quinta-feira, 4 de julho de 2013

Não subestimem os jovens!

POR CLÓVIS GRUNER


Conheço e respeito a trajetória de Marilena Chauí, sua contribuição e importância na vida intelectual do país. Foi principalmente por isto que achei frágil sua análise das manifestações, compartilhada pelo Felipe em seu post da semana passada. Filósofa experiente, nem todo o Spinoza do mundo foi suficiente para compreender a nervura do real dos acontecimentos recentes. Se acerta no diagnóstico da causa – o “inferno urbano” e a necessidade urgente de repensar o transporte público e democratizar o acesso à cidade –, a filósofa uspiana se equivoca em quase todo o resto.
 
Há, por certo, seu petismo militante, a limitar sua interpretação: afinal, as manifestações afetaram os índices de aprovação da presidenta Dilma Rousseff e do prefeito Fernando Haddad. Informada por uma concepção de política que parece encerrá-la nos limites partidários, a leitura de Chauí chega a descaracterizar o próprio MPL, segundo ela “composto por militantes de partidos de esquerda”, o que não é exatamente correto. É esse mesmo critério que aparece na verdadeira inquirição feita aos manifestantes, como se fossem legítimas apenas aquelas movimentações conduzidas pelas bandeiras partidárias, com pautas e lideranças definidas em assembleia e com direito à questão de ordem.
 
Quando se propõe a analisar o papel das redes sociais, Chauí não se equivoca apenas. Não acredito que para falar de internet seja necessário ter uma conta ativa no Facebook ou no Twitter e manter um blog sempre atualizado no ar. Mas também não acredito que se compreende o seu funcionamento recorrendo ao bom e velho frankfurtês. Se já é complicado valer-se de Adorno para analisar, por exemplo, manifestações como o cinema, músicas populares como o jazz ou o rock (na verdade, qualquer outra que não a clássica) e a televisão, ainda mais difícil é tentar compreender fenômenos como as redes sociais por meio exclusivamente da “teoria crítica”.
 
Sem muito esforço, Chauí poderia evitar bobagens que beiram ao cômico. Dizer que as redes sociais assumem “gradativamente uma dimensão mágica (...) porque, assim como basta apertar um botão para tudo aparecer, assim também se acredita que basta querer para fazer acontecer”, revela não apenas sua desconexão com a realidade que procura analisar e entender, mas também seu desrespeito com aquilo que se recusa a compreender: convenhamos, é preciso uma dose generosa de má vontade para equiparar as manifestações chamadas pelo MPL à convocação para um show da Madonna.
 
ALIENADOS?  – O texto de Marilena Chauí revela uma dificuldade que não é apenas dela, mas de uma boa parte da esquerda, embasbacada diante daquilo que não compreende e não controla. Já disse em outra ocasião que não é a postura da direita que me surpreende. Assustada e cansada, a ela não interessa que as mobilizações evoluam para mudanças mais profundas ou para uma reforma política consistente, daí sua urgência em tentar atribuir às manifestações uma pauta genérica e oportunista: sem nem mesmo um rascunho de projeto para o país, há uma década a oposição sobrevive do “combate à corrupção”, como se tal expressão se revestisse, essa sim, de um “caráter mágico”.
 
Incomoda-me é a obtusidade de certa esquerda que, preocupada exclusivamente com as eleições de 2014, é incapaz de reconhecer o que há de singular nas manifestações: não estamos na luta contra a ditadura civil militar, nem na campanha pelas Diretas Já, e mais de 20 anos nos separam da última grande mobilização popular, que foi o impeachment de Fernando Collor. Deveria ser óbvio, mas não é: não se entende a singularidade deste momento se o analisamos à luz daqueles eventos e exigimos de jovens, ainda não nascidos em 1983 e alguns sequer em 1992, que ergam as mesmas bandeiras – que tenham o “mesmo foco” – que eram as nossas quando fomos às ruas há duas ou três décadas.
 
O que para muitos é falta de foco ou de uma bandeira, revela uma sensibilidade e uma inteligência capazes de captar demandas que, por dispersas que pareçam, são parte da experiência de uma geração felizmente desacostumada à ditadura e, por isso, mais atenta às fragilidades e contradições da democracia, bem como à necessidade de fazê-la avançar. Inclusive, construindo alternativas de participação e ocupação do espaço público que não exclusivamente as partidárias, porque sabe que a democracia não se constroi apenas nos limites das instituições formais e dos  partidos, e que nem só nestas esferas podem se produzir as mudanças.
 
Ao contrário do que afirmam, em um estranho uníssono, a mídia conservadora e parte de nossos intelectuais à gauche, uma parcela da juventude brasileira está nas ruas há muito tempo. São jovens, principalmente, os que ocupam as ruas para se solidarizar com as comunidades indígenas vitimadas pela truculência desenvolvimentista do Estado e das grandes empreiteiras; para denunciar a violência contra a mulher nas “Marchas das vadias”; para protestar contra o preconceito e festejar a liberdade nas “Paradas da Diversidade”. São jovens, principalmente, os que chamam a atenção para as precárias condições de nossas escolas e de nossa educação; que dão as mãos a trabalhadores de diferentes categorias em seus movimentos reivindicatórios; que acusam o nosso racismo; que sofrem no corpo e denunciam corajosamente as muitas e cotidianas formas de violência policial.
 
As manifestações das últimas semanas só são uma novidade para quem, alheio ao que se passa nas ruas, não consegue perceber a diferença entre elas e um show da Madonna ou, pior, as associam aos movimentos fascistas e à “Marcha da família com Deus pela liberdade”. Quando findaram os eventos que durante semanas paralisaram parte da França, os estudantes parisienses mal e parcamente conquistaram aquilo que os motivou a ir às ruas, a reforma universitária.  Mas, como observou alguém recentemente, o "Maio de 68", se não mudou profundamente as instituições políticas francesas, transformou nossa forma de pensar e fazer política, de ouvir música, de ler, de trepar. Não subestimemos a juventude e sua capacidade de nos chamar a atenção para o que é atual no contemporâneo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Casar virgem. Por quê?



POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Fiquei sabendo recentemente que existe um movimento novo entre jovens religiosos: o de casar-se virgem. 

Ok. Não parece um movimento novo já que nos faz lembrar os anos 1950, mas é recente. 
O interessante é que ele está atingindo meninos e meninas, o que faz com que o movimento seja menos machista, convenhamos.  
Afinal, a quem interessa que os jovens casem-se virgens? 
Não ter nenhuma experiência na cama pode fazer de alguém melhor ou pior parceiro na vida? Só posso concluir que é para pior porque a ausência dessa intimidade antes do casamento faz com que ambos se conheçam ainda menos. E fiquem curiosos, E acabem casando cedo porque né, é difícil segurar.

O tabu que existe em torno de experiência sexual no Brasil é extremamente contraditório, já que o que mais vendemos da nossa imagem são as mulheres seminuas nas praias e nas festas de carnaval. Todo mundo conhece o turismo sexual do Brasil e imagina que somos o país mais liberto e libertino da América. Mas, leve engano, pura hipocrisia, pode olhar, mas não pode tocar, pode tocar mas não pode comer. Deu? Tá rodada, minha amiga, não serve pra casar. Aliás o que é rodada, né, uma menina que fez sexo com 10 homens diferentes durante toda a vida, ou outra que faz todos os dias com o mesmo homem? A segunda pode ser bem mais experiente, mas a primeira vai ter um comportamento que não é "socialmente aceito". Os preconceitos mais antigos da história do machismo. 

Uma das coisas mais estúpidas que já escutei com relação a homens saiu mais ou menos assim: "cuidado com os homens, eles só querem se aproveitar de você, depois do sexo, te dispensam".

"Eles só querem se aproveitar" - ãh? E a mulher quer o quê?
"Depois do sexo, te dispensam" - minha amiga, se o cara te dispensou depois de ter feito sexo com ele por esse específico motivo, que assim seja, já vai tarde. Um homem que valoriza uma mulher pela sua virgindade ou pela sua resumida experiência sexual é um ignorante que não merece a sua companhia. Simples assim. Se o cara não consegue ver a mulher/ser humano por trás da vagina, faça o que tem de ser feito e dispense o neandertal.

O pior de tudo é que acreditei nessas bobagens quando era nova e perdi inúmeras oportunidades de sentir prazer, explorando o meu corpo e o de belos homens com quem fiquei. Muitas vezes pensei: não posso, não quero virar menina de uma noite, o que meus pais pensariam,...Deus está vendo.... e por aí vai a neura. O sentimento de culpa demorou para sumir e agora desejaria que ele jamais tivesse existido, e tudo teria sido mais leve, descomplicado e prazeroso, como sexo deve ser.

