POR WILSON DE OLIVEIRA NETO
Há
cinquenta anos, foi iniciada uma rebelião militar liderada por generais do
exército brasileiro contra o então presidente da república João Goulart. Este
episódio ficou conhecido como Golpe de 64 e foi o começo de um período de vinte
e um anos de regime militar no Brasil.
Está
claro para a historiografia que o golpe foi o resultado de uma conspiração
militar que teve como pano de fundo a crise política desencadeada no país a
partir de 1961, quando da renúncia do presidente Jânio Quadros. E mais: esta
crise ganhou força através de uma violenta campanha de desestabilização do
governo promovida pela oposição.
Interessa
neste pequeno texto, o papel desempenhado pelas forças armadas, em particular o
exército, nos acontecimentos ocorridos entre 31 março e 1º de abril de 1964. A
rebelião e a ditadura militar foram o ponto alto de uma série de intervenções
promovidas pelo exército no cenário político brasileiro desde o golpe de Estado
que derrubou a Monarquia no Brasil, em 15 de novembro de 1889, erroneamente
conhecido como “Proclamação da República”.
Não
há exército brasileiro antes de 1822. Afinal, até a independência, não existia
o Brasil tal como hoje, mas uma América Portuguesa, uma região que era parte de
um imenso império colonial. Inclusive, seus habitantes não eram “brasileiros”,
mas “portugueses do Brasil”. Logo, as forças militares estacionadas na colônia
eram portuguesas, mesmo que formadas por efetivos nascidos no Brasil.
Após
a independência, os fundamentos de um exército nacional foram assentados, como
por exemplo, a partir do decreto de 1º de dezembro de 1824, que dividiu a força
terrestre em tropas de 1ª e 2ª linhas. Até a Guerra do Paraguai ou da Tríplice
Aliança (1864 – 1870), o exército foi uma organização militar pequena, mal
adestrada e equipada. Para piorar a situação, em 18 de agosto de 1831, foi
criada a Guarda Nacional, uma milícia que foi um poder paralelo ao exército até
sua dissolução, durante o início do século 20.
No
entanto, tudo mudou com a Guerra da Tríplice Aliança. A luta contra o Paraguai
tornou urgente a formação de um grande exército, inexistente até o momento.
Além disso, o conflito produziu uma nova geração de militares, portadores de um
forte espírito de corpo, de uma identidade corporativa que exigia ser ouvida e
respeitada pelos políticos civis.
A
“Proclamação” da República foi a primeira de uma série de intervenções
promovidas pelo exército durante o século passado. Ocorreram várias, tais como
em 1922, 1924, 1930, 1937, 1945, 1955 e, finalmente, em 1964. O Golpe de 64 não
foi uma revolução, mas um golpe de Estado que foi o ponto alto, o ápice, desta
história que teve o seu final quase cem anos depois, em meados da década de
1980, quando do fim do regime militar e do inicio da redemocratização do
Brasil.
* Wilson de Oliveira Neto é historiador e professor no curso de História da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE)
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