terça-feira, 22 de abril de 2014

O mundinho de Joinville

POR CHARLES HENRIQUE VOOS 

Há alguns anos, durante minha adolescência, eu acreditava ser (e era mesmo) um bairrista. Um jovem que aplaudia várias situações locais, discutia pelo JEC, e defendia cegamente o indefensável. Após alguns anos, vejo que muita coisa mudou para mim, mas para minha cidade num geral nem tanto. Existem milhares de pessoas em Joinville que não gostam de se abrir para o diferente, para o novo, e até mesmo para o correto.

Creio que existam muitas coisas boas na cidade em que nasci e moro, mas os absurdos diários me fazem ficar doente, por quase sempre. O mundo em que Joinville vive - e principalmente os joinvilenses - chega a ser tão frágil e lunático que dá pena. A sociedade joinvilense quer conservar algo, mas não sabe o quê. Quer enaltecer seu DNA quando falta vida. Quer se sobressair perante o nada. É uma sociedade sem alma, presa em um mundinho só dela. Quem se arrisca a sair, dificilmente volta por reconhecer o suplício que o espera na volta. Sem contar os rótulos postos por aqueles que ficam e vivem em um cabresto pré-moldado por uma mídia parcial, empresários catalisadores de plutocracias e gestores públicos que pouco abrem as portas da cidade para o estrangeiro.

Viver em Joinville é um martírio quando se sabe o que existe fora dela. As outras cidades onde a democracia é respeitada, e os cidadãos colocados em primeiro lugar, são sinônimos de um sonho que jamais será vivido. É percorrer caminhos cíclicos, onde as mentes andam por ruas que terminam na mesma praça, no mesmo banco, e no mesmo jardim. Digo, na mesma fábrica, na mesma recreativa, e no mesmo concreto.

Neste mundinho não há celeiros de mentes humanas, ao mesmo passo que as universidades públicas e abertas para todos não são de todos, mas somente para aqueles com mentes exatas e que vislumbram empregos exatos. Náo há cidade para pessoas, mas sim para empreiteiros, LOTeadores e lobistas. Não há adensamento, há espraiamento. Não há ônibus, trem, metrô ou VLT decentes, como em qualquer mundo que não se fecha em si mesmo. Entretanto, só encontramos planejadores com a mesma postura de 20 anos atrás.

Mundos abertos se desenvolvem, e não crescem. Joinville parece só querer crescer. Crescer para quem? Para que? Justiça social e urbana parecem não existir. Em outros lugares existe tudo isto, mas é um conceito vendido como ilusão. Joinville é uma cidade com extremo potencial (morros praticamente preservados, rios com água farta, média quantidade de moradores, grandes potenciais em todos os cantos da cidade, gente querendo fazer a diferença...) mas muitos vão embora por faltar uma coisa: a cidade reconhecer que precisa mudar, se abrir, pensar diferente e saber que o atual modelo vai falir mais cedo ou mais tarde. Ou isto acontece, ou Joinville irá se apequenar em sua pequenez.

10 comentários:

  1. Charles, não sou daqui mas moro em Joinville há 21 anos, e nela tive filhos e costruí um lar. Durante anos ouço até de amigos conterraneos o mesmo mantra, que se aqui não é o melhor lugar do mundo, pelo menos tem qualidade de vida. Mas ouço isto sempre desconfiado, e nos ultimos anos com a certeza de que é um mantra mesmo de reforço para a auto-estima, num afã de nos dar um certo alivio por suportar tanta imbecilidade e falta da "verdadeira" qualidade de vida.
    Quando viajo à Blumenau e Itajaí me pergunto o que faz tanta diferença do povo mais educado e acolhedor destas em relação à Joinville. Penso que devem haver fatores culturais e étnicos determinantes para explicar isto, já que geograficamente somos tão vizinhos e próximos.
    Porém quando comparamos com cidades de igual porte, como Maringá por exemplo, aí realmente parece que não estamos no mesmo continente. Por que será que o público aqui é tão privado? Por que será que negamos diariamente o culto ao prazer, à cidadania, às diversidades, ao turismo ambiental, à integração entre as zonas Norte, Sul, Leste e Oeste, ao planejamento? Por que Joinville tem tantas portas trancadas em termos de administração pública e privada? Por que aqui os ricos são tão mesquinhos e miseráveis, e a classe média tão alienada e ordeira?
    São perguntas que não encontro resposta nestes 21 anos, e provavelmente não vou encontrar, pois conto os dias para me aposentar e poder partir para ares mais saudáveis.

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  2. Compartilho de seus questionamentos, Sergio...

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  3. Sou de Joinville e moro há 44 anos em Curitiba.
    Meus parentes, a grande maioria permanece em Joinville, que ao longo desse tempo se tornou para mim um "lugar de passagem" no período de feriados e férias.
    Mas quando digo "passagem" falo literalmente, pois dou um abraço na turma e continuo viagem em busca de "ares melhores", no que diz respeito a qualidade de vida.
    Tive ao longo desse tempo boas oportunidades financeiras para me mudar para Joinville, e a família torcia para isso, mas confesso, não estou arrependido, e meu conselho para quem me pergunta quando pensa nessa possibilidade é: Não dê um passo para a frene no salário e três para trás na qualidade de vida.
    Fico triste com esta constatação, e mais ainda por perceber que o povo de Joinville, em sua grande maioria, se acomodou de tal forma, que não vejo perspectivas melhores para tão logo.

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  4. Seu texto tá certinho meu amigo....Joinville tá perdendo faz tempo...e o pior....acha que não....acha q tá no caminho certo...tristeza...

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  5. Seu texto tá certinho meu amigo...Joinville tá perdendo...e o pior...acham que estão no caminho certo....fatores culturais ou étnicos?? ah...não vem com essa...tenta outra...

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  6. Todo joinvilense deveria dar uma voltinha até a "esquina" (nem precisa ir muito longe) para constatar que não vive no paraíso que lhe vendem. Hoje mesmo fui até Blumenau a trabalho e aproveitei para fazer uma breve caminhada pela belíssima rua XV de Novembro deles. Dá até uma tristeza ver a situação do nosso centro, completamente abandonado.

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  7. Tenho q concordar contigo Charles....ja morei de Porto Alegre a Manaus...nm vou citar cidades de fora do País...os gestores publicos e privados de Joinville...os politicos joinvilenses...a sociedade organizada joinvilense...eu uso uma palavra só...são "estranhos"...que se define como..."que ou que é esquisito, que se caracteriza pelo caráter excepcional"...eu moro a 20 anos aqui...sempre sonhei em morar nessa cidade desde criança...a defino tbm como uma cidade grande ..mas com ar de cidade pequena acomodada...eu tenho filhos morando em Jundiai SP...cidade do mesmo tamanho...mas com um diferencial tremendo...em qualidade de vida...e desenvolvimento...nunca pensei em sair daqui...mas ultimamente estou revendo essa vontade...minha aposentadoria será vivida em outra cidade...menos aqui...lamentavel...esse fim de semana sai com a familia passear nas ditas "areas de lazer"...o mais chocante foi encontrar o Parque Caieiras...virado literalmente num "caieira"...senti vergonha em recomendar para amigos turistas visitar esses pontos...ainda espero uma mudança dessa "esquisitiçe" ...do joinvilense...seja nativo...ou q adotou essa cidade...(Du Von Wolff)

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  8. Isso aqui é uma merda, ainda não fui embora porque sou um cagão!

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  9. Entendo que não seja assim tão fácil como mudar de marca de um produto alimentício, mas resta à todos que não gostam da cidade, traçar um planejamento ao fim de abandona-la em busca de locais mais favoráveis. Há coisas com as quais precisamos nos conformar, a chuva por exemplo, mas neste caso, há ao nosso arbítrio a possibilidade de nos afastarmos. Joinville vive atualmente uma fase de adolescente, é pequena demias para projetos faraônicos e grande demais paa contiar as gambiarras. Quem sabe trazendo Maluf as obras pelo menos já estariam avançadas. Não discordo do pensamento do redator em si, mas, quais alternativas? Duas passivas: 1. Resignar, 2. Resignar e lamentar, Dias pró-ativas: 3. Fazer algo para mudar permanecendo no município 4. Ir embora. Em se tratando do específico reedator do artigo bem se sabe qual a escolha.

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  10. Charles, concordo com você...
    cada vez mais vejo que sair de Joinville é uma opção !!!

    Uma cidade sem opções de lazer , de compras , poucos bares e restaurantes , sem cultura (quase sem!) , ...
    Dia após dia me deparo com a mediocridade desta cidade do interior...

    As pessoas estão voltando a ir a Curitiba, Balneário e Florianópolis atras de diversão, compras , cultura e gastronomia.

    e a culpa não é da Administração municipal , aquela da ACIJ para a ACIJ , a culpa é do cidadão (que não consome) e do empreendedor (que não apresenta opções) , é também do Comércio (limitado e explorador) e do atendimento péssimo dos Prestadores de Serviços... Juntando tudo dá uma cidade pequena com grande população... a JoinVILLA como já citado neste Blog.
    Eu ia dizer que a saída é o aeroporto , mas infelizmente este é uma merda , pensei na saída pela BR101 mas tá congestionado , o jeito é ser medíocre e ir ficando por aqui mesmo .....rsrsrs

    du grego

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