segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ontem o mundo viu o show da Xuxa



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Não há muito a dizer sobre o sórdido espetáculo da noite passada. Rendido a um grupo de crápulas, o país deixou de lado qualquer espécie de escrúpulo. Não é difícil vaticinar o pior para o futuro. Mas o texto de hoje não vai falar sobre isso. A ideia é dar uma amostra da imagem que o Brasil está a passar para o mundo. Porque a pantomima não passou despercebida aos olhos da imprensa internacional.

No espanhol El País, a correspondente María Martins é quem traz a referência ao show da Xuxa e à patetice das declarações de voto. “Os deputados defenderam o impeachment de Rousseff pelos mais diversos motivos: "para minha esposa Paula", "para minha filha que vai nascer e minha sobrinha Helena", "meu neto Gabriel ", "a tia que cuidou de mim desde pequeno" "para minha família e meu estado " , "Deus" , " pelos militares [ golpe ] de 64, "pelos evangélicos ", "pelo aniversário da minha cidade", "pela defesa do petróleo", "agricultor", "pelo café " e até mesmo "pelos corretores de seguros no Brasil ".

E lembra que os reais motivos para a votação foram esquecidos. “Para trás ficaram as manobras fiscais, o verdadeiro motivo para abrir o processo, completamente esquecidas pelos nobres deputados. Exaltados ante o microfone, exprimiram até o último segundo de glória que, para muitos o plenário oferecia pela primeira e, quem sabe, última vez . Os parlamentares fizeram lembrar os telespectadores de Xuxa, que usavam a participação ao vivo no programa para sempre cumprimentar mãe, marido, amante, primo, neto, vizinho, amigos e até o goleiro".

O show da Xuxa também não passou despercebido ao francês Liberation, que publicou um texto chamado “Brasil : entre crianças, bugigangas religiosas e camisas de futebol, o dia incomum dos deputados”. O jornal fala em declamações, “por vezes tendendo à postura teatral, muitas vezes aproveitam a oportunidade de tomar o tempo e holofotes, ao vivo na televisão, para enviar mensagens pessoais, dando pouca relevância às operações fiscais formalmente imputadas Rousseff”.

O Libé prossegue e narra que “além das múltiplas invocações a Deus e a Jesus , havia também se opondo à liberdade sexual e outros reivindicando o oposto.  Palavras duras também foram dirigidas contra o controverso presidente Eduardo Cunha, considerado o eixo do processo de impeachment , e teve que, sem pestanejar, ouvir insultos como 'bandido', 'ralé', 'corruptos'".

Em texto no jornal português Público, o analista Manuel Carvalho não tem meias medidas. E descreve aquilo a que chama uma turba perigosa e sem escrúpulos. Durante três penosas horas, a Câmara dos Deputados em Brasília dedicou-se a debater a destituição da presidente Dilma Rousseff e transformou-se nesse lugar estranho onde subsiste o pior que há no Brasil: a política", escreveu.

O jornalista é implacável. “O deplorável ambiente de comício, a inacreditável facilidade com que se trocavam insultos, a essência do Estado laico a ser torpedeada por persistentes clamores evangélicos, o deboche egocêntrico que levou uns a citar os filhos e outros os lugarejos de origem (sempre deu para saber que no Maranhão existe uma Itapecuru) foram apenas mais uma prova de que o Brasil está entregue a uma horda de predadores a quem não se pode confiar uma chave de casa, quanto mais o destino de uma Presidente eleita. Entre as intervenções dos 25 partidos e as dos líderes das bancadas do Governo e da minoria, raramente se falou no que estava em causa”.


É a dança da chuva.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Um impedimento só não faz verão















POR SALVADOR NETO

Os brasileiros e brasileiras sofrem com uma crise econômica dura, amplificada pela crise política acelerada após a derrota do PSDB e aliados com seu candidato (?!) Aécio Neves. Ele perdeu para uma mulher, ex-guerrilheira, e isso deixou feridas não cicatrizadas. No Brasil a coisa é assim, dissimulada, mas é fato. Ele não admitiu a derrota para uma mulher. Simples assim. De lá para cá, sofrem os trabalhadores e trabalhadoras com esta briga sem fim, que acreditam na história da carochinha: se Dilma cair, tudo vai melhorar, vai mudar. É claro que não!

