quinta-feira, 6 de outubro de 2016

José Serra, os BRICS e a “tatarocracia”















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É difícil gostar de José Serra. Porque é uma figura sinistra. Do ponto de vista pessoal a recusa é clara: a sofreguidão que ele demonstra de entregar o Pré-sal ao capital internacional (coisa que vai conseguindo fazer, como vimos ontem). O petróleo nas mãos de estrangeiros é uma coisa que vai hipotecar o futuro do país. Lembremos que boa parte do dinheiro deveria ser investido em saúde e educação. É incompreensível esse vício que Serra tem de dar bolada nas costas do Brasil.

Do mais sério ao mais ridículo, haveria muito a dizer sobre o homem. Nem é preciso pesquisar muito para encontrar coisas nada dignificantes. É só lembrar a denúncia feita pela “Folha de S. Paulo”, há poucas semanas, quando publicou, em matéria de capa: “Serra recebeu R$23 milhões via caixa 2, diz Odebrecht”. Em que outro lugar ele continuaria ministro depois de uma notícia como esta? Não continuaria. Isso só é possível em países com déficits de democracia, como o Brasil.

Também há os episódios menores, alguns beirando a sacanagem. Quem não lembra da farsa da bolinha de papel, na campanha de 2010? Teve até tomografia. Ou da declaração de que era contra o aborto, insinuando que Dilma era a favor? E “esquecendo” que a própria mulher tinha feito uma interrupção voluntária da gravidez. Ou que num único dia de campanha chegou a comungar seis vezes para passar a ideia de religioso. Enfim, o anedotário é extenso.

Mas agora que José Serra é ministro, chegamos a um momento que pede um pouco de atenção. Será que o homem está cheché? Há um filme a circular pela internet que mostra José Serra a tentar falar nos BRICS (ver abaixo). E tudo que sai é um discurso tátaro, onde ele parece mais perdido que cachorro caído de mudança. Não consegue lembrar de nada e, em meio ao tatibitate, até inclui a Argentina entre os países do bloco. Diabo de disfasia.

É natural que as redes sociais tenham sido invadidas por gente a questionar o estado de saúde do ministro. Um deles é o jornalista Luis Nassif que escreve: “é possível que Serra esteja neurologicamente decrépito”. Ok... é um diagnóstico que cabe aos especialistas médicos, mas é preciso que os brasileiros estejam atentos. Porque ver o Brasil transformado numa “tatarocracia” é um cenário a ter em conta. 

É a dança da chuva.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os bodes eleitorais

POR FELIPE SILVEIRA

O resultado da eleição gera uma cachoeira de opiniões. A direita comemora a diminuição do PT, a esquerda passa a dizer que o pobre não sabe votar, simpatizantes passam a sugerir estratégias eleitorais, anarquistas comemoram as abstenções, militantes começam a discutir os erros internos…

O problema é que algumas dessas opiniões, que mais parecem certezas em alguns discursos, escondem alguns enganos. O maior deles é dizer que o pobre não sabe votar, que votou no vilão etc. Primeiro que este argumento é tentador, mas não passa de um bode expiatório, algo para disfarçar a nossa própria culpa. As pessoas votam no que parece melhor para elas e é nossa responsabilidade não nos colocarmos como a melhor alternativa.

Outra coisa bizarra desta enxurrada de pitaco é o tanto de gente dizendo o que aqueles que perderam deviam ter feito. Não questiono a boa vontade, mas onde estavam essas pessoas antes da eleição? Uma boa parte das opiniões é coisa que a gente já sabe, que já discutimos, mas que achamos melhor não fazer ou não tivemos braços para isso. Algumas pessoas mal fizeram o cadastramento biométrico, mas querem dizer como a campanha deveria ter sido feita. Eu agradeço as sugestões, mas sugiro que a pessoa faça isso com pelo menos alguns meses de antecedência na próxima.

Acho que toda a discussão é bem válida, legítima, mas acredito que devemos avançar no que podemos fazer a partir de agora para resistir aos ataques governamentais e também para construir a alternativa para as próximas disputas.

