sábado, 23 de março de 2013

Viagem de Dilma: o que a imprensa não me disse

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Confesso que, n0 início, o assunto da grana gasta pela presidente Dilma Roussef na viagem à Europa não me interessou. Afinal, é um tema recorrente que vez por outra surge por aí pelo mundo (até aqui mesmo neste pequenino Portugal). Mas quando vi, nas redes sociais, o pessoal ligado ao partido do poder pedindo desculpas pelo ocorrido fiquei curioso.

Aliás, o que me fez escrever sobre o assunto foi uma notinha do Guilherme Gassenferth, ex-integrante do blog, no Facebook. Ele reproduzia a charge (ali abaixo) com o seguinte comentário: “Que patada certeira no PT/governo federal a charge do Iotti em ANotícia hoje, não? É indefensável, infelizmente”. E os comentários que se seguiam eram todos a desancar a presidente.




Mas se todos - opositores e defensores do partido da presidente - estão em acordo é motivo para olhar a questão mais de perto.  Afinal, quando todos estão a pensar igual, é porque ninguém está a pensar. E aí baixou o bicho jornalista em mim. Fui dar uma pesquisada e, depois de muito ler, fiquei com muito mais perguntas que respostas.

Se eu ainda trabalhasse numa redação de jornal, tentaria esclarecer algumas questões. Mas não lembro de ter lido, na grande imprensa brasileira, alguém a fazer as perguntas óbvias que mesmo um jornalista inexperiente teria a obrigação de fazer:
Pergunta 1. Quantas pessoas são precisas numa viagem presidencial?
Pergunta 2. Qual é a estrutura necessária para um governo em viagem poder governar?
Pergunta 3. Qual é o custo diário médio diário de uma viagem presidencial?

Procurei, procurei, procurei. Mas na imprensa brasileira, ao não ser que a coisa me tenha escapado, parece que ninguém perguntou e ninguém respondeu. Só parece importar a indignação do populacho e dos desafetos do partido no poder. Eu entendo que o tema desperte paixões nas mentes mais simples, mas a imprensa tem que manter o rigor.

Tudo isso fez lembrar um caso parecido, que aconteceu nos States faz uns meses. A chazista Michelle Bachmann (queria saber que chá ela bebe) foi à televisão dizer que uma viagem do presidente Obama à Índia iria custar US$ 200 milhões por dia aos cofres públicos. Foi um berreiro. O pessoal afeito ao Tea Party tentou estimular uma onda de indignação. Mas logo as pessoas perceberam que a informação era falsa e a coisa parou.

Mas como estava no tema, aproveitei para ver se os jornalistas norte-americanos tinham feito a lição de casa. E não é que fizeram? Fiquei a saber que uma viagem de um presidente dos Estados Unidos a outro país custa a bagatela US$ 10 milhões por dia. A explicação, dada há alguns anos por um porta-voz de George W. Bush, pareceu-me convincente: “é preciso recriar uma mini Casa Branca”.

Então pergunto: qual seria o valor aceitável para uma viagem de Dilma Roussef? Não sei. Mas a grande imprensa parece não gostar de fazer as perguntas certas e não ajuda a esclarecer. Pelo contrário, prefere estimular o irracionalismo de uma indignação balofa, desinformada e com rancores de classe.

Ou é desatenção minha ou acho que as perguntas ainda não foram respondidas. Aliás, se o leitor e a leitora chegaram até aqui na leitura deste texto vão perceber que não fiz qualquer julgamento de valor. Até porque acho a visita ao papa uma tremenda parolice. Mas acho interessante refletir sobre o papel da imprensa, que prefere o "auê" à informação.

P.S.  E antes que apareça alguém a dizer que estou a fazer a defesa de Dilma (coisa que não estou) explico que já no tempo de FHC achava essa discussão uma babaquice. Os presidentes dos países têm que poder viajar com a dignidade que o cargo exige. Ou querem que a presidente vá dormir no Ibis Budget?

26 comentários:

  1. Não deixa de ter uma certa razão Baço. Dignidade do cargo tem seu custo, com certeza. E também faltam números mais claros.

    Mas que a charge reproduzida no fb pelo Guilherme está perfeita, isso está...rssss

    Mais uma vez está provado o velho ditado (ou deitado como voce costuma usar): Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.

