terça-feira, 27 de setembro de 2011

O caso UFSC Joinville e as “verdades absolutas”


POR CHARLES HENRIQUE

Primeiramente gostaria de enaltecer a qualidade das discussões presentes neste blog. Em tão poucos dias, temas importantes foram abordados, bem como a presença de diversos pontos de vista nos comentários. Tenho certeza que o nível só tende a aumentar.

Em meu primeiro post, recebi feedbacks polêmicos sobre o tema que relatei. Parece que o joinvilense não diz mais “amém” para tudo o que ouve, vê e lê por aí. As “verdades absolutas” impregnadas por alguns estão começando a ser questionadas. Não quero ser tachado como perseguidor das entidades empresariais, mas, necessito seguir na mesma linha, até para complementar o que escrevi por aqui em minha primeira intervenção.

A UFSC em Joinville (é, aquele campus de um curso só) enfrenta graves problemas com os atrasos e problemas estruturais. Todo mundo já está cansado em saber que o terreno escolhido lá na curva do arroz não tinha a menor condição de receber uma Universidade Federal. Nem o contorno ferroviário. Entretanto, deixando estas discussões sobre o terreno para um outro momento, queria me atentar para a escolha dos cursos, feita de forma autoritária, e atendendo a vontade das entidades empresariais, principalmente da ACIJ (olha só, mais um assunto da cidade em que elas se intrometem... seria concidência?).

Políticos, gestores da UFSC, e os presidentes destas entidades (os donos das “verdades absolutas”) saíram com um discurso enlatado e ensaiado: “Joinville precisa de cursos de engenharia porque é a vocação da cidade”. Discurso da década de 80 esse, hein? Faz tempo que a economia da cidade é dinâmica, com um setor terciário fortíssimo. Por qual motivo, portanto, esse discurso continua sendo incitado pelos empresários?

Claro, quanto mais profissionais forem formados para atuar no setor secundário, mais se qualifica a mão-de-obra, aumentando a oferta e diminuindo os salários. Como a classe empresarial tem uma forte ligação com os políticos dessa cidade, vimos vários representantes em Brasília defenderem a criação desse curso de Engenharia da Mobilidade no campus (?!) da UFSC em Joinville, sem consultar a população, que tem outras necessidades, como profissionais nas áreas de humanas, biológicas, saúde, etc. Todo esse jogo rasgou a Constituição Federal, que em seu artigo 205 diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Sociedade é um substantivo inexistente para alguns, parece!

*Fonte da imagem: Secom/PMJ.

5 comentários:

  1. Grande Charles, concordo com suas opiniões neste texto sobre a UFSC.
    Mas mesmo tendo um único curso no campus da cidade dos príncipes é inegável o valor da UFSC para Joinville. Digo isso pois aqui onde faço meu curso de Aquicultura - Palotina-PR - pela UFPR só havia um curso até 2008. Por mais de uma década existia apenas o curso de Medicina Veterinária pois essa era a "vocação" da cidade.
    Através do Reuni o campus expandiu e agora temos aqui além de Medicina Veterinária, Agronomia, Ciências Biológicas, Aquicultura, Biocombustíveis e Biotecnologia. A previsão é que o campus continue a crescer e até 2020 aqui tenha TODOS os cursos ofertados por Curitiba. Isso trouxe inúmeros ganhos para a "pequena palotexas": crescimento da construção civil, dos investimentos públicos e privados na infraestrutura da cidade, nas opções de lazer (que ainda são poucas, mas imagine então como era no passado), fortalecimento da economia e qualidade de vida da população em geral.

    Isso tudo só foi possível aos esforços do diretor do campus na época, a colaboração do setor público e privado da cidade e principalmente a pressão da população que queria mais opções para sua formação.

    Dito isto, me resta dizer uma última coisa:

    A UFSC é um ganho imensurável a nossa bela cidade, mas para que ela fixe raízes e torne-se orgulho para toda Joinville e Estado de Santa Catarina é necessário que cuidemos dela. E faremos isso com o apoio das organizações públicas e privadas, mão firme e competente do gestor do campus e participação efetiva de nossa população.

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  2. Roberta Noroschny Schiessl27 de setembro de 2011 às 16:23

    Charles, como você avalia a questão da autonomia universitária? O juiz que analisou a questão da escolha dos cursos proferiu sentença confirmada pelo TRF4. E eu te garanto - como já garanti - que o juiz não tem qualquer vinculação com a ACIJ, tampouco nasceu em berço esplêndido a ponto de ter qualquer simpatia pelo coronealismo na cidade.

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  3. A UFSC tem autonomia sim, Roberta, pois também está na CF. Mas, a partir do momento em que a reitoria "ouve" entidades organizadas da cidade (pedindo a colaboração delas), ela está agindo de forma parcial. Ou a UFSC teve vontade "própria" de trazer engenharias para cá? Está nos jornais da época as sucessivas conversas entre ACIJ, poder público e UFSC.

    Não questiono aqui a sentença do Sr. Juiz Claudio Schiessl, que teve suas razões, pois se apoiou em uma cláusula diferente daquela em que eu me apoio. Podes ver que em nenhum momento questionei a sentença... seja neste texto, ou em outros que publiquei a respeito.

    Mas, em minha visão, o processo todo beneficiou alguns, em detrimento da maioria. Não foi ilegal!

    Reproduzo aqui parte da sentença para também basear o meu pensamento: "pão ou pães é questão de opiniães"... e para mim, tá tudo errado nessa vinda da UFSC.

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  4. O texto é bom, porém uma dúvida me surge.

    Como você sabe que a população necessita de profissionais na área de humanas, etc, etc e etc? Com base em que tipo de informação você faz uma afirmação dessas?

    Não é por nada, só queria saber.

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  5. Charles,

    Nâo sei se é tarde demais para expressar minha opinião aqui, mas farei para ajudá-lo na sua dúvida.

    Qual seria a lógica das Entidades Empresariais em exigir que a UFSC ofereça os mesmos cursos que a SOCIESC?

    Veja bem, a SOCIESC, ou melhor, a Escola Técnica Tupy existe porque uma grande elite de empresários investiram na formação de profissionais para suprir suas necessidades.
    O Udo Dohler, por exemplo, é um dos fundadores da SOCIESC e ele é, declaradamente, contra a UNIVILLE.

    Felipe.

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