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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ontem o mundo viu o show da Xuxa



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Não há muito a dizer sobre o sórdido espetáculo da noite passada. Rendido a um grupo de crápulas, o país deixou de lado qualquer espécie de escrúpulo. Não é difícil vaticinar o pior para o futuro. Mas o texto de hoje não vai falar sobre isso. A ideia é dar uma amostra da imagem que o Brasil está a passar para o mundo. Porque a pantomima não passou despercebida aos olhos da imprensa internacional.

No espanhol El País, a correspondente María Martins é quem traz a referência ao show da Xuxa e à patetice das declarações de voto. “Os deputados defenderam o impeachment de Rousseff pelos mais diversos motivos: "para minha esposa Paula", "para minha filha que vai nascer e minha sobrinha Helena", "meu neto Gabriel ", "a tia que cuidou de mim desde pequeno" "para minha família e meu estado " , "Deus" , " pelos militares [ golpe ] de 64, "pelos evangélicos ", "pelo aniversário da minha cidade", "pela defesa do petróleo", "agricultor", "pelo café " e até mesmo "pelos corretores de seguros no Brasil ".

E lembra que os reais motivos para a votação foram esquecidos. “Para trás ficaram as manobras fiscais, o verdadeiro motivo para abrir o processo, completamente esquecidas pelos nobres deputados. Exaltados ante o microfone, exprimiram até o último segundo de glória que, para muitos o plenário oferecia pela primeira e, quem sabe, última vez . Os parlamentares fizeram lembrar os telespectadores de Xuxa, que usavam a participação ao vivo no programa para sempre cumprimentar mãe, marido, amante, primo, neto, vizinho, amigos e até o goleiro".

O show da Xuxa também não passou despercebido ao francês Liberation, que publicou um texto chamado “Brasil : entre crianças, bugigangas religiosas e camisas de futebol, o dia incomum dos deputados”. O jornal fala em declamações, “por vezes tendendo à postura teatral, muitas vezes aproveitam a oportunidade de tomar o tempo e holofotes, ao vivo na televisão, para enviar mensagens pessoais, dando pouca relevância às operações fiscais formalmente imputadas Rousseff”.

O Libé prossegue e narra que “além das múltiplas invocações a Deus e a Jesus , havia também se opondo à liberdade sexual e outros reivindicando o oposto.  Palavras duras também foram dirigidas contra o controverso presidente Eduardo Cunha, considerado o eixo do processo de impeachment , e teve que, sem pestanejar, ouvir insultos como 'bandido', 'ralé', 'corruptos'".

Em texto no jornal português Público, o analista Manuel Carvalho não tem meias medidas. E descreve aquilo a que chama uma turba perigosa e sem escrúpulos. Durante três penosas horas, a Câmara dos Deputados em Brasília dedicou-se a debater a destituição da presidente Dilma Rousseff e transformou-se nesse lugar estranho onde subsiste o pior que há no Brasil: a política", escreveu.

O jornalista é implacável. “O deplorável ambiente de comício, a inacreditável facilidade com que se trocavam insultos, a essência do Estado laico a ser torpedeada por persistentes clamores evangélicos, o deboche egocêntrico que levou uns a citar os filhos e outros os lugarejos de origem (sempre deu para saber que no Maranhão existe uma Itapecuru) foram apenas mais uma prova de que o Brasil está entregue a uma horda de predadores a quem não se pode confiar uma chave de casa, quanto mais o destino de uma Presidente eleita. Entre as intervenções dos 25 partidos e as dos líderes das bancadas do Governo e da minoria, raramente se falou no que estava em causa”.


É a dança da chuva.