sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Macacos me mordam #1


Não reeleja, renove geral!


POR SALVADOR NETO

Anote os nomes a seguir: Adilson Mariano (PSOL), Claudio Aragão (PMDB), Dorval Pretti (PPS), Fabio Dalonso (PSDB), Jaime Evaristo (PSC), James Schroeder (PDT), João Carlos Gonçalves (PMDB), Levi Rioschi (PPS), Lioilson Correa (PT), Manoel Bento (PT), Mauricinho Soares (PMDB), Mauricio Peixer (PSDB), Maycon César (PSDB), Odir Nunes (PSDB), Pastora Leia (PSD), Roberto Bisoni (PSDB), Rodrigo Fachini (PMDB), Rodrigo Thomazi - Suplente/Sidnei Sabel (PP) titular, Zilnety Nunes (PSD). Anotou? Agora fixe essa lista em sua geladeira, quadro branco, ou onde deixe suas anotações importantes do que tem a fazer. Já explico.


Essas pessoas listadas acima são os vereadores no exercício do cargo em Joinville (SC). Eleito em 2012 ainda pelo PSD, Patricio Destro, hoje PSB (é...) virou deputado estadual em 2014 abrindo a vaga para Zilnety Nunes. Rodrigo Thomazi assume quando Sidnei Sabel deseja ser secretário do Governo Udo. Temos mais nomes de suplentes – aqueles que ficam na fila para assumir caso um dos eleitos tenha de deixar o cargo por qualquer motivo -, mas isso fica para um exercício de casa para você eleitor. Sim, você quer uma cidade melhor, tem de fazer a lição de casa: pesquisar, saber quem é quem, de onde veio, para onde foi, quais negociações fez, se tem nome sujo (processos, acusações, etc), se trabalhou, se não. Coisas básicas para exercer de fato o seu direito de cidadão. E aí votar.

Esclarecido isso, faça o passo seguinte, claro, somente em 2016: não reeleja nenhum destes vereadores ocupantes das cadeiras no legislativo joinvilense. Renove geral. Somos quase 700 mil habitantes dos quais quase 400 mil tem direito a votar, e ser votado. Portanto, há muita gente que pode dedicar seu tempo, conhecimento, habilidades, estudo, formação, visão de mundo, para a coisa pública. Aliás, isso deveria ser uma missão de todo cidadão, alguma vez se candidatar, fazer política partidária, não partidária, se envolver nas associações de bairros, de classes, ser voluntário de instituições sociais e públicas, participar de diretorias de entidades sociais. Fazer política é isso, não é somente votar, ou reclamar diante da TV, dos noticiários.



Claro que na lista atual de vereadores, e de suplentes, há pessoas de bem, com bons serviços prestados. Mas como diz o ditado, o uso do cachimbo deixa a boca torta. Eleitos, começam a compreender a máquina, o os corruptores, lobbies, lobistas, achacadores, e outros, e a se influenciar, ou influenciar outrem. Com isso perde a sociedade. É só ver a quantas andam os projetos cruciais para o bem de Joinville como a Lei de Ordenamento Territorial (LOT), por exemplo. Começam a se acostumar com as benesses (carro, combustível, diárias, tudo livre), com o dia a dia da reclamação do povo, e sequer dão bola para os gritos das ruas e bairros. Portanto, se elegeu, teve seu tempo, realizou, não realizou? Troquemos na próxima!

Como os políticos legislam sobre o sistema político – a tal reforma política muda para nada mudar a anos – mudemos nós a nossa postura. Deixemos de atender ao coração porque o tio, o pai, o irmão, o primo, o amigo precisa... Abandonemos a tentação do aceno de cargo público, ajuda de custo, barro, saibro, máquina para limpar um terreninho... Vamos mudar, pois o poder está conosco, no voto, na nossa escolha! Se mudarmos todos, novos entram, sangue novo, renova-se o ar político. E quando falo de renovar não é a ideia de idade – até porque há nesta lista e em outras, novos bem velhos! -, mas sim de pessoas que nunca passaram pelo legislativo, não conhecem aquele mundo por dentro.

Comecemos, pois esse movimento social pela renovação total do legislativo municipal pela nossa cidade. Não reeleja ninguém, renove geral! A ideia pode parecer utópica, mas é preciso retomar as utopias para que a sociedade volte a ter crença nela mesma, e na política! Acabe com o carreirismo político. Renove tudo, e vejamos como aí sim a juventude voltará a acreditar na política como instrumento de transformação social, que de fato é. A provocação está feita. Comecemos aqui em nossa cidade. Em 2016, não reeleja, renove geral.


É assim, nas teias do poder...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

#PrimeiroAssédio



POR VANDERSON SOARES

vanderson.vsoares@gmail.com

As redes sociais, nos últimos meses, tem trazido à baila um problema antigo, mas ainda bem atual: o assédio sexual. Em especial, os maiores incentivadores deste debate foram os tweets e postagens sobre a menina Valentina, participante do MasterChef Jr e o #PrimeiroAssedio, hashtag criada no Twitter para que as meninas que já sofreram assédio pudessem falar mais a respeito de suas desagradáveis experiências.

Detive-me a ler os tweets e comentários e não pude deixar de pensar no quão difícil deve ser mulher nos tempos de hoje. Não por ser mulher, mas por ser o maior alvo no caso do assédio. Este texto não tem a presunção de analisar o machismo, pois este é mais amplo (atinge o mercado de trabalho, a vida conjugal, a forma de educar os filhos, etc), mas o assédio é um dos aspectos no rol de atividades que o machismo incentiva, o ato em si é algo que ultrapassa a barreira da criminalidade, do mais baixo nível que nossa espécie pode chegar.

O que mais assombra no relato das meninas é que quase todas sofreram abusos ou tentativas enquanto ainda crianças, com 9, 10, 12 anos. Você que é homem e lê este texto, você acha normal uma criança despertar o seu tesão? Se sim, procure ajuda, pois não, não é normal. 

Fiquei intrigado com o tema e conversei um pouco com as mulheres que convivo no trabalho ou nos grupos que participo e todas que pude conversar admitiram que já sofreram algum tipo de assédio. E por assédio, não se entenda somente os comentários ofensivos e chulos que são feitos na rua (que também ferem e machucam), mas também gestos, atitudes e até tentativas de agressão.

Imagine você que é pai, que é marido, que é irmão ou que é um ser humano capaz de viver em sociedade, consegue imaginar o medo que sua filha, namorada ou mãe tem ao andar sozinha na rua ou em horários noturnos? Pois não deveriam ter esse receio. O direito de ir e vir não escolhe gênero. Ainda me recordo das vezes que escutei meu pai ou mãe falar para minha irmã trocar de roupa, pois a calça dela estava apertada demais. Entendo que seja uma forma de proteger, de querer o bem, mas isso é educar ao contrário, é culpar a vítima e não o agressor. 

O que tira a fé na reabilitação da humanidade é ler os comentários de gente que não tem empatia tampouco capacidade de vivência em sociedade, defendendo o assédio (sim, o crime) com comentários do tipo: “Mas também, olha a roupa que ela estava usando”, “Ela estava pedindo”, “Essa merece” e por aí vai. 

Esse tema se desmembra em tantos outros que não caberiam apenas neste texto, mas uma grande “justificativa” difundida para este crime é que é “da natureza do homem, do instinto”. Se dermos crédito a isso, estaremos nos reclassificando novamente como primitivos, como animais. É também próprio da espécie humana querer a evolução, a compreensão e a plena convivência em sociedade.

Por ser homem, não me sinto com autoridade suficiente nem com domínio do assunto para incentivar as mulheres em como reagir, mas com certeza se calar não é a melhor forma de lidar. Sofrer um abuso, um assédio, por mais próxima que seja a pessoa, um vizinho, tio, amigo, deve ser denunciado e sofrer os rigores da lei. Se não isso, ao menos a franca conversa com a mãe, a filha ou alguém de confiança, pois guardar para si apenas colabora para a continuidade do problema na sociedade e não superação pessoal do ocorrido. 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Ah! Aleluia! O Corredor é nosso!


Não passarão!


Vá de retro, ciência. Isso é doutrinação!


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Rolou um “auê” entre os reaças. Tudo por causa das provas do ENEM, que trouxeram nomes como Simone de Beauvoir, Nietzsche ou Paulo Freire. Os caras foram à loucura e não demoraram a armar o berreiro: “doutrinação, doutrinação, doutrinação”. E nem importa se também apareceram nomes como Hume, Hobbes, São Tomás de Aquino, Platão ou, imaginem, Usain Bolt. Os caras não querem saber? A reacionaria quer é circo.

A palavra doutrina tem origem no latim doctrina, expressão derivada de doceo (ensino). Ou seja, tem a ver com instrução, aprendizado, aquisição de conhecimento. Apenas em tempos mais recentes a palavra passou a ser entendida como um conjunto de teorias que, sistematizadas, formam os fundamentos de uma ciência. Se soa a inteligência, a reacionaria odeia, claro. Há mais ou menos aquilo que Kostas Axelos chamou “rejeição do pensamento”.

Num país como o Brasil, onde os conservadores representam o que há de mais atrasado, a palavra ganhou outros contornos. Virou um clichezão a ser repetido por qualquer iliterato para falar em imposições ideológicas. Ou, numa linguagem que os reaças talvez entendam, doutrinação é sinônimo de “fazer a cabeça”.

Eis o problema. O anti-intelectualismo – ao estilo tea party – estufa o peito e insiste em dar cartas. E rejeição do pensamento ganha contornos de uma estranha “ciência”: é tudo ao contrário. Enfim, aquilo que a pessoa não entende - e não quer entender por imperativo ideológico ou abulia intelectual - é o que ela chama "doutrinação". Qual o perigo? É que o país parece disposto a mergulhar nas trevas sem ter experimentado as luzes.

Quadro de Goya
É nesse meio obscurantista que surgem Bolsonaros, Malafaias, Felicianos, Rola-Bostas, Sheherazades, Constantinos e outras hediondezas, como os reacionários das redes sociais. Afinal, são organismos que só se desenvolvem em ambientes intelectualmente anaeróbicos. Aliás, essas pessoas são incapazes de perceber que a própria ignorância é doutrinária.

Um retrato do Brasil? Há uma pintura de Goya, exposta no Museu do Prado, que pode representar este momento. O quadro, chamado “Luta com Clavas” (Duelo a Garrotazos), mostra dois homens a combater na lama – ou areia movediça. Quanto mais lutam mais afundam e correm perigo. Mas mesmo assim não param de lutar. É o Brasil a se afundar no irracionalismo. Vá de retro, ciência.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A cadeira giratória: prefeito por 48 horas

POR JORDI CASTAN


Joinville teve 3 prefeitos em uma semana.

O vereador Rodrigo Fachini (PMDB) poderá incluir no seu currículo que foi prefeito de Joinville por dois dias ou por algumas horas. Sentou na cadeira do prefeito e ocupou o gabinete, quando poderia ter despachado perfeitamente desde o seu próprio gabinete na Câmara de Vereadores. Poderá ainda acrescentar que assinou o Adimplir 2  e o teatro poderá descer o telão. A peça terá terminado e a claque de sempre aplaudirá em pé e pedirá bis. Todo um espetáculo republicano.

É evidente que a peça foi cuidadosamente ensaiada. Tudo foi planejado para afagar o presidente do Legislativo e manter assim uma relação tão estreita com o Executivo que poderia ser classificada de promiscua. Com certeza o vice-prefeito Rodrigo Coelho não poderia entrar em férias num momento mais oportuno. É também evidente que a capacidade de fiscalizar o Executivo, que a Câmara tem como função, fica comprometida.

Esses agrados e gentilezas têm um peso significativo no teatro em que tem se convertido a política. E que, no âmbito local, acaba parecendo mais uma comédia de segunda categoria que uma peça de teatro. É por estas e outras que Joinville não consegue superar o seu complexo de vila de interior.

Estabelece-se uma dívida de gratidão entre o prefeito, o vice-prefeito e o presidente do legislativo. E essas dividas, além de criarem vínculos fortes, devem ser pagas. Se todos estes agrados não fossem suficientes, o prefeito em exercício indicara ainda o subprefeito da região sul. A dança das cadeiras permitirá ainda que o vereador Lioilson Corrêa (PT) assuma, também por 48 horas, a presidência da Câmara de Vereadores.

