quinta-feira, 9 de junho de 2016
quarta-feira, 8 de junho de 2016
A conta saiu cara
POR CLÓVIS GRUNER
"Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a gente age rápido”. As frases, ditas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado a um dos principais caciques do PMDB, José Sarney, eram um apelo de Machado ao ex-presidente da República. Ele pretendia que ele usasse seu poder e influência para barrar as investigações da Lava Jato, com potencial para levar “toda a classe política para o saco”, e de preferência antes da delação premiada dos executivos da Odebrechet, porque “não há quem resista à Odebrecht”. Sarney propõe, como saída, a posse do então vice-presidente Michel Temer, que teria o apoio da oposição “diante de certas condições”.
O diálogo com Sarney deu sequência a uma conversa anterior, do mesmo Sérgio Machado, com Romero Jucá, um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, também senador pelo PMDB e por um breve período Ministro do Planejamento de Michel Temer. Ainda mais explícito, Jucá fala textualmente que é preciso “resolver essa porra. Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”, e sugere uma “articulação política” envolvendo o PMDB, à época das gravações, em março, ainda na base aliada mas já ensaiando sua saída do governo petista, e a oposição, também na mira das investigações da Lava Jato.
Experiente, o presidente do Senado Renan Calheiros, do PMDB, aconselha primeiro mudar as normas que regulamentam a delação premiada (“não pode fazer delação premiada preso”), instrumento fundamental da Operação, e negociar a transição com os ministros do STF, todos “putos com ela”, Dilma Rousseff. Feito isso, PMDB e oposição podiam “passar a borracha” e dar a posse a Michel Temer. Nos planos de peemedebistas e tucanos, a interinidade seria mera formalidade, porque a deposição definitiva de Dilma já era favas contadas, já que se tratava de componente fundamental à garantia de que terminariam todos, impunes.
As coisas não saíram exatamente como o esperado. Ontem, ficamos sabendo que Rodrigo Janot, o Procurador da República, pediu ao STF a prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e do deputado afastado Eduardo Cunha. A alegação de Janot, com base nas gravações das conversas entre Machado e os senadores do PMDB, é de que eles estariam tramando para atrapalhar as investigações da Lava Jato. No caso de Cunha, o Procurador sustenta que, mesmo afastado, o deputado continua a interferir nas investigações contra ele na Justiça e na Câmara dos Deputados, inclusive ameaçando integrantes do Conselho de Ética. A decisão de acatar ou não os pedidos de prisão cabe agora ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF.
O PREÇO DA IMPUNIDADE – Não é novidade e nem uma surpresa que a notícia caiu como (mais) uma bomba no interino, ilegítimo e acuado governo Temer. Se desde antes da vergonhosa sessão da Câmara que votou pela admissibilidade do processo contra Dilma Rousseff já estava claro que o processo contra a presidenta era uma verdadeira chicana, as semanas de interinidade do nada novo governo não apenas confirmam aquela primeira impressão, mas lançam nova luz sobre a extensão e a profundidade do arranjo criminoso forjado para, justamente, empossar um governo feito sob medida para livrar corruptos da cadeia e garantir a sobrevivência política de quem se sentia ameaçado pelas investigações da Lava Jato.
Se os diálogos de Sérgio Machado com as lideranças peemedebistas já comprometiam irremediavelmente a versão de que a presidência de Temer surgia para “refundar” a nação, a possibilidade de que Sarney, Jucá, Calheiros e Cunha – um quarteto formado por um ex-presidente da República, dois senadores (um deles ex-ministro, outro presidente do Senado) e um deputado ex- presidente da Câmara – sejam encarcerados, sela a imagem do governo Temer como ilegítimo, e dá razão ao editorial do New York Times, que conferiu a ainda breve gestão do presidente interino a “medalha de ouro em corrupção”.
Mas se a tese moralizadora é hoje insustentável, as perspectivas a curto e médio prazo tampouco são animadoras. Acuado e fragilizado, é bastante provável que Temer não meça esforços para impor, em um curto espaço do tempo, a agenda que negociou em troca de apoio. E se já vivíamos, sob o governo Dilma, a ameaça da precarização dos direitos sociais, as chances aumentam consideravelmente agora que a Fiesp está disposta a mostrar, na prática, que não vai mesmo pagar o pato. A situação não é melhor no parlamento, não apenas o mais conservador desde a democratização, mas também o que levou a noção de fisiologismo a patamares vergonhosos.
De certo, apenas a incerteza, por mais contraditório e paradoxal que possa parecer. Obviamente, não há motivos para comemorar mais essa crise – até porque, não esqueçamos, a situação do PT e de algumas de suas principais lideranças não é nada confortável, as chances de Dilma voltar à presidência seguem mínimas e, caso volte, também não são alvissareiras as perspectivas para a continuidade de seu governo. Mas é preciso, mais que apenas lamentar, denunciar o fato de que as articulações escusas que visavam manipular a Constituição, derrubar uma presidenta eleita, empossar um vice disposto a barrar investigações e acobertar investigados para livrar políticos corruptos da cadeia, não custou caro só ao governo. É o país, afinal, quem vai pagar a conta.
terça-feira, 7 de junho de 2016
O silêncio dos canarinhos paneleiros
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O trem está feio para Michel Temer. Tão feio
que nem os paneleiros pró-impeachment engolem o interino. O
homem ainda não acertou uma e até a equipe econômica, uma espécie de reserva
moral do seu governo, já começa a dar sinais de desconforto. Imagem ruim no Brasil,
pior lá fora. Ainda ontem o interino levou outro murro no estômago: o NY Times publicou uma matéria (a segunda
em menos de 15 dias) a atribuir ao seu governo a “medalha de ouro em
corrupção”.
O interino foge das
ruas como os vampiros da luz. Um governante com medo de povo é tudo o que o
país precisa neste momento. Motivos de sobra para os defensores de Dilma Rousseff perguntarem,
de forma insistente, onde anda o pessoal que apoiou o golpe? Houve uma debandada
dos canarinhos. Arrependimento? Vergonha? Sensação de mico? O pessoal do “eu
avisei” não para de falar no ensurdecedor silêncio das panelas.
Mas, afinal, que fim levaram os canarinhos
paneleiros? Não tenham ilusões. Os apoiantes do golpe estão a curtir a vitória
em silêncio. O objetivo era o impeachment. Foi alcançado. Ponto. Ou alguém foi
inocente ao ponto de acreditar que toda aquela barulheira era pelo fim da
corrupção? Isso não estava nos planos. As balizas morais e éticas dessa gente
são muito flexíveis e para muitos a corrupção faz mesmo parte do modus vivendi.
Na realidade, o ruído das panelas era um apelo
à volta da velha ordem, a mesma que prevaleceu ao longo da história recente. O objetivo sempre foi o engessamento social, uma volta à sociedade de
lugares definidos e imutáveis. Rico é rico, pobre é pobre. Cada qual no seu
lugar. Sem disfarces. Para essa gente, a organização social perfeita é aquela expressa num modelo
bem brasileiro: elevador social e elevador de serviço.
Os canarinhos paneleiros queriam apenas a volta da
velha sociedade distópica. Sem Bolsa Família, porque mais vale ensinar a
pescar. Sem cotas nas universidades, porque o “mérito” serve para mostrar quem
realmente é digno. Sem o dinheiro do pré-sal para a educação, porque os abutres
estrangeiros sabem dar melhor destino ao nosso petróleo. Sem um sistema público
de saúde, porque “gente bem” tem plano privado. E por aí vai...
Por que o fracassado Michel Temer não os faz
lembrar das panelas? Porque não importa quem esteja lá. Basta ser uma pessoa que dê guarida aos
seus delírios anacrônicos. E o interino tem feito isso. Afinal, lá bem no
fundinho de um coração paneleiro palpita um amor pelo velho apartheid social.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 6 de junho de 2016
Saneamento mente: estatistica...mente, numerica...mente e confusa... mente
POR JORDI CASTAN
Poucos temas são objeto de tantas informações contraditórias
como o saneamento básico. Mergulhar neste universo é garantia de sair confuso e
os políticos sabem disso e brincam com números fictícios na certeza de que o
eleitor acreditará em tudo o que se divulgue.
A Companhia Águas de Joinville veiculou, nestes dias, publicidade informando que a cobertura de saneamento era de 17%, em 2013, e chegou a 32%, em
2016. Como há um histórico de exagerado otimismo no quesito "percentuais de cobertura", é bom manter uma cautela prudente antes de sair
soltando foguetes.
Vejamos algumas informações divulgadas pela CAJ em Julho de
2012 e setembro de 2013
Informações de julho de 2012
“Até o fim do ano, a Cia Águas de Joinville vai conseguir
cobertura de esgoto de 26% da totalidade das moradias do município. Este índice
é a metade dos 52% prometidos pelo prefeito Carlito Merss durante campanha
eleitoral de 2008. Tinha 12%, a cobertura está em 21%. E, por isso,
ainda assim, o avanço alcançado (mais do que o dobro do que havia há quatro
anos) é importante. O ritmo bem mais lento dos serviços obedece a dois fatores:
é preciso adaptar-se à capacidade de mobilidade urbana e evitar maior
desconforto à população com abertura de ruas, a prejudicar o trânsito de
carros; e há pendências judiciais a impedir realização de algumas obras. As
explicações são do presidente da empresa, Luiz Alberto de Souza.” Publicado
pelo jornalista Claudio Loetz no jornal A Notícia.
Informações de setembro de 2013
“Até o fim do ano, a Companhia Águas de Joinville pretende
concluir o Plano Municipal de Saneamento Básico, que dará um direcionamento
oficial para a implantação do esgoto. Segundo o diretor de expansão da
companhia, Henrique Chiste Neto, até dezembro de 2014, a expectativa é alcançar
30% de cobertura. Uma das maiores metas do então prefeito Carlito Merss (PT)
era ampliar consideravelmente a cobertura da rede coletora de esgoto em
Joinville. Eram almejados 53,5% até 2014. No entanto, ao terminar 2012, um
balanço mostrava meros 17% de cobertura, ampliando apenas em 3% o que já
existia.” Publicado no jornal Noticias do Dia.
Metas para cobertura da rede coletora de esgoto (Divulgadas pela CAJ em setembro de 2013)
Dezembro de 2012: 17%
Agosto de 2013: 19%
Dezembro de 2014: 30%
Dezembro de 2017: 46,85%
Dezembro de 2019: 63%
Dezembro de 2035: 100%Há neste tema do saneamento básico motivos de sobra para ser cuidadoso com as informações que são divulgadas. Em ano eleitoral, a tendência a exagerar aumenta muito o pior é que o índice de credulidade do eleitor também aumenta é isso confere uma vantagem significativa aos candidatos que contam com o apoio da mídia. Fique atento. Busque informações, confira os dados.

sexta-feira, 3 de junho de 2016
Uma caixa preta chamada CVJ
Nesta segunda feira, acessando o Chuva Ácida, fui surpreendido pelo post do José António Baço sobre o tal "escola sem partido". Apesar de já ter ouvido falar deste tipo de projeto de lei rodando por aí não tinha ideia de que esta sandice já tivesse embarcado aqui em Joinville.
Bateu a curiosidade de saber mais detalhes sobre o projeto e, sobretudo, saber se esta iniciativa da Vereadora Léia (na verdade Pastora Léia, mas me recuso a chamá-la de pastora quando ela toma decisões que não afetam apenas a sua comunidade religiosa mas a toda a sociedade) tem alguma novidade ou invenção sua ou não passa de uma cópia do projeto já apresentado em outras esferas públicas Brasil afora.
Pois bem, na minha busca pela íntegra do projeto acessei a notícia que o projeto havia passado pela Comissão de Legislação formada pelos vereadores Maurício Peixer, Claudio Aragão, James Schroeder, Manoel Francisco Bento e Sidney Sabel. Na mesma matéria há um link que redirecionaria o cidadão ao documento em questão para apreciação. Qual a minha surpresa quando ao acessar este link me deparo com a informação de que o site está em manutenção (imagem no início do texto).
Em uma época em que pensamentos complexos são reduzidos a memes com imagens fora de contexto e um texto com não mais de três linhas, esta página resume como o poder público de Joinville não tem interesse algum em prestar contas de sua atuação à sociedade agindo como uma caixa preta para defender os seus próprios interesses.
Eu realmente ainda estou avaliando o que mais me revolta nesta imagem, se o fato de parecer que o site foi feito por uma criança de 7 anos que acabou de sair da terceira aula de programação web, se a imagem no canto direito de uma pessoa dormindo em uma cadeira de escritório, se o fato que esta página exibe ao centro, quase que como a se orgulhar de não servir o seu propósito há mais de um ano ou se a imagem de uma mesa de reunião em que todos estão olhando pra mim, como se fossem os próprios vereadores constrangidos por terem sido pegos depois de tanto tempo de pernas pro ar.
O conjunto da obra debocha da minha cara como que dizendo "cuide da sua vida" ou "não pense em críticas, trabalhe".
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