quarta-feira, 29 de março de 2017

A direita na kombi

POR FELIPE SILVEIRA
POR FELIPE SILVEIRA
Algumas passeatas do último domingo, chamadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL), mal encheram duas kombis. Em algumas cidades reuniram milhares de pessoas, mas nelas se esperavam milhões. O que aconteceu? O que isso significa? A população acordou? O gigante voltou foi tirar uma soneca? A onda conservadora virou uma marolinha? Estaria a revolução bolivariana finalmente batendo à porta?

Não sei dizer o que houve, mas sei que fenômenos dessa natureza são mais complexos que continhas de dois mais dois. Que é tentador explicar as coisas a partir das nossas ideias, apertando a realidade aqui e ali para que ela caiba onde a gente bem entender, mas que isso não nos serve.

 Contudo, há algumas pistas que podem nos ajudar a entender melhor as coisas. A primeira delas é que, parece evidente, protestos baseados na demonização de uma figura (o PT, Dilma, Lula, o comunismo) percam força após ter alcançado o objetivo que era retirar essa figura do poder. A segunda tem a ver com a primeira. Se o objetivo maior foi alcançado, qual é o novo? Até agora pouca gente sabe o que o MBL foi fazer nas ruas no último domingo. A terceira pista tem a ver com o preço da propaganda na TV aberta. Até pouco tempo atrás, a propaganda era cortesia da emissora. Desta vez não rolou.

A partir daí, dizer que a onda conservadora diminuiu, ou que nem existiu, debochando do baixo número de presentes nas manifestações, me parece mais um deboche com a própria cara. Imaginar que a população que esteve nos protestos anteriores e ficou em casa neste tenha de alguma forma “acordado” é uma ilusão que a esquerda não pode se permitir. Pensar que estes brasileiros vão votar em um projeto progressista, democrático, inclusivo ou qualquer coisa parecida assim, do nada, é de uma preguiça imensa. E que vão sair as ruas para promover mudanças dessa natureza é simplesmente alucinação.

 O trabalho da esquerda é muito mais amplo e muito mais duro. Se a direita passou os últimos anos destruindo as noções de busca pela igualdade, de garantia de direitos, reconstruir tudo isso é um trabalho muito mais imenso. A começar por uma nova estética, por novas palavras de ordem, inclusive pelo não uso da expressão “palavras de ordem”.

Quando precisou, a direita colocou gente nas ruas. Agora, que não precisa mais, não adianta rir da direita na kombi. Somos nós que temos que encher as ruas.

4 comentários:

  1. O que vc quis dizer com onda conservadora? Pq em politica liberal não igual a conservador. Seria MBL um movimento conservador ? acho que não. Conservador é aquele que acredita que a teorias de gabinete tanto na economia ou das ciências sociais, devem ser vistas com muito cuidado , mas muito mesmo.

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    1. MBL é extremamente conservador em sua política de manutenção dos privilégios da elite. E onda conservadora é um termo que está sendo usado por setores da esquerda e da sociologia para tratar das movimentações de direita que se identificam a partir a partir de valores conservadores, como a homofobia, o machismo, o racismo, a xenofobia...

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    2. Desculpe amigo, mas vc é massa de manobra. Vai ver a proposta do MBL e da CUT (aliás que proposta???) e veja quem defende a elite do funcionalismo que sempre que ameaçada inventa um inimigo externo para desviar a atenção.

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  2. Acho que estais enganado, MBL é um movimento Libertário de inspiração na escola austríaca de economia Oriunda de autores como Misses, Popper, Murray Rothbard, Hans Hermann Hoppe entre outros. É uma forma de idealização da mão invisível do mercado, não tão radical ao dos anarcocapitalista, diria-se então minarquistas. E assim como a esquerda tem um visão revolucionaria , só que apenas de sinal contrario. A sociedade melhor não chegou por que não fizemos X e X alterações na politica(esquerda), ou economia(libertários). Coloque politica Social para esquerda , e econômica para libertários. Pronto teremos uma visualização clara dos sinais trocados.

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