segunda-feira, 9 de junho de 2014

A escolinha do Professor RaimUdo

POR JORDI CASTAN

As reuniões matutinas do secretariado municipal foram um dos temas que tomaram a maioria das rodas num recente encontro gastronômico-social. É o tipo de encontro em que a comida é preparada para que seja possível utilizar só o garfo, porque as facas estão todas enfiadas nas costas dos próprios convidados. São eventos promovidos por jornalistas, colunistas sociais e outros transvestidos em profissionais da imprensa com feijoadas, costeladas ou carreteiros. O objetivo encoberto é fazer uns trocados e ter acesso em primeira mão a comentários e boatos lubrificados com cerveja e destilados. 

Um dos vários secretários municipais presentes discorreu sobre o formato e a efetividade das reuniões do colegiado, que em geral se realizam bem cedo pela manhã. O formato lembraria, se for verdadeira a versão apresentada pelo secretário, o de programas de humor que repetem a mesma fórmula: no Brasil um dos mais conhecidos levou o nome de “Escolinha do Professor Raimundo” e era capitaneado pelo saudoso Chico Anysio. Houve outros programas que repetiram o modelo, como a Escola do Golias, mas o formato era em tudo semelhante e conseguia com facilidade o seu objetivo de fazer rir com facilidade, estereotipando alunos e professores, sem outra pretensão que a de provocar o riso.

A reunião começa de madrugada, com a chamada dos presentes. Aqueles que faltem ou cheguem tarde devem justificar e podem receber uma chamada de atenção. É boato que alguns secretários municipais tenham apresentado bilhete assinado pelos pais, para justificar o seu atraso, isso no passa de pura invencionice da oposição. Depois de feita a chamada e anotados com caligrafia esmerada os nomes dos faltosos, que correm o risco de ficar sem sobremesa, a reunião da início com a leitura detalhada da ata da reunião anterior. Uma leitura feita pelo próprio alcaide, que, com entonação monótona, relata tudo o que foi decidido e determinado na reunião anterior. A leitura pode levar mais de uma hora, passada a qual cada secretario tem direito a dois minutos. Os responsáveis pelas pastas estratégicas chegam a dispor de três minutos para relatar o que fizeram ou justificar o que deixaram de fazer. Transcorridas quase duas horas a reunião é encerrada.

A administração baseada no modelo de cobranças é típica de um chefe autocrático, aquele que fala todo o tempo, conhece os problemas melhor que ninguém e aponta soluções, sem chegar a analisar com profundidade o problema e suas causas, assim não há necessidade de ouvir a sua equipe, que escuta em silêncio a espera das diretrizes que emanarão do próprio prefeito. A gestão moderna, seja ela pública ou privada, exige um perfil de liderança diferente. Hoje é a vez dos líderes, aqueles que são capazes de motivar pessoas comuns a obter resultados surpreendentes. Liderar equipes exige um perfil diferente, não só há que escutar, pois é preciso saber ouvir e aceitar que o chefe pode não ter sempre toda a razão. Para quem foi forjado no modelo autocrático do século 19  é tarefa difícil entender a complexidade da liderança do século 21 e os novos desafios da gestão pública, numa cidade com mais de 500.000 habitantes.



O resultado das reuniões, que deveriam servir para ser o celeiro de novas ideias e alternativas que permitam resolver os graves problemas que o município enfrenta, são  longos solilóquios que ninguém mais escuta, eternos monólogos repetitivos e cansativos que mais parecem mantras para invocar o milagre da ação inexistente.

4 comentários:

  1. O estilo do gestor não me interessa como "acionista" do município. O que me interessa é o resultado. Se este está sendo entregue ou não, é outra conversa.

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  2. Tem gente que se submeteu a esse estilo de gestão durante anos quando foi diretor da ACIJ. A mesma instituição onde o atual prefeito foi presidente. Na época não abria a boca para dizer nada, pois o bolso estava cheio de dimdim. Hoje vem a público com essa lorota toda. Quer enganar quem heim? Faz favor! Martin Ubner

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    1. Martin,
      Fico com pena quando vejo alguem como você, falando do que não sabe.

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    2. Martin, usando argumentum ad hominem. Impressionante. Deve ter pensado muito, mesmo.

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