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    1. Não sei se a charge está perfeita, Nelson. Eu poderia argumentar que ela reproduz uma certa patologia de classe. Se você é de esquerda tem que ser franciscano, pobrezinho. Quando o FHC viajava a comitiva era sempre grande, mas o barulho era pequeno. Afinal, FHC representa as elites, é um aristocrata da sociologia e fica bem num ambiente europeu. Já a ratatuia do PT fica fora de lugar: essa gente tem mais é que ficar no chão da fábrica a vida toda. E agora já podem ir à Europa. Afinal, como disse a Danusa Leão, hoje em dia ir a Paris é uma chatice, porque até o porteiro do prédio dela já consegue ir.O fato é que eu me considero de esquerda e sempre gostei das coisas boas da vida (apesar da relatividade do que podemos considerar "coisas boas").

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    2. Ser de esquerda não deveria excluir as coisas boas da vida, concordo plenamente contigo. Mas a patologia de classe a qual voce se refere, foi autoinoculada pela própria esquerda, que sempre adotou e usou essa imagem icônica do maltrapilho de pés descalços. Até porque ficaria muito dificil convencer a militância usando paletó, gravata e colarinho branco que representa a antítese de tudo o que a esquerda prega, ou pregava.
      O problema é se desfazer dessa imagem, sem parecer incoerente. Fica difícil. E quando ocorre, dá margem ao bom humor representado pela charge em questão. Nesse contexto, ela está muito bem feita.
      Quato à Danusa, puxa, foi realmente uma frase muito, mas muito infeliz mesmo. Sei lá, me pareceu uma daquelas besteiras que a gente faz algumas vezes durante a vida, em dias aziagos. Lembra o Maluf com seu "estupra, mas não mata" ou a Marta Suplicy (taí uma representante da esquerda que não usa camiseta e chinelo de dedo) com seu "relaxa e goza". Acontece.
      E penso que Danusa já está pagando um alto preço pela bobagem. Mas continuo admirando-a.

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  2. Tudo para defender é claro, faz parte, afinal esquerda é esquerda na alegria e na tristeza... Mas que é nojento, ah isto é!

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    1. Ah... essa esquerda só serve mesmo para atrapalhar. Tem sido assim ao longo da história...

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  3. Não adianta os comentários reaças. hoje reporto palavra do Jornalista Global "247 - Dilma está nas alturas e, no quadro atual, seria reeleita com extrema facilidade. Por isso mesmo, estaria em fase crescente e a oposição, minguante, segundo o jornalista e escritor Zuenir Ventura. e não foram 52 quartos foram 25 .....http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/96990/Zuenir-v%C3%AA-Dilma-crescente-e-oposi%C3%A7%C3%A3o-minguante.htm?acid=466337&ls-acm0=10

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    1. O que esse link tem a ver com o comentário?

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    2. o Link tudo a ver ... falacia da comitiva eu me antecipei em responde ao você anonimo

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  4. Agora também fiquei curioso, se estava o próprio "pessoal ligado ao partido do poder pedindo desculpas pelo ocorrido", como então defender o ocorrido?

    Você, Baço, que é metido a jornalista, pesquise um pouco mais e explique às "mentes mais simples", pois, como pode ler no link abaixo, nem A presidentA respondeu sobre o "número de integrantes da comitiva e o critério usado para selecionar os convidados".

    http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1249425-chanceler-diz-que-dilma-ficou-em-hotel-por-falta-de-embaixador.shtml

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    1. Putz, Anônimo. Fui apanhado. É nisto que dá ser apenas "metido" a jornalista. Sabes que nunca me passou pela cabeça ir ao site da Folha. Ainda bem que estás aqui para impedir que eu pague esse mico. Vou correndo ler.

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    2. usar a Folha como argumento a essa latura do campeonato - ou é pura falta de conhecimento ou má fé mesmo - e das bem descaradas rssrsrsr

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    3. Eu li isso no link que o anônimo mandou: "O chanceler não explicou o motivo pelo qual a falta de embaixador impede a presença da presidente na embaixada." Mas não li a resposta às três perguntas. Quantas pessoas são precisas numa viagem presidencial? Qual é a estrutura necessária para um governo em viagem poder governar? Qual é o custo diário médio diário de uma viagem presidencial?
      Embora formada há 10 anos em jornalismo, acho que sou metido a jornalista também..... colega do baço

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  5. Baço, confesso que caí nessa arapuca. Realmente, informação mesmo não se tem. Não simpatizo com a viagem, mas quanto custa viajar junto com o cargo de presidente, isso ninguém quer explicar, e pior, ninguém quer sequer perguntar. O pior é que uma posição ponderada, a despeito das simpatias e antipatias de cada um, tem de ser sempre submetida a extremismo, para satisfazer os instintos mais primitivos do nosso leitor médio. Ó sina.