Já escrevi aqui no Chuva Ácida sobre o tema. Mas agora, quando deve acontecer a votação do impedimento da presidente Dilma Rousseff (ou seria impeachment, ou impitiman?) no final de semana, um processo que nasceu pelas mãos de Eduardo Cunha (PMDB) que tentou chantagear o governo e o PT para que não abrissem um processo contra ele na Comissão de Ética por... lavagem de dinheiro, corrupção, e outras coisas mais, é preciso gravar isso novamente. Afinal, há provas contra Cunha, contundentes, dinheiro na Suíça, mas o processo dele não anda. Mas contra a Presidente anda acelerado, insano, sem provas. A acusação não tem provas. E ponto.

Cunha, o corrupto, alia-se ao vice-presidente Michel Temer, ambos do PMDB, e conspiraram para derrubar o governo. Para isso contam com apoios em todos os partidos. Temer também já foi citado na Lava Jato. Não é segredo que a larga maioria dos deputados federais é investigada nos mais diversos tipos de processos, e com a aproximação da Lava Jato dos seus corruptores, partiram para o tudo ou nada.

Cid Gomes, que foi ministro relâmpago da Educação, disse tudo em discurso na Câmara dos Deputados em março de 2015. Ali havia 300 a 400 deputados achacadores. Todos, pelo que vemos hoje, filhos do... Cunha! E apadrinhados por Temer, que já se vê Presidente.


Com forte e histórico apoio dos grandes grupos de comunicação do pais, das entidades empresariais que financiam movimentos contra o governo, de parte da Policia Federal e MPF, e até da OAB – mais uma vez manchando a sua história – a população foi bombardeada com informações (??) dirigidas, de má fé editadas, tentando fazer crer que a presidente é criminosa. Não encontraram nada concreto, verdadeiro, e criaram as pedaladas, etc. Tudo historinha para inglês ver, e para enganar brasileiros que não acompanham a politica, não conhecem a história. E enganaram.

Escrevo antes da provável votação do processo de impedimento da Presidente, e sinto pena da nossa gente porque vamos cair, em caso de aprovação, nas mãos dos mais corruptos da nossa política. Temer, o traidor geral da República, e seu quase vice Eduardo Cunha. Uma dobradinha que vai entregar o resto do que temos no Brasil, além dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras tão duramente conquistados.

Mas o povo não consegue enxergar o objetivo final. Talvez até tenha que passar por isso para um novo aprendizado. O possível impedimento de Dilma não vai resolver os problemas do país. Quem vai mandar são os mesmos deputados achacadores, sob o comando dos grandes chefes.


Portanto minha gente, não haverá ganhadores entre nós aqui na planície. Há pessoas até bem intencionadas, chateadíssimas com a corrupção, a crise, mas sinto informar: um impedimento só não vai trazer o verão de volta. E tem um agravante: rasgarão a Constituição Federal, interrompendo um mandato conquistado no voto. E isso é grave para a nossa jovem democracia.

A saída é mudança total do sistema politico brasileiro, impedindo essa engrenagem nociva de financiamento de políticos por parte de empresas e empresários que transformou a nobre política na política de negócios. E eleições, no voto, pois é assim que se faz nas democracias, voto popular.


Não há Presidente e governo que resistam ao sistema atual, corrompido, velho, velhaco, falido. E a crise econômica não vai mudar com a derrubada de Dilma gente. Não se enganem. Impedidos ficaremos nós ainda mais com a possível chegada da dupla Temer-Cunha ao Planalto. E será tarde para chorar o leite derramado. Anotem e confiram.


É assim nas teias do poder...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Não gosto. E pronto!

POR RAQUEL MIGLIORINI

Tenho minhas diferenças com o governador de Santa Catarina. Quase no meio do seu segundo mandato ainda não disse a que veio. E a falta de gestão no Estado salta aos olhos.  Você já tentou sair do Planalto Norte e viajar por estradas estaduais até o Oeste do Estado?

São necessárias algumas premissas: gostar de rali, ter carro com tração nas 4 rodas, fazer um bom seguro de vida, gostar de aventura e ter pouco apreço pela vida. Viajasse menos de helicóptero e o Sr. Colombo saberia do que estou falando.

A saúde tenta resgatar o abandono de anos, mas os recursos não são suficientes nem pra manter o que está precariamente funcionando.

Na parte ambiental, nunca houve restrições tão grandes aos Comitês de Bacias Hidrográficas e à FATMA como nesse desgoverno.

No quesito segurança, temos o fechamento de delegacias, falta de concurso para contratação de policiais, um dos piores salários do Brasil para policiais, aumento expressivo do número de homicídios, falta de viaturas. Isso pra ficar no básico.

EM JOINVILLE - Também tenho minhas diferenças com o prefeito de Joinville. Confesso que, por um curto período, acreditei que um empresário pudesse fazer parte da máquina funcionar. Ledo engano! Vamos à lista:

- Todos os comitês e Conselhos da cidade foram massacrados por essa gestão. A ordem é clara: vamos cumprir a lei mantendo os Conselhos, mas tudo será tratado no cabresto. E assim, Conselhos populares construídos com muita luta vão tendo seus recursos e direitos cerceados. Cultura, Saúde, Meio Ambiente, Turismo, Educação, todos apenas cumprindo o dever legal de existirem, sem dar voz a população.
- As questões ambientais sendo tratadas com descaso. O licenciamento ambiental visto como algo que impede o desenvolvimento da cidade. Projetos para conservação e melhoria das Unidades de Conservação, qualidade ambiental, combate aos maus tratos animais, arborização urbana, tudo engavetado. E não é por falta de recursos.
- Na saúde, onde era dito que faltava gestão, vemos um amontoado de tentativas e erros, falta de medicamentos, licitações atrasadas, postos fechados.

Diante de tudo isso, quero que o Governador e o Prefeito saiam. Não gosto deles e pronto. Não tente me convencer porque não quero escutar. Nunca quis que eles governassem o estado e a cidade onde moro. Sempre achei que pertenciam a partidos políticos que sugaram o país e que queriam o poder pelo poder. Tenho meus direitos como cidadã.

Nesse ponto alguns leitores já devem estar sacudindo a bandeira do Estado e do Município por cima da cabeça e gritando que os gestores em questão não estão sendo investigados por corrupção ou improbidade administrativa. Até aí, contra o governador de São Paulo há dezenas de denúncias e nada é apurado. As investigações são arquivadas para espanto de alguns e anuência de muitos. A presidente da república está sob investigação e nenhum crime foi encontrado. O que vemos é um problema de gestão, como os exemplos municipais e estaduais. Portanto, falta de investigação não significa lisura e excesso de investigação não gera crimes.


Quero que saiam. E pra isso,vou fazer das tripas e coração e usar todas as armas que tenho para que, nas próximas eleições, eles não consigam se reeleger ou colocar seus cupinchas. Porque, por mais que eu não goste de um governante ou do partido que ele representa, a democracia não pode sequer ser ameaçada, nem a vontade de um grupo se sobressair à vontade das urnas. Lutar sim, mas sem regredir.   

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O que Guantánamo pode ensinar para as eleições municipais

POR THIAGO LUIZ CORRÊA
O mandato do presidente Barack Obama está chegando ao fim. Nos Estados Unidos costuma-se chamar o presidente em seu último ano de mandato de "lame duck" (pato manco). É como se ele estivesse lá apenas esquentando a cadeira para o próximo e seu poder de decisão e barganha já não fosse mais o mesmo. Mas ele não vestiu esta carapuça e está fazendo muito mais do que apenas manter o Governo Federal americano em banho maria.

No mês passado Obama esteve em Cuba. Oficialmente a agenda falava em reforçar a mensagem de cooperação e quebra das sanções americanas à ilha, mas todos sabiam que, bem no fundo, não passava de uma tentativa de que, de alguma forma a bola fosse levantada e sua apadrinhada Hillary Clinton conseguisse fazer uma média com os imigrantes cubanos que formam uma população bastante expressiva do público do sudeste dos Estados Unidos (que tradicionalmente possui mais afinidade pelos candidatos do Partido Republicano).

A visita de Obama a Cuba foi muito bem vista pela comunidade internacional, mas levantou alguns pontos um tanto delicados à atual administração americana. O presidente Obama vem prometendo o fechamento de Guantánamo desde a sua primeira campanha à presidência, em 2008. Oito anos se passaram e a prisão continua em funcionamento.

Obama mentiu? Não. Durante todo este período o fechamento de Guantánamo foi e voltou várias vezes para a mesa de negociação. Inclusive a situação melhorou bastante. A prisão que já chegou a ter 800 presos hoje enclausura "apenas" 91 pessoas.

