POR DOUGLAS LANGER
É com facilidade que ouve-se falar de Joinville como uma cidade industrial.
Boa parte dos moradores da cidade dedica sua vida às empresas do ramo presentes na região.
Aos estudantes, aqueles futuros filósofos, sociólogos, etc, sinto informar que, infelizmente as universidades da região buscam oferecer cursos que saciem os desejos da indústria.
Tudo é uma grande dialética, as universidades de carácter particular (que têm em sua essência a busca pelo lucro, o que é inegável) oferecem cursos que lhe tragam capital. As grandes empresas por sua vez, necessitam de força de trabalho capacitada para seu melhor funcionamento.
Como resultado, está lá o cadáver das ciências humanas em Joinville.
A sua possível salvação, o ensino público, mais precisamente, a esplendorosa universidade federal, vem a galope montada em uma tartaruga (provavelmente manca).
A consequência é a cidade afundada em um abismo de descaracterização do operário, do próprio estudante, enfim do cidadão enquanto ser humano e o seu travestir de ferramenta descartável, de número, de estatística. Ainda neste abismo está o desinteresse pela cultura, pela ética, pela política, e afinal, por si próprio.
Seria digno de piada (e de inocência), o fato de esperar que alguma universidade privada decida implementar na sua grade de curso, esta pobre vítima da falta de reconhecimento, a filosofia.
Seria um grande salto, se por um devaneio de uma destas instituições de ensino superior, em meio a essas matérias exatas, algumas interesseiras, positivistas, oferecessem a filosofia, tímida, porém presente, amedrontadora, desafiadora, presunçosa, disponível aos cidadãos.
Aos que veem um horizonte melhor, uma realidade melhor, que se recusa a participar da eternização da realidade atual (ajudando aos que deveras gostariam da realidade pausada no agora ou no século XVIII).
Aos que se recusam a aceitar esse entretenimento como arte. Aos que estão inquietos pelas constantes questões levantadas explicitamente ou ocultamente em si, em seus atos, ao seu redor, em fim, em todas as coisas e lugares.
Enquanto o momento da volta da filosofia, sociologia, não chega, aconselho a seus filhos, os pensadores, a lutarem por elas, pela sua valorização, pela sua construção aqui, em Joinville, ou comodamente, calar-se e ouvir o ranger de dentes, frequentes já hoje.
Douglas Langer é estudante de filosofia por insistência, rebelde com causa e mais um desses madrugas (segundo o liberalismo e seus familiares).