quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

De carneiro que recua, espere grande marrada

POR ET BARTHES

Uma coisa é certa. As ovelhas alemãs não são cordeirinhos. Surpreendidas e assustadas por um carro na estrada, acabam por se virar contra o pastor. As imagens têm mais de um ano, mas ainda impressionantes.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Verão e coliformes fecais












POR RAQUEL MIGLIORINI
Em matéria veiculada na mídia nacional, Santa Catarina foi destaque pela balneabilidade de suas praias, ou melhor, pela não balneabilidade. As análises de coliformes fecais (bactérias presentes no intestino de mamíferos, incluindo os humanos) ficaram  acima do permitido em 70% dos pontos analisados nas praias catarinenses perto do período de festas e melhorou um pouco na primeira quinzena de Janeiro.

Sabemos que a quantidade de turistas que visitam o litoral catarinense no verão agrava a situação mas essa desculpa não é mais aceitável. Existem tecnologias para estações de tratamento de esgoto doméstico que permitem usos intermitentes, ou seja, podem ser ativadas na temporada e desativadas ao longo do ano para diminuição de custos.

Em setembro de 2016, a prefeitura de Balneário Camboriú inaugurou a Passarela da Barra, ou passarela do “seu” Maneca, em homenagem ao senhor que fazia o vai-e-vem de passageiros pelo rio que dá o nome a cidade. Foram gastos R$ 30 milhões numa passarela. 

Ficou bonita, tem obras e fotografias em exposição, mas garanto que o “seu” Maneca ficaria muito mais feliz se esse dinheiro todo tivesse sido utilizado na coleta e tratamento de esgoto que é despejado diariamente no rio que ele tanto cuidou. Usando como exemplo um sistema de tratamento de efluentes, como um reator anaeróbico, e a instalação da rede coletora para cerca de 5000 habitantes, o custo seria de aproximadamente R$ 8 milhões. Seria uma aplicação mais digna dos recursos públicos. Agora, aquela pergunta básica: o que aparece mais, a Passarela sobre o rio ou um monte de tubos enterrados?

Balneário Camboriú tem mais da metade das praias centrais poluídas e culpa a falta de chuvas pelo alto índice de coliformes na água ou o excesso de chuvas pelos surtos de viroses e leptospirose. A solução encontrada pela antiga gestão para se livrar do esgoto doméstico, seria a construção de um emissário para jogar os efluentes em alto mar. Desconheço proposta mais indecorosa e arcaica. Mas talvez tenha surgido porque uma estação de tratamento, por menor que seja, pode ocupar um terreno onde caberia um prédio. E isso, naquela cidade,é inconcebível. Aliás, esse estilo contaminou Itapema, Penha e demais cidades dos arredores. E bota contaminação nisso.

De nada adianta a indignação dos catarinenses, contestando os dados e dizendo que no Nordeste a situação é pior. Não é. Santa Catarina precisa se livrar do coronelismo que assola sua beleza natural e cuidar do seu quintal, escolher governantes preocupados com a preservação ambiental e que tenham a visão mais avançada em relação ao turismo e desenvolvimento urbano. Se não, corremos o risco de afundar no que está sendo jogado direto no mar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O que você e Mick Jagger têm em comum? Nadinha...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A imprensa brasileira parece sempre disposta a dar uma mãozinha a Michel Temer. Faz pouco tempo, o time do atual presidente lançou um balão de ensaio: a aposentadoria seria cada vez mais tarde. Muito mais tarde. Como é óbvio, a coisa não desceu pelo goto dos brasileiros e houve reações para todos os gostos (muitas desproporcionadas, poucas sensatas). E o governo golpista ficou com mais um abacaxi para descascar.

Mas o Brasil não tem segredo. Quem tem verbas publicitárias para distribuir pode contar com a imprensa. E a revista Exame veio em socorro do governo. A capa da edição mais recente traz uma fotografia de Mick Jagger e um aviso explícito: “você terá de trabalhar velhice adentro”.  E acrescenta, com um entusiamo irritante: “a boa notícia: preparando-se para isso, vai ser ótimo”.


E a chiadeira começou, claro. Ótimo para quem, cara-pálida? Não dá para comparar Mick Jagger, que ganha a vida a cantar, com um cortador de cana, que tem uma das profissões mais insalubres do planeta. Resumo da ópera: apesar das reações indignadas, a revista cumpriu a sua missão. E espalhou a ideia. As pessoas ficaram avisadas para o que vem aí. Quando o governo tomar medidas, ninguém pode dizer que foi apanhado de surpresa.


A função da revista é óbvia: servir de muleta para o governo e convencer as pessoas de que o homo faber é o destino inevitável. Nascer. Trabalhar. Morrer. As sociedades moralistas como a brasileira ainda insistem muito numa certa “ética do trabalho”. Quem não trabalha deve ser excluído. A palavra “vagabundo” tornou-se uma ofensa. Eis um problema. O esquema mental brasileiro é tão velho que podemos ir buscar referência ao longínquo século 18.


O Traité de la Police, de Nicolas Delamare, é dessa época. Resgatado por Michel Foucault, destaca que a caça aos vagabundos era tão importante quanto a vigilância de criminosos e outros indivíduos perigosos. E ficamos a saber que, no início do capitalismo, o vagabundo – o homem que não trabalha porque não consegue emprego ou por simples recusa do modelo – é tratado ao mesmo nível de um criminoso.


O Brasil está na contramão da história, apesar de o senso comum ver o contrário. O problema é o tempo que se leva até à aposentadoria? Preocupante é a supressão do emprego que resulta das inovações tecnológicas. Interessante lembrar que, no século passado, o economista John Maynard Keynes publicou um texto a prever que, com a evolução das sociedades, as pessoas passariam a trabalhar apenas três horas por dia. O tempo livre seria para o lazer, a cultura e as coisas da vida. Ops!


A sociedade capitalista de consumo está na encruzilhada. A tecnologia elimina postos de trabalho e, claro, os salários. Sem dinheiro não há consumo. Sem consumo não há capitalismo. E as sociedades mais evoluídas procuram soluções. A Finlândia, por exemplo, tem um projeto piloto: 2 mil desempregados recebem uma verba do Estado que lhes permite continuar a consumir. É uma forma de antecipar o que, no futuro, pode vir a ser uma convulsão do sistema capitalista.


Tem medo de se aposentar tarde? Certo. Mas é importante ver mais longe. É preciso estar atendo ao seu emprego. A tecnologia é o motor de evoluções que estão a eliminar postos de trabalho. A Lei de Moore foi acelerada. E ressurge uma questão: se o usufruto das transformações tecnológicas não for socializado - e os benefícios estendidos a todos -, o sistema entra em colapso. É chegado o momento de introduzir a palavra socialismo (prefiro ecossocialismo) na semântica do cotidiano.


É a dança da chuva.






segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

De 8 milhões para 18 milhões, a "fábrica de multas" fatura alto

POR JORDI CASTAN

Com uma receita de R$ 18 milhões em 2016, as multas de trânsito têm se convertido na galinha dos ovos de ouro. No final da década de 90, Joinville assumiu o trânsito, até aquela época era responsabilidade da Policia Militar. Isso representava aumentar a responsabilidade do município, mas também aumentar a receita, o que se denomina ônus e bônus.

Quando, de forma inovadora, a Conurb fez a primeira licitação para instalação dos equipamentos eletrônicos para fiscalização, o objetivo era muito claro: melhorar a segurança. O objetivo não foi, como é agora, o de arrecadar mais. Até porque o objetivo primordial das autoridades do trânsito deve ser a de reduzir os acidentes e os seus efeitos sobre a saúde, o transito e a economia local.

Os primeiros equipamentos foram instalados exclusivamente com o objetivo que flagrar o avanço no sinal fechado. Feito o levantamento de quais eram os cruzamentos com maior número de acidentes, foram instalados os equipamentos. Não houve, ao contrario do que acontece hoje, o interesse de contratar os chamados “pardais”, equipamentos que fiscalizam o excesso de velocidade.

Aliás, nem os pardais, nem as lombadas eletrônicas são os melhores equipamentos para melhorar a segurança no trânsito. O objetivo é claramente arrecadador. Colocar lombadas frente a colégios e igrejas não proporcionam a mesma segurança para os pedestres que instalar um sinaleiro de botoeira. No sinaleiro, o veículo deve se deter completamente quando há cruzamento de pedestres. Na lombada eletrônica, só deve reduzir a velocidade. Mas a visão caolha do gestor público é que um sinaleiro tem custo e uma lombada eletrônica gera receita.