A primeira coisa é para de falar de político como se isso fosse algo extraterrestre, distante de nós. Aceitemos a nossa condição de ser político e façamos a nossa parte.

Outra coisa é criar mecanismos e participar de movimentos de fiscalização coletiva do poder público. Há diversas formas de fazer isso, seja por meio de imprensa alternativa ou de núcleos de análise de dados, transformando isso em demandas que serão apresentadas pela população.

Também vale a pena começar a frequentar os espaços públicos de debate político, como os fóruns específicos, associações, sindicatos e a própria Câmara de Vereadores. Essas são apenas algumas coisas que podemos fazer para começar o processo de transformação social que desejamos.

Você pode fazer outras sugestões nos comentários e começar a botar a mão na massa. É melhor do que ficar procurando culpados e desculpas.

Faça você mesmo!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Os comissionados devem ter melhores salários?















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Eis a tese: os comissionados das prefeituras devem ter melhores salários. Ops! A afirmação pode causar algum ranger de dentes no eleitorado, mas faz sentido. Por quê? Porque as administrações públicas são incapazes de atrair profissionais de topo para os seus quadros. O resultado é que os postos-chave são ocupados pessoas que, na maioria dos casos, não são profissionais de primeira apanha. E isso emperra a máquina.

É só dar uma olhada para o perfil dos comissionados nas prefeituras. É gente que está lá por causa da carteirinha dos partidos. É a famosa boquinha. Ou teta. Ou mamata. O diabo é que são a maioria. Há também os que têm algumas aptidões técnicas, mas que por alguma razão não conseguem singrar na iniciativa privada. E há os comissionados profissionais: entra governo sai governo, os caras dão um jeito de ficar lá.

Generalizações são para evitar, porque há os que conseguem fazer a máquina andar. Mas são como os cometas e só aparecem de vez em quando. Enfim, a coisa é sofrível. O que temos são administrações de baixa competência, ausência de imaginação e incapacidade de produzir bons resultados. Mas, por ironia, isso poderia mudar com melhores salários, porque permitiria ir ao mercado captar gente melhor preparada.

Aliás, sob este aspecto vale uma palavra sobre o prefeito Udo Dohler. O homem chegou à Prefeitura com o discurso de gestor, mas se afastou rapidinho desse perfil. O prefeito tem o velho ditado em sua defesa: não se faz omeletes sem ovos. E não há como disfarçar: os comissionados estão na gênese dessa incapacidade intrínseca que as prefeituras têm de resolver os problemas com competência. A competência é exígua.

Há uma leitura política a fazer. Por serem cargos políticos, a democracia fica comprometida. Quem não tem visto, nas eleições, comissionados transformados em cabos eleitorais? É ilegal? Não sei. Mas é imoral. Os caras podem até alegar fé num determinado projeto, mas só os distraídos não verão uma luta pela manutenção do “emprego”. Aliás, há casos que beiram o escárnio: tem muito pretendente a comissionado a dar o ar da graça por aí.

Enfim, os caras lutam pela sobrevivência num ambiente facilitador. Porque o mundo real é exigente e as empresas privadas não são albergues para impreparados (ao contrário das prefeituras). O eleitorado pode até reagir à ideia, mas com outro nível de salários seria possível encontrar gente melhor preparada. Sem clientelismos a coisa só pode andar melhor. Afinal, se só temos profissionais meia-boca os resultados serão sempre meia-boca.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Não esqueça.


Joinville: quem ganha e quem perde?


POR JORDI CASTAN

Escrevo com os resultados ainda quentes. E a pergunta é quem ganha e quem perde depois de abrir as urnas. Nada de fazer adivinhação só uns comentários e o tempo dirá qual o percentual de erro ou de acerto.

QUEM GANHA

Udo Dohler - Sem dúvida, o grande vencedor é o prefeito Udo Dohler. Carregou o PMDB nas costas. O PMDB que tinha quatro vereadores agora tem cinco e fez os vereadores mais votados. Dois dos eleitos são ex-secretários municipais. O prefeito sai fortalecido deste pleito.

