POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um é marxista e tende para o marxismo. O outro
também é marxista, mas pende para a anarquia (não confundir com anarquismo).
Viveram em tempos diferentes e já foram desta para... para lugar incerto. Um
era ateu e não acreditava nesse papo de vida após a morte. O outro não levava
essa coisa de morrer muito a sério. Mas vamos ficcionar* um encontro entre dois
dos maiores marxistas da humanidade: Karl Marx e Groucho Marx, numa mesa de
bar.
Karl Marx – Senta aí,
Groucho. Queres beber alguma coisa? Comer um bife? Ou és vegetariano?
Groucho Marx – Não sou
vegetariano, mas como animais que são. E aviso que não pago. Pagar a conta é um
costume absurdo.
Karl – Sempre o
dinheiro. A propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e limitados que um
objeto só é nosso quando o possuímos.
Groucho – Vê-se que
morreste pobre. Sabes que o segredo do sucesso é a
honestidade. Se conseguires evitá-la, não tem erro...
Karl – O
dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem.
Groucho – Tens
razão. Há muitas coisas na vida mais importantes que o dinheiro. Mas custam
tanto.
Karl – O dinheiro não é tudo. E, cá para nós, o
declínio da sociedade burguesa é inevitável. Por que não te juntas aos
comunistas?
Groucho –Não entro para clubes que me aceitam como sócio.
Karl – Sabes
que o capitalismo gera o seu próprio coveiro.
Groucho – Não fales
em coveiros. Eu pretendo viver para sempre... ou morrer tentando.
Karl – Tenta
entender. O comunismo não é para nós um estado que deve ser
estabelecido, um ideal para o qual a realidade terá de se dirigir...
Groucho – Ora,
estes são os meus princípios. Mas se não gostas deles, eu tenho outros.
Karl – A
revolução é o motor da história. Podes crer...
Groucho – Ok... todo mundo precisa crer em algo. Portanto,
creio que vou tomar uma cerveja.
Karl – Tens uma
falta de fé muito sólida. Mas lembra: tudo o que é sólido desmancha no ar.
Groucho – Então
vamos beber a tal cervejinha, que é líquida. E fazer um brinde às nossas
esposas e namoradas: que elas nunca se encontrem.
Karl – O meu
casamento com a Jenny sempre esteve acima dessas coisas.
Groucho – O
casamento é uma bela instituição. Naturalmente, se você gostar de viver numa
instituição. Aliás, eu fui casado por um juiz... devia ter pedido por um júri.
Karl – É isso.
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua
escolha...
Groucho – Ahã. Karl, tu andavas na política, vivias sempre
fora de casa, no exílio e até na cadeia... e tiveste seis filhos? Ah... e
tiveste tempo para engravidar a empregada? Se trabalhasses em casa...
Karl – Ei, eu nego essa coisa da empregada.
Groucho –Também
corri atrás de uma garota por dois anos, apenas para descobrir que os gostos
dela eram exatamente como os meus: nós dois éramos loucos por garotas. Eu sou
solidário, Karl.
Karl – É... o
caminho do inferno está pavimentado de boas intenções.
Groucho – Boas
intenções? Tu não assumiste a criança. O Engels é que perfilhou o moleque.
Aliás, esse sim é um amigão...
Karl – É um companheiro de luta. Os filósofos
limitam-se a interpretar o mundo de diversas maneiras, mas o que importa é
modificá-lo. Engels percebeu isso. E fez muito por mim.
Groucho – Mas é como eu sempre digo: ninguém é completamente infeliz diante do fracasso do seu melhor amigo.
Karl – Olhaê... vou nessa. Prazer em conhecer, Groucho.
Groucho – Prazer? Ora… conheço Groucho há anos e não tive
prazer nenhum nisso.
Um Marx é pouco.
Dois é bom. Três é um trio.
Parei no "marxistas".
ResponderExcluirE eu parei no "Parei"....
ExcluirQue pena. Perdi um leitor...
ResponderExcluirPerdeu nada, amanhã estará por aqui de novo..aos poucos será possuído pela poder da foice e do martelo.
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