Os responsáveis do trânsito em Joinville nunca apresentaram os estudos técnicos que justifiquem a localização e a escolha de cada um dos mais de 100 radares instalados na cidade. Existem os estudos? Até agora ninguém sabe, ninguém viu. Quais são os pontos críticos? Onde há maior número de acidentes? Que tipo de acidentes? Onde se produzem os mais graves? Quais as causas?

Um exemplo no Boa Vista são as duas ruas mais importantes do bairro, a Albano Schmidt e a Prefeito Helmut Fallgater, com pouco mais de 2,5 quilômetros de extensão tem cada uma três equipamentos entre lombadas eletrônicas de pardais. A velocidade é de 40 km por hora em alguns pontos e de 60 km em outros, o que contribui a confundir ainda mais os condutores. 

Há na rua Helmut Fallgater duas situações semelhantes com resultados diferentes. Uma é o sinaleiro instalado faz décadas em frente à sociedade Bakhita. Um sinaleiro acionado por botão que garante a segurança de quem precisa atravessar a rua, na maioria dos casos pais e mães com crianças pequenas. Outra são as lombadas eletrônicas instaladas frente ao Colégio Presidente Medici e a igreja do Evangelho Quadrangular. As lombadas continuam funcionando e multando 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, haja ou não aulas ou cultos. O sinaleiro só funciona quando necessário.

É por isso que a arrecadação aumentou de R$ 8 milhões em 2015, para R$ 18 milhões em 2016, acima até dos R$ 16,5 milhões previstos para este ano.

Com certeza não vai demorar para que os estultos de sempre comentem que não há fabrica de multas porque é só não cometer infrações que não haverá multas. Ignoram ou fingem ignorar que como o salário dos funcionários do Detrans é pago com o dinheiro arrecadado com as multas. É preciso que a máquina arrecadadora funcione e funcione bem, não seja que um mês fiquem sem receber.

Em tempo: dinheiro para pintura de faixas de pedestres na frente de escolas, igrejas e pontos de trafego intenso de pedestres deve estar faltando, sem falar na péssima qualidade da pintura que é usada. A qualidade das obras públicas parece interessar? E com esses fatos, até lembro do discurso do prefeito que prometia cuidar de cada centavo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Mulheres, mobilidade e cidades acolhedoras



POR CECÍLIA SANTOS

Em dezembro do ano passado participei do evento “A mobilidade urbana e a perspectiva das mulheres” aqui em São Paulo, organizado pela WRI Brasil. Foi um evento de alto nível com mulheres da academia, do CET e de diversos ONGs e coletivos de mobilidade.

Estudos e estatísticas coletados mostram que as mulheres são as principais usuárias do transporte público e também a parcela da população que mais caminha. É mais comum em famílias que possuem apenas um automóvel que ele seja utilizado pelo homem. 

Nas famílias de classe média ou alta, as crianças quase sempre são transportadas de carro ou transporte escolar. Isso lhes tira a autonomia e independência e gera um outro problema: 1 a cada 3 crianças têm sobrepeso, e 15% estão obesas. 

Os espaços públicos para as pessoas com crianças (quase sempre mulheres) que caminham e que utilizam transporte público carecem de estruturas como bancos para que mulheres possam amamentar, espaços sombreados, trocadores, bebedouros, cestos de lixo. Sem falar nas calçadas, que geralmente são bastante inóspitas para pessoas idosas, com limitações de mobilidade ou para carrinhos de bebê. 

As mulheres também estão sujeitas ao assédio e à violência sexual no transporte público, muitas vezes com a omissão das empresas responsáveis pelos ônibus, trens e metrôs e das autoridades públicas.

Em uma cultura que valoriza o transporte motorizado individual, que resulta em menos pessoas caminhando, os espaços públicos se tornam ainda menos seguros para as mulheres. Também faltam iluminação e segurança pública. 

Além da violência física, outro risco associado a caminhar é o de atropelamentos – as mulheres, os idosos e as crianças até 10 anos de idade são os mais vulneráveis a esse risco. A prioridade do pedestre não é respeitada, nem mesmo em faixas de travessia. E apesar da tendência mundial à redução da velocidade nas grandes cidades de países desenvolvidos, estudos e pesquisas e a própria recomendação da ONU, a mentalidade carrocrata brasileira insiste na solução motorizada individual e em vias expressas com altas velocidades. 

Infelizmente as mulheres são minoria nos espaços de poder e decisão relacionados à mobilidade, como CET, secretarias e conselhos de transporte. Uma fala que me chamou a atenção foi que são homens que projetam os ônibus, e eles não são adaptados para gestantes. 

Uma cidade acolhedora e segura para as mulheres precisa ser planejada de forma a haver transporte público de qualidade, proximidade entre moradia, trabalho e lazer, e vias com baixa velocidade, com valorização e segurança dos diferentes modais.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Notas sobre o fim do IPPUJ

POR CHARLES HENRIQUE VOOS


Há alguns anos defendo que o IPPUJ (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville) precisa de reformulação, e não estou sozinho nisso. É praticamente um consenso entre vários especialistas que a entidade não estava mais conseguindo cumprir o seu papel, pois ela parou no tempo e não era mais a vanguarda que se imaginara no momento de sua fundação, em 1991. Porém, acredito que os mesmos defensores de uma reforma serão os críticos do que o Prefeito Udo Dohler irá fazer com a instituição dentro de algumas semanas.

Ninguém do governo fala com esses termos mas, na verdade, o IPPUJ será extinto e absorvido, após a devida reforma administrativa na Câmara (onde Udo tem larga maioria), em uma outra secretaria, a de "Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável", sob comando do empresário-cria-da-acij-jovem Danilo Conti, atual secretário de Desenvolvimento Econômico.

A extinção do IPPUJ, nesses moldes, caminha ao mais perverso modelo de urbanismo existente no mundo contemporâneo e que chamamos de "empresariamento urbano", pois todas as principais diretrizes da nova entidade serão pautadas pela visão empresarial. Conti, por exemplo, deturpou todo o sentido do conceito de "smart cities" ao criar o "Join.Valle" para impulsionar os negócios da turma ligada à inovação empresarial. Conforme consta na coluna de Economia do Jornal A Notícia do dia 10 de Janeiro de 2017, as prioridades da nova pasta serão "a revisão do Plano Diretor, a instituição de novo modelo do programa de competitividade das empresas joinvilenses e a definitiva formatação do Plano de Mobilidade urbana".

Está certo que a Prefeitura necessita pensar na impulsão da economia, mas o planejamento de uma cidade é uma tarefa que transcende isso. É um ato que envolve pensar em pessoas e suas necessidades relacionadas ao espaço urbano. A visão empresarial, por sua vez, mira exclusivamente na renda e em um modelo muito simplista de cidade: a cidade feita para os negócios. A mesma edição do jornal diz, ainda, que "em 2018, a equipe comandada por Conti pretende ter completa radiografia das potencialidades econômicas e de negócios do município de Joinville, a partir da consolidação das regras urbanísticas definidas na nova Lei de Ordenamento Territorial, a LOT, que foi aprovada pela Câmara em dezembro".

Assim como fez com o Conselho da Cidade, quando seus indicados apoiaram abertamente a eleição de Álvaro Cauduro de Oliveira (não preciso descrever quem ele é, né?) para a Presidência, Udo está dando o poder de pensar a cidade para a ética empresarial - e o Conselho nunca questionará isso, pois está "dominado". Basta relembrarmos o que essa ética fez com o espaço urbano de Joinville e veremos que, nem de longe, é a melhor solução. Antes tivesse continuado com o velho IPPUJ. Ruim com ele, pior sem ele.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Gente de bem...


Transporte público em Joinville é uma vergonha


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Vamos falar de transportes públicos em Joinville. Ou melhor, de ônibus. Mas sob a ótica do turista. Ou melhor, de alguém que todos os anos passa apenas um mês na cidade, como é o meu caso. Veredito: é uma vergonha. Uma calamidade mesmo. Aliás, se o sistema não serve o cidadão, quanto mais o visitante (e aqui soma-se outro problema, que é a falta de vocação da cidade para o turismo). 

