quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Hay que endurecerse, pero con la ternura jamás



POR CLÓVIS GRUNER

Os médicos cubanos chegaram. E tiveram uma recepção digna de um país cuja elite é não apenas pouco solidária, mas pouco civilizada. Tudo muito diferente da experiência de 1999, quando os médicos trazidos por FHC e José Serra foram festejados como o “milagre que veio de Cuba”. O discurso do Conselho Federal de Medicina também era outro. Não se falava em falta de estrutura ou condições de trabalho. O problema era a ausência de uma política de interiorização que incentivasse médicos a atuarem em cidades longínquas. O principal contratempo, dizia-se, era salarial. Outra legenda, outros discursos.
 
Das inúmeras manifestações, algumas se destacaram pelo grau de indignidade. A mais vergonhosa foi a do aeroporto de Fortaleza, que reafirmou a imagem que insistimos em negar: a de um país racista, intolerante, preconceituoso e elitista. A cor regional quem deu foi o jornalista Paulo Eduardo Martins, titular de uma coluna em um dos telejornais de Curitiba (veja o vídeo aqui). A primeira parte da argumentação se sustenta em uma mentira. É claro que a situação da saúde pública no interior é problemática, mas as condições são precárias também nas grandes cidades. Não é por falta de estrutura e condições de trabalho que a maioria dos brasileiros se recusa a trabalhar no interior, e disso já sabia o CFM há mais de uma década. Sobre a segunda parte do argumento, reconheço-lhe um mérito: não é qualquer um que se expõe ao ridículo e consegue preservar certo ar de dignidade. Há coisas que só Olavo de Carvalho faz por você.

No segmento dito sério da chamada grande imprensa, a preocupação foi com as condições de trabalho dos médicos. Ver profissionais manifestarem sua apreensão para uma inexistente condição escrava chega a ser comovente. Mas eles mereceriam algum crédito se o tivessem feito já em 1999, por exemplo. Ou se demonstrassem a mesma indignação quando das denúncias de trabalho escravo nas fazendas brasileiras, ou nas confecções que fornecem para grifes chiques como a Zara e Le Lis Blanc. Não tenho ilusões: é o prazer inconfessável de chamarem impunemente de “escravo” um negro, o que explica a repentina preocupação de alguns manifestantes, jornalistas ou não, antes indiferentes a situações, além de pertinentes, reais.

POR QUE MÉDICOS ESTRANGEIROS? – É óbvio que a chegada de médicos estrangeiros não resolve nossos problemas. E deveria ser igualmente óbvio que distribuir profissionais pelo interior do país não significa deixar de investir no fortalecimento da saúde pública em todos os seus aspectos. O que se pretende é suprir uma de suas demandas, a da chamada “medicina básica”, para a qual os médicos ditos generalistas são tão fundamentais e necessários quanto aparelhos de última geração - e em alguns casos, até mais. É má fé tentar nos convencer que o que está em jogo é uma preocupação legítima com a saúde pública, como tentam formadores de opinião e dirigentes de classe. Aliás, nesse sentido é absolutamente esclarecedora a entrevista de Henrique Prata, diretor do Hospital de Câncer de Barretos: o interior do Brasil, diz, carece de atendimento primário, de médicos dispostos a fazer o que ele define como “triagem” (veja a primeira parte do programa aqui).

E é para esse tipo de trabalho que foram recrutados os médicos cubanos. Indaga-se sobre suas formações. Pois bem, em geral eles têm mais de uma década de formados e fizeram residência; a maioria já atuou em outros países em missões semelhantes à brasileira; cerca de 20% cursou mestrado e 40% tem mais de uma especialização. Se isso não é o suficiente, há a experiência cubana que, em parte justamente pelas precárias condições econômicas do país, investiu nas últimas décadas em uma medicina assistencial e preventiva, responsável entre outras coisas pelo mais baixo índice de mortalidade infantil das Américas, da ordem de 4,5 por cada 1.000 nascimentos. Garantiu assim tanto assistência interna quanto a possibilidade de trazer divisas por meio da “exportação” de seu modelo e seus profissionais.

A expectativa não é que eles atuem em áreas especializadas ou lidem com maquinários e procedimentos de ponta, ainda que certamente alguns deles pudessem fazê-lo melhor que muitos brasileiros. Mas que exerçam algo próximo ao que se chamava, em passado não tão distante, de “medicina familiar”, de caráter – insisto nisso porque é importante – mais assistencial e preventivo. E não é demais lembrar que eles vieram principalmente porque a oferta feita aos médicos brasileiros foi solene e arrogantemente recusada, quando não simplesmente boicotada pelas entidades de classe.

Não tenho dúvidas: a esmagadora maioria dos que criticam o Mais Médicos e a atuação dos profissionais cubanos, o fazem movido por razões que são corporativas e ideológicas, quando não puramente partidárias. Há, especialmente entre os médicos, os que temem a alteração nas expectativas da população em relação ao padrão do serviço hoje oferecido, enfatizando-se o atendimento público e preventivo, exatamente aquilo que a maioria dos nossos profissionais não está disposta a fazer. Muitos críticos, consciente ou inconscientemente, legitimam os interesses das corporações privadas de consultórios, planos de saúde, laboratórios e da indústria farmacêutica, pouco se lixando para as necessidades das populações interioranas e carentes, necessitadas e dependentes do atendimento público – exatamente aquele de que não precisam os que vaiam os médicos que vieram de Cuba.

Como é comum na postura de nossas elites, mais uma vez a empatia com o outro é zero. E como mostra a imagem no alto deste texto, onde faltam empatia, civilidade e solidariedade, sobram os males que carecem de diploma para serem diagnosticados: o ódio, a raiva, o ressentimento e o preconceito.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Tricolores em alta e CBF só no esquema

POR GABRIELA SCHIEWE







Que maravilha hein tricolores! JEC venceu mais uma e fora de casa, venceu e convenceu contra o América e a Krona já está classificada para a próxima fase da Liga Nacional.

Motivos para comemorar não faltam para os joinvilenses e olha que até o São Paulo voltou a vencer.

Que coisa de louco!







No entanto, venho hoje neste espaço para chamar atenção para o esquema feito pela CBF para impedir que a Emenda da Transparência do Esporte fosse à votação.

Conforme as informações no site do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo http://www.ibdd.com.br/index.php/noticias/lobby-da-cbf-funciona-e-emenda-da-transparencia-no-esporte-e-derrubada/ através de um lobista da CBF, Sr. Vandenbergue Machado, articulou todo o processo para derrubada da Emenda feita pelo Senador Gim Argello (PTB-DF).

Como se pode ver, mais uma vez a política falou mais alto que o bem maior que é o esporte nacional.

Infelizmente as maracutaias vão continuar existindo, não que com a dita Emenda tudo se resolveria, mas, ao menos, restaria alguma esperança.

A minha indignação é tamanha com tanta falcatrua, esquema político que só quer destruir o esporte no nosso país que vou me ater apenas estas parcas palavras.

Lula: nem a verdade me faz mudar de ideia

Capa falsa que circula pela internet
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Às vezes fico a me perguntar que tipo de deficiência intelectual faz uma pessoa acreditar em lorotas como essa de que o Lula tinha na lista dos bilionários mais ricos da Forbes. Com direito a capa e tudo mais. E muita gente, que jamais tinha ouvido falar na revista, agora acha que é a bíblia (mesmo sem nunca ter lido uma).

A coisa é tão irrazoável que nunca me dei ao trabalho de comentar. Um cara que acredita numa treta dessas não é alguém que valha o meu tempo. E o de ninguém. Mas agora aproveitei o gancho porque o Diário Catarinense publicou uma matéria a repercutir um artigo da Forbes que esclarece ser um hoax e, óbvio, desmente tudo. 

Sabe o que é pior? É que mesmo com o desmentido da própria revista ainda vai ter muita alminha a dizer que não acredita. Fiquem atentos aos comentários a este post, leitora e leitora. Porque essa gente só acredita no que quer acreditar e vive por uma lógica insana: “não adianta vir com os fatos, porque nem a verdade me faz mudar de ideia”.

O artigo da Forbes diz que seria muito difícil Lula chegar a ser um bilionário, mesmo fazendo palestras (parece que a mais bem paga foram US$ 100 mil, um preço nem tão elevado assim para esse tipo de evento). Ah... leitor que odeia o Lula, eu sei o que você está a pensar: ele tem dinheiro num paraíso fiscal. É só você sabe, porque viu na internet. E o Facebook nunca mente.

E, claro, essas informações só não aparecem na grande imprensa porque os jornalões e as redes de televisão estão mancomunadas com Lula. A própria Veja sabe disso, mas também está de conluio com Lula. Ah... ainda bem que temos você, leitor e leitora que odeiam Lula, para trazer um pouco de qualidade intelectual a este deserto de neurônios.

