sexta-feira, 4 de abril de 2014
Que milagre econômico o quê!
O golpe de 1964, que iniciou a ditadura civil-militar no Brasil, fez 50 anos na terça-feira, 1º de abril, e gerou muita discussão sobre o assunto, o que é ótimo. Por outro lado é triste que nesses debates haja a defesa do indefensável. Ou seja, a defesa do regime militar.
Alguém pode questionar: “Ué, quer discutir mas não quer que defendam a ditadura?”
Sim, é isso mesmo. Eu lamento que 50 anos depois tenha gente que a defenda, principalmente porque os argumentos são baseados em mentiras construídas pelo regime. Um caso bem claro é o dito “Milagre Econômico”.
Dia desses, um cara, segundo ele da área econômica, teceu loas ao desenvolvimento econômico do período ditatorial. Falou da industrialização e do desenvolvimento da infra-estrutura, com suas rodovias e hidrelétricas, entre outros. Justificou, assim, o aumento da dívida durante o regime militar.
Esqueceu, no entanto, que tal desenvolvimento industrial e estrutural ocorreu apesar da ditadura, e não por causa dela. Esqueceu que anos antes Juscelino Kubitschek já havia continuado o processo de industrialização (a primeira industrialização ocorreu em outra ditadura, de Getúlio Vargas) em plena democracia. Esqueceu também que a pobreza e a desigualdade social aumentaram no período. Esqueceu ou nunca soube de nada disso, muito por causa de uma educação rala que a ditadura militar tratou de destruir.
Esqueceu também (ou nunca soube), principalmente, que o Brasil vivia um período de ebulição cultural e política naqueles anos. Porém, veio a ditadura e jogou água na fervura. Aquela geração poderia ter feito muito pelo Brasil, mas a ditadura a calou. Sobre isso, indico a leitura de “Trinta anos esta noite”, o relato de Paulo Francis – já à época um defensor do capitalismo – sobre o golpe e sobre a ditadura e seus efeitos.
Nem vou citar que as reformas de base propostas por Jango, sobre as quais se sustentava a ideia de que haveria um golpe comunista. Sugiro a leitura do texto do Clóvis Gruner, publicado no dia dos 50 anos do golpe: 50 anos, hoje.
Para mostrar como a ditadura foi um lixo que gerou miséria e burrice, cito o caso de Santa Catarina, especialmente de Joinville. Na metade do século 20, cerca de 70% da população catarinense vivia no campo. Veio a ditadura e começou a injetar dinheiro nas empresas dos amigos. Era o tal do desenvolvimento. Empresas como a Tupy e outras grandes receberam gordas verbas do governo para ampliar o parque e a produção industrial. O problema é que a cidade ainda era pequenina e que Santa Catarina era um estado predominantemente agrícola. E agora?
Bom, se vocês são joinvilenses, perguntem para seus pais e avós, que vieram do interior de SC, PR, SP, RS e outros. As empresas iam buscar as pessoas de ônibus, de kombi, de tudo que é jeito. A população, paupérrima, sem acesso à nada, topava vender sua terrinha para tentar vida nova na cidade. Muitas vezes sofria influência do padre, que às vezes recebia uma graninha das empresas para fazer propaganda. Qualquer pessoa com dois dedos de testa, como diz o Baço, sabe da influência que o padre exerce no campo, principalmente naquela época.
O resultado disso foi que cidades como Joinville receberam milhares de pessoas nesse período, mais do que o dobro da população. Além disso, o Estado não investia em infra-estrutura para as pessoas, que foram morar nos mangues. Sem saúde, sem escola, sem esgoto. Praticamente todo o investimento estatal era para beneficiar o empresário, que hoje é endeusado como grande realizador.
Quando chegou a crise do petróleo, nos anos 80, acabou o emprego, mas o trabalhador continuava em situação de miséria. E sem condições de voltar para o campo, pois venderam as terras a preço de banana. O empresariado, no entanto, já estava com os bolsos cheios. Se você não consegue relacionar isso com a questão da violência urbana, com a falta de saúde, educação, moradia, me desculpe, mas está faltando dedo nessa testa.
A situação de Joinville se repetiu por todo o Brasil. Ou quando você acha que ficou complicada a coisa nas grandes metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro?
Por essas e tantas outras coisas que é inadmissível “relativizar” a ditadura. E muito menos defendê-la. O debate poderia ser bem melhor se tivéssemos ultrapassado essa etapa da discussão. Como não ultrapassamos, ela precisa ser feita agora.
P.S.: Baseio minha argumentação em dois textos, principalmente. O primeiro é o livro "Crítica ao modelo catarinense de desenvolvimenro", de Ido Luiz Michels. O outro é a dissertação de mestrado "De agricultor a operário: Lembranças de Migrantes", de Valdete Daufemback Niehues.
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Uma herança de mais de um trilhão de reais de dívidas; rastros de destruição, favelização e prostituição na Amazônia e e no restante do País; corrupção generalizada entre militares, políticos, CIA e empresários; centenas de torturados e desaparecidos; instituições públicas sucateadas; educação sem investimentos e totalmente censurada; favorecimento e consolidação do cartel das comunicações no Brasil, etc, etc. Argentina e Chile conseguiram virar esta pagina e punir os assassinos, por aqui o buraco é sempre mais embaixo...
ResponderExcluirE Cuba, Felipe? Não é exatamente isso que você e todos os demais militantes esquerdistas fazem em relação ao regime dos irmãos Castro? Não tentam minimizar ou mesmo justificar e enaltecer uma ditadura com base em suas supostas “conquistas sociais”? Vai estudar!
ResponderExcluir"Cuba" e "vai estudar". Dois baitas argumentos. Aí eu chamo um de vocês de idiota e o cara fica todo dodói.
ExcluirNão interessa onde o assunto começou, Clóvis Gruner. Porque acaba sempre em Cuba. Ou na Coreia. Ou o autor do texto acaba sendo chamado de petralha. Como o Felipe não é do PT, então o recurso é mandar estudar...
ExcluirQue dupla. Ambos precisam de um intensivo sobre interpretação de texto. Que realizarem juntos o curso? Vão de bicicleta(mobilidade urbana - já imaginou o Baço andando de bicicleta?), conversando e falando sobre as questões do intensivão. Vai ser um barato.
ExcluirInterpretação de texto? Então vamos a ela: o texto do Felipe diz, justamente, que não houve "milagre econômico", que ele é uma falácia, criada pelos ditadores militares e civis, e que estamos a pagar ainda hoje, parcialmente, o preço da mentira.
ExcluirBasta dizer que quando os militares deixaram o poder, em 1984, o Brasil era um país com índices inflacionários maiores que o de 1964, muitíssimo mais endividado que em 1964, e vergonhosamente mais miserável que em 1964.
Oras, se o que o Felipe mostra é que não há milagre, mas uma grande mentira, o seu argumento logo acima - ou sabe-se lá quem o escreveu - não se sustenta, duplamente. Porque é argumento estúpido, e porque você (ou quem o escreveu) não entendeu o texto do Felipe.
Vamos desenhar, assim, quem sabe, o Gruner consegue entender. Em nenhum momento eu entrei no mérito da veracidade ou não do milagre econômico na ditadura militar. O que eu disse e critiquei foi a incoerência do Felipe, o qual critica os que defendem uma ditadura devido ao milagre econômico(de novo, não interessa se é mentira ou não; não é esse o x da questão). No entanto, o Felipe usa do mesmo expediente para justificar a ditadura cubana castrista enaltecendo as "conquistas sociais" que os Castros teriam conseguido. E, oras, todos sabemos que não houve nenhuma conquista social no governo castrista. É a defesa do indefensável. Por isso, nobre Gruner, faça com urgência a inscrição em algum curso de interpretação de texto.
ExcluirEntendi o teu argumento desde o começo e concordo que ele tem certo sentido. Critico uma ditadura e defendo, pelo menos um aspecto, de outra.
ExcluirMas acho que tu não pegou um ponto. Ei-lo:
Digo que a ditadura brasileira é indefensável e dou um exemplo, o tal do milagre econômico. Mas reforço que crítico a defesa do "milagre econômico" porque ele é uma mentira. E dou meus argumentos para acreditar nisso.
Sobre Cuba, não defendo a ditadura. Acho negativa, uma merda. Mas defendo Cuba em alguns aspectos, e estes NÃO SÃO BASEADOS em mentiras, como é o tal milagre econômico.
Defendo, em Cuba, a educação, o sistema de saúde, entre outras coisas. Critico a ditadura cubana e criticaria mais coisas se soubesse que elas ocorrem de fato. Não tenho certeza, no entanto, porque há um chorume de direita acerca de Cuba. Não se trabalha com argumentos, mas com uma repetição de clichês idiotas acerca de Cuba. Aí complica pra fazer a crítica. Não tenho como fazer com base nesse chorume.
O sistema educacional e de saúde são deploráveis em Cuba. Como eu disse, defende conquistas sociais em Cuba, porém elas não ocorreram. Se você ainda não sabe, está na hora de começar a estudar mais. Dizer que tem chorume de direita é apenas desculpa pra não dizer o que tem que ser dito. Eu duvido que você faria um texto criticando a ditadura cubana.
ExcluirOlha o chorume: "O sistema educacional e de saúde são deploráveis em Cuba."
ExcluirPor isso que fica difícil dialogar com vocês, pois só repetem isso. Eu falei que o "milagre econômico" é uma mentira e disse a razão disso. Você e outros só sabem repetir o chorume ali.