É engraçado porque é nítida a diferença na educação de meninas e de meninos com relação ao sexo. Para o homem experiência sexual vasta é motivo de orgulho, para a mulher pode ser sinônimo de depravação. E como se muda essa percepção? Quem deseja toda essa repressão para as mulheres? Homens machistas se sentem muito mal na presença de mulheres bem resolvidas sexualmente. É uma situação com a qual não estão habituados. Eles desejam mulheres frágeis, vulneráveis, sensíveis, inexperientes para que possam exercer sua dominação mais facilmente.
Mas os tempos são outros.
Vamos aprender a lidar com mulheres que sabem o que querem, dizem o que querem, tem controle sobre sua vida sexual e usam seus corpos e dos parceiros para o seu prazer.  

Eu não desejaria que ninguém casasse virgem, pelo contrário, torço para que o sexo seja cada vez menos tema tabu e seja encarado mais naturalmente. 
Sem "santas ou putas, apenas livres". 
(Frase retirada de cartaz da marcha das vadias, um grupo que luta por igualdade de direitos - tema para outro post).

O campeão voltou!

POR GABRIELA SCHIEWE

Não que eu me encaixe numa Mãe Dinah da vida, mas no meu texto passado tratei do assunto de o Felipão voltar a ser rei com a conquista da Copa das Confederações pela Seleção Brasileira.

Sejamos sinceros, a Seleção já vinha, desde o jogo contra a Inglaterra, começando a criar "corpo" e culminou com o jogo fantástico contra a Espanha, isso não podemos negar, o Brasil jogou muita bola no último domingo.

Felipão conseguiu impor, através de seus pupilos, uma tática de jogo que neutralizou o toque "tic-tac" da Espanha o que resultou na vitória maiúscula do Brasil.

Claro que não se pode descartar alguns fatores importantes, como o fato de todos os atletas da "Roja" estarem em fim de temporada, estarem visivelmente mais desgastados fisicamente que os brasileiros, assim como a partida que antecedeu a final diante da Itália ter sido uma maratona sob forte calor.

Ademais o Brasil possui uma energia extra, estar jogando em casa. Isso foi um fator preponderante.

Agora, não se pode, após esse placar de 3 x 0 achar que o Brasil agora já voltou a ser imbatível. O campeão voltou sim, mas está longe de ser o imbatível de tempos passados, até por que, desde a Copa da África a Seleção Brasileira vinha fracassando e jogando mal.

Espero que todos sejam conscientes do resultado alcançado mas com os pés bem fincados no chão, do contrário podemos ficar mais uma vez chupando dedo quando realmente queremos gritar, É Campeão!

E, no que diz respeito à Seleção Espanhola, da mesma forma, não foi por que sofreu esta derrota acachapante que deixou de ser o super campeão, o time a ser batido. Por mais que eu ache o jogo da Espanha "murrinha", inegável a sua eficiência e, tenho certeza, que num próximo encontro com o Brasil a coisa vai ser "russa".

Gente e só uma coisinha, torcer para a Seleção, ficar feliz com a sua vitória, em nada tem a ver que eu seja favorável ao Governo da Dilma Roussef que não me agrada em sua grande maioria.


A contradição existe, um diz que sim, outro diz que não, mas a verdade é que, de qualquer sorte, a notícia de uma possível exclusão da equipe junior de handebol masculino do mundial que será realizado agora em julho é só mais uma mostra de como os dirigentes do nossos esporte, albergados pelos Governos estaduais e federal são incompetentes e de que as coisas nunca funcionam como realmente deveriam.

Para onde vai tanto dinheiro que ouvimos que se investe????? Essa é a pergunta que, eternamente, não quer calar.

A IFH (Federação Internacional de Handebol) diz que pela dívida contraída pela CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) para a realização do Mundial de 2011, de R$ 7 milhões e que até a presente data a Confederação sequer apresentou uma proposta de pagamento, causaria a exclusão do Brasil das próximas competições oficiais até que pague o empréstimo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Piada de português: votar em quem não trabalha

