico e teólogo espanhol Miguel Servet. Ele fugiu da Espanha porque havia sido condenado à morte pela Inquisição e se refugiou em Genebra, reduto de um outro líder reformador, Calvino. Mas os escritos de Servet também enfureceram os calvinistas, que o mandaram para a fogueira, em 27 de outubro de 1553. Depois de carnificinas praticadas por católicos e protestantes, os dois lados decidiram manter uma convivência mais harmônica.

A Reforma obrigou a Igreja Católica a alterar suas práticas mais abusivas para evitar a perda de fiéis. Nos países sob domínio dos protestantes havia maior tolerância e era possível a divergência de ideias sem o risco de acabar no cárcere. Os Estados Unidos, colonizados por evangélicos puritanos, deram um passo inimaginável na época da independência: criaram o primeiro Estado laico. Tal medida, ao invés de enfraquecer a religião, permitiu o desabrochar de diferentes igrejas por todo o território.

Joinville é uma cidade colonizada por luteranos e, diferentemente do restante do Brasil, a Igreja Católica não conseguiu impor na região a sua dura legislação canônica. Por isso, aqui havia um espírito tolerante entre as religiões cristãs. O ecumenismo, apregoado pelo Concílio Vaticano II, na década de 60,  foi colocado em prática na Cidade das Flores desde o século 19.

O pastor Gottfried Brakemeier, ex-presidente da Federação Luterana Mundial, afirma que a “reforma” é uma necessidade global: “Há fenômenos angustiantes exigindo uma radical mudança de rumo. Sem incisivas reformas na economia, na política, na mentalidade da era dita pós-moderna está ameaçado o futuro da humanidade”. Diferentemente do que pensam muitos pastores atualmente, a rebeldia continua sendo necessária para que as injustiças e abusos sejam abolidos. Lutero deu um exemplo para a humanidade.

4 comentários:

  1. Lembrando q tanto a doutrina luterana quanto a calvinista, que pregava q a riqueza conquistada por meio do trabalho, assim como o lucro, não eram pecados, foi a base ideológica para o surgimento do capitalismo....e com ele, o dels-mercado.

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  2. So uma colocação: Essa comparação não é nova, mas elucida bem o tipo de reforma e as personalidades. São Franscisco de Assis vs Lutero, Ambos perceberam os descaminhos da igreja que é formada por homens, e da corrupção. Um opta pela renovação com humildade sem criar um cisma, ele mesmo se coloca como exemplo e outro influenciado por questões filosóficas, que surgiram com a decadência da escolástica, começa aqui nosso calvário, a revolução com teorias de cabinetes que vai de encontra com a vontade oportunista aqui no caso os reis. Que gerou a divisão da igreja.
    A corrupção é inerente ao homem, não nos livramos dela, todos os dias temos essa batalha, Só que o primeiro propõe uma revolução muito intimista, a batalha é individual vs Lutero uma revolução política estrutural.E a pergunta Será que Lutero conseguia ver o mal em sí mesmo?
    E não falo pq sou católico pois
    minha formação cristã é calvinistas, fui educado na igreja presbiteriana.

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    1. Fabio Rosa, Lutero não pretendia dividir a igreja católica, mas sim tentar purificá-la de seus pecados mais escabrosos. O cisma surgiu por culpa do autoritarismo do papa que deu início a uma forte perseguição aos "rebeldes".

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    2. VC sabe da história do Francesco ao falar com o papa e sua atitude?

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