São 91 presas sem ter passado por um julgamento. Alguns sequer possuem alguma acusação formal registrada, entre eles um iemenita detido há TREZE ANOS, oito deles em greve de fome sendo alimentado à força por uma sonda.

E o que eu ou você temos a ver com isso tudo?

Barack Obama pode ter a melhor das intenções, mas ele não governa sozinho. O fechamento da prisão extra-judicial depende também da boa vontade do Senado, onde ele não tem maioria. É claro que Obama sabia disso quando prometeu o encerramento das atividades em suas duas campanhas, mas preferiu jogar o jogo com as armas que tinha e utilizou essa bandeira como uma promessa, mesmo sabendo que bater o martelo não cabia apenas a ele.

O CASO BRASILEIRO - O mesmo aconteceu no Brasil, onde grandes projetos almejados pelo governo Dilma não vão para a frente devido à total falta de vontade política da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde Eduardo Cunha é capaz de passar o final de semana inteiro fazendo assembleias para acelerar o processo do impeachment de Dilma, mas está há meses com as reformas política e tributária encostadas. O mesmo vale para o Senado, que aproveita o momento em que todas as atenções estão voltadas para a instabilidade política e aprova em primeiro turno a isenção de IPTU para propriedades alugadas por igrejas.

Dilma não têm controle nenhum sobre esses acontecimentos. Qualquer tentativa de interferência seria inconstitucional, pois a presidenta não possui autoridade lá, está fora de sua jurisdição. Mas quando as más notícias estampam os jornais, o nome em letras garrafais é “Governo Dilma”, na hora da caça às bruxas não é o Renan Calheiros que tem um boneco inflável.

Estamos mirando no alvo errado e isso acontece porque não fomos devidamente ensinados sobre quais são as atribuições de cada cargo público e também não fizemos muito esforço para procurar descobrir. O resultado disso é que acabamos acreditando em promessas de campanha que não possuem nenhuma validade.

Lembre-se disso nessa eleição municipal quando aquele vereador aparecer na sua vizinhança prometendo asfalto na sua rua, pergunte-o como ele pretende cumprir essa promessa se um vereador não tem poder para executar obras. Pergunte ao seu candidato a prefeito quais são as medidas objetivas que ele pode tomar para deixar a cidade o mais próximo possível do previsto do seu plano de governo mesmo se no final das contas ele tiver uma Câmara de Vereadores que seja oposicionista a sua gestão.

O simples fato de perguntar esse tipo de coisa ajudará a esclarecer de quem são as responsabilidades e pode auxiliar na cobrança e fiscalização dos nossos representantes. Não se deixe iludir por propostas vazias, precisamos de propostas concretas e factíveis, mesmo que não tenham nada de mirabolantes. Não precisamos de Guantánamos à la Babitonga.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A "tia do Fort Atacadista" e as drogas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Todos tivemos conhecimento do episódio ocorrido no Fort Atacadista. Apanhada a furtar, uma mulher foi submetida a tratamentos degradantes. Num filme, funcionárias do supermercado obrigavam a mulher a comer um ovo cru. Em outra imagem, a mulher aparece numa câmara frigorífica, com as suas algozes a atirarem água gelada sobre ela.

O episódio transpôs as fronteiras de Joinville. As imagens se espalharam pelo Brasil – e até no exterior – através das redes sociais. A repercussão negativa levou a direção do supermercado a emitir uma nota à imprensa, informando que as funcionárias tinham sido demitidas por justa causa, bem como o chefe da segurança.

O que dizer? É barbárie. Nada a acrescentar. Mas em meio a toda a celeuma uma discussão passou batida: a questão das drogas. Tomo o exemplo do fac-símile (no final do post), que traz o seguinte texto: “A tia do caso do Fort Atacadista foi presa portando crack. Quando ela for solta, provavelmente vai precisar roubar novamente. E daí?”.

Mais abaixo, o autor da nota revela que o irmão também é usuário. E diz que não seria assim se ele tivesse tomado umas surras na época devida. É o tipo de mentalidade que ainda prevalece no Brasil, onde há uma estigmatização dos usuários de drogas: o lugar deles é a cadeia. Quando saem, voltam à má vida. E temos um ciclo vicioso (sem trocadilho).

As pessoas parecem estar desatentas: não será hora de falar em descriminalização do consumo de drogas? Não é chegado o tempo de começar a tratar a dependência química como doença e não como crime? A questão é séria demais para ser deixada na mão de moralistas, em especial os que pululam nas redes sociais.

Não sou especialista sobre o assunto. Se alguma “autoridade” tiver nessa discussão será pelo fato de viver em Portugal, onde o consumo de drogas (todas e não apenas a maconha ou haxixe) foi descriminalizado há 15 anos. E com sucesso. Mas atenção, para evitar confusões: descriminalizaram o consumo e não as drogas.

O modelo português é referência para outros países, mesmo os mais desenvolvidos. O que aconteceria à mulher do Fort Atacadista se ela estivesse em Portugal? Em vez de viver a entrar e a sair da cadeia, certamente estaria a receber tratamento médico. O país tem  cerca de 40 mil pessoas em tratamento e os resultados são positivos e mais que visíveis.

1.     Há menos mortes provocadas pelo uso de drogas menos doenças (overdoses, por exemplo).
2.     Tem diminuído o número de usuários contaminados com o HIV-AIDS, o que tira os custos governamentais com os tratamentos.
3.     Houve uma diminuição do consumo entre jovens na faixa etária dos 15 aos 19 anos.
4.     Sem ter que se preocupar em prender usuários, a polícia pode dedicar mais tempo a investigar traficantes e produtores.
5.     Sem prender usuários, diminuiu a população carcerária.
6.     Com as autoridades de saúde a ministrarem os tratamentos de forma gratuita, diminuíram os crimes de pessoas que tentam obter dinheiro para a droga. Seria, por exemplo, o caso da mulher do Fort Atacadista.

A questão é complexa e não cabe num simples texto de blog. Mas não há dúvidas de que o Brasil precisa de uma mudança de mindset: esquecer os preconceitos e os moralismos para tratar a questão das drogas como uma doença. O país só tem a ganhar com isso.


É a dança da chuva.






Passarinhos...não passarão.


É melhor não confundir insônia com trabalho

POR JORDI CASTAN

Escrever todas as segundas é meu compromisso com os leitores e os demais companheiros do Chuva Ácida. Uma das recompensas de escrever aqui é poder interagir com os leitores que, através dos seus comentários, promovem um debate de ideias e conceitos. Há de tudo nesta vinha do Senhor, mas o post da semana passada "Fazer campanha contra os candidatos desonestos" mereceu um comentário do leitor que se identificou como “Anônimo 2” e que me motivou mas que a responder nos comentários a aprofundar o debate aqui.

Há, no mundo da política, um processo de construção de imagem dos políticos. Há uma estrutura poderosa e custosa que se dedica dia e noite a fabricar mitos, a promover a imagem de cada um deles, de acordo com os anseios do eleitorado. Quem ainda lembra a imagem do Tebaldi dirigindo uma patrola ou com um capacete vistoriando obras? O objetivo era o de promover a imagem de ação. Alguns acrescentam a estas imagens “construídas”, acompanhadas de motes adequados, como: “Este sim que trabalha”, ou “Não há segredo, há trabalho” contribuem a projetar a imagem que o eleitor quer ver.

Para isso os marqueteiros e os institutos de pesquisas trabalham constantemente. Se o problema é a saúde, nada melhor que mostrar alguém que conhece de saúde e com experiência. Se as pesquisas identificam que o eleitor prefere um gestor, pois se destaca a imagem do gestor, o empresário de sucesso que administra com competência e conhecimento. Assim se constroem imagens para atender as demandas do mercado “eleitoral”.

No imaginário joinvilense a imagem do político trabalhador vende muito bem. Há, na idiossincrasia do eleitor, uma fascinação por quem acorda cedo e trabalha até tarde. Há  uma mensagem forte nessa imagem. Forte sim, mas superada pela realidade. Há uma mudança sensível de modelo. Cada vez mais são importantes os resultados e menos os cumpridores de horário. É mais importante a eficácia e a efetividade, do que passar horas a fio fazendo o que deveria ser feito em menos tempo e de forma mais eficiente.