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz algum tempo, ainda antes das eleições para a prefeitura de Joinville, escrevi dois textos aqui no Chuva Ácida a dizer que é um erro votar em quem nunca trabalhou. O raciocínio é simples: se o cara nunca pegou no batente, então nunca esteve sob pressão e na hora de decidir não vai ter a experiência exigível.
Lembro de ter deixado claro que não considero trabalho os empregos políticos, em instituições públicas, onde não há pressão. Não vou dizer os nomes dos caras a quem me referi na altura, porque são figuras conhecidas. Aliás, um dos textos teve alguma repercussão e cheguei mesmo a imaginar o risco de estar a ser injusto com um dos caras. Mas não.
É que eu tinha a experiência aqui deste lado do Atlântico, porque o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, de um partido de direita, nunca sentiu o bafo quente do mercado de trabalho a exigir que ele matasse um leão por dia. Eis a a piada de português: o primeiro emprego do cara foi justamente governar o País.
E hoje, depois de uma cagada atrás da outra, o governo português está à beira do abismo (levando o país atrás). A queda é uma questão de horas e quando o leitor ler este texto, talvez o governo já tenha caído. Depois de dois anos à frente dos destinos na nação, o homem vai deixar atrás de si uma sociedade empobrecida, de gente sem fé no futuro e com níveis de desemprego nunca atingidos na história da democracia.
Pedro Passos Coelho é hoje considerado o primeiro-ministro mais mal preparado que já chegou ao poder em Portugal. Por falta de preparação intelectual e da sua escassa experiência, foi na conversa dos neoliberais e hipotecou o futuro do País. Poderia ficar aqui a deambular sobre o tema, mas vou resumir o objetivo deste texto: não votem em quem nunca trabalhou. Porque vai dar merda.

O ouro, a sujeira e a mitologia

POR JORDI CASTAN


O ouro tem ganhado destaque e relevância desproporcional na outrora pacata Joinville. Inclusive motivando artigos de jornal. Com repetidas citações ao prezado metal tem aparecido também referências ao rei Midas. Personagem mitológico, ele reinou na Frigia, onde hoje se situa Anatólia. Recebeu do deus Dionísio o poder de converter em ouro tudo o que tocasse, como recompensa por ter hospedado a Sileno, seu pai, quando se perdeu no mato, depois de uma bebedeira. 

O rei passou a ser vítima do seu desejo e corria o risco de morrer de fome e de sede, pois tudo o que tocava se converteu em ouro, inclusive a comida e a bebida. Chegou ao ponto de converter a sua filha em ouro, quando ela carinhosamente o acariciou, desconsolada com o seu sofrimento. Seu desejo se converteu num pesadelo e pediu a Dionísio que lhe devolvesse a sua condição anterior. Abriu mão do seu poder para recuperar a sua filha e não morrer de inanição.

Enquanto a história de Midas é bem conhecida e divulgada, pouco ou quase nada tem se escrito sobre outro importante personagem da mitologia grega, Coprofilos, filho ilegítimo de Escatologos. Um semideus que tinha a capacidade de vicejar e prosperar nos ambientes mais imundos e sórdidos. Mesmo aparentado com outros semideuses e heróis do Olimpo, privilegiava a amizade dos príncipes, vizires e paxás que preferiam de refocilar alegremente no lodo imundo e na sujeira de todo tipo. O seu palácio era a Cloaca Máxima e eram famosas as festas e orgias que oferecia aos seus amigos e convidados. Entre seus poderes, o mais apreciado e que o fez famoso era a capacidade de sempre aparecer impecavelmente vestido, com sua túnica de linho branco com adereços dourados mesmo quando rodeado pela maior imundície.

Incompreensivelmente Coprofilos nunca recebeu o reconhecimento que merecia e só agora alguns estudiosos das mais prestigiosas universidades gregas começam a investigar com profundidade a figura deste semideus, pouco citado na mitologia, mas que conseguiu se manter eternamente limpo e com uma imagem impoluta, mesmo salpicada pela sujeira mais imunda. Há quem defenda que ele foi o antecessor de outro semideus moderno, conhecido como Teflon a quem nada de ruim adere e que é adorado e cultuado por boa parte dos políticos locais que lhe erigem altares e o adoram na intimidade.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Este Conselho da Cidade não me representa


POR CHARLES HENRIQUE VOOS

A gestão democrática de nossa cidade entrou em desgaste nos últimos anos, principalmente devido às influências do poder econômico local na produção e reprodução do espaço urbano. Empreiteiras, loteadores, incorporadoras, construtoras, imobiliárias e demais empresários estão atentos, como poucos em Joinville, às normas urbanísticas, pois são elas que ditam o que pode e o que não pode construir ao longo de toda a cidade. Elas também são as responsáveis por tornar áreas pouco valorizadas em áreas "nobres", ao mesmo passo que ratificam setores muito bem contemplados no abastado "mercado imobiliário". Pequenas alterações em suas redações podem custar milhões para os bolsos dos interessados. A visão pelo lucro é tão grande que, há anos, estes agentes sociais se organizam para tomar de assalto - seria um realinhamento conservador? - os espaços democráticos de discussão. As suas vontades precisam ser realizadas a qualquer custo.

O que aconteceu com o Conselho da Cidade foi prova disto. As brigas judiciais não adiantaram em nada. O CNPJ, mais uma vez, venceu. A ideia de gestão democrática da cidade, tão propagada pelo Estatuto das Cidades, foi esquecida em Joinville. A gestão Udo Dohler, através da Presidência do IPPUJ, ressalta, a todo momento, que o processo foi transparente e democrático. Bem, a partir do momento em que cidadãos são impedidos de votar e serem votados por não terem um CNPJ de uma entidade, garantindo suas respectivas representatividades, não é um jogo democrático. É um jogo de poucos. E se é um jogo de poucos, não é democrático. Redundante, mas é assim que acontece.

Dito isto, é notório que a principal pauta das entidades empresariais (grandes representantes do poder econômico local) sempre foi a nova Lei de Ordenamento Territorial (LOT), pois ela redige as novas regras do jogo. Já estamos "cansados" de falar disso aqui no Chuva Ácida. E, por coincidência, é a primeira pauta a ser analisada no novo Conselho da Cidade, por reuniões extraordinárias (sic!), com data, horário, e local para acontecerem. Tudo em prol do desenvolvimento de Joinville, como gostam de ressaltar alguns dirigentes destas entidades em entrevistas aos jornais desta cidade. Se é extraordinário, não deve ter agenda. Se tem agenda, é um assunto ordinário. Se é ordinário, é importante. Se o jogo não é democrático, o assunto não é do interesse da maioria. Se não é da maioria, não é para a cidade. Se não é para a cidade, é para quem? Talvez seja óbvia demais, mas esta pergunta é necessária.

Cinquenta e duas pessoas foram eleitas para discutir toda a política urbana local. Uma delas, foi eleita Presidente, nesse caso, o próprio Presidente do IPPUJ. Creio ser uma contradição em termos, pois o poder público jamais deveria tomar a frente de um Conselho, caso contrário, qual o objetivo da existência de um Conselho? Se o poder público, o mesmo que montou o jogo de poucos, é o que toma a frente das discussões, e ainda por cima coloca em pauta ordinária (travestida de extraordinária) o interesse de poucos (donos do capital), o Conselho da Cidade não representa a Cidade. Controverso, mas é isso que você talvez não enxergue nas reportagens de jornal.

Se não representa a cidade, não me representa. Se não me representa, tudo o que for feito nesta instância não é democrático. Se não é democrático, não é aberto. Se não é aberto, é porque alguma coisa precisa ser escondida. Pode parecer complexo, mas é assim que precisa parecer ser para o jogo de cartas marcadas acontecer. As primeiras jogadas já foram feitas, e nós, cidadãos que não sobrevivemos da especulação e nem de uma camarilha financiadora de nossos projetos pessoais, com certeza já saímos atrás no placar. Parece um jogo perdido, mas ele ainda não terminou.

sábado, 29 de junho de 2013

Saltos inacreditáveis são virais na internet

POR ET BARTHES
Acha que consegue saltar? Mas uma altura superior a dois metros. E com esta técnica pouco ortodoxa?


sexta-feira, 28 de junho de 2013

Das auto


Homenagem aos lutadores


POR FELIPE SILVEIRA

O momento é de análise, né? Fora as astrológicas, confusas e apressadas dos primeiros dias, pipocaram na internet, nos últimos dias, algumas mais densas. Eu, particularmente, recomendo a do meu mestre Samuel Lima (foi meu professor de Jornalismo no Bom Jesus/Ielusc antes de ir para a Universidade de Brasília - UnB), publicada no Observatório da Imprensa (aqui), e a da socióloga Marilena Chauí, que dispensa apresentações (aqui). Então, aproveitando o momento, vou fazer a minha também (leiam os deles depois de ler e comentar o meu, por favor).

Sem ser tão denso e um pouco mais personalista, quero antes destacar e parabenizar meus amigos do Movimento Passe Livre (MPL) e de esquerda em geral. Não exatamente por colocar cinco mil pessoas na rua para lutar pelo direito ao transporte coletivo. Quero parabenizar pela luta de quase dez anos aqui em Joinville. Pelas reuniões com apenas três pessoas. Por não terem “arregado” depois de ser preso e de perder emprego por causa da luta. Por terem sido expostos de maneira violenta na TV por apresentadores retardados. Por terem familiares perseguidos por capangas de vocês sabem quem.

Foram muitos os sacrifícios dessa galera e aqui citei só alguns exemplos. Porém, durante a semana pensei muito nisso. Queria encontrar os amigos para dizer isso, dizer que o sacrifício deles foi muito importante para o que está acontecendo e para o que vai acontecer. Quem ler isso aqui vai saber se é pra si ou não. Destaquei o papel desses caras no começo do texto porque também faz parte da análise.

Apesar de comemorar os resultados até aqui, essa luta está apenas começando. O tema passou a fazer parte da pauta, para a população e para o governo. E falta a mídia fazer a sua parte também. Acredito, no entanto, que o movimento em prol do direito de ir e vir e contra a exploração do transporte público sai muito fortalecido.

Não acredito que o movimento anti-corrupção e outros do tipo saiam da mesma forma dessa luta. Eles pegaram carona e vão descer no primeiro ponto. Até porque a corrupção não é algo que tenha exatamente uma solução. A pauta anti-corrupção, em si, não existe. Algumas medidas podem atenuar, mas o buraco é bem mais embaixo.

Já o movimento em prol do transporte verdadeiramente público, gratuito e de qualidade depende de ações e de coragem. E eu volto aqui a destacar a coragem de todos que estão nessa luta há anos, principalmente aqueles que fizeram e fazem grandes e pequenos sacrifícios por isso. Esse post é apenas uma homenagem pra vocês e um desejo de boa luta na que vem pela frente.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

PEC 37. Não há o que comemorar.

POR FABIANA A. VIEIRA

 Depois daquela cena toda que vi na noite de terça-feira no plenário da Câmara dos Deputados, tive uma certeza. O povo gosta mesmo é do espetáculo.

Sim, por mais que todas essas manifestações tragam um quê de indignação, fica claro que o povo estava só esperando uma amostra da competência dos nossos representantes. E eles responderam bravamente.

Mas a verdade é que essa pauta não será a salvação para o fim da corrupção. Aliás, o arquivamento da PEC 37 não vai fazer nem cócegas nesse assunto.

A sensação é que foi uma vitória acachapante contra a corrupção, mas a realidade é que tudo ficou como já estava. Ou seja, o poder de investigação criminal não é exclusivo da Polícia Federal, nem do Ministério Público. Aliás, o Ministério Público nunca teve essa prerrogativa. Para ter essa legitimidade terão que regulamentar isso ainda, através de um projeto de Lei Complementar (parece que já está tramitando no Congresso).

O Congresso, que de bobo não tem nada, precisava dar uma demonstração de que entendeu o recado das ruas e pegou uma das principais reivindicações para mostrar que está alinhado com o povo. E por que escolheram bem a PEC 37? Porque a PEC 37 poderia ser arquivada sem danos para ninguém.

Não mudou absolutamente nada, nem mudaria se fosse aprovada, pois certamente o MP não deixaria de investigar, como hoje já faz sem nenhuma determinação constituinte para isso. A Constituição assegura ao MP a possibilidade e o dever de acompanhar a investigação da polícia. Na prática as coisas são assim: a polícia investiga. o MP acusa, o advogado defende e o juíz ou juri julga.

Eu fico me perguntando porque o povo abraçou com tanta força essa causa. Na verdade tudo não passava de uma disputa entre delegados da Polícia Federal e promotores do Ministério Público. Daí veio um lobby gigantesco intitulado PEC da Impunidade. Aliás, quem foi o marketeiro gênio que pensou nisso? E mais ainda, quanto será que custou essa campanha da PEC da Impunidade? Camisetas, panfletos, parafernalhas. Quem pagou? Quem poderia investigar isso?

Mais do mesmo, fico com a sensação de que o povo finge que exerceu sua cidadania, o Congresso finge que trabalhou alinhado com a opinião pública, a imprensa finge que fez seu papel esclarecedor e o gigante finge que acordou!