quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
Ainda queda privacidade ou tudo agora é público?
POR JORDI CASTAN
Em uma sociedade que
posta em Facebook, Instagram ou Twitter o que come, a que lugares vai, que
roupas compra, que carro tem ou de que festas e eventos participa é difícil
falar de invasão de privacidade. A tecnologia permite hoje saber muito mais do
que gostaríamos que os outros soubessem e este é um limite que foi
irremediavelmente superado.
Poucos são cientes do
elevado nível de controle que as autoridades têm sobre os cidadãos. O que vemos
em filmes e que já é uma realidade na China, onde cada cidadão é monitorado e
ganha ou perde créditos sociais é um pesadelo que forma parte do nosso dia a
dia. No Brasil as agencias de credito tem acesso ao perfil de cada um e define
o nível de risco que implica realizar operações financeiras e por tanto define
o custo de cada empréstimo a partir do coeficiente de risco.
No caso dos veículos
já é possível monitorar cada veiculo utilizando a tecnologia OCR, conhecida no
Brasil por LPR (Leitura de Placas e Reconhecimento de Caracteres) que permite
que o veiculo seja identificado e no caso de uma infração a multa chegue pelo
correio. Essa tecnologia é utilizada em alguns países para cobrança de pedágio,
sem necessidade de outros aplicativos, a fatura chega diretamente ao domicilio
do proprietário do veiculo que paga o pedágio ao final do mês.
Essa mesma tecnologia
permite também que a policia possa emitir uma ordem de busca para um
determinado veiculo e que seu itinerário seja conhecido pelos agentes de
segurança que podem rastrear em tempo real onde se encontra aquele veículo.
Joinville tem vários pontos de fiscalização com a tecnologia OCR e se o sistema
de controle de transito fosse integrado seria possível também fazer este
rastreio, toda a tecnologia tem mais de um lado e a mesma que permite seguir
veículos roubados ou assaltantes em fuga, permite seguir o veiculo de qualquer
particular, independentemente que seja suspeito ou tenha cometido algum delito.
É um fato que não há
mais privacidade, que em parte nós mesmos temos aberto mão dela ao fazer das
redes sociais parte do nosso quotidiano, mas também é verdade que a perda de
privacidade tem componentes perversos que permitem um maior controle de cada
individuo e da sociedade como um todo. George Orwell escreveu em “1984” sobre
uma sociedade controlada pelo Big Brother que conhecia e tinha poder absoluto
sobre as pessoas e suas vidas. A tecnologia que deveria estar ao serviço das
pessoas está cada vez mais sendo usada para controla-las e aprisiona-las. É
importante lembrar que toda esta tecnologia não esta segura e ninguém a
controla o que aumenta o risco que as informações que coleta possam cair nas
mãos erradas.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
O ano foi de Bolsonaro
POR CLÓVIS GRUNER
Outro dia alguém me sugeriu em tom de chacota, no Facebook, que eu superasse Bolsonaro. Não há motivos, obviamente: se tanta gente – a começar por boa parte dos comentaristas anônimos desse blog – ainda não superou Lula, preso há meses em Curitiba, ao ponto de não conseguir comentar uma receita de bolo sem dar um jeito de meter o nome do ex-presidente no meio, por que deveria eu superar um presidente, que nem posse tomou ainda?Começo citando essa pequena anedota, típica das redes sociais, porque o ano foi mesmo de Bolsonaro: desde fevereiro, quando sua candidatura não estava ainda formalizada, foram oito textos que o tiveram por tema. Alguns falaram dele mais tangencialmente, ao abordar a produção e difusão das fake news e da homofobia, ou o “kit gay”, uma das muitas mentiras perversas propagadas por Bolsonaro em sua campanha.
Mas a partir de agosto, falar do candidato Bolsonaro se tornou uma obrigação. Em outubro, quando a eleição de um candidato fascista já era praticamente certa, quatro textos abordavam o assunto: as razões de sua vitória, além de eleitoral, simbólica; uma análise de seu discurso após o primeiro turno; a eleição de Bolsonaro como um retrocesso democrático; e, enfim, o caráter fascista de sua candidatura.
Os impasses e os equívocos da esquerda também mereceram algumas linhas. Falei da indicação no mínimo problemática de Guilherme Boulos à presidência pelo PSOL, e extrapolando os limites nacionais, desenvolvi uma breve digressão sobre o caráter autoritário dos governos de Maduro e Ortega, na Venezuela e na Nicarágua, em uma polêmica com meu colega de blog, José Antóio Baço.
E sim, também falei de Lula. E em pelo menos dois textos – sobre a concepção frágil de cidadania dos governos petistas e os impasses eleitorais após decretada a sua prisão – sob perspectivas bastante críticas. Obviamente elas não foram percebidas pelos nossos comentaristas anônimos porque bem, se fossem, não seriam os nossos comentaristas anônimos.
