POR JORDI CASTAN
A divulgação, de forma irresponsável, de uma pesquisa elaborada pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Aplicadas) e que, entre outros dados, informava que 65% dos brasileiros achavam que a forma de vestir das mulheres era um incentivo ao estupro, gerou uma forte reação em todo o país. Os dados apresentados pelo IPEA colocaram de uma hora para outra o Brasil na Idade Média ou na barbárie da Índia de hoje.
Se a fonte não fosse o IPEA, um mínimo de sentido comum deveria ter permitido identificar que os dados apresentados não faziam sentido. Se é verdade que isto não é Suécia tampouco vivemos na Índia ou no Afeganistão, países e sociedades em que o estupro não é visto como uma brutalidade inaceitável e milhares de mulheres são estupradas anualmente, com o silêncio cúmplice de toda a sociedade.
No Brasil, os casos de furtos, roubos e estupros lideram as pesquisas e junto com homicídios, latrocínios e assaltos ocupam um lugar predominante no ranking da violência e da criminalidade, neste país em que a vida vale cada dia menos.
Voltemos às pesquisas. A minha pesquisa favorita é a que utiliza a "teoria do frango" como metodologia. Ela parte da premissa que se hoje eu comi um frango e você nenhum, cada um de nos comeu meio frango. E estamos bem alimentados. Outros denominam esta metodologia "do freezer", aquela que diz que se colocamos a cabeça no forno e os pés no freezer a temperatura média será perfeita.
Aplicando esta lógica simples, para que 65% dos brasileiros achassem que a forma de vestir incentivava o estupro, seria preciso que em algumas regiões ou grupos pesquisados, praticamente a totalidade da população pesquisada manifestasse a sua concordância, para compensar o grupo, entre os que me incluo, que acha que cada um é livre para se vestir da forma que achar adequado, sem que isso possa servir de justificativa para que alguém seja estuprado.
As perguntas que não saem da minha cabeça são:
- Por que divulgar esta pesquisa justamente agora?
- Quem á encomendou e com que objetivo?
- Por que não houve uma análise mais criteriosa dos dados, quando foram divulgados?
- Ninguém percebeu o absurdo do resultado? Casualidade?
Não acredito em casualidades, tampouco acredito que Deus jogue dados. Acho sim que os pesquisadores do IPEA jogaram com os dados. Pode ser que os dados utilizados pelo IPEA sejam aqueles com seis lados, em que cada um dos lados está numerado de 1 a 6 e que são lançados ao azar, para quem gosta de acreditar na sorte.
Este episódio me deixa com a impressão que o nosso índice de crendice é muito elevado e a capacidade de análise dos dados e informações que recebemos a cada dia é cada vez menor. E assim ficamos mais vulneráveis e fazeis de manipular.
Arrisco-me na resposta às suas indagações fazendo outras perguntas:
ResponderExcluir1) Por que não divulgar uma pesquisa destas agora? Existe momento apropriado para divulgar indices de violência e de ignorancia de um País?
2) Não interessa quem encomendou, pode ter sido uma entidade de proteção às mulheres, o governo, etc, qual o problema?
3) Esta é uma questão não esclarecida, e que já motivou inclusive exonerações da entidade de pesquisa.
4) Em se tratando de Brasil, com seus Bolsonaros, Felicianos e coxinhas espalhados por aí, houve uma surpresa inicial assimilada logo em seguida. Mas mesmo o indice real devemos convir que não é nenhuma honra à Nação alguma.
Vou deixar apenas uma contribuição ao debate do Professor Antonio Lassance:
ResponderExcluirEstá tudo bem, então, no país do “estupra, mas não mata”? Será? Mesmo com mais de 50 mil mulheres estupradas em 2012, número mais de 18% superior ao de número 2011, agora podemos ficar tranquilos?
Detalhe: o número absurdo de estupros não considera os casos em que as vítimas deixam de relatar o ocorrido - por vergonha, por medo da reação da família, por receio de que alguém ache que elas não souberam “se comportar”.
O dado de estupros em 2013 vem aí. Quem fará a piada? Quem vai curtir com isso?
Desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, em 2006, o número de agressões contra mulheres, relatadas ao serviço “Ligue 180”, cresceu 600%.
A cada hora, duas mulheres, vítimas de abuso, dão entrada em unidades do Sistema Único de Saúde. Alguém ainda acha pouco?
Está tudo bem no país que concorda que, “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”? Há quem diga: "Ora, bolas! Isso é só um dito popular, como outro qualquer". Sim, um dito popular como “serviço de branco”. Só um dito popular?
Está tudo bem no país que acha que a mulher que é agredida e continua com o parceiro é porque gosta de apanhar?
O IPEA errou, mas quem comemora o erro está redondamente enganado.
*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.
Para ser considerado mentiroso basta uma mentira.
ResponderExcluirMas numa sociedade que está popularizando termo "inverdade" , meio-mentirosos ou meio-inverdadoriosos serão logo uma categoria de considerada digna de respeito.
Quanto ao IPEA, descrédito total, melhor fechar e economizar o dindin.
IPEA, mais um instituto que foi dominado pelo PT.
ResponderExcluiranônimo 11:20, mais um dominado pela esquizofrenia.
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ResponderExcluirRealmente os números reais não devem minimizar qualquer repúdio a este tipo de atitude, e entendo que agora ficará difícil crer em qualquer tipo de pesquisa, seja ela social, econômica ou política.
Concordo que precisamos parar de nos conformarmos com "meia verdade", pois meia verdade continua sendo uma mentira inteira, venha de onde vier.
Dados totalmente viciados e com um objetivo claro: levantar (como levantou) a polêmica de que as mulheres são vítimas de um machismo desenfreado. Bem às portas de uma eleição em que uma mulher enfrentará dois homens que, por dever de ofício, terão de... ATENÇÃO!... atacá-la. Simples assim. Dado final: a pesquisa foi finalizada em 2013 e divulgada só agora... Normal?
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