segunda-feira, 16 de junho de 2014

O risco e a incerteza

POR JORDI CASTAN


Vez por outra os posts deste espaço têm como tema a administração pública, a sua forma de funcionar ou de não fazê-lo com a eficiência que, como contribuintes e cidadãos, gostaríamos.

Boa parte das críticas se dirigem à figura do prefeito. Ter focado a sua campanha eleitoral na imagem de gestor e num suposto conhecimento dos problemas da saúde faz com que as cobranças e criticas sejam mais veementes agora. É parte do preço a pagar por haver criado expectativas maiores que as que poderia atender. Para complicar um pouco mais as coisas para o seu  lado, o prefeito repetiu como um mantra durante toda a campanha e mesmo depois de eleito que o problema não era falta de dinheiro e sim falta de gestão. Há dezenas de vídeos por aí que provam o como é perigoso falar sem conhecimento do que não se sabe em profundidade.

A pergunta que muitos nos fazemos, e que gostaria de compartir com os leitores é: por que a qualidade das decisões do poder publico é tão ruim? Não há um único tema que nos permita dizer ter sido bem conduzido do início ao fim. O joinvilense já sabe que as obras não serão entregues no prazo, que o orçamento vai estourar, que a qualidade final não será a melhor, que o processo será judicializado, que as ruas estão ficando às escuras, que a pintura das faixas de pedestres não dura um ano escolar, que faltou prever isso ou aquilo. E, o que é pior, que não só ninguém será punido ou responsabilizado, nem tampouco nenhuma autoridade assumirá um pedido publico de desculpas pela sua incompetência. Como se a incompetência fosse algo inerente à coisa pública e fosse “normal” ou aceitável que seja assim.

Me ocorre que parte do problema se centra no processo de tomada de decisão dos gestores públicos. Há uma diferença sensível entre correr riscos e não ter certeza. Qualquer pessoa toma decisões constantemente. Executivos e autoridades em cargos de primeiro escalão são chamados a tomar um maior número de decisões da maior responsabilidade e, por isso, suas decisões têm uma maior relevância e seus erros ficam mais em evidência.

Podemos dividir o processo de tomada de decisão em três categorias:

- Sabemos os resultados da nossa ação – Este é o caso mais fácil. Se aperto o botão do elevador o elevador se movimentará. Se coloco a chave certa na fechadura correta a porta se abrirá.

- Não sabemos os resultados, porém conhecemos as probabilidades - Neste caso o risco está presente. Se for jogar a um cassino, antes mesmo de colocar um pé nele ou de sentar na mesa de jogo sabemos que há possibilidades de ganhar ou de perder. Portanto ninguém se surpreenderá com o resultado.

- Não sabemos nem o resultado, nem as probabilidades – Isso é incerteza e a incerteza nos faz ignorantes, porque não sabemos o que pode acontecer.

Tanto na vida cotidiana como no poder público,  como é a nossa administração municipal - e neste momento me atrevo a dizer que no caso que nos ocupa -, os tomadores de decisão não podem deixar o prefeito sozinho com esse abacaxi. Acreditam que estão tomando as suas decisões baseados na segunda hipótese, quando os resultados mostram que estão decidindo pela terceira.

É justamente a ignorância que faz que as decisões tomadas acreditando que se conhecem todas as probabilidades ou alternativas, sejam na realidade um salto no escuro e os resultados sejam completamente imprevisíveis.

Um bom indicador de quanto há de ignorância na tomada de decisão é olhar um pouco atrás, ler alguns jornais velhos e ver com que frequência o que aconteceu é completamente diferente do que tinha sido previsto. Mantendo o foco na gestão sambaquiana, vamos pôr o foco em alguns casos: 

Os recursos transferidos ao CDL para organizar o Natal Luz e que hoje estão pendentes de um processo no TCE (Tribunal de Contas do Estado);

O caso do Crematório em que alguém acreditou que poderia descumprir a lei autorizando um empreendimento sem seguir todos os passos do processo legal (hoje o crematório continua sem poder funcionar); 

Os parques da cidade são casos anedóticos, nunca se concluem no prazo e dentro do custo.

Continuamos? Não há melhor exemplo que o da LOT. Quantas vezes o poder público tem obviado as diferentes alternativas possíveis e insistido em buscar atalhos que tem se convertido numa sequência interminável de quebra-cabeças. A licitação do estacionamento rotativo ou a manutenção da iluminação pública, ou....ou... é só ir acrescentando.



Vivemos em uma sociedade preparada para a segunda hipótese, a do risco, pois correr riscos calculados  faz parte do dia a dia de qualquer administrador que toma suas decisões baseado nas probabilidades. Mas vivemos uma realidade muito mais próxima da terceira hipótese a de que ignoramos e mesmo assim decidimos correr riscos, o resultado esta aí à vista de todos.

3 comentários:

  1. Caro Jordi, lamentavelmente o diagnóstico parece acertado.
    Sofremos de uma poliesculhambóse administrativa. Ninguém fala com ninguém. Ninguém ouve ninguém. As audiências públicas são um exemplo de autismo. Palavras jogadas ao vento. Falta-nos a prática do debate. Ainda não sabemos fazer um debate, onde um fala, querendo transmitir uma ideia e outro ouve, fazendo um mínimo esforço para captar a mensagem transmitida. É a pobreza do diálogo preto e branco - se não é branco, é oposição ... e vice versa. O dialogo deveria ser multicolorido, onde as conclusões seriam decorrentes da miscigenação de opiniões e pontos de vista. Cresceríamos com nossas diferenças ... mas isso ainda é utópico.
    Aqui no chão lamento constatar que a gestão pública, nos seus três níveis e nos três poderes ainda usa da arrogância e da prepotência nas tomadas de decisão. Quem pretende aplicar ferramentas de gestão privada no setor público está fadado a um retumbante fracasso. A gestão tem que estar na rua. Tem que perguntar à rua, tem que ouvir a rua e TEM que responder à rua. A autoridade máxima é o CIDADÃO, e é para este que a gestão deve SERVIR.
    O bom e qualificado quadro de funcionários concursados é bloqueado por chefias despreparadas e incapazes de peitar um superior para defender uma ideia ou conceito, filtrando informações negativas e emperrando a máquina pública.
    Se os serviços prestados são de dar vergonha, a culpa é do bonitinho que vistoria, aceita, assina dando como concluído e autoriza o pagamento – e o que parece é que este infeliz tem irmãos trabalhando em todos os setores da administração pública. O critério parece ser “pra quem é, tá bão”. Esse descremunhento, independente da vontade e ou orientação do gestor, deveria responder pela qualidade dos serviços entregues ao erário sob pena de se lhe retirarem as calças e submetê-lo ao açoite – (eu sei, eu sei. A justiça não deixa).
    Não comendo fatos de descaminho e de corrupção, porque a estes a demissão deveria ser sumária.
    E finalmente, a malfadada LOT. Vou escrever que é para deixar registrado. Recomendo, inclusive, mostrar ao Ministério Público. Muito tem sido cobrado de falta de participação da sociedade na elaboração da LOT. Muita crítica, mas nenhuma apresentação de solução (exequível, pois na teoria tudo é lindo e na prática o buraco é mais embaixo).
    Não estou defendendo um lado nem o outro. Receio que nenhum player tem noção de como promover um real e democrático destino à nossa lei de ordenamento.
    Eu duvido – DUVIDO e desafio qualquer um, inclusive o MP, a apresentar um formato de apresentação e debate que leve conhecimento à população em suas implicações locais e pontuais de forma a definir a melhor regulamentação da LOT.
    Seis meses de debate e creio que umas 20 pessoas entendem o que preconiza a LOT. 100 páginas de artigos, mapas e planilhas e agora mais 90 paginas das considerações de cada uma das 4 câmaras - e para finalizar esse trabalho é de um grupo CONSULTIVO, ou seja, no final a carroça pode tomar um caminho completamente diferente.

    Não vou entrar no mérito da questão da representatividade do Conselho da Cidade, pois é o que esta aí, e até agora ninguém apresentou por escrito algo melhor dentro do que limita a LEI.
    No que vai dar isso? Não faço a menor ideia.
    Porém, num esforço de transformar o limão em limonada, creio que a politização da cidade ganhou. A gestão, presente e futuras, estão cientes de que existem cidadãos de olho. Mesmo que ainda não tenhamos conseguido um formato ideal, o debate, ou melhor, as contestações e defesas de opiniões tem se intensificado. Os futuros gestores que se preparem para uma co-gestão. Nosso conceito de administração pública tem que mudar. O cidadão tem que ser conclamado e estimulado a participar e a se manifestar. As tomadas de decisão tem que ser debatidas e assumidas em vitórias ou em fracassos pela parceria entre o cidadão e a máquina pública.

    ResponderExcluir
  2. Continuando ....

    Temos que fortalecer o debate.
    Temos que fortalecer a participação
    Temos que fortalecer as instituições (independente dos gestores temporários)
    E finalmente ...
    Temos que renovar nossos políticos e a forma como entendem a coletividade.

    Abraços
    sergio

    ResponderExcluir
  3. Eu arrisco dizer que os riscos de se fazer as coisas erradas repetidamente tem na sua origem o total sentimento de impunidade.
    Moramos num País que existe sob um pacto federativo, em que a União, Estados e Municipios teóricamente deveriam estar sujeitos à fiscalização de políticos, tribunais de contas, conselhos profissionais, etc. Isto deveria ser exercido muito antes até da opinião pública. Mas o que acontece? Todos lavam as mãos e os prejuízos são socializados, e os lucros privatizados.
    Vamos a um exemplo prático: uma área pública é escolhida para implantar uma praça ou parque (que aqui insistem em dizer ser a mesma coisa, por isto vou misturar). O setor técnico da PMJ escolhe a área, prevê a sua viabilidade e possíveis restrições, faz o projeto que deveria se guiar por preceitos técnicos e legais, manda para licitação, que escolhe o melhor valor dentro de critérios estabelecidos. E o que ocorre na prática? Muitas vezes o projeto fica uma merda, falta drenagem, muita impermeabilização, acessórios mal planejados, não era o que a comunidade precisava e queria, há problemas de previsão de gastos, a licitação é dirigida, superfaturamentos, etc, etc. E quem deveria fiscalizar tudo isto? A nossa nobre Câmara de Vereadores, que salvo exceções, é forma por semi-analfabetos totalmente inertes e unicamente interessados em se reeleger e colocar dezenas de amigos e apoiadores nos cargos da Prefeitura e Câmara.
    O que acontece para os técnicos que estão por lá só fazendo bico (com raras exceções), pois saem as 14:00 e aí vão trabalhar de verdade em seus escritórios munidos de informações privilegiadas? NADA!
    O que acontece com os detentores de cargos, que chefiam os técnicos e seriam os responsáveis diretos deles? NADA!
    O que acontece com o prefeito que manda em todo mundo? NADA!
    O que acontece com os vereadores que deveriam fiscalizar toda esta corrente sem fim? NADA!

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem