sábado, 15 de junho de 2013

Momentos filosóficos dos leitores



OS COMENTÁRIOS MAIS ESCLARECIDOS DA SEMANA

1.

parabéns policia mete o pau nesses vagabundos em Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor
2.
Tinha que ter levado o tiro no meio da testa! Bando de vagabundo, arruaceiros, baderneiros, socialistas do caralho! Vão destruir a casa de vocês seus maconheiros ... Os "chavistas" quebram a cidade e a polícia não pode intervir? Parabéns a PM de SP! Maconheiro se trata assim mesmo!! on Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor
3.
"Um mundo melhor" feito por mauricinhos maconheiros e baderneiros. plac, plac, plac. em Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor

POR FELIPE SILVEIRA

Posso estar errado, mas acredito que ocorreu nesta semana um dos fatos mais importantes da nossa história recente. Falo dos protestos contra o aumento da tarifa de transporte coletivo em várias cidades do país, mas, sobretudo em São Paulo (de R$ 3 para R$ 3,20), onde o tamanho da manifestação foi maior e contou com uma absurda violência policial proporcional ao tamanho do ato.

Mulher, homem, velho, jovem, criança, repórter, cinegrafista... a PM paulista não se importou com quem tava na frente. Saiu descendo o cacete e atirando bala de borracha a uma distância de cinco metros de distância de manifestantes (distância mortal, diga-se de passagem), além de não economizar no gás lacrimogêneo. Só na quinta-feira (13), mais de 40 pessoas foram detidas por - vocês não vão acreditar - porte de VINAGRE!!! O produto usado na cozinha de qualquer casa brasileira atenua os efeitos do gás usado pela polícia. E bota usado nisso. Há muitas questões a discutir sobre isso, e vou dar uma pequena opinião sobre as que mais me chamam atenção.

Primeiro, se você defender a PM depois de se informar sobre o que aconteceu, se você defender o abuso de autoridade e todos os crimes e violência que a polícia cometeu, você é um baita de um safado, mau caráter e vagabundo. E UM BOSTA. Já discuti aqui no Chuva Ácida que a polícia no Brasil não é despreparada, como muitos dizem, mas é justamente preparada para ser assim: violenta. Uma polícia que rouba, mata, forja, trafica... E, se você duvida, eu recomendo alguns livros e filmes que podem ajudar a formar uma ideia melhor sobre o assunto. E você pode começar também pelo que houve nesta quinta, nos links abaixo:

Retratos da violência praticada pela PM

"Sem violência", diziam os manifestantes, mas a PM que precisava ouvir

Policial quebra vidro da viatura... ou será um manifestante disfarçado fazendo baderna?

Repórter é preso por porte de, pasmem, VINAGRE!

Jornalista é espancado pela polícia

É evidente que nem todo policial é vagabundo, mas a instituição é falida e quem está lá dentro dificilmente não é cúmplice das barbaridades que são praticadas contra a população pobre e negra (sim, somos um país extremamente racista), principalmente na periferia. Lá as balas não são de borracha... De qualquer forma, torço para os bons policiais, são poucos, mudarem a polícia, ainda que eu não acredite nesta possibilidade.


Segundo, é triste demais ver o rumo que o Partido dos Trabalhadores (PT) tomou e o lugar onde está. Já fui petista (hoje faço parte do PSOL) e saí por ter me decepcionado faz tempo, mas mesmo assim sou um otimista e acredito que o PT trouxe alguns avanços ao país. Trouxe e pode trazer ainda mais. No entanto, esses avanços são jogados no lixo diante de situações como essa. O prefeito Fernando Haddad (eleito na eleição de 2012 - e não custa lembrar, depois de vermos Lula apertar a mão de Maluf) parece ter cruzado os braços para a situação, e assim sua omissão passa a ser apoio à violência da polícia comandada pelo tucano Geraldo Alckmin, governador do estado.


Em terceiro lugar está a cobertura da imprensa. É vergonhosa, como quase sempre (há exceções para esta regra), mas passou dos limites dessa vez, quando o editorial do Estadão mais pareceu um chamado à ação violenta da polícia. Ultrapassou as raias da loucura quando a Veja publicou que “a polícia impediu a ação de vândalos”. Se bem que a Veja já ultrapassou as raias da loucura há tempos e dali só podemos esperar desgraça mesmo. De qualquer forma, a cobertura, da TV, principalmente, influencia negativamente demais o avanço da cidadania nessa país. Faz isso quando trata quem luta por direito como bandido e corruptos (empresários, políticos, fiscais, cidadãos) como heróis.

Ah, em tempo, se você lê a Veja (acreditando), você é um BOSTA!


E, em quarto lugar, e dessa vez, mais importante, está uma notícia boa. É apenas uma opinião pessoal, mas eu acredito que a sociedade e a forma de fazer política está mudando a passos largos. Tem a ver com a mudança de valores e de hábitos e também com tecnologia, que permite uma nova fase no campo da comunicação e -  por que não? - da ação. Primavera Árabe, Occupy Wall Street, Revolta do Vinagre (galera do twitter já achou um apelido)... são levantes contra a injustiça, liderados pela massa (e não por uma figura a ser presa ou morta), que surgem na internet e ganham as ruas, e continuam a contar com ajuda da internet, seja na articulação, na denúncia ou no apoio. É isso que me faz ter esperança em um mundo melhor.

É a primavera - e ela não pode ser detida...


Importante:

- Não discuto com e nem sobre vagabundo que fica incomodado com protesto parando o trânsito. Esse é só um lixo que a sociedade produz.

- Todo meu apoio à luta do povo e parabéns ao Movimento Passe Livre (MPL) de todo o Brasil, que puxa essa luta e tem forte atuação em Joinville contra o oligopólio das empresas de ônibus que, de mãos dadas com o governo municipal há décadas, avacalham a vida do joinvilense.

- Leia também o texto do jornalista Pedro Henrique Leal, que aborda essas e outras questões do caso. Aqui.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

E a mulher? Foda-se!

POR CLÓVIS GRUNER




A semana passada não foi de boas notícias. Ela começou com a demissão de Dirceu Greco, diretor do Departamento de DSTs, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, responsável pela campanha “Sou feliz sendo prostituta”. A justificativa oficial do ministro Alexandre Padilha, covarde e hipócrita, escondeu o verdadeiro motivo da saída de Greco, criticada por inúmeros profissionais que conhecem e respeitam sua trajetória como infectologista: a submissão, mais uma vez, das ações do governo à agenda conservadora, já que o estopim da demissão foram as críticas dos deputados evangélicos hoje à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, particularmente Marco Feliciano e João Campos, ao conteúdo da campanha, considerada pelo último uma “apologia ao crime”.

No meio da semana, cerca de 40 mil evangélicos tomaram as ruas de Brasília. Oficialmente, tratava-se de uma “Manifestação pela liberdade de expressão, liberdade religiosa e família tradicional”. Animados por Silas Malafaia, no entanto, o que se viu foi uma demonstração coletiva de ódio e intolerância que beirou às raias do absurdo: confundido com um gay, um pastor da igreja Quadrangular foi agredido por seguranças, um “mal entendido”, segundo os pastores responsáveis pelo evento. Alguns sites gays minimizaram o acontecimento, já que a quantidade de fieis foi bem menor que a esperada e prometida pelo pastor. Outros destacaram que Malafaia não é unanimidade mesmo dentro do segmento evangélico. Tudo isso é verdade, mas a história já nos mostrou que milhares de pessoas nas ruas, movidas pelo fanatismo e o ódio é algo para, no mínimo, nos preocupar.

Mas veio da Câmara de Deputados a mais estarrecedora e lamentável das notícias, com a aprovação, pela Comissão de Finanças e Tributação do Projeto de Lei 478/2007, conhecido como o Estatuto do Nascituro. Quem conhece minimamente o percurso de um PL no parlamento sabe que o projeto não chegou ainda ao último estágio: aprovado anteriormente na Comissão de Seguridade Social e Família, ele depende agora de parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça antes de, finalmente, seguir para votação no plenário. Se aprovado, segue para sanção presidencial. Mas a simples existência de um projeto de tal natureza – de autoria, aliás, de um ex-deputado petista, Luiz Bassuma – e sua aprovação por duas comissões parlamentares é, e eu vou usar um eufemismo, uma indignidade.

E um atraso. Entre outras coisas, porque o conceito que o atravessa mandas às favas todo o debate científico e jurídico em torno ao conceito e estatuto de pessoa. Ele se apoia tão somente em uma concepção de fundo religioso, ao afirmar que “Nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido”, para logo em seguida estabelecer, em parágrafo único, que o “conceito de nascituro inclui os seres humanos concebidos ainda que “in vitro”, mesmo antes da transferência para o útero da mulher.” Tal conceito, ao assegurar aos embriões os mesmos direitos que, em tese, são garantidos aos nascidos, inviabiliza e criminaliza, por exemplo, pesquisas com o uso de células tronco, uma das principais conquistas científicas dos últimos anos, aprovada pelo STF em 2008.


O DIREITO AO CORPO – Não importa que uma das matérias mais polêmicas do PL tenha sofrido uma mudança: no texto original, e contrariando a legislação em vigor sobre o tema (aliás, uma das mais conservadoras entre os países ocidentais) o aborto, independente do contexto, não apenas era criminalizado, como em sua justificativa o autor do projeto defendia sua inclusão na categoria de “crime hediondo”. A versão que segue para a Comissão de Constituição e Justiça, estabelece como ressalvas o disposto no artigo 128 do Código Penal, que autoriza o aborto em caso de risco de vida para a gestante ou quando a gestação for resultado de estupro. Mas não diz nada, por exemplo, sobre o aborto de anencéfalos, autorizado também pelo STF (só!) no ano passado.

Mesmo com a mudança introduzida, o Estatuto do Nascituro amplia a criminalização do abortamento e dificulta, por consequência, o acesso a métodos contraceptivos e ao aborto legal, hoje já bastante restrito, ao tornar a gestante objeto de uma exaustiva e intimidante vigilância. No caso de gestação decorrente de abuso violento, não apenas institui a em si abominável ideia de um auxílio estatal à gestante e ao nascituro – apelidada nas redes sociais de “Bolsa estupro” – como estabelece que, “Identificado o genitor do nascituro ou da criança já nascida, será este responsável por pensão alimentícia nos termos da lei”. É mais ou menos assim: além de ter sido estuprada e obrigada a carregar por nove meses o resultado da violência a que foi submetida, a mulher terá de conviver, pelos próximos anos, com seu estuprador, obrigado este pelo Estado a reconhecer e sustentar o filho, assumindo na prática o seu “patrio poder”. Kafka não faria melhor.

Já se falou muito sobre o tema, especialmente – mas não só – nos blogs feministas. Já se elencaram inúmeras e pertinentes razões que justificam opor-se a ele. Não vou me alongar mais, repetindo o que já foi dito e pode ser lido aqui, aqui e aqui. Mas não quero silenciar sobre uma questão que, implícita ao projeto, é de extrema urgência: o Estatuto do Nascituro não é apenas sobre o aborto e não pode ser lido e entendido somente por este prisma. O retrocesso maior está na afirmação da desigualdade, jurídica inclusive, da mulher, que vê diminuído ainda mais o direito sobre seu próprio corpo, objeto de tutela do Estado. Houve um tempo em que esta desigualdade, ainda presente no cotidiano e que se expressa de diferentes maneiras, desde a recorrente culpabilização da vítima em casos de estupro (e a Fernanda comentou isso em ‘post’ recente aqui no blog), a prisão de manifestantes pela policia atendendo a pedidos de um padre, até artigos de filósofos na grande imprensa; houve um tempo, enfim, em que esta desigualdade era assegurada juridicamente.

No primeiro Código Penal republicano, o adultério era considerado crime quando praticado por mulheres, em qualquer situação. Aos homens, eram reservadas penas mais brandas apenas se o adultério implicasse na negligência do cumprimento do seu papel de provedor da família. Tal premissa, inclusive, inocentou inúmeros assassinos de mulheres, absolvidos sempre que apelavam à “defesa da honra” como justificativa ao homicídio. Avançamos bastante desde então para aceitar, passivamente, retrocedermos a uma condição em que as mulheres, uma vez mais, estarão à mercê de uma lei retrógrada, flagrantemente inspirada em princípios que não são os da laicidade e da igualdade de direitos, mas de uma concepção religiosa e fundamentalista de mundo e de pessoa. Porque é exatamente disso que se trata o Estatuto do Nascituro: ele joga no lixo o pouco de equidade conquistada nas últimas décadas para tornar a mulher, uma vez mais, objeto da vontade fálica do Estado, tudo sob a proteção da lei. Ele diz a ela em juridiquês o que o machismo, o conservadorismo e o fundamentalismo religioso vêm afirmando desde há muito tempo: foda-se você, seu corpo e os seus direitos!

Udoende


terça-feira, 11 de junho de 2013

Toque de Midas por "mãos limpas"

POR GABRIELA SCHIEWE

O HOSPITAL DONA HELENA É O POTE DE OURO NO FIM DO ARCO-ÍRIS
“Nem tudo que reluz é ouro”! Essa frase já não pode mais ser falada aos quatro cantos do Hospital Dona Helena.

Operação policial deflagrada no ano de 2005, denominada Fariseu, que culminou com ação da Advocacia Geral da União, saiu do limbo para ganhar o noticiário de todo o país.

A investigação, que no ano de 2009 prendeu conselheiros e o ex-presidente do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), dá conta de que, por meio da MP 446/2008, o benefício da filantropia por assistência social a instituições que, pelo Decreto nº 2536/98, obriga instituições de oferecem, pelo menos, 20% de serviços gratuitos nas áreas de educação e assistência social e 60% na área de saúde, foi dado de maneira irregular e fraudulenta.

O Hospital Dona Helena, uma destas instituições que foram beneficiadas de forma fraudulenta, segundo a ação proposta pela AGU, juntamente com Luiz Vicente Vieira Dutra, o então advogado do Dona Helena, e Euclides da Silva Machado, consultor do hospital e ex-Conselheiro do CNAS e que foram presos, sendo réus em outros processos pela acusação de fazerem parte de uma organização criminosa que praticou corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, formação de quadrilha e improbidade administrativa no CNAS.

O benefício de entidade filantrópica concedido ao Hospital Dona Helena – e  que se encontra sob investigação – permite isenção de tributos em várias transações do hospital. No entanto, por receber valores vultuosos com atendimentos particulares e convênios e não cumprir a meta obrigatória dos 60% assistenciais, o ex-Conselheiro e consultor do hospital, Euclides da Silva Machado deu a brilhante e reluzente ideia de transformar os lucros do hospital, assim como de outras instituições investigadas, em ouro. E praticamente se tornou o “Midas” do Dona Helena.

Com essa prática, o hospital estaria maquiando seus lucros para se manter beneficiária dos efeitos de uma entidade filantrópica.

Hoje, as proporções de tais medidas ganharam sobressalto, visto que o presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Dona Helena é o nosso prefeito “mãos limpas”, Udo Dohler.

O prefeito não se pronunciou a respeito e, através da assessoria do Hospital, informou que por ser testemunha na ação não pode se pronunciar e o hospital tão somente se resumiu a dizer que “não comprou ouro”.

Na ação da AGU, pelo relato da advogada da União, nas escutas telefônicas há o envolvimento do prefeito, que participou de alguns momentos da negociação diretamente com o advogado da instituição, Luiz Vicente Vieira Dutra.
Mas como já diz o sempre companheiro Lula, provavelmente será mais um no que já virou bordão “eu não sei de nada”.

Essas informações ganharam a mídia graças ao site do “Congresso em Foco” que, com exclusividade noticiou mas essa suposta maracutaia que, desde 2005, está sob investigação mas nada nunca se ouviu pelas bandas de cá.

É, minha gente, que todo este ouro não se transforme em pizza.

Joinville parou? Só para a gangue do tijolo...

POR JORDI CASTAN

Pela gritaria e os discursos inflamados da gangue do tijolo, Joinville parou. A não aprovação da LOT - Lei de Ordenamento Territorial fez a cidade retroceder, dezenas de indústrias trocaram Joinville por Araquari, a nova Manchester Catarinense, que prospera por conta da situação.

Dá para acreditar no discurso dos representantes da apocalipse? Os dados não sustentam estas afirmações. O jornalista Claudio Loetz, na coluna "Livre Mercado", no jornal "A Notícia", divulgou os dados da própria Seinfra sobre alvarás e sobre o total de metros quadrados autorizados para construir. Mesmo sob risco de ser repetitivo, cito os dados apresentados:

CONSTRUTORAS MOVIMENTAM MAIS DE R$ 1 BILHÃO

Em 2012, as construtoras de Joinville receberam autorização da Prefeitura para erguer 988.750 m². A se considerar valor do custo unitário básico (CUB) de R$ 1.220, o setor movimenta, na economia, uma receita de R$ 1,2 bilhão. Como há imóveis de valor muito mais elevado, e a julgar por uma média de R$ 2 mil o m², dá para estimar faturamento que se aproxima dos R$ 2 bilhões. Outra leitura: no período entre janeiro e abril de 2013, foram emitidos alvarás para construção totalizando 240.989 m², o que significa receita de estimados R$ 295 milhões, pelos cálculos simplificados levando-se em conta o CUB. Em igual período do ano passado, a Seinfra concedeu licenças para as construtoras edificarem 313.150 m².

29 comércios
A Seinfra autorizou a construção de 29 empreendimentos comerciais nos primeiros quatro meses do ano. Juntos, vão erguer 33.286 m². Para comparar: de janeiro a abril do ano passado, foi autorizada a construção em tamanho ligeiramente inferior (31.447 m²) para 52 empreendimentos do varejo.

Menos indústrias
E o número de indústrias instaladas em Joinville nos primeiros meses deste ano (sete) foi bem inferior às 13 autorizadas a funcionar no mesmo período do ano passado. Mas o porte das companhias é outro: a área total permitida a ser construída no quadrimestre de 2013 totaliza 41.963 m², contra 28.679 m² do ano passado".

Em 2012 de acordo com os dados da Seinfra Joinville concedeu autorização para construir quase 1 milhão de metros quadrados e isso tudo com a LOT sendo questionada na Justiça. Pelo discurso de uns, com a cidade parada. 

A insistência em aprovar a LOT de forma rápida, e no formato original, desperta dúvidas e obriga a população a ficar ainda mais atenta. Conhecer melhor o que representará para Joinville a aprovação da LOT, com as suas ARTs e suas Faixas Viárias é uma obrigação de todos. Não se deixar iludir pelo canto de sereia dos desenvolvimentistas, seus lobistas e seus representantes, parece um bom conselho neste momento.

Joinville mostra fortes indícios do esgotamento do modelo econômico atual. O Brasil ano após ano apresenta resultados pífios em crescimento econômico e o PIB é a melhor prova disso. O dinamismo da economia local tem conseguido índices de crescimento melhores que os nacionais, mas essa é uma situação que não deve se sustentar por muito mais tempo. Os aumentos de custos, o apagão logístico e a gastança descontrolada do poder público em todas as suas esferas está levando o país a um beco sem saída. No âmbito local, empresas tradicionalmente bem capitalizadas, competitivas e solventes, têm experimentado resultados pobres ou até negativos e isso nada tem a ver com a aprovação ou não da LOT.

Para quem tiver interesse em se aprofundar mais sobre o que a LOT propõe para Joinville -e as causas para o interesse desmedido de uns e outros na sua aprovação a qualquer preço -sugiro os vídeos:

É difícil não se surpreender com a genialidade dos nossos planejadores oficiais e a cobiça inesgotável da gangue do tijolo. Uma coisa está mais nítida a cada dia: pelos posicionamentos e pelos personagens que apoiam a aprovação da LOT, o leitor do Chuva Ácida pode estar seguro que a minha posição como cidadão será estar sempre no outro lado.

O radicalismo e a intransigência de um lado só deixa espaço para que nos esforcemos em melhorar os nossos argumentos e apresentemos mais dados e informações para que o debate possa sair do nível em que se encontra.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