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    1. O problema é que a sociedade propõe a mediania. Ninguém a pensar acima dos padrões. E sair do plano mediano parece ser uma espécie de crime. É o que temos, infelizmente.

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  6. Bom, Zé, acho que quem tem um um mínimo de bom senso não está a exigir que Dilma e comitiva se hospedem no Ibis, mas sim a coerência entre a utilidade de uma viagem ao Vaticano para assistir a "investidura" do novo papa e a quantidade de dinheiro público investido nela.

    Eu fui um dos que comentou o 'post' do Guilherme. E mencionei, como um exemplo que está praticamente no extremo oposto ao da nossa presidenta, o do Mujica, presidente do Uruguai, que nem foi pessoalmente ao Vaticano, sob a justificativa de é ateu e em seu país Estado e igreja são instituições separadas. Mandou o vice, que é católico, acompanhado, até onde sei, de uma comitiva enxutíssima.

    Você pode dizer que o exemplo não é feliz, porque o Uruguai é um país pequeno e menos significativo que o Brasil. Pode ser. Mas ai eu proponho acrescentar, aquele rol de perguntas que você formulou, outras duas: qual o tamanho das comitivas dos outros tantos países que se fizeram representar no Vaticano? E quanto dinheiro eles gastaram para que seus chefes de Estado beijassem a mão do papa?

    Saber a resposta a estas duas perguntas me parece também um bom parâmetro para julgarmos se é decente ou não a extensão dos gastos da comitiva brasileira.

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    1. Clóvis, assim até fica a parecer que eu estou a defender a viagem. Mas eu escrevi que considero uma parolice. E se queres acrescentar novas perguntas, eis mais uma: "por que ninguém questionou a viagem antes de ela ser realizada?" Ela não foi anunciada com antecedência?
      Tu sabes, como eu, que esse barulho todo tem uma raiz: ficou a ideia de que houve uma festança lá em Roma, o que torna a viagem uma causa fácil para os "indignados". Há pessoas que alimentam a própria moralidade dessa indignação. O que, aliás, é sempre útil para uma oposição de olho em futuras eleições.
      Eu entendo, respeito e concordo com a lógica do Mujica. Mas se eu fosse um assessor da Dilma, mesmo sendo pessoalmente contra, recomendaria que ela fizesse essa viagem (com o recato necessário). Ao longo das últimas décadas, o cristianismo e catolicismo se tornaram uma coisa do hemisfério sul.
      Resumindo: é um tema para os moralistas, que preferem fait-divers à informação.

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    2. Você tocou em um ponto central, Zé: "com o recato necessário". Embora particularmente ache um desperdício de tempo e dinheiro ir a Roma beijar mão do papa, consigo entender a carga e a importância simbólicas do gesto. Mas a questão é: não havia alternativa entre o Ibis e um dos hoteis mais caros em um dos endereços idem de Roma?

      Você me conhece o suficiente para saber que não estou aqui a ecoar algum ressentimento de classe, deste que tem feito a festa e enchido os olhos e entupido os fígados dos leitores de blogs de direita. Também não acho que a gastança excessiva (e não importa quem o diga, porque foi excessiva) vá comprometer o equilíbrio das finanças ou colocar abaixo a frágil economia nacional, tampouco que ela compromete os muitos acertos deste e do governo anterior.

      A questão, embora política, se reveste sim de um caráter moral - as duas coisas não são necessariamente dissociáveis -, e neste sentido é fundamental ser um moralista, no bom sentido da palavra: se mantendo o recato o governo petista já é alvo constante de indignações seletivas de toda espécie, simplesmente por ser petista, quando o manda às favas, expõe-se ainda mais à sanha raivosa da oposição que, desta vez, tem sua margem de razão - não acho que houve festança por lá, que fique claro, mas sim que se gastou excessivamente para bancar um requinte desnecessário e ostentatório.

      No mais, estou de pleno acordo com você e acho que não é preciso me alongar demais nisso: nossa imprensa é ruim, e não apenas no sentido "técnico" da palavra.

