segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Karneval de Xoinville é a stammtisch


POR BARON VON EHCTZSEIN
Guten tag, minha povo.

Schadenfreude! Bem feito! Xente, foceis lembrón que eu afisei: nón vai ter karneval em Xoinville. Mas quiserram ir sarracotear e balançar as trasseirras lá na Musseu de Arte. Nón pode. Aquilo nón é sambódromo. Mas na fim até teve uma coisa parrecida com karneval, porque o Guarda Municipal e o PM forrán pro avenida e puserrón a bloco no rua.

Foi um quase que nem a karneval. Os blocos mais bonitos erram os de folións vestidos de polícia. É clarro que falharón na quesito animaçón, mas a fantasia de polícia esdava muito bem feita. E nem esquecerón de levar armas de tudo quanto que é tipo, parra parrecer mais real. Os carros alegórricos estavón um marravilha. Tinha sirrene, luz e tudo.

O único coisa que falhou foi o baterria. Porque os polícia nón baterram em ninguém. Amok laufen. Foceis sabem, a minha enredo favorrito erra cassetete na lombo dessas kommunisten. Mas nón teve nem uma sopapozinho parra endireitar esses nutzlos. É só xente inútil. Nón pode ser xente de Xoinville, porque aqui só tem xente trabalhadorra.

E son muito teimossas. Nón entendo pra que tanta pressa. Oktober logo vem e aí eles vão poder ir atrás do bandinha alemão cantano: “quem nón gosta de bandinha bom sujeito nón é... é ruim do cabeça ou é doente da pé”. O melhor é que em oktober aquela pessoal mais escurrinha nón aparrece.

Geisterfahrer! Tem xente dissendo que a nossa querrida prefeito foi no contramón e que prometeu o maior karneval de sempre em 2017.  Foceis nón entenderrón dirreito. Quando fala “karneval” quer dizer “stammtisch”, que é um festa de xente decente e de olhos bem assul. Em Xoinville, festa da povo é a stammtisch, porque só xunta xente de bem, que a xente reconhece por causa dos jacarrezinhos nos camisas.

Palavra de barón. Ausschlafen… vão dormir.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

No Carnaval, a fantasia é acreditar nos políticos


POR JORDI CASTAN

Nestes dias o tema o carnaval está, por motivos óbvios, na pauta. O cancelamento, em cima da hora, do desfile do Carnaval, pegou muita gente de surpresa. A última gota - ainda que o correto fosse dizer a penúltima gota, porque essa gente não descansa na árdua tarefa de se superar a cada dia - foi o cancelamento do evento previsto para ser realizado no Mercado Municipal. A história, que inclui até denúncia anônima e órgão público descumprindo acordo, está muito mal contada.

Se todos os envolvidos contassem o que sabem e o que esta sendo postado nas redes sociais for comprovado, quarta-feira de cinzas será o dia em que Joinville despertará vendo o tamanho das suas lideranças políticas. É ainda menor do que já era. Fazer acordo de cavalheiros é algo que só pode ser feito com cavalheiros. Não é bom confundir políticos com cavalheiros e menos ainda acreditar na palavra de quem não tem. Quem acreditou, agora descobre que foi iludido. E, pior ainda, que nunca houve intenção de cumprir o compromisso.

Espanta? Aqui na vila o restaurante popular do Bucarein pode ficar fechado durante quase quatro anos, sem nenhum motivo convincente e crível. E na mesma vila obras públicas tem as datas de inauguração propostas que não seu cumprem, sem maiores justificativas. Ora, o cancelamento do Carnaval foi só mais um tijolo na parede com que se constrói a inépcia e se ilude diariamente ao cidadão.

O tempo mostra quais são as organizações e especialmente as pessoas nas que não se deve acreditar. Quando dizem “sim” pode apostar que é “não”. No quesito credibilidade devem ser considerados abaixo de zero, menos alguma coisa. Os sambaquianos já desenvolveram a capacidade de identificar estes contadores de lorotas. Quando os escutam dar entrevistas prometendo isso ou aquilo, por estes lados o pessoal não dissimula mais a pouca credibilidade que este tipo de pessoas e instituições merecem.