U.D.O


Vereador-empregado versus cidadão-patrão

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Eis o fato. O presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, João Carlos Gonçalves, está a processar a professora Ana Maria Vavassori. A causa seria um comentário, nas redes sociais, acerca de alguns gastos feitos sob a batuta do vereador. O homem achou que houve crime e por isso ela terá que responder na Justiça a uma ação por danos morais.
Não sei se houve algum ilícito por parte da professora e nem pretendo tomar posição a esse respeito. Isso é função da Justiça. Não sou advogado e confesso uma certa dificuldade em entender esse emaranhado que é a linguagem jurídica. Portanto, limito-me a seguir a lei do bom senso. E acho que é justamente o bom senso a faltar neste episódio.
O meu interesse é pelo princípio democrático. No plano individual, um bom político deve saber fazer uma gestão inteligente da sua imagem. Mas no plano institucional a função passa por criar uma boa imagem da atividade política (pouquíssimos se preocupam com isso), em especial num momento em que as instituições políticas estão tão descredibilizadas. E processar cidadãos é o caminho para mais descrédito.
TIRO NO PÉ? - A expressão “danos morais” parece encaixar como uma luva na situação. Não vejo dano moral maior do que o dano auto-inflingido. Quando um vereador decide processar uma cidadã-contribuinte-eleitora é bom que a causa seja relevante e justa. Mas se estivermos a falar num simples fait-diver, como parece ser o caso, então é um autêntico um tiro no pé.
Imagino que o vereador esteja convicto na razão da ação e a acreditar que a sua imagem vai sair reforçada deste episódio. Mas em termos de gestão de imagem eu apostaria no oposto: o vereador só tem a perder, mesmo que ganhe a causa. Qualquer pessoa com dois dedinhos de testa pode ficar com a sensação de que o vereador encarnou o papel de autoridade e estaria a resvalar para o autoritarismo.
O fato é que em sociedades de democracias menos maduras instalou-se a ideia de que os vereadores são autoridades. Se forem, é por uma autoridade concedida pelo povo com o seu voto. E o fato de estarem investidos dessa autoridade não os coloca acima dos cidadãos comuns. Afinal, os vereadores estão ali para servir o povo e não para se servir do povo. E não é normal pôr essa autoridade contra o cidadão.
EMPREGADO E PATRÃO - A situação traz um ironia. Em última instância, um vereador é um servidor público e, portanto, empregado do cidadão. Então, neste caso teríamos um vereador-empregado a processar o patrão-cidadão. A coisa soa tão estranha que eu, na minha ingenuidade judicial, até proporia que a ação fosse julgada na Justiça do Trabalho. É lá que patrão e empregado devem resolver as suas pendengas.
Há uma assimetria. Um vereador ganha mais que a maioria das pessoas e dói menos no bolso separar parte do salário para processar um cidadão. Mas o cidadão, que vive asfixiado por impostos (os mesmos impostos que pagam os salários dos políticos), nem sempre tem dinheiro disponível para gastar com custas judiciais.
Eis a perversão do sistema: o meu dinheiro de cidadão-contribuinte-patrão paga o salário do vereador-empregado e ele usa o meu dinheiro (do salário que eu pago) para me enfrentar na Justiça em melhores condições. Ou seja, é o meu dinheiro dos impostos que se volta contra mim.
VAMOS PROCESSAR - Para encerrar, vou repetir: o vereador deve estar convicto de que houve crime e de que vai ganhar essa pendenga judicial. Pode ser. Mas na hora de fazer as contas de prós e contras, a coisa muda de figura. Mesmo que ganhe na Justiça, sai com a imagem do político que processa eleitor, o que não é boa ideia. Se perde na Justiça, sai com a imagem descredibilizada. E a sociedade está mais atenta.
De qualquer forma, os políticos ficam sempre descansados. Porque no fim de contas nada acontece. Todos sabemos o que é preciso para alguém se eleger no Brasil. No entanto, um vereador não legisla apenas para o seu eleitorado, porque tem o dever deontológico de legislar para todos os cidadãos, inclusive os que discordam e os que criticam. Se a pessoa não entende isso, então não entendeu o conceito de democracia.

Ah... e no momento em que escrevo este texto, fico aqui a escolher as palavras e a usar o condicional, para não deixar qualquer brecha que permita a alguém me processar por ter publicado a minha opinião. É que no Brasil, mas especialmente em Joinville, há uma tendência exagerada para judicializar a opinião. Ou seja, tornar a simples opinião em delito de opinião.

sábado, 8 de junho de 2013

Cuidado! Você pode estar criando um estuprador!

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Todo estuprador tem uma mãe. Um pai, às vezes irmãos, tios, primos... gente que os ensina que mulher é seu objeto de prazer. Que existe mulher para casar e mulher para abusar. 
Gente que ensina que não existe nenhum problema em pagar por sexo. Nenhum problema em "tentar comer" a amiga da irmã ou estuprar uma menina bêbada. Às vezes até acompanhado dos amigos, como se fosse uma brincadeira em grupo.

São estupradores!
São criminosos!
Merecem a cadeia e nada mais!

Semana passada uma menina que saía de uma boate de madrugada em Joinville recusou a carona do namorado (por qualquer motivo que não nos interessa). Ela não estava sóbria e foi estuprada por uma pessoa que passava na rua. O estuprador foi preso. (Texto do AN). Minha primeira reação foi ler os comentários dos leitores no face e, é óbvio, encontrei belas pérolas como:

1# A culpa foi do namorado - "muito bonito pro babaca que deixou ela sozinha.,
"e a cara do namorado agora ,deixou a guria sozinha meu deus".

Ou seja, eu, como mulher, frágil, sensível, violável, não devo, jamais, em hipótese alguma, andar desacompanhada à noite sem a companhia de um macho protetor. Não sou capaz de defender-me sozinha e provavelmente o fato de estar com o namorado me impediria de ser vítima de um crime. Sério? Mesmo? 

Para mim isso significa a privação do direito fundamental de ir e vir. Uma cidade falha quando não oferece às suas mulheres, ruas seguras para andar sozinha à noite. E nossa cultura falha quando acredita que para uma mulher estar segura ela precisa estar acompanhada de um homem. Super preconceito de gênero.

2# A culpa é da guria - "Isso é falta de responsabilidade! Enchem a cara e nao se cuidam." ,
"Uma eh q nao devia estar sozinha e outra q devia ta bem a guria! Vai saber!"

Agora vê lá: eu vou a uma boate me divertir. Bebo, é lógico, porque é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia, (como diria Jânio Quadros). Volto para casa andando, não dirigindo, diga-se de passagem, responsabilidade. Não estou cometendo nenhum crime, sou estuprada e a culpa é minha. Tem lógica?

Oi, mas espera aí, mulher que gosta de beber? Não pode não. Mulher foi feita para ficar em casa, cuidar do marido e do filho, ir à igreja, sentar de pernas fechadas, falar baixo, não falar muito e ser bonita. Saiu do padrão? Está correndo o risco de ser rotulada como mulher "que não é para casar". Estamos em 1950?  Sim ou com certeza?

3# A luz no fim do túnel - "Mas é que realmente não vem ao caso, não temos que achar desculpas pro que ele fez. Não importa se ela estava sozinha, não importa se ela tinha bebido. Mesmo se ela estivesse completamente inconsciente, apagada, perdida no fim do mundo, ninguém deve procurar na vítima, motivos para a agressão do estuprador."

Aaahhhh, pausa para suspirar. Ainda existe esperança.

Devemos atacar o crime, o estuprador, o verdadeiro problema. Nunca as roupas da mulher, seu comportamento, sua sobriedade ou bebedeira. Nada dá motivos para uma mulher ser abusada. E por que tantos homens ainda pensam que tem esse direito? Porque somos machistas. Porque até nosso tom de voz muda quando falamos com meninos ou com meninas.

Para os meninos dizemos: "Está forte heim! Garanhão. Já tem namoradinha? Viu só, ele foi lá e agarrou, esse é o menino do papai!"
E assim criamos um menino que acha que é certo tratar mulher como objeto, pegar, amassar, mostrar pros amigos. Um tipo daqueles bem nojentos.

Para as meninas dizemos: "Olha, que fofinha que ela está. Uma gracinha, tão linda" (voz melosa) "Cuidado heim, papai, logo os gaviõezinhos estão em cima"
E imprimimos na menina um senso de fragilidade, delicadeza, apatia e passividade que não lhe são naturais, mas construídos socialmente. Ela aceita relacionamentos abusivos porque acha que esse é seu papel como mulher. Não consegue criar instrumentos para enfrentar situações  de poder e abaixa a cabeça no trabalho, na escola ou em casa.

Não é saudável não.
Vamos educar nossas meninas para serem fortes, para protestarem, para exigirem respeito. Para saberem que são capazes do que quiserem na vida sem a obrigação da beleza pela simples decoração de ambientes como muitas se vêem.

Vamos educar nossos meninos para respeitarem as mulheres como iguais à eles, sem essa necessidade de proteção ou esse desejo de apropriação. Dividindo tarefas domésticas, brincando de bonecas, experimentando uma vida adulta na qual o homem participa da vida familiar. 

Depende de todos nós mudar essa forma machista de pensar a nossa sociedade. 

Afinal de contas, os estupradores são educados por homens. E por mulheres.