Joinville só repete o que também acontece no âmbito estadual e federal. Presidentes da República em exercício por poucos dias têm sido motivo de episódios que causam vergonha alheia. Viagens oficiais com avião presidencial ao Estado de origem. Ou atos oficiais absolutamente desimportantes. Até porque nem o prefeito, nem o governador, nem o presidente deixam “tinta na caneta”. Assim, a interinidade se converte numa ridícula pantomima com direito a discursos, intensa agenda de trabalho e justas e merecidas homenagens.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Nos fios da teia #2



POR SALVADOR NETO

Nos Fios da Teia agradou aos leitores do Chuva Ácida, como esperado. E aqui vamos nós a mais alguns fios que tecem parte do mundo em que vivemos. Vamos em frente?
Cunha, sigilo e grana – O quase ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, foi com tanta sede ao pote que se afogou no próprio oceano da sua hipocrisia. Com dois inquéritos abertos contra ele no STF, contas na Suíça em seu nome e da família com apenas (?) 9 milhões de reais, agora sequestrados a pedido do ministro Teori Zavascki, seu fim se aproxima. E a turma do impítim (leia-se PSDB, DEM, PPS) se afoga junto.

CPMF vem aí – O imposto, ou contribuição como queiram, que mais assusta os ricos e afortunados, grandes empresas e multinacionais, além de bancos e financeiras, vai valer em breve. O governo Dilma costura os apoios, já tem governadores e até prefeitos ao seu lado. Com essas canetas não há deputado que deixe de aprovar. Afinal, se suas cidades quebrarem, e assim seus estados, para que serviriam deputados e senadores? E cá prá nós, quem pagará a CPMF é quem nunca paga nada, os mais ricos. Que venha, e logo.

Congretrevas – Essa legislatura eleita pelo povo brasileiro tem feito uma força danada para arrastar o Brasil às trevas da Idade Média. A proposta do Estatuto da Família negando a realidade, a derrubada da criminalização da homofobia e, pasmem a tentativa ridícula de criminalizar atos contra heterossexuais (kkk), para ficar somente nisso, nos colocam no século X. E você aí em casa, vai ficar só olhando?

Mídia Caolha – Na província de Joinville, nossa Sucupira, nossa velha e carcomida mídia local/regional enxerga festival de cucas, distribui afagos ao fascista Bolsonaro, negando ao seu público conhecer o outro lado da moeda, ou das notícias. Em meio às enchentes desta quinta-feira (22) os joinvilense descobriram que não há radio jornalismo para prestar serviço em meio às águas e caos instalado. Fujam para os meios digitais alternativos gente!

Mídia Caolha 2 – Você já deve ter ouvido falar de Dalmo Dallari não? Grande jurista brasileiro, professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com grandes obras publicadas, teve participação importantíssima na Constituinte. Esta personalidade esteve na província de Joinville esta semana em evento sobre direitos humanos. Você soube? Não, claro que não. A mídia local/regional usou o tapa-olho. Não viu, não quis ver, não publicou. Não interessa aos donos do poder. Aguardem a vinda do Bolsonaro. Ganhará capa e espaços de entrevista generosos.

Enchente – Algo que não é novidade desde que os imigrantes afundaram os pés no mangue das terras de Dona Francisca, as enchentes por toda a cidade tornaram a vida dos joinvilenses um inferno nesta quinta-feira (22). Caiu muita água entre a madrugada e o meio da tarde, e os prejuízos como sempre, serão altos. No mandato anterior, de Carlito Merss, a limpeza permanente dos rios, bocas de lobo, riachos, causou grande redução das cheias. Hoje, esse processo cessou. Resultados aparecem dentro das casas e comércios.

Troca-Troca – Enquanto a chuva encharcou a paciência dos joinvilenses, um troca-troca chamou a atenção: Udo, que deixou um Rodrigo, que deixou para outro Rodrigo. O primeiro foi passear em outro continente, e deu um agrado ao seu vice, de quem na verdade quer distancia. Este ficou um pouquinho, e passou a bola para o outro Rodrigo, o Fachini. Este, por sua vez, destacou em cerimonia familiar o “desafio”, a “missão” que teria por... 48 horas. Ele só não contava com as chuvas. É, essa Joinville faz coisas...
E a prevenção?  – Santa Catarina sofre com cheias há décadas. É um convívio diário e permanente com as águas dos rios, somadas ao grande fluxo de chuvas que já sabemos até em quais meses acontecem. A pergunta que nunca tem resposta é: porque os governos e suas estruturas não colocam em ação um plano de prevenção, já que tem informações antecipadas das intempéries? Porque não soam avisos à população tão sofrida, com antecedência? Porque não colocam planos de contingenciamento das águas, deslocamento das pessoas, proteção aos seus patrimônios? É uma falta de vontade política e de governo que beira a um ato criminoso contra as comunidades.
É assim, os fios da teia nas teias do poder...