Para quem tiver interesse no assunto é bom dar uma olhada no link  Expectativa da Prefeitura de Joinvilleé promover um grande carnaval em 2017.

Historias como estas há centenas na cidade todos os dias. O estranho é que ainda haja uma boa parte da população que acredite nas promessas que políticos e outros contadores de patranhas repetem como mantras cada dia. Porque eles jogam com a esperança de que o eleitor menos esclarecido politicamente confunda a versão oficial dos fatos com a realidade.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A história não tem vagina?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há uma coisa importante sobre as palavras: elas são históricas, dependem das vontades humanas. E por isso muitas acabam distorcidas, outras interditadas. Numa sociedade historicamente dominada pelo macho e pelos moralismos, é fatal que certas palavras tenham desaparecido dos discursos na esfera pública. Muitas viram palavrão ou a sua pronúncia acaba considerada ofensiva.

Faz algum tempo, li um texto sobre um estudo que concluiu: a medicina fala pouco na vagina. Era uma reportagem interessante, mas o que chamou à atenção foi a reação dos leitores no site do jornal. Eram todos homens... e estavam todos indignados com o texto. Diziam que não era coisa de jornal sério. Dá o que pensar. Não é à toa que os sujeitos acharam estranho. Afinal, se a medicina fala pouco sobre a vagina, a imprensa fala ainda menos... considera tabu.

O apagamento da palavra vagina é coisa das sociedades machistas e moralistas, que sempre andaram muito preocupadas em negar o prazer às mulheres. Aliás, não pense que a clitoridectomia é coisa imaginada apenas por povos bárbaros africanos. Os puritanos que colonizaram os Estados Unidos também propunham o uso de substâncias químicas no clitóris para impedir que as mulheres tivessem prazeres solitários.

O fato é que a vagina tem história. Uma história que parece assustar os homens. Aliás, houve um tempo (em Homero e depois dele) em que se acreditava que os homens andavam arredados do processo de concepção. Havia a crença de que as mulheres eram engravidadas por seres microscópicos que se moviam ao vento e entravam no organismo feminino para a fertilização. Hoje a gente ri.

Heródoto narra que as mulheres egípcias embarcavam em canoas e mostravam as partes íntimas aos povos das margens do Nilo em sinal de chiste. Durante muito tempo, as mulheres somalis mostravam a vagina quando queriam ofender alguém. E já escrevi aqui mesmo sobre a imperatriz Wu Hu, que obrigava os convidados a darem lambidelas nas suas partes baixas.

Nem sempre a vagina foi tratada com tantos pruridos, como hoje em dia nas sociedades moralistas. É mesmo demonizada, uma coisa que vem desde os tempos da Inquisição. Aliás, em tempos mais recentes a ciência estabeleceu uma relação entre a histeria e a vagina. No final do século 19 e início do século 20, muitos médicos aderiram à técnica de masturbar as suas pacientes para curar a doença.

E vem da Itália um dos registros históricos mais curiosos. Quando foi deposto, Mussolini acabou preso pelos inimigos, que o executaram ao lado de Clara Petacci, a sua amante. O requinte da vingança foi pendurar o corpo dos dois numa praça de Milão. Mas como Clara estava de saias, os executores amarram as suas vestes, para que as suas partes íntimas não fossem vistas. Temiam os executores que a visão da vagina de Clara Petacci desviasse as atenções do povo para o que realmente importava: a morte de Mussolini.

O fato é que se fala muito no pênis, ao mesmo tempo em que há um grande silêncio sobre a vagina. É como se fosse um palavrão, uma coisa ofensiva. Aliás, qualquer um de nós, homens que têm internet, está farto de receber aqueles e-mails manhosos com a proposta de “enlarge your penis”. Mas duvido que alguém tenha recebido algum de “fit your vagina”. É ou não, leitor e leitora?

Uma história sem vagina é incapaz de gerar frutos.

É a dança da chuva.

Joinville: décadas e décadas de enchentes


POR WELLIGTON CRISTIANO GONÇALVES

Documento fotográfico mostra que desde a colonização Joinville sofre com enchentes.

Nossa saga molhada começa em 1850, quando um grupo de pioneiros  foi enviado para cá com o objetivo de preparar as terras para a futura chegada dos colonos. Seu líder era o representante da Sociedade Colonizadora de Hamburgo, Hermann Guenther, e coube a ele escolher o local da sede da colônia, optando pelas margens do rio Mathias, afluente do Cachoeira.

Quando os colonizadores de Joinville desembarcaram, em 9 de março de 1851, bem em frente onde hoje é a prefeitura (temos o monumento A Barca para comprovação), eles seguiram pela trilha aberta por caçadores às margens do Mathias, chegando até o abrigo cedido pela Sociedade Colonizadora onde hoje é a Biblioteca Municipal.

Se antes da chegada dos pioneiros já viviam portugueses na região dos futuros bairros Bucarein e Itaum, áreas mais drenadas e menos propensas à inundações, por que a escolha de um terreno pantanoso como centro da nossa futura cidade? A decisão de Hermann Guenther resultou em sua demissão dois anos mais tarde, porém os colonos já haviam se estabelecido. Foram tempos difíceis e muitos voltaram para sua terra natal. Os que ficaram construíram nossa cidade em volta daquela área alagadiça, que cresceu e precisou ocupar regiões mais distantes do centro, que mesmo assim sofrem com as constantes inundações.

No plano diretor de 73 já se sabia que regiões no Vila Nova, Morro do Meio, Jardim Sofia e outros bairros da cidade inundavam. Mas ninguém morava por lá, então ninguém sofria. Isso não impediu a ganância de empreendimentos imobiliários que construíram loteamentos, logo habitados por migrantes atraídos pela riqueza industrial da chamada Manchester Catarinense. Nesse caso, nem foi questão de incompetência como na nossa fundação, mas falta de caráter e má gestão pública.

Com o aumento da população crescem os problemas. As regiões alagam mais, pois há mais lixo jogado nos mananciais, o povo sofre mais e uma solução definitiva provavelmente nunca será encontrada. O próprio rio Mathias corre hoje sufocado por galerias abaixo de onde é a Wetzel, passando por baixo do estacionamento do shopping Mueller, seguindo por todas as lojas da rua 9 de Março, terminal central, Abel Schulz e finalmente deságua no rio Cachoeira.

Abaixo algumas fotos de nossa história aquática:










Welligton Cristiano Gonçalves é designer.
Fotos: recolha do autor (parte das fotos publicadas pertence ao Arquivo Histórico).

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A XEC, a nossa Mannschaft catarrinense, perdeu de nofo?


POR BARON VON EHCSZTEIN
Guten morgen, minha povo.

Ich bin traurig. Esdou triste porque a XEC perdeu de nofo. Es fiel vier. Tomou de quatro. O que esdá acondecendo com o nossa Mannschaft catarrinense? Nón pode perder assim. Das Leben ist kein Ponyhof. Eu sei que a vida nón é um gramado sempre verdinho, mas tem que fazer alguma coisa. Eu tenho o meu proposta: tem que ser uma time só de xogador com muitos consoantes na sobrenome.

Xá imaginarón uma time de xogadores com nomes bonitas como Hoffmann, Schultz, Fischer, Schneider, Zimmermann, Schwainsteiger, Alloff... tudo loirrinhas e de olho assul? Unbesiegbar! Virón? A time do Laxes tem um Michel Schmoller. Isso sim é nome de xogador. Se é parra ter nome daqui, tem que assusdar as adversárias, quem nem a Parrudo, da time de Laxes. Parrudo assusda. É por isso que eles ganha.