Indo um pouco além, o eleitor já começou a entender que não há sentido em fazer bem feito aquilo que não precisa ser feito. Ver a administração pública como um referente de inépcia tem um impacto terrível sobre a imagem do administrador municipal. Temos que nos perguntar: de que adianta acordar tão cedo, se não é possível ver os resultados de madrugar tanto? É bom não confundir insônia com trabalho. Porque o eleitor que ver a sua cidade melhor, isso é a única coisa que lhe interessa.

O tema da honestidade dos políticos é apaixonante. Há uma tendência, neste momento, em confundir honestidade com não roubar, com não receber propina, com não ser corrupto. O conceito de honestidade do homem público é muito mais profundo. Vai muita além desta visão simplista de honestidade e desonestidade.

Podemos considerar  honesto o administrador que oferece cargos a comissionados apadrinhados por legisladores em troca de apoio? É honesto aquele que promete fazer obras e entregá-las em prazos que sabe que não cumprirá? Podemos considerar que é honesto fazer promessas sem intenção ou sem possibilidade de ser cumpridas, com o único objetivo de iludir o eleitor? Ou são desonestos só os políticos que roubam? Em outras palavras, alguém acredita mesmo que os nossos políticos são honestos? Que conseguiriam passar 24 horas sem mentir uma única vez? Ou o próprio eleitorado é o culpado, porque gosta de ser iludido e prefere candidatos que não dizem a verdade? As perguntas estão postas. E você, o que acha?

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Já chega de pontes que nos levam ao passado















POR SALVADOR NETO

O O PMDB, este partido que não sai dos governos federais desde 1993, já teve seus dias de glória. Mas foi nos tempos em que ainda era o velho MDB na ditadura. Hoje, em que pese ter valorosos militantes nos municípios brasileiros, é reconhecidamente o herdeiro do antigo PFL, hoje DEM. Há governo, estou dentro.

Com uma cúpula muito esperta, ao ver o projeto do qual é parte como vice-presidente com o “estadista” (sqn) Michel Temer fazer água na guerra santa produzida por economia ruim x crise política, imediatamente passou a conspirar contra o próprio governo que ajudou a eleger. É filme velho na história política brasileira, basta estudar.


A novidade é o projeto que anunciaram como a salvação da lavoura Brasil, o tal “Ponte para o Futuro”. Na verdade não é projeto, é uma senha para atrair apoios a um capital ofegante por “pegar” o Brasil novamente em suas mãos, sinalizando que a prática neoliberal voltaria com muita força. Para resolver questões “fiscais”. De fato o conteúdo não tem absolutamente nada de futuro, mas tem tudo de passado. Deveria chamar-se de “Ponte para o Passado”, pois nos remete ao país que vivemos entre 1994-2002 nos governos FHC do PSDB/DEM e... PMDB.

Programas sociais que custam ao governo, como o Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Mais Médicos, Fies, Pontos de Cultura, Seguro-desemprego, Pronatec, Ciência sem Fronteiras, etc, seriam cortados. Concentrar os programas sociais apenas nos mais miseráveis, os 10% mais pobres, que vivem com menos de 1 dólar por dia. Afinal, para quê mais que isso não é? Nada mais do passado quanto isso. Fim da política de valorização do salário mínimo, de todas as políticas sociais que elevaram mais de 50 milhões de brasileiros de classe social. Privatizações, ah isso seria mais que acelerado, seria imediato. Afinal, para quê Petrobras?

A defesa por uma volta ao passado defendida pelo PMDB já chegou aqui em Joinville há quase quatro anos. Em 2012, graças à sabedoria política do engenhoso ex-senador LHS, os eleitores aceitavam o empresário Udo Döhler como a “salvação da lavoura Joinville”. Diziam que era um homem visionário, preparado, entendia tudo de saúde, a infraestrutura iria mudar, pavimentações seriam aceleradas, enfim, a ponte para o futuro de Joinville estava ali. Só que não. O que se vê hoje é uma cidade abandonada, mal cuidada, com pessoas doentes sem leitos nos hospitais, ainda com falta de medicamentos nos postos de saúde.

Os buracos ocuparam as ruas, as praças esperam alguém para cuidar delas, e o povo também. De pontes, nem algum rascunho da prometida ponte do Adhemar Garcia, estupenda, saiu da ponta do lápis, que dirá do papel. Os bairros esperam o asfalto, e também o pedido de desculpas por tanta incompetência. Passado, é isso que o PMDB trouxe à cidade, assim como hoje quer fazer com o país. Passado. Não precisamos mais de passado. Precisamos avançar verdadeiramente ao futuro. Udo é passado, uma ponte que foi só miragem.

