POR VALDETE DAUFEMBACK
A arte de escrever é uma responsabilidade desafiadora de se
expor e de se explicar aos leitores naqueles pontos discordantes, especialmente
quando o mundo celebra o espírito da ambivalência e da intolerância cada vez
mais expressiva. Todos têm algo a dizer, a opinar, mesmo que seja pela visão
alheia descolada de qualquer fundamento que legitime a sua verdade. Para
alguns, significa a consolidação da democracia, para outros, o princípio de uma
nova babilônia.
Esta disposição opinativa multifacetada em universo
polifônico tem seus reflexos nas instituições de ensino, as quais, para
acompanhar as tendências do mercado cultural buscam modelos de aprendizagem que
as tornem modernas, dinâmicas, mas sem perder o prestígio e a segurança de um
modelo pedagógico tradicional. As reformas têm a serventia de ousar um vôo para
alicerçar o futuro e, ao mesmo tempo, moderar a sua intensidade para assegurar
a credibilidade conquistada. Ou seja, é preciso manter ao mesmo tempo asas na
cabeça e chumbo nos pés para equilibrar as duas extremidades e manter sob
controle a ousadia das vorazes tendências e a rigidez do conservadorismo. Assim
ficam a salvo o processo de ensino e suas instituições.
Mas o que caracteriza o ensino? Certamente você já deve de
ter ouvido em palestra motivacional que o ensino é um negócio complexo que
envolve, de um lado, uma empresa com objetivo de vender uma mercadoria
(certificado) e, do outro, clientes que desejam comprar a mercadoria. E no meio
tem um sujeito (o professor) que dificulta essa transação comercial.
Afora esta brincadeira que tenta sutilmente mostrar a
relação do ensino com a lógica do mercado, as instituições, privadas ou
públicas, têm se preocupado continuamente em reformar os modelos de ensino e
seus métodos pedagógicos para acompanhar tendências e modos de vida que, em última
análise, se configuraram como produtos do mercado. Estas reformas são
estratégias para mudar um processo em curso que se esgota em sua própria lógica.
E para não parecer fracasso do sistema se propõe mudanças com novas
nomenclaturas às antigas práticas.
De Pombal a Passarinho, como destaca Lauro de Oliveira Lima (1974)
ao escrever sobre a educação no Brasil, o ensino superior foi “marcado por
concessões e reformulação pouco significativas para atender as populações de
forma geral. O privilégio em geral era para aqueles que já detinham algum ou
certo poder aquisitivo”. Mas o histórico das universidades dificilmente serve
de base para mostrar a validade de programas que estendem vagas a estudantes de
baixa renda e que historicamente foram excluídos da possibilidade de entrarem
no universo acadêmico. Aqueles que detêm o poder econômico continuam a defender
a meritocracia (leia-se a reprodução do poder simbólico), por isso demonizam a
democratização do ensino.
No entanto, a universidade, como uma instituição social e
autônoma, mediante a reestruturação do capital na fase da acumulação flexível
ficou vulnerável à introdução de critérios administrativos e pedagógicos
utilizados por empresas de produção fabril e passou a avaliar a sua gestão por
índice de produtividade. Além do mais, empresas de capital financeiro também
entraram no ramo de ensino (presencial ou à distância) com uma parcela de seus
investimentos para dar “visibilidade ética” aos negócios. Esta estratégia
acelerou a concorrência entre as instituições e projetou a necessidade de
apresentar um diferencial para se manter no mercado.
Diante da concorrência, qual instituição consegue obter
melhores resultados no mercado de ensino? Aquela que tem a melhor proposta
pedagógica? Aquela que tem o melhor marketing? Aquela que tem o preço da
mensalidade mais acessível?
De acordo com Meszáros (2008), não será possível pensar uma
mudança substancial no sistema educacional dentro da lógica de mercado que
reproduz a assimetria social. Neste universo, todas as inovações pedagógicas,
por mais criteriosas que sejam, fazem parte das estratégias de mercado para
legitimar a personificação do capital e a reprodução do poder. E para
acompanhar as tendências neste mundo ambivalente, até mesmo inovações
pedagógicas são criadas por empresas privadas, as quais têm como compromisso de
alcance imediato o lucro e por isso vendem seus pacotes recheados de nuances
técnicas a serem esgotadas até a próxima invenção tecnológica.
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ResponderExcluirO exame de um possível alvo de uma fusão, aquisição, privatização u operação similar de finanças corporativas exige a manutenção de altos níveis de segurança para proteger documentos confidenciais e evitar possíveis atos de fraude. A fim de realizar tais operações com segurança a melhor solução será usar um Data Room Virtual
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