quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Virei um porco capitalista


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Yo no creo en estalinistas, pero que los hay los hay.

Ontem rolou um pequeno debate nos comentários do Chuva Ácida sobre a Coreia do Norte (depois a coisa se prolongou no Twitter). Um dos intervenientes recomendava a leitura de um blog de solidariedade à nação asiática, até pouco tempo liderada com mão-de-ferro pelo generalíssimo Kim Jong Il.

Para começar, tive uma dúvida. Em vez de solidariedade com a Coreia do Norte, não seria mais adequado uma solidariedade com o povo coreano? Tenho a convicção de que as duas coisas são muito diferentes. Porque apoiar o povo talvez seja rejeitar o apoio aos homens responsáveis por um dos sistemas mais fechados e atrasados do planeta.

Fui dar uma olhada no blog. Não aprendi grande coisa sobre o país, que chora convulsivamente a perda do Querido Líder (vejam o vídeo mais abaixo). Mas descobri coisas sobre mim que nem imaginava. Para começar, sei agora que integro “a maioria dos jornalistas e ‘analistas’ propagandistas da ordem capitalista”. Ok... segundo o blog passei de dinossauro socialista a porco capitalista. Ops!

O blog tem uma teoria. Existe uma insidiosa conspiração do Ocidente para denegrir a imagem da Coreia do Norte. Parece que aquilo é um paraíso, mas a mídia norte-americana anda a manchar o nome do país. “Qualquer notícia que fale em ‘crise econômica’ e ‘fome’ na Coreia Popular nos dias de hoje é mera propaganda capitalista, não merecendo sequer ser levada em consideração”, diz o texto do blog. Não levar o interlocutor em consideração? Eis um bom argumento.

O fato é que algumas pessoas analisam a questão através de filtros um pouco fora de tempo. Socialismo versus capitalismo. Propaganda ianque versus a realidade coreana. Imperialismo versus governo “popular”. Acontece que sou uma pessoa simples e prefiro simplificar. A minha medida é mais fácil de entender: são as toneladas de alimentos que o Ocidente (e os aliados asiáticos) tem enviado para Pyongyang a fim de evitar catástrofes humanitárias como a fome. Ou será invenção da ONU?

Descobri também que tenho cometido outro erro. Sempre achei que aquilo era um sistema sem eleições e com ditadores hereditários (parece que agora vamos ter um governo tricéfalo formado pelo exército, Kim Jong-Un e o seu tio). Mas o site mostra que estou enganado, porque sou raso e superficial.

“A transição aparentemente hereditária da liderança na Coreia Popular recebe os mais odiosos ataques da imprensa burguesa mundial, que fala em 'ditadura monárquica comunista' norte-coreana. Poderíamos concordar com tal linha de argumentação se adotássemos um método de analise raso e superficial”, diz o texto. Ah... entendi.

Esse pessoal rejeita também as insinuações de que o choro histérico dos norte-coreanos seja uma farsa. E diz que os caras realmente gostavam de Kim Jong Il. Ok... talvez fosse melhor analisar os mecanismos de marketing pessoal e de culto à personalidade tão queridos pelos ditadores, em especial o Querido Líder. Aliás, qualquer consultor de imagem pode dizer que o falecido tinha o carisma de uma lata de ervilhas.

Em resumo. Até sou capaz de entender que em pleno século 21 uma pessoa não goste da democracia e esteja disposta a apoiar um sistema feito por cleptocratas (onde foi que Kim Jung-Un estudou?), notadamente autoritário e que obriga o povo a viver no atraso. É uma questão de opção política e eu respeito por dever democrático.
Mas não é por ser de esquerda que vou acreditar nos estalinismos. Nunca acreditei e não será agora. Aliás, nem venham dizer que aquilo é socialismo.

8 comentários:

  1. O Chuva Ácida jamais existiria na Coreia do Norte.

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  2. A Coréia do Norte está entre os últimos paises no ranking de liberdade econômica, basta dar uma olhada nos primeiros e relacionar ecocomia e qualidade de vida. Socialismo pode ser bacana mas não funciona, na minha humilde opinião.

    http://www.heritage.org/Index/Ranking.aspx

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  3. Parabéns, Baço, pela autocrítca. Coisa raríssima, no Brasil atual.
    Como diria o governo da República "Popular" da China: "Nada como uma boa dose de 'capitalismo selvagem' pra sustentar esse comunismozinho gostoso", né não?
    Lênin deve estar dando piruetas no caixão!

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  4. Na democratica Coreia do Norte não há internet o serviço é uma intranet controlada pelo governo

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  5. Minha crítica foi sobre as insinuações de que as pessoas eram obrigadas a chorar.
    A mídia sempre deu apenas um foco sobre a Coréia do Norte, que é da questão militar devido aos constantes testes que lá são feitos, e só.

    Porém, existem diversos países monarcas, por exemplo, que mantém a mesma estrutura de culto a personalidade do Grande Líder, acredito não precisar citar exemplo algum, porém não vejo notícia alguma sendo divulgada contra esses ditadores. Acabamos de ver o começo de uma revolução Árabe e descobriu-se do nada que lá viviam muitos ditadores e que a mídia nunca se preocupou em divulgar.

    Quem não percebe a diferença no tratamento da mídia quanto aos países "não-alinhados" precisa prestar um pouco mais de atenção, e vou até usar um exemplo simples, olhem as notícias do Jornal Nacional sobre o Egito...

    O único socialismo que defendo atualmente, e o único que consigo acompanhar, é o Socialismo do século XXI idealizado por Chaves, que apesar de usar o mesmo culto a personalidade, o faz dentro da democracia burguesa, e está sendo copiado por Cuba (vide liberação de diversos serviços para iniciativa privada).

    No link que eu citei, haviam 3 postagens, e em uma delas deixava bem claro a questão da guerra contra o Japão e como as coisas de desenvolveram, além de mostrar que o país não é tão fechado assim para os visitantes como se falou nos comentários, tendo visitantes de vários países.

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  6. Deus me livre de Chavez, Castro, Moralez e dessas revoluções "socialistas" que pipocam por nossa combalida Latinoamérica!

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  7. Ei Nico,

    a autocrítica continua raríssima. O Baço só fez pois está em terras portuguesas.

    Piada sem graça, mas tentei fazer rir.

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  8. Que os grandes meios de comunicação são de propriedade de magnatas do capital, eles mesmos donos de grandes indústrias, fazendas etc. e que toda a concepção de mundo das massas é moldada em torno da concepção de mundo presente em tais grandes meios de comunicação, isso parece ter ficado muito óbvio. Afinal, não me lembro de ter lido nenhum texto da Veja, Istoé ou Folha de São Paulo defendendo a Coreia. Quando os bonecos da Disney apareceram durante 15 minutos na televisão norte-coreana, os principais jornais do Brasil e do mundo vociferavam e faziam alaridos contra a RPDC e sua principal liderança, o camarada Kim Jong Un. Quando o ativista sul-coreano Ro Su Hui foi preso em julho desse ano por visitar a Coreia Socialista e defender a reunificação pacífica da Coreia, não se via tal notícia em nenhum dos grandes jornais da imprensa anticomunista. Não foi por coincidência ou falta de informação. Afinal, se tal acontecimento tivesse tido lugar em países independente e antiimperialista como Coreia do Norte, Síria ou Venezuela, já estaria ocupando as primeiras folhas da grande imprensa a serviço do imperialismo.

    Também não posso entender como um país que produz maquinas CNC, lança satélites artificiais e possui quase toda sua indústria no sistema de automatização pode ser atrasado. Seria bom se me explicassem melhor.

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