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Dona Lucia Schatzmann
Foto cedida por Jéssica Michels |
POR FELIPE SILVEIRA
Na terça-feira (11), o Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (CDH), de Joinville, completou 35 anos. Em comemoração, realizou uma
audiência pública sobre a ditadura civil-militar, com participação do coordenador da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV), Naldi Otávio Teixeira. O nome da comissão é uma homenagem ao deputado catarinense cassado pela ditadura e exilado que retornou ao Brasil clandestinamente e é um dos desaparecidos políticos do período.
A noite foi emocionante. O depoimento da dona Lucia Schatzmann, companheira do seu Edgar Schatzmann, um dos ex-presos políticos joinvilenses, mexeu com todos no recinto, que aplaudiram de pé ao final, quando ela contou com orgulho que não se arrepende de nada porque estava ajudando a construir um país e um mundo melhor. Tão emocionante quanto foi a fala da senhora de 69 anos que viveu aquela experiência terrível foi a de Luis Carlos Fagundes Lemos, filho de outro preso político, já falecido. Ele contou como foi terrível para a família passar pela prisão do pai, que, levado a Florianópolis, ficou incomunicável por muitos dias. Luis, no entanto, não contou os horrores da tortura que soube pelo pai. Por causa de uma criança no recinto, achou melhor não revelar as barbaridades.
Os depoimentos foram muito tristes. Os horrores da ditadura foram muito tristes. Conhecê-los é chocante, doloroso e triste.
No entanto, eu saí de lá feliz. Talvez por otimismo, interpretei que houve uma sinalização para a criação de uma Comissão Municipal da Verdade. E isso é muito, mas muito mesmo, importante. A comissão municipal, e poderia ser até mesmo regional, faria um importante resgate dessa história apagada, escamoteada a disfarçada que é a história da ditadura em Joinville.
E não conhecer a história, já que ela é apagada, é o que permite que tenha gente que goste da ideia de ditadura, que tenha saudade daquele tempo e todo esse lixo que vemos por aí. Aliás, sempre vai existir gente assim, por mau caratismo. Hoje, a maior parte é por simples desconhecimento. Por isso não podemos esquecer. Por isso temos que trazer a verdade à tona. E o primeiro passo para isso é criar e fortalecer a comissão municipal.
Tão importante quanto é avançar e criar espaços de resgate da memória. Um exemplo disso é o
Memorial da Resistência, em São Paulo, criado na antiga sede de uma das polícias políticas do regime. Lá você pode conhecer as celas que abrigaram presos políticos e um trabalho fantástico de resgate da memória e reflexão sobre as violências dos períodos ditatoriais. Foi uma das experiências mais fortes da minha vida.
A sugestão da criação do espaço foi levantada pela comunidade e ouvida por três vereadores presentes. Acredito que haja uma possibilidade real de concretização da ideia, mas para isso ocorrer é necessário envolvimento da comunidade. Esse texto tem o objetivo de espalhar a ideia. Aos interessados, estou à disposição para colaborar e levar adiante o projeto.
Para conhecer mais sobre a história do casal Lúcia e Edgar Schtzmann e sobre a ditadura em Joinville, recomendo o documentário Ditadura Reservada, de Fabrício Porto: