segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aumento da tarifa precisa ser discutido a sério


POR FELIPE SILVEIRA

Não lembro quando comecei a me interessar por política. Desde muito pequeno eu já gostava disso. Mas, certamente, minha primeira atitude política pública foi em um protesto contra o aumento da tarifa do transporte coletivo há cerca de dez anos. Eu estudava no colégio Plácido Olímpio de Oliveira, no bairro Bom Retiro, e nós fizemos um protesto no terminal norte. Se não me engano, foi nos mesmos protestos em que uma galera foi presa no centro, que reuniram cerca de 3 mil pessoas. Nunca vou esquecer como descobri o gosto de spray de pimenta. Se você não sabe, não queira saber. Detalhe: éramos um monte de crianças e adolescentes, não passávamos de 50, e um pessoal simpático do GRT deve ter se divertido espirrando o spray desbaratinadamente.
Desde então, sempre estive ligado e quase sempre participando das manifestações contra o aumento. E confesso que foram algumas das minhas melhores experiências da juventude. Muita gente chamou a gente de baderneiro, mas quem diz isso não tem ideia de como é bonito ver a juventude se mobilizando politicamente desse jeito. Quem nos chama de baderneiro, geralmente, não tem a menor ideia do que é consciência política. E são esses, principalmente, que reclamam da falta de politização da juventude. Cornetagem forte mesmo.
E é justamente esse ponto que eu quero tratar aqui no Chuva Ácida. Nesta segunda, o jornalista João Kamradt, do jornal A Notícia, deu a informação de que Carlito Merss disse que haverá reajuste da tarifa de acordo com a inflação. Liguei na Prefeitura e a assessoria disse que essa informação ainda não é oficial, mas que o assunto está sendo discutido e aos cuidados da Seinfra.
Mais do que nunca é hora de debatermos mobilidade urbana. E essa discussão, em Joinville, não se trata de vias, viadutos, trens, VLP, VLT, bicicleta ou pula-pula. Essa discussão, em Joinville e em qualquer lugar do mundo, é sobre o transporte coletivo.
Em sua coluna domingueira, no AN, o Zé Antônio Baço fala sobre o mesmo tema. Andar de bicicleta na Europa é uma coisa. Em Joinville, é outra. Na Europa eu não sei como é, mas em Joinville eu ando há 15 anos e tenho uma vaga ideia de quando é viável e quando não é. E, por mais que eu seja um defensor da “zica”, é impossível usá-la para tudo na vida. Claro, dá pra ser usada muito mais, e isso depende muito de vontade, das pessoas e dos políticos.
Voltando ao tema transporte coletivo, as duas propostas mais sérias que eu conheço sobre mobilidade urbana em Joinville são a do Movimento Passe Livre (MPL) e uma do Ivan Rocha (vídeo abaixo). Claro, há outras, como a do Kennedy Nunes nas eleições, com subsídio, e a das empresas, que querem menos impostos só para elas. Dessas aí eu nem digo nada.
O MPL (nunca fiz parte, que fique claro) discute a questão com muito afinco, com debates, exibição de filmes, blog atualizado, facebook e plano com propostas concretas. E parte de um princípio muito simples, de que a atual política de transportes é excludente e que a tarifa zero iria garantir o direito de ir e vir (a interpretação é minha). Já o Ivan defende um modelo de mensalidades (baixas) e circulação livre, baseado no sistema português.
O problema, no entanto, é que essas propostas são ignoradas pelos políticos e por boa parte da sociedade, que só enxerga “baderneiros”. Pelo políticos, a razão é óbvia. Boas propostas avacalhariam com a relação entre os empresários e os gestores. E, caso alguém queira enfrentar o poder imposto pelo dinheiro, certamente iria se incomodar. Claro, o poder do povo, do cidadão, poderia bater de frente com o poder do dinheiro. Mas como o cidadão está bem confortável em seu carro com ar-condicionado, a omissão é o caminho mais tranquilo. E a cidadania se resume a reclamar dos buracos de rua. E a chamar quem discute de baderneiro.
Por favor, vamos fazer diferente dessa vez.

10 comentários:

  1. Já posso ver a bolha chorando e exaltando seu merecimento por poder comprar carros com ar-condicionado. Não se preocupem, isso não é um problema! É apenas um convite ao debate para vocês também, que, eu sei que não parece, fazem falta.

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  2. Quanto mais aumentam a tarifa, menos usuários. Quanto menos usuários, mais aumentam a tarifa. Quando essa lógica ignorante vai acabar?

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  3. Quando alguém for falar de "concorrência" e "várias empresas", dê uma passadinha em Florianópolis e veja se é diferente.

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  4. O texto do link não é novo, mas continua atual

    http://comentariosdejoinville.blogspot.com/2011/01/tem-gente-vendendo-ar.html

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  5. Posso estar fugindo do tema, mas quero fazer uma observação: tem muita gente que participa de movimentos populares, mas não necessariamente elevam sua consciência politica. Entender propostas alternativas para mobilidade urbana é relevante, mas o mundo não gira ao redor de uma catraca.

    Espero não ter sido desagradável.

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  6. Não há uma concorrência real quando cada empresa tem sua área de atuação bem definida, onde cada área é atendida por uma única empresa.

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  7. Estamos atrasados na hora de debatermos a MU.Quanto aos modais concordo com o Silveira, é resultado do conceito ou diretriz.

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  8. Da mesma forma que outras pessoas participam de partidos e organizações e também não elevam sua consciência política, né, Eduardo?

    A vida não gira ao redor de uma catraca, por isso que há uma grande diversidade de movimentos. Uns pelo transporte, outros pela renda mínima, outros pela igualdade racial, outros pela diversidade sexual, outros pela habitação, e por aí vai.

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  9. Passe livre é ao meu ver, uma falácia, que só dá certo em algumas cidades europeias. Eu concordo com a ideia de se ter de pagar uma mensalidade e poder usar o transporte coletivo sem fim, se for um valor de, pro exemplo, uns 60 reais. Milão e Paris são exemplos bem claros deste modelo. Claro, guardadas as proporções, dá para aplicar-se aqui. Além disso, tem de ser discutido o conforto na viagem de ônibus. Andar como uma lata de sardinha não me parece a coisa ideal...

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  10. Então,

    para enriquecer o debate, o passe livre ou melhor o Tarifa Zero não só combina com o Brasil,como ele está no Brasil em duas cidades: nos estados do RJ e de SP. Vale dar uma pesquisada.

    Outra, é claro que nem tudo gira ao redor de uma catraca, deve ser por isso que existem vários movimentos que lutam por diversos direitos. Mas também é por isso que o Movimento Passe Livre Joinville e seus militantes vem apoiando e participando de tantas outras lutas, como: contra o aumento da taxa de
    água, contra o aumento do salário dos vereadores, as lutas por Direitos Humanos,as mobilizações por saúde pública etc, etc...

    Sobre as formas de se aplicar um modelo como o Tarifa Zero, e de ele ser viável e confortável para os usuários, o MPL Jlle vêm se esforçando em debater com todos os interessados, por conta disso já foram feitos dois debates sobre esse modelo. Contando com a participação do Lúcio Gregori que foi Secretário do Transporte no governo Luiza Erundina (SP) que implantou o Tarifa Zero em um bairro da cidade na época. Além dos demais encontros realizados com associações de moradores e estudantes.

    Espero que todos que aqui comentaram sejam interessados ao ponto de contribuir e construir melhores alternativas da cidade. Assim podemos nos ver nas lutas, nos debates que ainda irão de acontecer.

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