O dirreçón da XEC precisa se inspirrar na nossa querrida prefeito e trabalhar mais. Tem que pôr a time parra treinar às 6 da manhã e só sair de noitinha. Aqui é trabalho, xente! Wie ein Pferd arbeiten. A nossa querrida prefeito é a torcedor número 1 da XEC e deve ter ficado muito triste com a derrota. Os kommunisten da oposiçón fala que ele só vai no Arrena parra aparecer no foto, mas ele nón perde uma xogo.

Aliás, a nossa querrida prefeito non deve ter ido ondem a Laxes porque tem que ficar no Prefeiturra parra fazer o limpeza das rios e consertar os cagadas da gestón anterior. Gestón do Carlito, clarro. Porque aquele kummunisten quase afundou o nosso citate. Foi por poco. Wird arbeiten, kommunistisch. Tem umas muros no Arrena parra foceis pintar, seus kommunisten...

Palavra de Baron. Ich drücke dir die Daumen.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Sem rumo.


Nova LOT, velhos problemas: quem é apressado come cru

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Durante algum tempo relatei, aqui e em outros espaços, os problemas em torno da tramitação da Lei de Ordenamento Territorial, a famigerada LOT, desde os primeiros debates no Conselho da Cidade até a aprovação na Câmara de Vereadores. Dentre os inúmeros fatos problemáticos estava a pressa, ideologicamente justificada pelo discurso do progresso ("Joinville iria parar", "culpa da LOT", "Araquari está roubando nossas empresas" etc.), e como ela seria a inimiga da perfeição.

Não deu outra: mal os vereadores analisaram os vetos do prefeito Udo e já falam em criar alterações da nova lei. A "bomba" da vez gira em torno da área correspondente ao presídio e à penitenciária, na zona sul, onde os legisladores identificaram a necessidade de mudanças para contemplar novos investimentos públicos no complexo carcerário, pois foi ignorado, na LOT, que aquela é uma área que há décadas abriga estes equipamentos públicos. Um escândalo em termos de eficiência de políticas públicas.

Não quero aqui expressar se a emenda é necessária ou não, mas alertar como o planejamento urbano de Joinville se tornou flexível e, consequentemente, pouco seguido. Basta criar uma demanda, seja ela qual for, que os vereadores logo criam uma emenda. Pensadores do urbanismo moderno, inclusive brasileiros, mostram como as cidades se tornaram reféns do "fazejamento", ou seja, do planejamento ruir a cada nova necessidade. Os papéis ficaram invertidos: o que já existe ou irá existir regulamenta a lei.

A própria confecção da LOT foi tocada nesse ritmo: necessidades pontuais entrando, enquanto que grandes questões ficaram para segundo plano. Das mais de 100 propostas de emendas ao texto original, muitas eram alterações de uso e ocupação do solo para poucos interessados e sem quaisquer justificativas técnicas - ou até mesmo as políticas. Uma consequência imediata da ideia de que o arcabouço jurídico deve contemplar interesses pontuais, em detrimento dos coletivos, o que infelizmente está impregnada nos ocupantes de cargos públicos.

Histórica charge do nosso colega Sandro
O Conselho da Cidade, por sua vez, esqueceu a sua função social e pouco se interessou em coibir esta prática. Tanto que o seu Presidente eleito (com amplo apoio dos indicados por Udo Dohler) é também conhecido agenciador de negócios imobiliários. A pressa em contemplar interesses pontuais tornou a lei estéril já no primeiro dia de seu nascimento. Não houve uma visão global da cidade, sendo que "esquecimentos" e outras bizarrices serão noticiados com grande frequência daqui em diante, justificando novas alterações, novos retalhos, e novas flexibilizações. E neste pacote podem vir maldades camufladas, à la Temer.

Não foi por falta de aviso, mas agora temos uma lei insuficiente e desatualizada. E em certos termos, antidemocrática. Uns cinco ou seis são os que ainda sabem o que é a LOT em sua totalidade. Os agentes públicos, coitados... sempre foram - e serão - marionetes das vontades alheias. Ou seriam esquecimentos propositais?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O que faz Bob? Bobices...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Sapateiro, não vás além dos sapatos” (sutor, ne ultra crepidam). Acho que a maioria das pessoas conhece esta expressão, que, segundo a lenda, surgiu de um episódio a envolver Apeles, pintor grego da Antiguidade, e um sapateiro. O artista tinha o hábito se esconder para ouvir a opinião das pessoas sobre as suas obras. Depois fazia as alterações que julgava apropriadas.

Certa vez ouviu um sapateiro a elogiar um quadro, mas com a ressalva de que as sandálias podiam ser mais caprichadas. Como era uma opinião de profissional, Apeles fez as mudanças e tornou a expor o quadro. O sapateiro voltou a ver a obra e desta vez o veredicto foi de que a sandália ficou melhor, mas que o vestido na pintura deixava muito a desejar.

O pintor, indignado por achar que o sapateiro estava a extrapolar as suas capacidades, saiu de onde se escondera e soltou: “sapateiro, não vás além dos sapatos”. Sempre tive alguma reserva em relação à frase, porque pode parecer um tanto castradora. Mas o fato é que faz sentido, porque as pessoas também devem conhecer os seus limites. Seria como dizer: “golpista, não vá além do golpe”.

Sim. Trago esta historinha para falar do ministro da Cultura, Bob Freire. É que a sua performance na entrega do Prémio Camões, na semana passada, foi um momento da mais brutal vergonha alheia. Uma vergonha em escala transcontinental, indo de São Paulo a Dili, mas passando por Lisboa ou Maputo. Afinal, estamos a falar do maior prêmio de língua portuguesa e o ministro foi uma figura muito pequena. E foi além dos sapatos.

Ok... é até lógico que a cultura do Brasil esteja entregue a uma alma penada política como Bob Freire. O ministro é a cara do governo Temer, recheado de incompententes, dilapidadores e gente de caráter mais que duvidoso. Bob Freire não se aquietou na truculência e atacou: “esse histrionismo oposicionista evidentemente tem os seus dias contados”. É a suprema ironia: o histrião atribui o histrionismo aos outros.

Todos sabem o que se passou na entrega do Prémio Camões, mas não custa repetir. Raduan Nassar, o escritor agraciado, disse que o Brasil vive tempos sombrios e denunciou a tramoia que apeou Dilma Rousseff do poder. A posição do escritor nem chegou a ser novidade, uma vez que ele foi muito crítico do impeachment, que considera golpe (aliás, como qualquer pessoa com dois dedinhos de testa).

A reação virulenta de Bob Freire é o caso típico do sapateiro que foi além dos sapatos. O ministro desembestou (é o que fazem os abestados) num chorrilho de aselhices e chegou mesmo a realçar o momento democrático vivido pelo Brasil. Risos. Pobre democracia. O que faz um Bob? Bobices. Então, vamos ver quais foram as bobices deste “homem de cultura”. Eis:

- “É um adversário recebendo um prémio de um governo que ele considera ilegítimo, mas não é ilegítimo para o prémio que ele recebeu”.
- Errado. Não foi o governo Temer que deu o prêmio.
“Quem dá prémios a adversário político não é a ditadura”.
- Bob Freire insiste no erro. Errar uma vez é humano, persistir no erro é bobice.
“Que os jovens façam isso já seria preocupante, mas não causaria esta perplexidade”.
- Errado. Bob Freire está a ser edaísta. Mas esperem: aposto que ele, um homem de cultura, não sabe o significado da palavra.
“Ele desrespeitou todos nós!”
- Errado. Se houve algum desrespeito foi o de Bob Freire. Afinal, o homenageado era Raduan Nassar.
“[o prêmio] é dado pelo governo democrático brasileiro e não foi rejeitado”.
- Errado. O prémio é dados pelos estados de Portugal e Brasil. Bob Freire parece não saber a diferença entre estado e governo.

E para fechar a ridicularia com chave de ouro, depois o ministro foi dizer à imprensa: “acho que até fui brando”. Errado novamente. Não houve qualquer brandura nesse tremendo tiro no pé. Foi um suicídio moral. Bob Freire fez bobice atrás de bobice e detonou os próprios sapatos.

É a dança da chuva.



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Dinheiro e fé: gente que crê ganha mais?


POR JORDI CASTAN




Pesquisa publicada pela "Folha de S. Paulo" em janeiro pede alguma reflexão. O brasileiro continua acreditando que está deitado em berço esplêndido. E talvez por conta disto persista a ideia de que os problemas do país possam se resolver por outros meios que não seja o trabalho, o esforço e o fazer bem feito. Há muitos seguidores por estes lados. Espanta que 9 entre 10 brasileiros digam que seu sucesso financeiro se deva a Deus. Impressiona que entre os graduados o percentual seja de 77%. Inevitável fazer-se a pergunta: que tipo de brasileiros estão a formar as nossas escolas e faculdades? Quanto menor a escolaridade e menor a renda maior a gratidão a Deus pelas conquistas terrenas. Como o Brasil é um país curioso. Entre os umbandistas, 63% acreditam que o seu sucesso financeiro se deva a Deus. Entre os ateus o percentual é de reveladores 23%.

Acreditar que há uma relação divina para o sucesso econômico tem lá suas implicações. A primeira que me ocorre é que possa haver uma interferência divina na geração de riqueza. A premissa é interessante e pode explicar porque há tanta gente que pensa ser possível ficar rico sem estudar, sem trabalhar, sem fazer nenhum esforço. Os que acreditam em milagres. Que 9 de cada 10 brasileiros acreditem de verdade ser possível o milagre da influência divina na geração de riqueza é uma noticia reveladora. Na Idade Média, algumas ordens religiosas tinham como lema “ora et labora” (rezar e trabalhar ou oração e trabalho). Não se cogitava, naquela época, que fosse possível enriquecer sem trabalhar. Hoje há quem acredite, não só que isso seja possível, mas que seja verdade.

O estudo ajuda a compreender melhor porque há tanta gente que acredita em milagres e em milagreiros. E ainda é mais interessante acredita em pecado sem culpa, em que possa existir o paraíso sem o seu correspondente inferno. Há nesta estulta maneira de ver o mundo uma versão atual do complexo de Polyanna. Promovendo a ilusão de que, sem se alicerçar em nada mais que na crença e na fantasia, se possa criar riqueza e promover o desenvolvimento. Algumas igrejas são muito mais atuantes neste sentido. No caso da Universal, com mais de 57% dos seus fieis ganhando pouco mais de dois salários mínimos, há um esforço em promover o desenvolvimento econômico dos seus fieis organizando cursos sobre empreendedorismo e geração de renda e incentivando-os a ser patrões de si mesmos. Será esta a influência divina a que a pesquisa se refere?

As igrejas evangélicas aumentam o número de fieis nas suas igrejas em 43%, as católicas só 14%. Também fazem mais caridade 63% frente a 45% das igrejas católicas e ajudam mais a achar emprego 56% frente a 35% das católicas.

Mais de 50% dos entrevistados acreditam que Deus proverá riqueza e saúde aos que tem fé. A denominada Teologia da Prosperidade defende o sucesso material nesta vida como benção divina estimulada pelo dízimo. Tanto acreditam os fieis neste caminho que a pesar de ter a parcela de fieis mais pobres a Universal é a que mais arrecada com o dízimo, R$96,5, frente aos R$70,3 da Assembleia de Deus. Há uma atitude diferente por trás da estratégia de cada uma das igrejas. Enquanto a Católica defende a caridade como forma de combater a pobreza e ajudar os mais necessitados, as igrejas pentecostais optam por uma política mais ativa e que apresenta melhores resultados.