quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aberta a temporada de caça


POR JORDI CASTAN

Antes mesmo que a campanha eleitoral dê início, sem que os candidatos tenham sido homologados pelas convenções partidárias, os pré-candidatos se lançam à busca dos votos. Mais que à busca, se lançam à caça do eleitor. No Brasil, ao contrário da maioria das democracias, o voto é obrigatório. Nem os partidos e nem os candidatos precisam se esforçar para convencer o eleitor a votar. A estratégia de campanha tem como foco exclusivo direcionar os votos para o candidato.

O Brasil tem ainda outras peculariedades que fazem da caça ao voto um esporte único. A primeira é o elevado nível de analfabetismo funcional. A segunda é a geléia ideológica em que os partidos tem se convertido - isso faz com que, em nome da governabilidade, se juntem em coligações os inimigos de ontem para derrotar os amigos de anteontem. Resulta uma situação que, para qualquer eleitor medianamente informado, é difícil de compreender e seguir.  

É mais fácil para um político em campanha se concentrar na caça dos votos dos menos esclarecidos. Além de serem mais influenciados por discursos inflamados e grandiloqüentes, representam hoje no Brasil a maior parcela do eleitorado. No país, o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população. Se somados os 7% da população que é totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possuem o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Ou seja, apenas um de cada quatro brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado. O candidato não precisa se expor em debates frente a platéias melhor informadas, mais esclarecidas e em geral mais críticas. Pode se concentrar em pescar nos cardumes em que os votos são mais fáceis de convencer.

Os partidos políticos, por outra parte, tampouco contribuem muito para que o eleitor possa escolher melhor. Em geral só o confundem ainda mais. Ao compartilhar o mesmo palanque com os mesmos que ontem ou anteontem eram seus inimigos mortais, ao aparecer lado a lado em santinhos e outdoors, o eleitor vai construindo a imagem que são todos iguais, que são todos farinha do mesmo saco, e que, portanto, é a mesma coisa votar em um ou em outro. Sem outra proposta ideológica além de chegar ao poder e conseguir empregar o maior número de companheiros e apaniguados, os partidos hoje atuam mais como agências de emprego que como verdadeiros foros de debate político. E o resultado é este que aí está.

O mais provável é que ao conhecer o resultado das próximas eleições, a máxima de Ulysses Guimarães, que pior que este congresso só o próximo, será verdadeira uma vez mais. Se você leu até aqui e entendeu o texto, definitivamente não forma parte do grupo alvo.

6 comentários:

  1. Prezado Jordi, me permita uma pequena correção. O voto não é obrigatório no Brasil. O que é obrigatório é o comparecimento às urnas no dia da votação (termo que eu considero mais correto que "eleição", visto que nem todos somos "eleitores", apenas potenciais "votantes"). Digo isso porque uma vez comparecendo à seção eleitoral ninguém é obrigado a ter que escolher (votar em) um dos candidatos. Pode-se votar "em branco" (ao que eu chamaria de voto "tanto faz") ou "anular" o voto (que seria o "não-voto" propriamente dito). Infelizmente poucos têm consciência disso e acham que são obrigados a "votar" em algum candidato.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luiz Eduardo,

      Muito obrigado pelo esclarecimento. Ajudou a esclarecer para os leitores e principalmente para mim as sutis diferenças entre ser eleitor e ser votante.

      Excluir
  2. Pois é. Sobre a farinha do mesmo saco, sobre os outrora inimigos que hoje são supostamente amigos, não dá para esquecer do PT de Carlito, que hoje anda de mãos dadas com o PP de Esperidião Amim, que ontem era ARENA e sustentou o golpe militar.

    Aguem imaginava que isto iria acontecer dez anos atras?

    LHS abraçar o Jorge Bornhausen eu até imaginava... mas o Carlito abraçar o Voltolini e o Amim, não.

    Assim sendo, quanto ao Carlito, DECEPÇÃO.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não esqueça que além do Amin e seu PP, o Carlito também está abraçado com aquele que até há alguns meses atrás era considerado pelos petistas o simbolo do mal, José Carlos Vieira, ex-Arena, PFL e DEM.
      Por estas admiro a política americana, quem não é Republicano é Democrata e fim de papo.

      Excluir
    2. Desconhecia que José Carlos Vieira era para os petistas o simbolo do mal. Anotado e vou conferir.

      Excluir
  3. Caro Jordi, não se desespere. Depois do Carnaval ainda tem o feriadão da Páscoa, Brasileirão, férias de julho, aí sim, no fim do "restinho" de ano que falta pro próximo Carnaval, pensamos nessa coisa que chamamos de "celebração da democracia" - pra mim mais parece a apoteose da celebração da ignorância burra!
    Dito isso, também gostaria de fazer um reparo: Analfabetismo funcional somado a leis frouxas podem até explicar a baixa qualidade intelectual média dos eleitos, mas, não justificam um passe livre para a pratica da sem-vergonhice. Isso parece ser, mesmo, um caso de frouxidão de caráter! Fico pensando que precioso campo de estudo teria à sua disposição Freud (o Sigmund, não o Godói!), caso fosse vivo!
    P.S. - O texto "O Futebol e a Praga dos Ratos" vai na mesma linha!

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem