segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Santos 0 x 4 Barça

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


O Barcelona tratou o Santos como trata a maioria dos seus adversários. Ou seja, deu uma aula de futebol. Mas o jogo de ontem pôs frente a frente duas realidades muito distintas. E as comparações não podem ficar restritas ao que aconteceu no relvado do Nissan Stadium. Foi, antes de tudo, um confronto cultural.


Para começar, o torneio é encarado de forma diferente nos dois continentes. Yokohama parecia ser o único objetivo para o Santos, ao ponto de a equipe não dedicar atenção suficiente ao campeonatos que disputou. E mesmo jogadores que poderiam estar a fazer carreira na Europa, desde o início das ligas, decidiram ficar no Brasil apenas por causa desse jogo.


Os times europeus não dão importância a esse torneio. É claro que os torcedores comemoraram (afinal, é um título mundial), mas a ida ao Japão obrigou a equipe a se desligar das competições que realmente importam: a liga espanhola e a Champions. É só ver as audiências das televisões para perceber que esse campeonato não é um produto apetecível na Europa.


Sobre o que aconteceu em campo, foi o jogador Puyol quem, no fim do jogo, deu a melhor definição, ao dizer que o Santos joga numa liga mais lenta. E ao falar em “liga”, está a falar do futebol brasileiro como um todo. O fato é que o melhor time brasileiro não teria grandes chances ao disputar qualquer uma das cinco melhores ligas europeias.


Na prática isso explica por que os técnicos brasileiros não tem mercado na Europa. E até os jogadores, mesmo os craques, precisam de passar por um período de adaptação quando mudam para clubes europeus. Aliás, se uma crítica pode ser feita a Muricy Ramalho é o fato de ele não ter iniciado o jogo com Elano, jogador com experiência na Europa.


E por falar no técnico santista, a imprensa europeia destaca hoje uma análise sua, quando diz que o Barca joga num esquema tático 3-7-0. “No Brasil seria um absurdo, viraria caso de polícia e mandariam prender o técnico. Temos o costume no Brasil de que o número de atacantes indica ofensividade, mas o Barcelona prova que é possível jogar bem e fazer gol sem nenhum atacante. Quem sabe aos poucos a gente não comece a aceitar isso no futebol brasileiro também”, disse Muricy Ramalho.


Certíssimo. Os brasileiros vivem com o mito de que o Brasil é o país do futebol. Mas produzir craques não é tudo. O fato é que existe uma indústria do futebol. E, assim como em outros setores da economia, o Brasil precisa deixar de ser fornecedor de mão-de-obra (ou, neste caso, pé-de-obra) barata e tentar ganhar competitividade. Isso exige uma reorganização, um modernização e uma mudança de mentalidades.


José António Baço é torcedor do Santos

5 comentários:

  1. O mito de "país do futebol", por si só, já deveria ter sido descartado há tempos. Aonde que vivenciamos isso? Nas crianças jogando bola nas ruas? Tudo bem, mas isso tem até no meio dos conflitos no Oriente Médio. Na paixão dos torcedores? Não vejo por aqui nenhuma disputa cultural tão grande, no futebol, a ponto de dividir o orgulho territorial como na Catalunha. Ou na Rússia, na Inglaterra, Alemanha e até Argentina. Na quantidade de jogadores e talentos que surgem de tempos em tempos? É mais uma fuga, uma única saída para muitas vidas, do que de fato uma preocupação e cultura nacional. A Argentina é um celeiro de talentos do mesmo nível e olha o tamanho do país deles comparado ao nosso. O Brasil é uma ótima indústria do futebol, mas nunca um país que vive do sentimento que existe em torno deste esporte. É só ver o descaso nas categorias de base. É só ver a nossa seleção, formada por estrangeiros que não jogam para o seu povo e sim para os seus patrocinadores. É só ver quem comanda a principal instituição reguladora. É só ver quem comanda as federações estaduais. É só ver quem comanda os clubes. Empresários e magnatas, simplesmente. Nossa escola de futebol é formada por contra-ataques, bolas paradas, 3 linhas de atuação e raros talentos individuais. Pragmatismo, futebol de resultados. Se é disso que um país do futebol é feito, de fato somos. Mas ainda bem que existe um Barcelona, uma seleção Espanhola, e até Alemã, pra nos mostrar que as coisas são diferentes, que dá pra se jogar em torno de um conceito, de uma estética mais bela..

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  2. O Santos se acovardou, jogou como time pequeno e mediocre. Nas poucas vezes em que foi ao ataque teve change real de marcar. Se o Barça jogou no 3-7-0 o Santos jogou no 9-1
    Murici sempre foi retranqueiro e suas conquistas se devem sempre a ter um ótimo elenco. Arouca, Ganso e Elano é o melhor meio campo do mundo!

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  3. Laerte;

    Perto do atual time do Barcelona, o Santos é, indubitavelmente, um "time pequeno e mediocre".

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  4. "No Brasil e na América do Sul sempre haverá bons jogadores e bons times. Mas jogamos com nove canteranos [jogadores vindos das categorias de base do Barcelona] hoje e que custaram zero euro para nós"

    Pep Guardiola

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  5. O fato é que, antes de ter sido uma "aula de futebol" - Neymar subiu no meu conceito, só por ter entendido isso -, foi uma aula de liderança, planejamento e disciplina, coisa que, no Brasil passou a ser sinônimo de besteira! Messi, certamente não é mais habilidoso que Neymar, mas se agiganta quando é parte de um time que joga coeso. O time do Barcelona, na verdade, antes de ser o retrato de um bom time, é o retrato acabado de uma cultura.

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