Para finalizar a grande obra da gestão do PMDB/Udo, a pérola da inovação foi a seguinte: para trocar os secretários que saíram para disputar as eleições de outubro, Udo caprichou. Colocou um médico na educação, uma advogada na saúde, um militar na secretaria de assistência social, um jornalista assessor de imprensa no esporte e um comerciante na cultura. Das duas uma: ou são muito competentes (estão no governo desde 2013 e nada...), ou não há mais ninguém aceitando estar nesta ponte que cai. De pontes o PMDB entende, mas sempre para o passado. Joinville e o país querem mais é futuro. E dos bons.

É assim nas teias do poder...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Gesto político, retórica jurídica

POR CLÓVIS GRUNER

Não eram poucos os que achavam, há até poucos dias, que o impeachment de Dilma Rousseff era certo. A corroborar com essa percepção, a disposição manifesta do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Eduardo Cunha, réu no STF, em não apenas acelerar o rito parlamentar, mas conduzi-lo de forma a facilitar a decisão favorável pela abertura do processo e seu encaminhamento ao Senado. Nos últimos dias, no entanto, uma sequência de eventos deixou incomodado quem é favorável ao impeachment, e tinha pressa em votá-lo. Destaco dois.

O primeiro foi a decisão do ministro do STF, Marco Aurélio Mello, de dar prosseguimento ao pedido de impeachment do vice-presidente Michel Temer, decisão que contraria os planos do PMDB e da oposição, que já articulava com o vice um eventual futuro governo: em entrevista à Folha, José Serra defendeu que Temer deveria montar um “governo extraordinário” para contornar a crise. Ciente da possibilidade de que o futuro presidente talvez não seja Temer, mas Cunha, voltou atrás: o impeachment, disse mais recentemente, não é suficiente para resolver a crise.

No começo dessa semana, o Advogado Geral da União, José Eduardo Cardozo, foi ao Congresso apresentar, diante da Comissão Especial, a defesa do governo. Ex-ministro da Justiça, onde teve atuação medíocre, Cardozo fez agora a lição de casa, e ao longo de aproximadamente uma hora e meia tratou de desconstruir os argumentos da acusação, assinada por Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e a jurista neopentecostal Janaína Paschoal. E acusou Eduardo Cunha do crime de desvio de função, ao usar seu mandato e condição de presidente da Câmara, para vendetas contra o governo.

O paciente ainda respira – Se tomados isoladamente, os dois eventos já bastam para fragilizar a hipótese do impeachment. Mas não é só. As tentativas de associar o governo Dilma às investigações da Lava Jato, ligação que a rigor nunca existiu, se mostram cada vez mais ineficientes. Além disso, as manifestações dos dias 18 e 31 de março sinalizam que, mesmo fragilizado, o governo ainda respira, e que o impeachment está longe de ser unanimidade: mesmo entre vozes que discordam de que está em curso um golpe de Estado, cara ao governo e aos governistas, não são poucos a apontar o caráter viciado e desvirtuado do processo.

Talvez isso nos ajude a entender a insistência com que alguns veículos de comunicação, formadores de opinião e juristas vem ocupando espaços privilegiados na tentativa de deslocar a discussão para o campo jurídico, mais árido e, por isso, também impenetrável para uma parcela expressiva da população. A intenção é fazer crer que o que está em curso é um problema legal quando, na verdade, se trata de uma disputa eminentemente política. A própria denúncia não escapa a isso: o corpo principal do documento, um calhamaço de 65 páginas, é um arrazoado dos discursos pró-impeachment de entidades como o MBL e o Vem Pra Rua e, não por acaso, seus respectivos dirigentes, Kim Kataguiri e Rogério Chequer, são signatários do documento.