Fernando Krelling - Foi o vereador mais votado da história de Santa Catarina. Uma nova liderança que será bom acompanhar de perto. Será o próximo presidente da Câmara de Vereadores e tem um futuro promissor se não for torpedeado pelos barões do PMDB histórico, antes de empreender voo.

PMDB - Ainda o PMDB de Udo saiu renovado, pois dos cinco vereadores três são novos. Para quem defende a renovação na política local mais uma boa notícia.

Jéssica Michels - a simpática e espevitada candidata do PSOL mostrou que há espaço para fazer uma campanha com criatividade e poucos recursos. Só não se elegeu porque seu partido não alcançou o coeficiente eleitoral mínimo para eleger um vereador.

Causa animal - A causa animal também saiu fortalecida. Fazer foto com cachorrinho em braços e se apresentar como defensor da causa animal dá mais votos que ser defensor dos direitos humanos, das minorias ou do meio ambiente. Este pessoal tem voto “pra cachorro”. A Joinville que vota contra o corredor ecológico do Bugio Ruivo é a mesma que elege dois vereadores que defendem a causa animal.

Marilisa Boehm - Foi a melhor surpresa desta eleição. Se tivesse sido cabeça de chapa, o resultado poderia ter sido outro.  

Renovação - Quem defendia a renovação no Legislativo, porque a renovação foi de quase 60%. Se consideramos a enorme vantagem que representa buscar a reeleição este dado ganha mais peso. Menos da metade se reelegeram. 

QUEM PERDE

Ainda há que esperar o resultado do segundo turno, mas o modelo republicano sai mais frágil a cada nova eleição. Só com um grande esforço é possível imaginar este Legislativo fiscalizando o próximo Executivo.

PT - Perdeu o Partido dos Trabalhadores, que não elegeu nenhum vereador. Ficou longe, muito longe aquele PT que já teve 3 ou 4 vereadores e administrou Joinville. É provável que acabe menor que o PSOL.

PP - É outro que saiu destas eleições muito menor do que entrou. Outro partido que não elegeu nenhum vereador. Mesmo tendo candidato na majoritária fez menos de 2% dos votos. Pouco muito pouco.

Marco Tebaldi - Chegou a estar em segundo nas pesquisas. As urnas mostraram que não tinha fôlego para aguentar toda a corrida. Foi desinchando à medida que a eleição foi avançando. O resultado alcançado e a sua situação política o deixam numa posição muito delicada e que impacta diretamente o seu partido.

PSDB - O partido dos tucanos também sai menor do que entrou.

Maycon Cesar, Bisoni, Adilson Mariano e João Carlos Gonçalves são nomes que não estarão no próximo legislativo. Sem eles a Câmara ficara mais monótona e perderá emoção.

SEGUNDO TURNO

O segundo turno é uma nova eleição. As regras do jogo mudam, o tempo de propaganda é o mesmo para os dois candidatos. Joinville terá que escolher entre o candidato “honesto” - que não faz - e a incógnita que representa o deputado estadual que converteu seu desejo de governar Joinville numa cruzada pessoal. Se mostrar a competência mostrada até agora na aplicação dos ensinamentos bíblicos e repete os milagres citados por Mateus15:32-39, Joinville pode ter muito a ganhar. Se unir ao milagre da multiplicação a virtude da generosidade e do desprendimento o resultado será bom para todos.  

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Eleições em Joinville: um candidato, um livro











POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Falta pouquíssimo tempo os eleitores joinvilenses irem às urnas. Os candidatos a prefeito estão a viver um período de maior calma. Como ele vão aproveitar esse tempo? Ora, atrevo-me a sugerir a leitura de alguns livros que, no meu modesto entendimento, podem proporcionar momentos de descanso, aprendizado e até de reflexão. E lembrei-me de alguns títulos interessantes para indicar a cada um dos candidatos.

UDO DOHLER
A peste – Albert Camus

A história se desenrola em Oran, uma cidade onde o que importa são os negócios e as relações humanas recebem pouca importância. Um dia ratos invadem a cidade para morrer, num prenúncio de que algo de muito mau está por vir. A população entra em estado de negação e as se negam a reconhecer a epidemia. Até que as consequências se tornam avassaladoras. Parece apenas a história de uma epidemia, mas o autor Albert Camus explicou, tempos depois, ser uma alegoria dos regimes totalitários. A época em que se passa a ação – o livro foi escrito durante a Segunda Guerra – não é despicienda.

MARCO TEBALDI
The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde – Robert Louis Stevenson

A hipocrisia é um dos temas de fundo do livro. Ou seja, um embate entre o lado “sujo” e o lado “limpo” de um homem: o Dr. Jekill, que vive entre duas personalidades. De um lado, o homem que se autorreferencia como alguém de conduta exemplar. Do outro, uma personalidade de escrúpulos duvidosos, que não se coíbe em cometer vilanias. Há uma poção (talvez uma representação metafórica do poder) que produz essa transmutação.

RODRIGO BORNHOLDT
Cândido  – Voltaire

O livro narra a história de Cândido, um jovem que vive pelos ensinamentos do seu mentor, o professor Pangloss, um filósofo dogmático e otimista. Por mais desgraças que visse, o velho mentor dizia sempre “tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”. Por seu lado, quando começa a perceber que o mundo produz muitas desilusões, Cândido começa a se desgostar com a realidade e passa a usar um novo lema de conduta: “devemos cultivar o nosso jardim”.

IVAN ROCHA
As aventuras de Huckleberry Finn – Mark Twain

O livro narra a história de um jovem que se sentia um outsider na sociedade em que vivia. Um dia Huck decide abandonar essa sociedade e empreende uma fuga (que aqui pode ter um valor metafórico). Na jornada encontra Jim, um escravo que também busca a liberdade e juntos partem para uma vida de aventuras. É uma história que fala sobre dilemas éticos e morais, tendo como pano de fundo um ambiente de violência civilizacional.

DR. XUXO
Leite Derramado – Chico Buarque

É a história de um homem, já velho e prostrado numa cama de hospital, que faz um monólogo acerca de uma saga familiar. O pano de fundo é a decadência social e econômica, em meio a um ambiente marcado por preconceitos, corrupção e machismo, para citar apenas estas distopias da sociedade brasileira. O que mais chama a atenção no livro é a narrativa por vezes aleatória, outras circular e sempre cheia de recomeços.

CARLITO MERSS
O Marinheiro de Perdeu as Graças do Mar – Yukio Mishima

Quem quiser encarar o livro como um simples romance vai encontrar uma história de erotismo, poesia e sacrifício. Mas Yukio Mishima é mais que isso. A história pode também ser uma metáfora do homem que deixa o seu habitat natural (o mar) para viver em outro (terra firme). Mas nesse ambiente os valores são outros e não tarda até que o marinheiro seja julgado e perca a grandeza, a glória e o brilho. Afinal, como alerta o próprio autor, “a glória, como vós sabeis, é uma coisa amarga”.

DARCI DE MATOS
Vinhas da Ira – John Steinbeck

Vinhas da Ira narra a trajetória de uma família pobre de agricultores, num processo de migração de um estado para outro. Durante muito tempo tinham vivido como meeiros numa propriedade agrícola, mas a vida foi ficando cada vez mais difícil e viram-se obrigados a procurar um novo lugar para viver. A revela uma sociedade onde as pessoas trabalham duro e são mal remuneradas. O livro faz uma crítica política (e incomodou muitos políticos).

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Comentário a respeito de Belchior
















POR FILIPE FERRARI


Esse é um texto amargo, porque são tempos difíceis. (Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve...)

