terça-feira, 27 de agosto de 2013

Tolerância zero com a corrupção

POR JORDI CASTAN

Não há prefeito que, na última década, não tenha visto a sua gestão manchada por algum caso de corrupção. A sensação do joinvilense é de que a corrupção está enquistada em alguns setores do serviço público municipal. Quando algum caso vê a luz, logo se converte em notícia e ocupa as manchetes. Não são poucos os que asseguram que o caso já era conhecido, que é uma constante em outros setores e departamentos, que esta ou aquela empresa foi achacada, que fulano ou sicrano pagou para obter uma determinada licença ou alvará.

Na última eleição, Udo Dohler se apresentou como o candidato das mãos limpas e fez da honestidade e da capacidade de gestão o mote da sua campanha eleitoral. Eis a hora de provar que a tolerância zero com a corrupção não era só um bordão. Agora é hora de mostrar que era para valer, pois os fatos chegaram antes do que o prefeito poderia imaginar.

A prisão em flagrante de Gislaine dos Santos Machado Afonso, fiscal da Seinfra, por receber dinheiro para liberar um alvará, foi a notícia da semana, com direito a vídeo, transcrição de conversas e fotocópia dos bilhetes de R$ 100 e R$ 50 encontrados com ela. A operação policial, conduzida pela Polícia Federal, não deixou espaço para muitas dúvidas.

Os próximos passos permitirão identificar se há ou não verdadeira vontade de combater a corrupção. Se acreditamos nas próprias gravações divulgadas, não parece que a fiscal Gislaine tenha atuado sozinha. Há fortes evidencias que pode haver mais gente envolvida no setor da fiscalização. A primeira resposta do secretário Romualdo França foi política e protocolar: será aberto um inquérito administrativo-disciplinar, com a funcionária podendo até perder o cargo e ser demitida.

É bom lembrar que é obrigatório nestes casos que seja aberto um inquérito, até para evitar que se possa cometer qualquer injustiça. Até aí nenhuma novidade. O prefeito Udo Dohler tem a oportunidade de fazer uma devassa tanto no setor de fiscalização, como na Unidade de Aprovação de Projetos da Seinfra. Poderia até estender a ação para os outros órgãos e fundações que, pelo perfil e atuação, se assemelham à própria secretária.

Não devem temer nada os funcionários honestos, que existem e não são poucos. Mas permitiria mostrar à população que há um verdadeiro compromisso contra a corrupção. É importante ir além dos discursos e das ações pirotécnicas. Quem deve se preocupar são aqueles que não tenham cometido atos em desacordo com a lei, a ética e a moral.

Um administrador com a experiência do prefeito deveria ter tomado providências para perseguir os corruptos que estejam encastelados na sua administração. No serviço público, os salários de todos os funcionários são conhecidos. E é aconselhável ficar atento quando há funcionários que, recebendo salários iguais, apresentam evidências de riqueza, aumento de patrimônio e bens incompatíveis com o seu salário.

Particularmente carros esportivos, segunda residência, viagens e festas deveriam levantar as suspeitas dos seus superiores. É praxe comum nas empresas procurar identificar este tipo de situações. Compradores e fiscais são alguns dos que correm maiores riscos. No poder público não parece haver ne preocupação com esses casos e não há uma política sistêmica para identificar casos suspeitos e investigá-los. A prática comum hoje é que os corruptos sejam identificados por denúncias, mas não como resultado de um processo interno de moralização do serviço público.



Uma administração honesta interessa a todos e, principalmente, aos bons funcionários que correm o risco de ver seus nomes colocados lado a lado com os de corruptos e corruptores. A atuação da administração neste caso servirá de parâmetro para saber o quanto de verdade havia ou há no seu discurso de campanha. Pode agir como sendo um caso isolado e colocar uma pá de cal, contando que logo seja esquecido. Ou pode fazer deste caso uma oportunidade para fazer o serviço público melhor, mais eficaz e mais transparente. Estabelecendo prazos para atender cada procedimento e implantando ferramentas de gestão pública modernas e ágeis. Nessa mesma empreitada ajudaria se a prefeitura de uma vez por todas adotasse padrões de qualidade como, por exemplo, as normas ISO ou equivalentes, seria o mínimo que se poderia esperar de quem se elegeu vendendo a imagem de um administrador experiente e capaz.


10 comentários:

  1. Outra questão a ser respondida neste caso é: porque foi a polícia federal e não a civil que fez a prisão?

    Se qualquer prova foi obtida de forma irregular/ilegal, não vai poder ser usada no processo criminal e a moça (e resto da quadrilha) vai fica livre/leve/solta. Inclusive do procedimento administrativo.

    Mas quero crer que a atuação da polícia federal foi correta e que tem muito mais coisas no inquérito que legitimem essa atuação, do que foi revelado até agora.

    A muito tempo Joinville é controlada por uma máfia muito forte, é só ver a quantidade de obras e empresas atuando de forma irregular mas com o aval dos órgãos da prefeitura.

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  2. É bom ressaltar...q a pratica pelo jeito é antiga...apenas q dessa vez...o atual administrador municipal...não fez a pratica comum de muitos por ai...q sómente dizem q "Nada sabem...nada viram...ou nada dizem"...se foi a PF ou PC...q atuou...não importa...o importante foi a ação...e a providencia tomada de imediato...

    Du Von Wolff

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  3. Engraçado que ninguém cita o esquema de corrupção da empresa de iluminação pública. O buraco é tão embaixo que passou pela gestão do Tebaldi, do Carlito, e agora o Udo entrou também. É coisa de centenas de milhões, e não merequinha de servidor corrupto.

    No vespeiro mesmo ninguém quer mexer.

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  4. Deveria haver Pena de Morte para juízes corruptos.

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  5. Não me importaria nada em ver cenas de prisões semelhantes todas as semanas.

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  6. Eu já ouvi de tanta gente relato de pagamentos para liberação de alvarás de obras e localização, que um camburão seria pouco para levar fiscais e outros funcionários da SEINFRA.
    E não adianta discutir se pediu 6.000 ou se foi 200 reais, se pediu mercadorias ou o que seja, não existem meio-corruptos, ou o cara é ou não é.
    Passam administrações e ninguém consegue atacar o problema. E ultrapassa hierarquia, tem gerente que ganha por mês de imobiliárias, foi posto por elas lá, e tem até celular pago também. Até alguns escritórios de contabilidade já fazem o meio de campo disto.
    O problema é que todo mundo que paga não denuncia, pois tem medo de represálias e perseguições. A impunidade é institucional, tem empresa que já coloca a propina em seus custos fixos. E é claro, se beneficia dela.
    Remédio para isto tem. Investigação da PF e MP, demissão e prisão.

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    1. Falou tudo Rodrigo, eu também já ouvi casos assim. Mas a casa dos corruptores tem que cair também, mesmo que ACIJ, SINDUSCON e CDL se sintam "incomodados".

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  7. Aguardando os comentários do Nelson Joi..... A deixa já foi dada

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    1. Comentários mais específicos não estão sendo aceitos pelos mediadores do blog, tentei em post anterior e foi excluído. Entendo a posição deles...

      NelsonJoi@bol.com.br

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  8. Que tal a polícia começar a investigar também quem pagou R$6.000 por Alvarás mais "agilizados".

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