Mas no balanço de 2018, há outros assuntos igualmente desagradáveis além de Bolsonaro (não foi um ano fácil): a intervenção no Rio de Janeiro e o assassinato, ainda sem solução, da vereadora Marielle Franco, abordaram a violência e seus vínculos com a política e o Estado. Nas últimas semanas, o avanço da ideologia reacionária do “Escola sem Partido”, um dos efeitos deletérios da eleição de Bolsonaro, foi tema de alguns textos, onde abordei a escolha dos docentes como os novos inimigos, e a “ideologia de gênero”, outra das grandes mentiras propagadas por Bolsonaro.
E enfim, não seria possível um balanço de 2018 sem falar dos cinco anos de Junho de 2013. O texto que faz uma leitura das manifestações saiu no dia 20, exatos cinco anos depois que mais de dois milhões de pessoas ocuparam praças e ruas de cerca de 400 cidades em todo o país. Em um ano que deixará tantas lembranças ruins, a memória das Jornadas de Junho pode servir como um sopro de esperança: ainda que as expectativas para 2019 não sejam as melhores, seguiremos. E como só merece consideração e paciência quem perturba, minha escolha está feita: sigo perturbando.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Na corrupção não há meia virgem, nem uma pequena gravidez.
POR JORDI CASTAN
Não há termino médio quando
o tema é corrupção, nem meia virgem. Ou se é honesto ou não. Ou se é virgem ou
não. Há no Brasil uma capacidade extraordinária para alargar os limites da
honestidade até faze-los tão elásticos que fiquem irreconhecíveis. Já
esqueceram o inflamado discurso da Presidente do PT no Senado dizendo que o que
tinha sido roubado na Petrobras era um valor mínimo frente ao seu patrimônio e
faturamento? Pois é. O mesmo discurso foi ouvido nestes dias para justificar o
que parece um novo caso de corrupção, o valor é irrisório e não deve ser tomado
com tanta seriedade.
É perversa esta lógica
que é possível ser só um pouco corrupto. Que só podemos considerar corrupção
acima de determinados valores. Assim o brasileiro de uma forma geral não
considera errado levar material de escritório do trabalho para casa, canetas,
marcadores, folhas de papel, não tem um valor significativo. Utilizar a internet
no horário de trabalho para tratar de assuntos particulares tampouco e usar a máquina
de xerox, da empresa, para fotocopiar aquele livro de receitas da vizinha, não
pode ser considerado corrupção.
A corrupção também utiliza
de outros argumentos, como que aquilo é feito por todos, ou pela maioria. No
caso dos políticos é conhecido o caso dos deputados e senadores reeleitos que
recebem uma verba para fazer a mudança de Brasilia para seus estados e outra
para fazer a mudança dos seus estados para Brasilia. Até uma criança de 7 anos,
no seu candor, entende que esta verba, que por si só já é questionável, não
deve ser paga em dobro para os deputados e senadores reeleitos. Já que eles permanecem
na capital federal.
Do mesmo modo a forma
como são definidas e são justificadas as verbas de gabinete dos legisladores
nos três níveis, não só permitem, como estimulam a contratação de mais assessores
que os necessários, pior ainda é uma porta aberta para que sejam contratados
assessores sem competência e capacidade para prestar seus serviços e que ainda
acabem devolvendo, na forma de um pedágio, parte do seu salario ao vereador,
deputado ou senador que o contratou. Algo que não é novidade nem por aqui. Já
tivemos casos destes em Joinville.
A decisão que devemos
tomar como nação é se aceitaremos conviver com níveis menores de corrupção ou
se toda corrupção, por menor e mais insignificante que possa parecer será
denunciada, perseguida e punida com dureza? A resposta não é tão fácil como
pode parecer. No Brasil a corrupção está de tal forma entranhada no ADN de cada
um que é difícil obter uma única resposta. Há uma tendência, perigosíssima a
aceitar pequenos níveis de corrupção, como uma alternativa a corrupção sistêmica
e escandalosa com a que temos sido confrontados nos últimos anos.
O nosso futuro como
nação dependerá diretamente ao modelo de casa leniência que definamos para os próximos
quatro anos. Será um antro repleto de meretrizes experientes e conhecedoras dos
caminhos e dos atalhos que levam ao poder ou teremos um jardim florido em que revoem
alegres grupos de vestais com vaporosos vestidos brancos?
O Brasil votou contra a
continuidade das marafonas. A maioria da população expressou nas urnas o desejo
que houvesse uma mudança radical na administração da casa de lenocínio, será difícil
aceitar que uma nova geração de pécoras assuma o negócio, pior ainda se entre
as raparigas encontram-se algumas velhas conhecidas da clientela. No Brasil de
hoje só Polyana para acreditar que alguém possa chafurdar na lama da política e
manter a castidade e a pureza virginal. O dilema que eleitor enfrenta é ser
condenado como Sísifo a empurrar até o topo de uma montanha uma rocha que
inevitavelmente rolará eternamente de novo ladeira abaixo, assim a cada nova
eleição escolhemos o candidato menos ruim, que depois de empossado acaba se
mostrando pior, mais inepto e mais corrupto que o anterior.
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