Ontem, um conhecido falou sobre a "festa" da democracia, defendendo seu direito de fazer campanha em um espaço de diversão e descontração para colegas de trabalho. O problema é que esta festa está mais para festim canibalístico, onde todos querem se devorar, e gente comum tentando tirar o seu da reta pra não virar aperitivo. Se não é festa, é circo, onde quem acha que é festa está maquiando os palhaços. (mas não se preocupe meu amigo/ com os horrores que eu lhe digo / isso é somente uma canção / a vida realmente é diferente / quer dizer / a vida é muito pior”)

A democracia representativa não é nada mais do que uma armadilha para a dilaceração dos incautos. Repudio quem a instrumentaliza para seus atos, para buscar seus cargos, para manter seus privilégios às custas dos menores, dos fracos. Admiro quem acredita nela, mas admiro a ingenuidade, a força de mudança que existe antes de ser tratado pela máquina. Talvez esse seja o combustível da máquina. Mas com combustível sabemos o que acontece: vira fuligem, suja as mãos mais limpas. (Se você vier me perguntar por onde andei/ no tempo em que você sonhava / de olhos abertos, lhe direi / amigo, eu me desesperava)

Durante um bom tempo da minha vida, não votei. Anulava, os tempos não exigiam. Já se sabia quem levaria, e o outro lado não parecia TÃO pior. Hoje não. Se eximir do voto hoje é abrir brechas. Somos obrigados a votar, não apenas pela lei, mas pela barbárie. São tempos difíceis. (como é comum no seu tempo / que ficou desapontado / como é comum no seu tempo / que ficou apaixonado e violento como você / eu sou como você )

Acho muito belo pensar no companheirismo, na solidariedade, mas que mundo é esse que nos pede solidariedade e nos soterra de trabalho? Onde está o tempo para os amigos? Para a construção dos sentimentos comunitários mútuos? (Mas o dinheiro é cruel e um vento forte soprou os amigos)

"A esquerda agoniza", insiste um "jenial" Anônimo aqui do blog. Pior que há momentos em que acredito nisso. A esquerda agoniza em sua própria vaidade, na sua dificuldade de articulação, renovação e tolerância. Já a direita, que agora tripudia e se exalta no Brasil, será engolida pelo monstro que está a criar.  ([…] mas sei que nada é divino / nada, nada é maravilhoso / nada, nada é sagrado / nada, nada é misterioso, não)


Espero estar mais otimista daqui quinze dias, afinal de contas sempre é dia de ironia, no meu coração.


*Texto livremente inspirado no excelente artigo que esses dias rodou pela internet sobre um dos maiores letristas da América do Sul.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ALÁ LÁ Ô !


Um balanço das novas regras eleitorais em Joinville

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Esta é a primeira disputa eleitoral sem as temidas doações empresariais de campanha, disputada em apenas 45 dias e com espaço reduzido na TV e no rádio. A reforma eleitoral capitaneada por Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados parece ter produzido alguns efeitos negativos, inclusive em Joinville.

Apesar de presenciarmos uma campanha limpa (sem outdoors, placas em postes, bandeiras a cada esquina, etc.), os oito candidatos a prefeito e os quase 400 a vereador encontram-se sobre o mesmo pé de desigualdade que nas épocas financiadas por empresas. Udo Dohler, por exemplo, já arrecadou quase 1 milhão de reais, sendo a maioria de recursos próprios (e Ivan Rocha, 450 reais). Às vezes não percebemos, mas a reforma eleitoral privilegiou os candidatos ricos, aqueles que possuem modos de se auto financiar. 

Ou, ainda, incentivou os partidos políticos a alçarem candidatos milionários em detrimento das lideranças sociais, o que notaremos com mais força quando Udo sair do cenário. Quando o pleito é para o legislativo, a mesma situação: as campanhas visivelmente mais "gordas" são aquelas de candidatos ricos, pois nunca precisaram de empresas para financiamento, ao contrário dos demais (dos 19 vereadores atuais, todos se elegeram com verbas diretas ou indiretas de empresas ligadas à ACIJ ou do ramo imobiliário). 

Outro fator decisivo está na distribuição da campanha eleitoral em inserções nos blocos comerciais. Até a última eleição, as propagandas dos candidatos eram concentradas nos famosos horários eleitorais, com uma baixa procura do eleitor. Agora, com o aumento da dispersão eleitoral ao longo do dia, os candidatos aparecem no meio dos programas favoritos das pessoas, naturalizando discursos difusos e escamoteando soluções.

