domingo, 25 de setembro de 2011

Tudo o que as entidades empresariais dizem vira uma “verdade absoluta"?

POR CHARLES HENRIQUE

Ao ver os textos de estréia dos colegas de blog, fiquei com a responsabilidade de “fechar” o primeiro ciclo de posts após o lançamento deste espaço no último dia 23. Tarefa árdua, visto a qualidade das discussões até aqui apresentadas.

Pensando em qual tema abordar, não hesitei ao escolher discorrer sobre os movimentos sociais de Joinville, mais especificamente as entidades empresariais, que juntas formam um poderoso arsenal de intervenções e articulações com o Estado, a mídia, e a população num geral. Esta, por sua vez, encara alguns fatos levantados pelos empresários como sendo “verdades absolutas”, sem ao menos discuti-las.

Isto se mostra presente na discussão sobre o aumento ou não do número de vereadores na cidade*. A alteração na Constituição que permitia uma cidade com mais de 450 mil habitantes (como o caso da nossa) foi promulgada em 23 de setembro de 2009, mas só agora estamos discutindo como se fosse a coisa mais importante da história da cidade.

Com a proximidade das eleições de 2012, as casas legislativas são forçadas a tomar uma decisão. Algumas cidades aumentaram o número de vereadores, e em outras, não, como no caso da vizinha Jaraguá do Sul, que teve um acompanhamento de perto das entidades empresariais de lá. Com campanhas em outdoors e articulações com a mídia, a discussão “morreu” numa dicotomia, sem ser ampliada e discutida com toda a sociedade. Quase que isto também ocorre em Joinville.

As entidades daqui foram na mesma linha e pressionaram para que não houvesse o aumento. Muitos vereadores se sentiram acuados (até porque grande parte das lideranças empresariais são fortes financiadoras de campanha) e as ouviram, como se elas fossem defensoras do dinheiro público e porta-vozes das vontades de todos nós. Só falta chamar um jornal da cidade, o qual defende abertamente a manutenção em 19 vereadores para dizer que “seja feita a vontade das entidades”. Não duvido muito que isto aconteceria! (sic!)

Deste modo, por que a cidade de Joinville é tão refém das opiniões destas entidades? Isto é reflexo de uma sociedade segregada, onde os que detêm o dinheiro são facilmente ouvidos (e influenciam o restante!). Os empresários são travestidos de um “interesse em prol da sociedade”, mas, só se intrometem em assuntos de seus interesses, gerando (articulados com a mídia) uma nebulosidade excessiva nas discussões que realmente importam, e que poderiam ser estendidas para toda a sociedade. Torçamos para que neste caso dos vereadores o debate chegue à maioria, e não se reproduzam através dos “donos da verdade”.

*Vale lembrar que este post não pretende abordar se devemos ficar com 19, 21 ou 25 legisladores, essa é uma discussão que faremos em outras oportunidades. Pretendemos, então, analisar como os legisladores, entidades empresariais, mídia e os munícipes estão encarando esta situação.

8 comentários:

  1. Parabens Charles, Compartilho da mesma opinião,me questionei esses tempos após ler algumas opiniões diferentes das impostas por tais entidades e me perguntei, afinal, qual seria o real interesse de tais entidades?
    Abraços.

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  2. Ficou muito longe aquela ACIJ que defendeu o Vote Certo, Vote por Joinville ou a que foi a luta contra a má qualidade das obras da duplicação da BR 101.
    Hoje os temas sobre os que as entidades se posicionam são quase que exclusivamente de interesse de umas poucas empresas grandes.

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  3. Na reunião do último dia 19/09, para a qual foram convidados os presidentes de partidos políticos, presidentes das entidades empresariais (Acomac, CDl, Acij e Ajorpeme) e a OAB Joinville, por mim representada, na minha fala (foi 3 minutos para cada um) salientei que, embora reconhecendo-se que os vereadores, observado o limite máximo constitucional, detenham competência para decidir o número de vagas, o debate deveria ser ampliado à participação de demais entidades representativas da sociedade civil, em plenário aberto. Independentemente das questões de ordem financeira, a questão também deve ser vista, pelos vereadores, pela perpectiva da mensagem que o órgão transmite para a população, nesses tempos em que a corrupção e o descaso com o dinheiro do contribuinte grassa em todos os setores da vida nacional. Há que se ouvir as ruas.

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  4. O poder tem privilégios e... responsabilidades. Aqui em Joinville vejo só privilégios para alguns e o povo a trabalhar sem qualidade de vida. Estou aqui sentada esperando uma humanização para o setor de oncologia.

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  5. Corrijam o "foi 3 minutos" para "foram 3 minutos", no meu post, por favor!

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  6. Ótimo texto Charles, com seu poder financeiro, as entidades empresariais conseguem a preferência na mídia nas questões que mais lhe interessam, inclusive com censura quando são criticadas através de cartas (pequeno e único espaço destinado a outras opiniões). Pior ainda quando patrocinam outdoors e se põe como anônimos, confundindo ainda mais a população.

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  7. Tenho acordo com o texto, mas provoco irmos mais longe.

    As entidades empresariais não estão fazendo nada de mais, apenas o dever de casa. O principal problema é que as organizações populares ainda trabalham num clima de amadorismo. Quando se tem notícias sobre alguma associação de moradores ou movimento estudantil se posicionando sobre as coisas da cidade? Sim, há exceções, mas são a minoria.

    Por outro lado, muitos sindicatos e associações estão dominados por grupos políticos que compartilham dos mesmos interesses da classe dominante.

    Sobre o caso dos vereadores, os políticos que compõem a Câmara também não são acostumados a terem contato com sua base. O aparelhamento é tão grande que não conseguem reverter a imagem de "mais vereadores igual a mais corrupção".

    Quando encontrar um post sobre números de vereadores falo mais :)

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