terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Trabalhar dá muito trabalho





POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Gente, estes dias têm sido muito bons. É que estou de férias. No Brasil, claro. Têm sido dias de relax, cervejinha e muito papo com os amigos (um bando de vermelhinhos). Um tempo de dolce far niente e de manter o cérebro a vadiar. Discordo de quem diz que cabeça vazia é a oficina do diabo. Foi São Jerônimo quem avisou, por outras palavras.

-       Trabalha em algo, para que o diabo te encontre sempre ocupado.

Mas todos sabemos que o trabalho é aquela coisa chata que acontece no meio da diversão. Aliás, trabalho sempre foi coisa de pobre e em outros momentos da história foi visto como uma maldição, uma vergonha. É só lembrar que os nobres, antes da queda do feudalismo, tinham pavor a pegar no duro.

O trabalho é um interessante tema de estudo. E tem muitos analistas críticos, como Paul Lafargue, genro de Karl Marx (o velho barbudo, para quem a emancipação do homem viria justo pelo trabalho). Lafargue vê no trabalho – pelo menos nos moldes capitalistas – uma obsessão esquisita e contra a natureza do ser humano.

-       Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho.

Aliás, Lafargue relembra que o trabalho foi um castigo de Deus, com aquela coisa do “suor do teu rosto”. Não concorda? Pois fique a saber que há opiniões piores. E atuais. O Grupo Krisis, por exemplo, diz que o trabalho é um defunto que domina a sociedade.

-       A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na sequência da revolução microeletrônica, do uso de força de trabalho humano - numa escala que há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Ninguém poderá afirmar seriamente que este processo pode ser travado ou, até mesmo, invertido. A venda da mercadoria “força de trabalho” será no século XXI tão promissora quanto a venda de carruagens de correio no século XX.

Os homens do Krisis pegam pesado. E dizem também que “quanto mais fica claro que a sociedade do trabalho chegou a seu fim definitivo, tanto mais violentamente este fim é reprimido na consciência da opinião pública”. Ooops! O problema é que a coisa realmente vai piorar.

Tenho escrito – mas o tema passa batido para a maioria – que a Quarta Revolução Industrial (ou Segundo Renascimento) vai provocar mudanças profundas na vida de todos. A começar pela questão do trabalho e do emprego, que estão a ser postos em xeque, como mostra uma pesquisa recente: cinco milhões de empregos a menos (e o Brasil está incluído no estudo).

Os trabalhos rotineiros tendem ao desaparecimento, porque as máquinas poderão fazer – e já fazem – muitas dessas tarefas. Aliás, em muitos casos fazem até onde parece inesperado. Penso, por exemplo, no caso da escrita, seja no jornalismo ou na publicidade. Hoje há robôs que produzem textos, apesar de que em condições ainda insipientes. Ou seja, só os redatores que fizerem alguma diferença – pela criatividade, conhecimento ou capacidade de inovar – poderão preservar os seus lugares. O certo é que vai sobrar para muita gente.


É a dança da chuva.

5 comentários:

  1. Aproveita e fica por aqui. Goze do excelente momento pelo qual o Brasil atravessa, governando pelo petismo que você ajudou a eleger na eleição de 2014.

    Tem um outro petista, ator em uma novela, que esbraveja nas redes sociais e está satisfeitíssimo com os desmandos de Dilma Rousseff, mas que vai retornar à Paris quando finalizarem as gravações. Havana? Nem em sonho!

    Boa vida essa desses militantes petistas, né?

    Sobre o trabalho, já são mais de cinco milhões de postos fechados no Brasil, dificuldades em resgatar o FGTS que, além de ser uma poupança compulsória QUE PERTENCE AO TRABALHADOR virou moeda nas mãos inábeis do governo que agora oferece este recurso (cujo banco cobre apenas 3%/ano) como crédito ao próprio trabalhador com juros 3 ou 4 vezes maior num momento que ninguém quer se comprometer com empréstimos devido ao DESCRÉDITO TOTAL deste mesmo governo incompetente que você apoia.

    Sobre a quarta revolução industrial, não desdenhe o trabalho, pois “criatividade, conhecimento ou capacidade de inovar” não nascem em alguém sentado bebendo cerveja.

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  2. Sempre cutucando a onça com vara curta. Vir questionar o trabalho na Meca tupiniquim do trabalho, aonde cotas, programas sociais e o Estado são coisas do capêta! Ou melhor, dos vermelhinhos...

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  3. O Brasil do PT está evoluindo para a quarta revolução industrial.

    Indústrias? Para quê? Aliás o índice da indústria brasileira retrocedeu para o ano de 2003 com déficit de 8% apenas no último ano de governo bolivarianista da Dilma.

    O negócio é ganhar alguma bolsa assistencialista. De onde o governo vai tirar a bufunfa para financiar o indolente “criativo” em casa, ninguém sabe.

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