Nele, entre outras coisas, lê-se que a “motivação e o conceito de julgamento dos juízes [os deputados federais] no processo de impeachment são exclusivamente políticos, apesar do sólido respaldo jurídico demonstrado nesta denúncia”, contrariando o preceito legal segundo o qual, o impeachment é um rito político e jurídico. O festival de atrocidades prossegue: a “natureza preponderantemente política do processo de impeachment”, diz o documento a certa altura, “permite que os parlamentares, inclusive, levem em consideração ilícitos que venham a ser desvendados, após a apresentação da denúncia, sem necessidade de aditamento”, o que é falso, mas serve como mote para que sejam incluídos, como “provas”, entre outras coisas, que Dilma entregou o país a “um ex-Presidente, que precisa explicar à nação sua riqueza acumulada”. O viés político é ainda mais gritante quando seus autores apelam à pesquisa realizada pela Folha de São Paulo e ao número de assinaturas “colhidas pela plataforma www.proimpeachment.com”, a dar testemunho, ambos, que o impedimento é incontornável.

A política do espetáculo – Publicado no final dos anos de 1960, “A sociedade do espetáculo”, de Guy Debord, chamava a atenção para o papel desempenhado pelas imagens na espetacularização da vida pública. Para o pensador francês, das relações interpessoais à política, tudo foi espetacularizado e tornado mercadoria. Contraponto crítico à visão algo apocalíptica de Debord, o intelectual norte americano Henry Jenkins defende, no que chama de “cultura da convergência”, um olhar às novas mídias, especialmente as digitais, atento à sua dinâmica participativa e interativa. Para Jenkins, a informação deixou de ser monopólio de alguns poucos veículos; ela circula e é consumida por públicos distintos e em plataformas midiáticas as mais diversas.

As duas perspectivas, me parece, convergem e podem fornecer uma interessante chave de leitura para nosso processo político. Em linhas gerais, meu argumento é que a denúncia contra Dilma se apresenta como um discurso político porque seus autores sabem que, em tempos onde as mídias alternativas reproduzem e compartilham gestos políticos, configurando seus sentidos, é preciso falar a língua das multidões virtuais. Se o processo é político, e se Dilma será julgada não pelo que estabelece a Constituição, mas com base no número de assinaturas de uma plataforma virtual, não há incoerência em tentar emprestar algum grau de legitimidade jurídica a um gesto que é, sabemos, político.

Ao mesmo tempo, tal legitimidade é importante porque ajuda a encobrir os muitos vícios do processo. A começar pelo fato de que 31 dos deputados que julgarão Dilma Rousseff são investigados por corrupção, e um deles, Eduardo Cunha, que como presidente da Câmara conduz o processo, é réu no STF. A luta, portanto, não é pela normalidade constitucional, mas pela sobrevivência política. Além disso, as pedaladas fiscais – único argumento jurídico da denúncia – não são suficientes para justificar o impeachment, entre outras coisas, porque mesmo entre juristas está longe de existir consenso sobre serem elas, de fato, um crime de responsabilidade tal como previsto na Constituição.

Ainda sem respostas – Frágil, mas não inteiramente descartada, a tese do impeachment só se justifica e sustenta, portanto, politicamente. A mim, parece cada vez mais claro que a permanência ou não de Dilma à frente do governo independe de argumentos jurídicos, porque o que está em curso é um embate político e partidário. Ciente do que está em disputa, o governo joga com o que tem, negociando no varejo cargos em troca de votos, na tentativa de recompor uma base “aliada” (as aspas são fundamentais aqui) depois de ter sido abandonado pelo PMDB, sócio no condomínio da governabilidade ao longo da última década.

Se a farsa do impeachment não resolve a crise, a verdade é que tampouco a continuidade do governo Dilma oferece solução a ela. Especialmente porque, se permanecer no Palácio do Planalto, o PT governará em condições ainda mais frágeis, tendo de enfrentar um descontentamento popular que não dá sinais de recrudescer a curto prazo, um congresso e uma oposição ainda mais hostis e ressentidos com uma eventual derrota, e tendo de pagar a fatura da governabilidade cedendo à pressões de partidos como PP e PRB, de um fisiologismo ainda mais escancarado e vergonhoso que o do PMDB.


Na prática, e salvo alguma mudança abrupta de rumo, o governo Dilma acabou, independente se o mandato se encerra agora ou em 2018. Aqueles que, como eu, são contrários ao impeachment, resta saber se vamos sustentar, em nome de uma difusa e genérica defesa da democracia e do Estado de direito, um governo agonizante, ou ao menos estamos dispostos a pensar em alternativas que, no limite constitucional e sem ferir de morte nossa frágil democracia, apontem algum caminho possível que não o da mera continuidade. Uma coisa me parece certa: dessa vez, a saída não é a conciliação. Não é mais possível superar a crise sem traumas.