Você faz textos com os mesmos chorumes, sem embasamento algum, tanto é que foi criticado por vários leitores aqui. Veja que minha frase não foi de argumentação e sim de constatação, fato já conhecido por todos nós, ou você acha que alguém acredita que Cuba tem um sistema educacional e de saúde maravilhoso? Quem seria o lunático a acreditar ? Se você, ainda assim, tem dúvida, fácil, vai pesquisar, esse é o seu papel de jornalista. Não fique dando desculpas de chorume para não enxergar o que todos nós já sabemos. Pesquise e faça o texto sobre Cuba, criticando o regime de Fidel Castro. "Pago pra ver".
ExcluirSer criticado por leitores como você é elogio.
ExcluirVocê é tão burro que comprovou o que eu disse, mas não consegue perceber isso. Olha o chorume: "Veja que minha frase não foi de argumentação e sim de constatação, fato já conhecido por todos nós, ou você acha que alguém acredita que Cuba tem um sistema educacional e de saúde maravilhoso? Quem seria o lunático a acreditar ?"
Agora, se você vai pagar pra ver, terei prazer em trabalhar. Saia do anonimato e me pague uma viagem a Cuba. Dez dias lá serão suficientes para fazer uma boa reportagem sobre o assunto. Se está mesmo disposto a pagar, ficarei feliz em fazer. Fico no aguardo.
Tanso, não fui eu que o critiquei no passado, foi outros leitores, e você esqueceu que o pago pra ver está entre aspas. Inscreva-se para fazer o curso de interpretação de texto com os teus companheiros.Você não vale uma paçoca. Só falei a verdade, se isso pra você é chorume, não posso fazer nada, só um jumento pra acreditar no sistema educacional e de saúde de Cuba. Não precisa viajar pra lá pra saber disso, basta pesquisar, mas pelo jeito você tem medo, pois acredita que tem muito chorume de direita. A verdade tortura, né. Bem que eu disse que você minimiza a ditadura cubana com as "conquistas sociais" de Fidel, assim como os nostálgicos que defendem a ditadura militar com o milagre econômico. Ambas mentirosas. Pensando bem, eu até te pagaria uma viagem pra Cuba, mas só de ida, pra não voltar mais seu ignorante. Vai estudar, cabaço! Fico no aguardo quanto ao texto sobre a critica da ditadura cubana, e eu vou cobrar.
ExcluirVai cobrar o quê, pamonha? Te devo algo?
ExcluirPague a viagem e me cobre a reportagem. Pode ser só de ida.
Inclua paçocas no orçamento, pois aprecio.
Passar bem, chorumento.
Não se faça de desentendido, palerma. Eu vou cobrá-lo.
ExcluirVai estudar!
E tu não se faça de entendido, porque tu não entende nada de porra nenhuma. Bocó!
Excluiralto nível o diálogo acima desses dois...
ExcluirAcho que nem se discute, Felipe. Os milicos só entregaram o poder porque perceberem que eram incompetentes demais, que levaram o país para o buraco e não sabiam como sair dele. Não houve uma ideia de democratização, mas apenas de passar o abacaxi para os sucessores.
ResponderExcluirUm grande legado econômico do regime militar é indiscutível: o aumento da dívida externa, que permaneceu impagável por toda a primeira década de redemocratização. Em 1984, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Sim, mais da metade do que arrecadava. Se transpuséssemos essa dívida para os dias de hoje, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão, ou seja, o quádruplo da atual dívida externa. Além disso, o suposto “milagre econômico brasileiro” – quando o Brasil cresceu acima de 10% ao ano – mostrou que o bolo crescia sim, mas poucos podiam comê-lo. A distribuição de renda se polarizou: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois. Quer dizer, quem era rico ficou ainda mais rico e o pobre, mais pobre que antes. (Fonte .http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/10-mitos-sobre-a-ditadura-no-brasil/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super)
ResponderExcluirai, que preguiça...
ResponderExcluirHiberne.
Excluirmacunaíma vive nos trópicos...
Excluirinflação brasileira desde 1940.
Excluirhttp://brasilfatosedados.files.wordpress.com/2010/12/5-11.png
Não sei pq devemos achar que com o jango seria melhor...
e não, isso não é uma defesa das torturas.
Porque ele propunha reformas que o povo apoiava. Por isso caiu.
ExcluirSeria melhor. Mas como o melhor para o povo não é o melhor para alguns, ele caiu.
Aposto que vai ter algum joinvilense que vai culpar os paranaenses e gaúchos pelo aumento da criminalidade e da miséria aqui na nossa Chonville... e não o crescimento absurdo sem a infra-estrutura promovido pelos governos passados. Cansei de escutar este tipo de preconceito... o mesmo preconceito que os baianos sofreram em Brusque ano passado.
ResponderExcluirLonge de defender a ditadura castrista, parece que a deplorável educação de Cuba erradicou o analfabetismo...diferentemente dos excelentes Mobral e Projeto Rondon da nossa maravilhosa ditadura...
ResponderExcluirmds
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