Quando estou em Joinville moro no Bairro Floresta. Não há pontos próximos da minha casa, quando quero ir até o centro da cidade. Há um ponto de táxis, mas nem sempre há carros disponíveis e os preços não são exatamente convidativos. Solução? Todos os anos opto por alugar um carro, o que detona os meus parcos euros. Enfim, os transportes públicos em Joinville são uma daquelas situações em que nada funciona.

1. MODELO UNIMODAL – O modelo da cidade assenta apenas nos ônibus, o que limita a mobilidade de maneira absoluta. O mais preocupante é que o poder público sequer fala em alternativas. Ora, o atual prefeito prometeu um plano focado em 2030. E que tem para oferecer? Uma mão cheia de nada. Planejar até 2030? Não acontece. Os caras são incapazes de planejar até o que vai ser o almoço daqui a pouco.
2. CONFORTO – Das vezes que andei de ônibus tive que, em bom português, suar as estopinhas. É inacreditável que numa cidade com as temperaturas de Joinville os ônibus não tenham ar condicionado. E os bancos, quando dá para ir sentado, são uma infâmia, de tão desconfortáveis. É coisa de terceiro mundão. E lembro a minha velha teoria: terceiro mundo não é um lugar, mas um estado de mente. É o resultado de não ter alternativa.
3. PASSES MENSAIS – Outra coisa que custa a acreditar é a inexistência de passes mensais, como existe nos lugares desenvolvidos. E, vejam, não é coisa do outro mundo. Você compra o passe no começo do mês (portanto, paga adiantado) e vai usando até ao mês seguinte. Porra, é possível ser mais simples? E como o pagamento é antecipado é possível trabalhar melhor na racionalidade dos custos.
4. PREÇOS ÚNICOS – Já explicaram que o preço único é para não sobrecarregar as pessoas que vivem mais longe. Mas tenho dúvidas. Sou usuário dos transportes coletivos em Portugal (metrô, barco e trem para chegar ao trabalho) e pago a tarifa mais cara. É que aqui as tarifas são divididas em três zonas, cada uma com um preço de acordo com as distâncias. Mas não reclamo. É justo. O que não parece justo é um passageiro que vai do Fort Atacadista até o centro pagar o mesmo que alguém que vem do Itinga. Sim, por um lado penaliza os que vivem mais longe, mas por outro pode estimular os que vivem mais perto a andarem de transportes.
5. TRANSPORTE PARA TURISTAS – Sabem a piada do... 

É a dança da chuva.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Ônibus a 4 real é um marravilha


Guten Tag, minha povo.

Entón foceis von pagar 4 real pelo passagem de ônibus em Xoinville? E von ficá tudo quietinho? Cerrto. Quem quer da bom e da melhor tem que pagar. Nem preciso disser que esdá dudo um marravilha na transporte público do citate. As ônibus nunca atrason e nunca ficam lotados. E até dá parra tirrar um sonequinha no conforto do ar condicionado, um veis. É uma parraísso.

O única coisa chato são esses kommunisten, que ficam falanto de “licitaçón, licitaçón, liçitaçón”. Bieten ist verdammt. Pra que licitaçón? É assim que funciona desde o tempo do onça e Xoinville tem as melhores ônibus do Brasil. Non liguem parra esses kommunisten, porque eles só querrem atrapalhar o ordem no nossa citate. Isso aqui é lugar de gente de bem, que trabalha e non gosta de baderna.

Vô dizer. Isso non é xente de Xoinville. E vô deixar uma aviso parra essas kommunisten otárrias: “Ich habe die Nase voll”. Non enchon a saco. E non adianta pôr o culpa na prefeito, porque ele é dos nossos e sabe o que tá fazeno. Antes era uma cidade sem geston, agora é um cidade con geston. Con gestiona tuda.

Palavra de barón. Es ist mir Wurst!

Por que a tarifa de ônibus é tão cara em Joinville?


DIEGO FELIPE DA COSTA

Joinville é uma cidade com cerca de 560 mil habitantes, a terceira maior cidade do Sul do Brasil, possuindo um dos mais altos PIBs do país. Entretanto, quando o quesito analisado é a qualidade, possui um dos piores sistemas de transporte, na comparação com outras cidades com o mesmo porte. E a qualidade vem caindo cada vez mais, visto que a cada mês as empresas da cidade fazem novos cortes nos horários das linhas, extinguem linhas e reduz o número e o tamanho dos veículos ofertados, objetivando apenas manter o índice de lotação dos veículos sempre alto, muitas vezes acima do limite permitido pelo contrato.

Fazendo uma comparação rápida entre Joinville, Florianópolis, Londrina e Caxias do Sul (cidades com mais ou menos a mesma quantidade de habitantes), Joinville se torna piada. Essas outras cidades estão investindo em seus sistemas de transporte, seja através realizando licitações, ou mesmo exigindo mais qualidade nas renovações de frota, ou ainda criando um sistema de transporte coletivo novo. E detalhe: todas essas cidades possuem uma tarifa mais barata que a do sistema joinvilense. Em Joinville, o que temos são promessas e nada concretizado. Apenas cortes e mais cortes que enxugam ainda mais nosso sistema de transporte já tão raquítico. Mas por que então a passagem é tão cara por aqui? 

A tarifa acaba de chegar ao patamar dos R$ 4,00 (antecipada), sendo mantida a tarifa embarcada no patamar dos R$ 4,50. Esta última modalidade de passagem, a meu ver, já deveria ter sido extirpada do sistema, visto que só incentiva as empresas a não criarem novos postos de venda da tarifa antecipada, obrigando o usuário a pagar, em muitas situações, a tarifa mais cara (a embarcada). Já quase não existem pontos de venda antecipada das passagens.

Na rodoviária, por exemplo, antes existiam até funcionários das concessionárias vendendo passagens antecipadas aos usuários que recém-chegados de outras localidades. Hoje a única opção em grande período do dia é a compra embarcada, uma vez que não existem mais funcionários vendendo a passagem no local, sendo esta disponível apenas no guichê da Viação Graciosa, que não se encontra aberto durante todo o período de operação dos ônibus urbanos.

Não bastasse a surpresa por ter que pagar a multa da tarifa embarca, sem ter a opção de adquirir a passagem antecipada, o usuário se surpreende com o fato de que a passagem é cobrada pelo próprio motorista, não pelo cobrador, como ocorre em praticamente todas as cidades do Brasil. Logo, também se surpreendem com a qualidade dos veículos, muito inferior a da grande maioria das cidades, que além de ofertarem bancos de “plásticos”, não possuem sistema de ar condicionado muito menos higienização e manutenção adequadas.

Ao desembarcarem no Terminal Central do sistema, percebem que, apesar do grande volume de passageiros espremidos nas pequenas plataformas daquele terminal, os ônibus em operação são pequenos, que evidentemente não comportam o fluxo de passageiros que lá esperam para embarcar. 

A queda na qualidade dos veículos ofertados no sistema de transporte coletivo de Joinville foi tão grande, que os usuários mais antigos, ainda que leigos (no sentido de habitualmente não perceberem diferenças técnicas nos veículos) estão notando que os veículos mais novos do sistema têm qualidade extremamente inferior em relação aos mais antigos. Sendo assim, por que a passagem é tão cara?

1. SEM COBRADORES, COM BAIXOS SALÁRIOS - Aí vai um fato curioso: Joinville é uma das poucas grandes cidades do país em que o transporte coletivo não possui cobrador. É isso mesmo. Não existem cobradores (ou trocadores) no sistema de transporte joinvilense. Quem faz o trabalho de cobrar as passagens é o motorista, que ganha uma pequena bonificação por isso. Inclusive, os salários em Joinville para motoristas são relativamente baixos. Sendo assim, sem a necessidade de contratar centenas de cobradores para trabalharem no sistema de transporte de Joinville, por que a passagem é tão cara por aqui?

2. SEM CONFORTO - Falando em qualidade, algo imprescindível para alguém trocar o automóvel pelo ônibus: desde 2008 todos os ônibus comprados não possuem nem mais uma almofadinha, apenas bancos de fibra, “de plástico” popularmente dito. São mais econômicos na hora da compra e da manutenção, mas quem anda de ônibus sabe o conforto que (não) tem. Primeiro começaram trocando as grandes poltronas acolchoadas por poltronas mais modestas, mas ainda com estofamento. Depois, trocaram estas pelas que temos hoje: sem estofamento algum (e ainda sim, nesse período, a passagem continuou aumentando descontroladamente).

3. SEM AR CONDICIONADO - Ainda falando em qualidade, onde estão os ônibus com ar-condicionado? Apenas um ônibus tem ar condicionado, numa frota de 355 ônibus (frota que, pelo tamanho da população de Joinville, está em número menor do que o necessário para se manter certo grau de qualidade dos veículos). O fato curioso o sobre aparelho de ar-condicionado nos ônibus é que no grupo Gidion existe uma empresa que fabrica aparelhos de ar-condicionado para ônibus. Esse único ônibus com aparelho de ar na frota do sistema urbano ostenta também um aparelho fabricado pela empresa do grupo Gidion (VMG Aires). Sendo o próprio grupo Gidion fabricante dos aparelhos e operador do sistema de transporte, não deveria ele, em tese, incentivar o uso dos aparelhos os ônibus urbanos?

4. CARROCERIAS E CHASSIS - Vale destacar aqui também que os ônibus comprados nos últimos anos possuem as configurações mais baratas existentes no mercado de carrocerias e chassis de ônibus, sem o conforto algum, sem suspensão a ar, com rangidos em suas estruturas que causam desconforto ao passageiro e dão a impressão de que irão quebrar a qualquer momento, sem contar o desconforto durante a viagem, visto que, sem a já citada suspensão a ar (padrão na maior parte dos ônibus do mundo), os veículos trepidam e pulam mesmo no asfalto liso, quem dirá então nas vias esburacadas/remendadas da cidade.

A motorização/chassi das últimas compras, que são feitas em conjunto pela Gidion e Transtusa (as duas se juntam e compram do mesmo fornecedor, em quantidade elevada, para baixar os preços), que geralmente escolhem o fornecedor que fornece o produto mais barato e simples do mercado brasileiro, tendo, assim, um custo baixíssimo de manutenção, já que as peças ofertadas por esse fornecedor são extremamente baratas se comparadas às outras opções existentes no mercado de ônibus, além do fato de, por serem parceiras das revendas deste fornecedor na região, os preços caem ainda mais. Sendo assim, por que a passagem é tão cara por aqui?

5. PELA OITAVA VEZ - Para finalizar, o Município de Joinville irá renovar o contrato emergencial no próximo dia 11 de janeiro pela oitava vez, porque não tem a capacidade de fazer a tão almejada licitação. Não teve a capacidade de licitar e, se não bastasse isso, discute na justiça uma dívida que já passou pelo crivo do judiciário, atrasando ainda mais a possibilidade de licitar, visto que o judiciário, até o momento, não permite o seguimento da licitação antes da quitação desta dívida. Tenho a impressão de que as autoridades joinvilenses sequer têm vontade de resolver esse problema de uma vez por todas. Afinal, quem ali anda de ônibus? O prefeito? O vice? Os secretários? Nenhum deles! Nem os vereadores andam de ônibus. Então por que tratarão o assunto com urgência? Já foram reeleitos, já conseguiram o que queriam.
Foto: Gustavo Campos

Já tive a oportunidade de várias vezes, conversar com o secretário responsável pelo planejamento do transporte coletivo, e a cada conversa minha decepção aumenta, visto que ele concorda e luta e muito para a prevalência de uma situação que beneficie as  atuais empresas  do sistema, deixando o usuário do transporte coletivo em segundo plano, isso quando ele é levado em consideração. Mas isso não é novidade para ninguém, não é mesmo? 

6. E OS JOINVILENSES? - E o povo de Joinville, o que acha/pensa/faz diante de tudo isso? Infelizmente, o joinvilense é omisso, acomodado, conformado, influenciável, reclama dos problemas apenas nas redes sociais, não reclama diretamente ao poder público, não o confronta, não exige, sequer reclama diretamente aos operadores do sistema, nos terminais quando os ônibus atrasam (já presenciei isso várias vezes). Ficam lá parados, inertes, inexpressivos, aceitando a situação evidentemente errada. O pior de tudo é que ainda criticam os poucos que se dispõem a protestar contra os aumentos, chamando-os de vagabundos, esquerdopatas, petralhas, comunistas e  por vai.

Acho que agora sabemos o porquê da passagem ser tão cara em Joinville.

Diego Felipe da Costa é turismólogo e técnico em gestão da mobilidade urbana.