domingo, 13 de novembro de 2011

O herói do milhão

POR JORDI CASTAN

Que um policial militar do Rio de Janeiro tenha recusado aceitar um suborno de R$ 1.000.000 tem sido uma das notícias mais comentadas nestes dias, numa sociedade em que é comum que com uma contribuição a Nossa Senhora do Cafezinho seja possível não ser multado e sair sem pontos na carteira, é evidente que recusar um suborno como este merece destaque. A duvida é se o destaque é pela recusa ou pelo valor oferecido. Os especialistas informam que os valores praticados pelo mercado são em geral muito menores.

Sem ir muito longe, aqui em Santa Catarina, não é mais novidade que policiais e outros funcionários públicos que deveriam estar comprometidos com a segurança dos cidadãos estejam mais próximos dos marginais, de quem deveriam nos proteger. Ver, ouvir e ler notícias que envolvem diretamente estes agentes públicos, pelo recebimento de propinas e subornos tem se convertido em algo tão corriqueiro, que já ficamos insensíveis. O caso do policial do Rio ganhou notoriedade pela recusa. Tem até gente maldosa que acha que o valor foi tão alto que ele próprio não acreditou que fosse verdade. O importante é que não aceitou e o marginal foi preso.

A banalização da corrupção se dapela quantidade de corruptos e pelo baixo valor envolvido nas transações. Um troco para um cafezinho mostra melhor que nada o nível a que temos chegado. Casos de R$ 20 ou pouco mais, são a melhor prova de que a corrupção é sistêmica, que tanto corruptores como corruptos tem desenvolvido um mercado, emque regras e valores são conhecidos e praticados pelas partes, na maior tranqüilidade.

A informação do próprio Nem, que a metade do seu movimento econômico era destinada a pagar policiais corruptos, casos de policiais escoltando marginais não são raros e mais que envergonhar as corporações, semeam a desconfiança e a insegurança numa sociedade que nãoconsegue mais diferenciar marginais comuns, dos marginais fardados. O resumo éque 90% dos policiais envergonham os 10% restantes.

5 comentários:

  1. Jordi,
    Concordo com todo o texto, à exceção da última frase. Acredito que a proporção dos policiais é ao contrário: 10% de policiais corruptos envergonham os 90% honestos. Melhor: não consigo atribuir um valor percentual para isso, mas é difícil crer que mais da maioria é corrupta.

    Sou um crítico do modo como, no geral, a polícia atua na repressão ao crime.
    Não deve ser fácil atuar numa profissão tão arriscada e perigosa ganhando o soldo ridículo que os policiais vêem bater na conta mensalmente, mas é preciso agir com mais cérebro e menos músculos. Dificilmente os dois caminham juntos (músculos e cérebro)
    Também é fato que a corrupção é algo banalizado, mas a proporção, quero crer, não pode ser a que você apresentou.
    No mais, parabéns pelo texto, lúcido como sempre.
    Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Prezado Guilherme,

    obrigado pelo seu comentário, o tema das policias, temos mais de uma dezena delas, desde a ferroviária a portuária, e do tem se dado agora os corpos de segurança do estado é um tema complexo e polemico.

    O DC aqui em Santa Catarina mostrou recentemente que a maioria dos nossos policiais militares por exemplo, cumprem funções administrativas e sem nenhum risco. A imagem que o Bope no RJ tem construído graças ao cinema, pouco se corresponde com o dia a dia da maioria dos nossos policiais que alem da segurança da assembleia legislativa, fórum, bombeiros e outros trabalhos administrativos estão longe, muito longe de aonde são verdadeiramente necessários.

    Gosto de contar um exemplo meu particular para esclarecer como é o tema da policia aqui no Brasil. Quando tinha poucos anos de idade e comecei a ir para a rua a brincar, sou da época em que se brincava na rua, o primeiro ensinamento da minha mãe foi: Se você se perder ou te acontecer alguma coisa procura um policial, diz o teu nome, diz aonde você mora e fica com ele que nos vamos chegar. (Claro que esta historia não foi aqui, foi na Espanha) pergunto sempre ao meu interlocutor se ele ou ela fez a mesma coisa aqui no Brasil. Até agora ninguém me respondeu que o fez. Esta é a percepção que as pessoas realmente tem da policia. Triste? Sim muito. Verdadeiro? Sim também.

    Ler noticias quase que semanais que policiais recebem suborno, que escoltam marginais e que são coniventes com o crime, tampouco ajuda muito a melhorar esta percepção.

    ResponderExcluir
  3. É verdade, Jordi. Eu nunca fui 'instruído' a procurar a PM quando era criança (embora tenha 26 anos, tb brinquei muito na rua quando criança).

    Eu mesmo sou um cidadão que acredita na instituição polícia militar (pra referir-me à mais próxima de mim), mas que não sabe se pode confiar no policial mais próximo. Por isso, no geral, desconfio dos policiais num primeiro momento, embora acredite que a maioria seja íntegra.

    Contudo, creio que essas notícias que lemos são as exceções, justamente por isso viram notícia.

    Como diz a Coca Cola: Há razões para acreditar. Os bons são maioria!

    ResponderExcluir
  4. Lembro de uma reportagem do JN, tempos atrás, que mostrava uma delegacia de um bairro, no Rio de Janeiro, em que houve uma fuga em massa. Descobriram que fora o carcereiro que abriu as celas e deixou que os bandidos fugissem a mando de traficantes de um morro próximo. A reportagem o pegou na saída, sendo preso, e tascou: "Quanto lhe pagaram pra que o senhor abrisse as celas?" O coitado do carcereiro repondeu: "Não me pagaram nada, não, moço...! Eu não sou vagabundo, eu sou é refém. Moro no morro e se não abrisse as celas matavam a minha família...!"
    P.S. Isso foi há muito tempo. Bem antes dos chefes do crime organizado do RJ entenderem que o crime não compensa e trocarem de profissão, "assustados" com o sucesso das milagrosas UPPs...

    ResponderExcluir
  5. Os bons não são a maioria. Aliás, só existe o bem ante interesses pessoais do próprio benfeitor.

    O índole do ser humano é má, por natureza.

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem