Não curto a expressão “coxinha”. Além de ser um clichê – e os clichês são para evitar – não parece ter uma relação lógica com o salgadinho. Mas a palavra entrou para a fraseologia do dia a dia e o uso é inevitável para ser compreendido. Muita gente define coxinha como um “inimigo da presidente Dilma”, do seu partido e também das esquerdas, o que não deixa de ser verdade, mas é uma visão limitada.
É preciso analisar o inconsciente social do coxinhismo. O coxinha médio é o pequeno burguês (no sentido barthesiano) e é produto de uma amálgama de fatores reativos: rejeição do pensamento, privação da história, medo do novo, preconceito, ódio de classe, incapacidade de reconhecer as alteridades. E, claro, um discurso fundado em clichês. É ruim, mas pode ser pior...
O caso mais dramático é o do coxinha limítrofe. Quem? É um coxinha igual aos outros, mas com a condição agravada: os caras fazem da estupidez voluntária (parafraseando La Boétie) uma marca de personalidade. É o que podemos chamar lumpencoxinhismo, uma vez que vivem em miséria intelectual extrema. Mas como diria o saudoso filósofo Odorico Paraguaçu, deixemos os entretantos e vamos aos finalmentes.
O lumpencoxinha é um cara que rejeita tudo o que não se encaixe no seu quadro mental. Porque quando está a pensar, não pensa... apenas reorganiza os clichês. Tudo o que represente a diferença, o alternativo ou o novo é logo recusado. E vamos a um caso prático. Ainda ontem um co-blogger reclamava estar a ser cobrado por uma leitora que exigia imparcialidade. É justo. O problema é que as queixas eram fundadas no absurdo.
Uma das queixas era não falar do feijão doado a Cuba que, acredita ela, é responsável pela alta dos preços do produto no Brasil. Outra questão era o silêncio sobre os R$ 700 milhões que Dilma teria numa conta na Suíça. O que dizer numa situação como essa? É impossível um diálogo. E é neste ponto que os lumpencoxinhas são um perigo para a sociedade. Porque aniquilam qualquer possibilidade de debate e evolução das ideias.
É o caso do golpe. Os lumpencoxinhas acreditaram que tudo se resumia a derrubar a presidente Dilma Rousseff e, com outra pessoa no lugar, pôr a economia do país a andar. Não quiseram saber se o golpe possa tinha uma agenda secreta – já nem tão secreta assim – que passa por entregar os interesses do país nas mãos de estrangeiros. E hoje, sabendo das tramoias, mantêm a fé nos golpistas. Mesmo sabendo que é mentira, continuam a acreditar.
Podia não ter importância. Mas tem. E muita. Porque o lumpencoxinha é o tipo de pessoa que – por omissão, estupidez ou corrupção – ajuda a transformar o Brasil numa terra que está sempre a adiar o seu futuro.
É a dança da chuva.
P.S.: O filme abaixo traz um depoimento de Marilena Chauí sobre o juiz Sérgio Moro e o ministro golpista José Serra. Mais que uma defesa de tese - e a tese da filósofa faz sentido - é uma provocação aos lumpencoxinhas.