Novamente, aqueles candidatos com maior poder de coligação saem em vantagem sob princípios desiguais. Enquanto um candidato tem 300 inserções espalhadas, outro pode ter apenas 10 ou 20. Isso pode explicar, por exemplo, porque Udo larga com tanta vantagem (incluindo aí o poder natural de quem ocupa a máquina pública) e, sobretudo, de como Tebaldi aparece tão bem colocado nas pesquisas de intenção de voto. Esses dois candidatos possuem, respectivamente, o primeiro e o segundo tempo total de propaganda na TV. Coincidência? No modelo antigo, os eleitores faziam de tudo para não ver o horário eleitoral, momento concentrado da maioria das propagandas. Agora, parece um comercial como qualquer outro e, como toda propaganda, o poder de manipulação é grande, a ponto de um condenado poder chegar ao segundo turno.


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Udo, Tebaldi ou Darci? Venha o diabo e escolha...
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Há quem venha defendendo a tese há meses. Darci de Matos só não ganha as eleições para a Prefeitura de Joinville se não quiser. Ou seja, só não será o próximo prefeito da cidade se cometer erros crassos e não souber aproveitar o momento. Quer dizer, pode ser uma questão de estar no lugar certo e na hora certa. Hummm... talvez. Mas será que ele está a fazer as coisas da melhor maneira?

Há nuvens no horizonte. A pesquisa do Ibope divulgada há pouco mais de uma semana mostrava o candidato do PSD num incômodo terceiro lugar, com 20% na preferência do eleitorado. Ou seja, dois pontos percentuais atrás do tucano Marco Tebaldi. No entanto, a margem de erro aponta para um empate técnico e Darci de Matos tem uma palavra a dizer. Os humores dos eleitores mudam, as pesquisas falham.

Um overview do quadro eleitoral faz relembrar o velho carma dos joinvilenses: o dilema de escolher o candidato menos ruim. E menos ruim, vale lembrar, ainda é ruim. Mas a coisa vai de mau a pior. Muitos temem o cenário mais aziago: um segundo turno entre Udo Dohler, que tenta a reeleição e lidera as pesquisas, e Marco Tebaldi, que pretende uma volta à Hermann Lepper.

Udo Dohler tem usado o maior tempo de televisão e os recursos dos marqueteiros para pintar o quadro bonito da sua administração. Mas soa a falso. E, como já escrevi, o atual prefeito tornou-se 100% político. Isso significa que as suas balizas morais e éticas tornaram-se mais maleáveis. Aliás, as ações judiciais contra Udo Dohler, movidas por adversários que o acusam de abuso de poder político, mostram que a pintura está borrada.

Marco Tebaldi tem problemas que vêm de longe. O candidato do PSDB tem enorme dificuldade em se descolar da imagem de ficha suja. E não é para menos. Quem não se lembra das manchetes? “Deputado Marco Tebaldi é condenado por desvio de dinheiro público, mas não terá que cumprir pena”, escreveu o jornal A Notícia, em 2014. Apesar de se autodenominar “ficha limpa”, a imagem de condenado grudou-lhe na pele.

Isso significa que o caminho pode estar aberto para Darci de Matos. É uma questão de passar ao segundo turno. Porque aí a rejeição vai ter peso decisivo. Eis os números revelados pela mesma pesquisa: Udo Dohler com 22% de rejeição, Marco Tebaldi com 21% e muito distante aparece Darci de Matos, com apenas 8%. Num segundo turno, Udo Dohler teria que trabalhar em duas frentes: conquistar votos e diminuir a rejeição (texto sobre a rejeição).

Neste quadro, Darci de Matos seria um candidato muito mais difícil de bater. Ou seja, a passagem de Marco Tebaldi ao segundo turno seria motivo de festa para a entourage de Udo Dohler (cada vez mais acometida de húbris). Significa que Darci de Matos é o melhor candidato? Nem por isso. Mas como nunca sentou na cadeira de prefeito traz a vantagem de não ter uma imagem desgastada. E esse é o calcanhar-de-aquiles dos seus dois principais oponentes.

Mas restam poucos dias para sabermos o que nos reservam as eleições. E, no frigir dos ovos, socorro-me de um velho ditado português: entre Udo, Tebaldi e Darci, que venha o diabo e escolha.


É a dança da chuva.