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  7. Considerando que o comunismo é ateu; considerando que temos ministro das relações exteriores; considerando que temos embaixador em roma; considerando que a religião é o ópio do povo, como pregou Marx, o que foi o presidente do brasil fazer no vaticano? diz a mídia que foi pedir para o papa vir ao brasil, no encontro da juventude... Mas isto já estava resolvido desde o ex papa morto vivo... Levou as crianças pra passear? Se a direita (ex esquerda) é contra o capitalismo, porque foi engrossar o lucro capitalista europeu com tantos euros tirados às nossas estradas, escolas, hospitais, universidades públicas, segurança, etc.?

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  8. Considerando que o comunismo é ateu; considerando que temos ministro das relações exteriores; considerando que temos embaixador em roma; considerando que a religião é o ópio do povo, como pregou Marx, o que foi o presidente do brasil fazer no vaticano? diz a mídia que foi pedir para o papa vir ao brasil, no encontro da juventude... Mas isto já estava resolvido desde o ex papa morto vivo... Levou as crianças pra passear? Se a direita (ex esquerda) é contra o capitalismo, porque foi engrossar o lucro capitalista europeu com tantos euros tirados às nossas estradas, escolas, hospitais, universidades públicas, segurança, etc.?

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  9. O problema nao eh so trabalhar 6h. Os funcionarios públicos de uma forma geral no Brasil ganham uma miséria, nao da de comparar com os salários europeus. O problema sao os políticos, sao muitos e tem muitos benefícios. Fora a corrupção e má administração, ne. Na suecia quando o vereador eh eleito ele entra num programa no qual continua ganhando o salário que ganhava no seu emprego anterior, como uma licenca, e recebe um computador em casa. Nada mais. Os políticos mais acima tem salário e ponto. Nada de assessores, auxilio moradia, viagens.... Tudo eh muito simples e bem usado. Exemplos como o a seguir eh que esvaziam nossos cofres: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,predios-do-minha-casa-no-rio-terao-que-ser-demolidos,1011601,0.htm

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  10. Caríssimo jornalista, por estas e outras me vejo cada vez mais distante de seguir sendo petista. Hoje se assumir petista é cada vez mais difícil tendo em vista atitudes como esta... como voce diz talvez o questionamento não seja correto ao fim da viagem ao ver os gastos (que é um absurdo total), mas sim deveria ser visto no início. Será que a Dilma tinha necessidade de deslocar uma comitiva presidencial para ir à Roma? Quais os benefícios que esta viagem trouxe ao país? O Brasil faz um investimento ao levar uma comitiva presidencial a outro lugar do mundo... será que este caso foi justificável? E outra pergunta que faço quanto ao deslocamento do palácio presidencial é... será que é necessário deslocar a estrutura do gabinete uma vez que há um vice? Queria que o PT tomasse atitudes como a do presidente do Uruguai que na sua humildade - vem recebendo o título internacional de presidente mais pobre do mundo, não usa plácio, nem avião, ao contrário emprega bem os recursos públicos fazendo do seu país referencia em IDH a nivel mundial. Vejo Mujica sim como um verdadeiro presidente (em embora, seja do Frente Amplio me orgulharia muito se fosse Petista) http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/03/05/mujica-pega-carona-com-cristina-kirchner-para-ir-ao-funeral-de-chavez.htm
    Outra informação para constar o Presidente do Uruguai, quando não se une a outras delegações para viajar usa transporte aéreo comercial ou militar do país e leva quando máximo contáveis assessores - enquanto isso, nosso governador do estado tem 2 aviões à sua disposição para viajar.

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  11. Penso que a pergunta certa não foi feita:A viagem realmente era necessária?Acho que não,pois até o pessoal do partido se desculpou pelo ocorrido.

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    1. Mas essa era uma discussão que deveria ter sido feita antes. Ou não?

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  12. Pelo que eu entendi do texto a questão não é discutir se a viagem foi ou não necessária e sim, se a imprensa oferece dados suficientes pra podermos ter uma opinião acerca disso. Mas como quase sempre, a imprensa não acha isso importante e, como num livro de auto-ajuda, escreve o que o seu público quer ler. Aqui em Joinvilândia o problema é bem pior e, como exemplo, o caso da saúde, repórter sem assunto? notícia de superlotação do Zequinha. Fazer matéria sobre as causas disso? É complicado e não temos competência para isso.

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    1. É isso Antônio. Parece que interessa mais estimular uma certa histeria coletiva do que fornecer informações essenciais.

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