Ok… você acha que eu tenho interesses para estar aqui a defender o ex-presidente? Acertou. É que o filho dele, o famigerado Lulinha – outro bilionário que compra tudo no Brasil – comprou o nosso blog só para a gente começar a falar bem da família Lula da Silva. O legal é que vamos todos ganhar bem, a sede do Chuva Ácida vai ser nas Bahamas e a gente só vai viajar naquele jatinho invocado que ele comprou.


Pode acreditar.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Tolerância zero com a corrupção

POR JORDI CASTAN

Não há prefeito que, na última década, não tenha visto a sua gestão manchada por algum caso de corrupção. A sensação do joinvilense é de que a corrupção está enquistada em alguns setores do serviço público municipal. Quando algum caso vê a luz, logo se converte em notícia e ocupa as manchetes. Não são poucos os que asseguram que o caso já era conhecido, que é uma constante em outros setores e departamentos, que esta ou aquela empresa foi achacada, que fulano ou sicrano pagou para obter uma determinada licença ou alvará.

Na última eleição, Udo Dohler se apresentou como o candidato das mãos limpas e fez da honestidade e da capacidade de gestão o mote da sua campanha eleitoral. Eis a hora de provar que a tolerância zero com a corrupção não era só um bordão. Agora é hora de mostrar que era para valer, pois os fatos chegaram antes do que o prefeito poderia imaginar.

A prisão em flagrante de Gislaine dos Santos Machado Afonso, fiscal da Seinfra, por receber dinheiro para liberar um alvará, foi a notícia da semana, com direito a vídeo, transcrição de conversas e fotocópia dos bilhetes de R$ 100 e R$ 50 encontrados com ela. A operação policial, conduzida pela Polícia Federal, não deixou espaço para muitas dúvidas.

Os próximos passos permitirão identificar se há ou não verdadeira vontade de combater a corrupção. Se acreditamos nas próprias gravações divulgadas, não parece que a fiscal Gislaine tenha atuado sozinha. Há fortes evidencias que pode haver mais gente envolvida no setor da fiscalização. A primeira resposta do secretário Romualdo França foi política e protocolar: será aberto um inquérito administrativo-disciplinar, com a funcionária podendo até perder o cargo e ser demitida.

É bom lembrar que é obrigatório nestes casos que seja aberto um inquérito, até para evitar que se possa cometer qualquer injustiça. Até aí nenhuma novidade. O prefeito Udo Dohler tem a oportunidade de fazer uma devassa tanto no setor de fiscalização, como na Unidade de Aprovação de Projetos da Seinfra. Poderia até estender a ação para os outros órgãos e fundações que, pelo perfil e atuação, se assemelham à própria secretária.

Não devem temer nada os funcionários honestos, que existem e não são poucos. Mas permitiria mostrar à população que há um verdadeiro compromisso contra a corrupção. É importante ir além dos discursos e das ações pirotécnicas. Quem deve se preocupar são aqueles que não tenham cometido atos em desacordo com a lei, a ética e a moral.

Um administrador com a experiência do prefeito deveria ter tomado providências para perseguir os corruptos que estejam encastelados na sua administração. No serviço público, os salários de todos os funcionários são conhecidos. E é aconselhável ficar atento quando há funcionários que, recebendo salários iguais, apresentam evidências de riqueza, aumento de patrimônio e bens incompatíveis com o seu salário.

Particularmente carros esportivos, segunda residência, viagens e festas deveriam levantar as suspeitas dos seus superiores. É praxe comum nas empresas procurar identificar este tipo de situações. Compradores e fiscais são alguns dos que correm maiores riscos. No poder público não parece haver ne preocupação com esses casos e não há uma política sistêmica para identificar casos suspeitos e investigá-los. A prática comum hoje é que os corruptos sejam identificados por denúncias, mas não como resultado de um processo interno de moralização do serviço público.



Uma administração honesta interessa a todos e, principalmente, aos bons funcionários que correm o risco de ver seus nomes colocados lado a lado com os de corruptos e corruptores. A atuação da administração neste caso servirá de parâmetro para saber o quanto de verdade havia ou há no seu discurso de campanha. Pode agir como sendo um caso isolado e colocar uma pá de cal, contando que logo seja esquecido. Ou pode fazer deste caso uma oportunidade para fazer o serviço público melhor, mais eficaz e mais transparente. Estabelecendo prazos para atender cada procedimento e implantando ferramentas de gestão pública modernas e ágeis. Nessa mesma empreitada ajudaria se a prefeitura de uma vez por todas adotasse padrões de qualidade como, por exemplo, as normas ISO ou equivalentes, seria o mínimo que se poderia esperar de quem se elegeu vendendo a imagem de um administrador experiente e capaz.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A plutocracia de Joinville

POR CHARLES HENRIQUE VOOS


plutocracia
plu.to.cra.ci.a
sf (gr ploutokratía) 1 Influência preponderante dos ricos no governo de uma nação. 2 Classe influente ou dominante de homens ricos. 3 Sociol Dominação exercida por uma classe que deriva seu poder da riqueza material. (Fonte: Dicionário Michaelis)
 Deparei-me com esta palavra recentemente, e ao procurar seu significado, relacionei com várias situações que já convivi ou escrevi sobre, até mesmo aqui no Chuva Ácida. É impressionante como a nossa democracia, tão exaltada, está se tornando uma plutocracia em tão pouco tempo, considerando a aprovação da Constituição de 1988. E este é o mais perverso dos poderes.

No caso de Joinville, a democracia dificilmente será plena, aquela com influência de todos os cidadãos na hora da participação e deliberação sobre a coisa pública. A riqueza sustentada pelo trabalho, e as relações de poder que emanam do dinheiro, comungam juntamente com aqueles que necessitam destas para sobreviver, principalmente entre a maioria dos políticos partidários. A plutocracia joinvilense não é algo recente, mas advém das raízes da cidade. Para piorar, no século XXI o desenvolvimento de um grupo social que domina de acordo com seus interesses econômicos está cada vez mais claro, agudo e materializado em discussões específicas. É o caso da gestão democrática da cidade.


O Estatuto da Cidade, lei regulamentadora da política urbana brasileira e que foi uma vitória (mesmo parcial) dos movimentos populares pela reforma urbana desde os anos 60, exalta a participação de toda a população nas discussões que envolvem a cidade e suas políticas, de modo a garantir o pleno exercício da cidadania. Os artigos 2 e 45 são muito reveladores neste sentido:

Art. 2o. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
(...)
II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;
Art. 45. Os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas incluirão obrigatória e significativa participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle direto de suas atividades e o pleno exercício da cidadania.
 Entretanto, a obrigatoriedade de um CNPJ ou Estatuto Social para a eleição dos conselheiros do Conselho da Cidade de Joinville, garantida na justiça pela prefeitura (após decisões contraditórias de um mesmo magistrado), colocou em xeque toda a democracia de um processo. Ou seja: a lei garante a participação de todos (população e associações representativas), mas o poder executivo e judiciário flexibilizaram o Estatuto da Cidade para atender a demandas específicas de entidades empresariais da cidade (e da própria prefeitura), restringindo o debate a poucos movimentos, ao mesmo passo que cidadãos "com CPF" estariam excluídos do processo. Alguns dos atuais conselheiros (membros de entidades empresariais), antes das eleições, defendiam o CNPJ para "qualificar" o debate, pois o "cidadão com CPF" não seria capaz de participar das discussões.

Existem na cidade, portanto, dois conselhos: o Conselho da Cidade democrático, onde todos podem participar, e o Conselho da Cidade flexibilizado, com participantes escolhidos através de representatividades indiretas, graças ao CNPJ. O democrático está apenas na lei. O flexível é o que está discutindo as nossas políticas urbanas, colocando de forma prioritária (e apressada) a nova Lei de Ordenamento Territorial como pauta, conforme pediram, novamente, as entidades empresariais!


Os críticos a esta flexibilização são categoricamente desqualificados em redes sociais, jornais locais e em outros meios de comunicação. Uns acusam de serem especuladores (sic!), míopes, defensores de grandes industriários, donos do atraso, pessoas que não gostam de Joinville, e até mesmo de delinquentes e burros. O ataque sai do mundo das ideias e dos posicionamentos políticos, para se transformar em pessoais. Se não há argumentos...

Para finalizar, vale lembrar que esta desqualificação a pessoas e grupos contrários, bem como o uso de simbologias ligadas ao empreendedorismo e à importância da classe empresarial, considerando-a uma espécie de "salvadora da pátria", não são nada mais do que ficções para se preservarem privilégios (conseguidos através de flexibilizações) de uma minoria em detrimento do bem comum. A consequência disto para a gestão democrática da cidade de Joinville vai de encontro a tudo o que conhecemos como "o direito à cidade". Ou você acorda e começa a criar um senso crítico sobre as coisas, ou a plutocracia vai encontrando formas para se realinhar e sublimar sistemas democráticos conquistados perante muita luta popular.

A escolha é sua.