sexta-feira, 21 de março de 2014

Educação após 64

O jornalista Vladimir Herzog, o Vlado,
"encontrado morto em sua cela". Uma das
fotos mais chocantes da história do Brasil
POR FELIPE SILVEIRA

Estamos a alguns dias do aniversário de 50 anos do golpe civil-militar que colocou o Brasil em uma violenta ditadura de 21 anos. Ainda não sabemos nada sobre ela. Individualmente até conhecemos algumas coisas, lemos alguma coisa aqui, outra ali, um filme acolá. Mas é pouco. Enquanto Brasil, nada.

Cheguei a essa conclusão por causa do aniversário. Muito material bom está sendo produzido por causa da data emblemática. Mas não somente. É também uma resposta a esse reaparecimento de um fascismo escancarado, como apresentadoras de TV malucas, gatos pingados pedindo intervenção militar, polícia ameaçando manifestante e matando donas-de-casa. Enfim, todos os dias tem muita coisa boa para ler acerca daquele período. Material novo e antigo. Inclusive, uma entrevista indicada por um anônimo no texto da semana passada foi uma das leituras dessa semana. Há muita coisa mesmo. E não sabemos da missa a metade.

Na semana passada, neste espaço, defendi a criação de uma Comissão Municipal da Verdade, ideia que surgiu na audiência pública de comemoração dos 35 anos do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (CDH) e que contou com a presença do coordenador da Comissão Estadual da Verdade. Uma comissão municipal faria este trabalho de resgate da memória acerca da ditadura, contando uma história que foi ocultada por aqueles que se aproveitaram do governo militar. Também foi defendida a criação de espaços voltados à memória, e eu citei como exemplo o Memorial da Resistência, em São Paulo. Insisto: todos devem conhecer.

Essas ideias – da criação da comissão e de um espaço similar ao memorial – vão ao encontro de outra provocação sobre o tema. Em outro evento sobre o tema, questionei o professor Wilson de Oliveira Neto, autor do livro “O Exército e a Cidade” (juntamente com Sandra Guedes e Marília Gervasi Olska), sobre o que ele imagina como solução para este cenário tão frágil que é a nossa sociedade, ao que ele comentou o texto “Educação após Auschwitz”, de Theodor Adorno, no qual o filósofo alemão sustenta a ideia de que é preciso desenvolver uma educação que impeça o retorno à barbárie. A referência à barbárie é  Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio da Alemanha Nazista.

Para o professor, nós brasileiros temos que desenvolver uma “educação após 64”, a nossa maior expressão da barbárie. Essa ideia me tocou profundamente e por isso eu a reproduzo aqui. Talvez ela seja o ponto de partida para um mundo mais justo e livre, no qual pessoas não sejam amarradas a postes e arrastadas por viaturas.

22 comentários:

  1. Se aparecem manifestações na tv que vocês chamam de fascistas e “gatos pingados” pedindo o retorno dos militares no governo, alguma coisa de errada tem. E não é essa ladainha da “classe média polvorosa porque agora o pobre tem vez”, isso é desculpinha esfarrapada de esquerdista convicto das lambanças do governo petista. Os motivos para o descontentamento da população são outros: a educação está de mal a pior; a saúde está definhando; a infraestrutura parou; a insegurança aumentou. Tudo isto em doze anos e três mandatos de um governo que supostamente viria para acabar com a corrupção e melhorar a vida da população. Agora, de todas as pendengas, a que salta aos olhos é a sensação de impunidade. Essa está nos níveis estratosféricos.

    Ontem de manhã, na tv, o jornalista mostrava a liberação de uma menina de 14 anos sequestrada no RJ. Dois dos sequestradores foram mortos. Ficha criminal dos dois: um tinha 10 passagens pela polícia e o outro 11, metade por sequestros, ou seja, crimes considerados hediondos sem direito a fiança e os sujeitos estavam lá, soltos para reincidir no crime. Há duas semanas outro pimpolho meteu uma bala na cara da namorada horas antes de completar 18 anos. Ao invés de responder pelo crime de assassinato com o agravante do motivo torpe, vai ficar no máximo três anos no reformatório.

    E o que os políticos petistas e peemedebistas, maioria nas duas casas fazem para reverter essa situação caótica? Nada, a não ser vetar leis mais duras contra quem comete crimes e, claro, blindar aquela incompetente que está no poder.

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    1. Marcos, não importa o tamanho da insatisfação, sugerir a volta de um regime que, como bem disse o professor Wilson de Oliveira Neto, é nossa maior expressão de barbárie, chega a ser insano. Resolva-se com democracia, ou não é solução.

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    2. Concordo com Jura. Porém, existe barbárie mais evidente hoje em nosso país do que a falta de igualdade na justiça, visto que "todos são iguais perante a lei"? Existe exemplo mais evidente para isso do que a maneira com que os presos pobres, sejam negros ou brancos, são tratados, em comparação aos deputados e senadores que são presos?
      E presos como cidadãos.
      Isso para não ser repetitivo e falar da educação, saúde, moradia...
      Não somos um país democrático. Melhor dizendo, somos um país democrático apenas quando interessa aos poderosos.
      Temos muito que melhorar.

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    3. A ditadura Vargas matou e torturou mais. Teve a guerra do Paraguai tb, além da escravidão, para concorrer com a ditadura militar como a "nossa maior expressão de bárbarie". Acho que todos os meus exemplos vencem...

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  2. Eu fui educado de 61 a 74, e consigo escrever um texto coerente, sem erros gramaticais.

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  3. O Marcos sempre achando que o PT e a Dilma governam as milhares de Prefeituras e todos os Estados brasileiros. E se 8 pessoas que apareceram ostentando uma faixa pela "Marcha da Naftalina" não são gatos pingados não sei o que é....

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    1. Procure o significado do termo "accountability" e você vai entender qual o papel da Dilma e seus ministros no restante do Brasil que você quer tirar das costas dela.

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  4. Desde o segundo grande choque da esquerda. Onde o XX Congresso do Partido Comunista da URSS (1956) Kruchov coloca a nu a desgraça do stalinismo na URSS. Os intelectuais esquerdistas ficam sem rumo.

    Juscelino chega ao fim e seu candidato perde para o senhor Jânio Quadros, a Esperança da vassoura, Desastre total. Não foram os Militares de Ontem que rasgaram a lei e feriram a ordem. Quem declarou vago o cargo de Presidente foi o Congresso Nacional. A Nação ficou ao Deus dará. Ameaça de guerra civil e os políticos tocando fogo no País e as Forças Armadas divididas pelas paixões políticas, disseminadas pelas "vivandeiras dos quartéis" como muito bem alcunhou Castello.

    Parlamentarismo, volta ao presidencialismo, aumento das paixões políticas, Prestes indo até Moscou afirmando que já estavam no governo, faltando-lhes apenas o Poder. Os militares calados e o chefe do Estado Maior do Exército (Castello) recomendando que a cadeia de comando deveria ser mantida de qualquer maneira. A indisciplina chegando e incentivada dentro dos Quartéis, não pelos Militares de Ontem e sim pelos políticos de esquerda; e as vivandeiras tentando colocar o Exército na luta política.

    Revoltas de Polícias Militares, revolta de sargentos em Brasília, indisciplina na Marinha, comícios da Central e do Automóvel Clube representavam a desordem e o caos contra a LEI e a ORDEM. Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e outros governadores e políticos (todos civis)incentivavam o povo à revolta. As marchas com Deus, pela Família e pela Liberdade (promovidas por mulheres) representavam a angústia do País. Todo esse clima não foi produzido pelos MILITARES DE ONTEM. Eles, contudo, sempre à escuta dos apelos do povo, pois ELES são o povo em armas, para garantir as Leis e a Ordem.

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    1. O Brasil deve ser governado por um governo cuide de todos, e não proteja só alguns. Independente de religião, ideologia política, comportamento, classe social, raça, sexualidade, regionalismo, língua, etc...
      O que vocês querem é um absurdo e é desrespeitar todos as várias classes que são protegidas pelo estado.
      Fora conservadores, fora preconceito, fora marcha pela família, fora militares.

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  5. Deletei alguns comentários. Um delegante e outro preconceituoso. Pensem nisso antes de escrever algo aqui.

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  6. Comentários desrespeitosos e preconceituosos de não anônimos serão também deletados? Ou isso outorga algum direito?

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  7. Desculpe, mas me parece haver uma contradição de sua parte, pensei que era a favor do bom debate, e que seu posicionamento contra alguém que se apresenta como anônimo fosse ligado diretamente a falta de educação diante da argumentação. Vejo que me enganei, você se posiciona tão intransigente quanto àqueles que você chama de retrógrado, preconceituosos e deselegantes, isto se evidencia a partir do momento que aceita as mesmas qualidades negativas apontadas aos anônimos, àqueles que se identificam. Ou seja, mal educado sim, anônimo não.
    Desta forma, creio que aceitar anônimos em seus comentários é se posicionar com uma certa hipocrisia.

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    1. Cara, se alguém escrever algo chamando alguém de "moça", insinuando que a pessoa é gay ou coisas assim, como se isso fosse algo negativo, de maneira depreciativa, esse comentário será apagado. Seja de anônimo ou não. É difícil entender isso?

      Da mesma forma, se alguém disser que "comunistas são vagabundos que merecem morrer", esse comentário também será excluído. Anônimo ou não. É uma questão óbvia. Respeita-se, assim, um princípio básico de civilidade.

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    2. ´Vc. é gay?
      Reinaldo Schmidt

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    3. Tá interessado? Gosta de homens peludos? E da barba roçando na nuca?

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    4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    5. Ficou brava mona???? kkkkk Reinaldo Schmidt

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  8. Muito bom!
    Gostei de seu posicionamento, agora vejo que a coisa vai melhorar no Chuva Ácida. Espero que todos tenham a mesma postura.

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  9. ..Algo bom de texto do Chuva ácida e de outros meios que trazem reaças à comentarem, são justamente estes, os comentários..racho bico..

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    1. Isso, junte-se a nós, "rache o bico"!
      Afinal, o negócio está muito bom pra esquerda brasileira...

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  10. Frase geralmente acolhida por pacientes com síndrome de Estocolmo. Entre 1964 e 1985, a economia nacional crescia para poucos, às custas de endividamento externo e da subserviência a Washington; universalização do ensino e da saúde era piada pronta, ninguém podia escolher os seus representantes, a imprensa não podia criticar os generais e a sensação de segurança e honestidade era construída à base da omissão porque ninguém investigava ninguém. Em todo caso, qualquer desvio identificado era prontamente ofuscado com receitas de bolo na primeira página (os bolos eram de fato melhores).

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