segunda-feira, 7 de março de 2016

Comissionados e afins: quantos são, quanto ganham?

POR JORDI CASTAN

A Prefeitura Municipal de Joinville passou a divulgar, no Portal da Transparência, a relação dos salários de todos os servidores públicos municipais. É bom lembrar que esta iniciativa só aconteceu por conta de um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) entre a Prefeitura e o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina). Não é hora de sair colocando medalhas e batendo no peito falando de transparência. Ainda estamos muito longe do ideal. Mas convenhamos que é um avanço.

Há quem não tenha gostado que os salários fossem divulgados. É um direito. O meu direito, como contribuinte, e portanto como quem paga os salários de todos eles, é ter essas informações. Saber quem são. Quanto ganham. Quantas horas trabalham. Há ainda mais por saber. Mas nada faz tão bem e fortalece tanto a democracia como a transparência. Luz, água e sabão fazem milagres. O debate está servido.

Os dados colocados no portal são parciais, pois se referem apenas ao mês de janeiro de 2016. Por eles é possível saber que o prefeito abriu mão de um salário de pouco mais R$ 25.000. Valores que supostamente estariam sendo entregues mensalmente a alguma entidade beneficente de Joinville. Não há razão para duvidar que a sua promessa de campanha esteja sendo cumprida, mas seria bom conhecer a relação, os critérios e os valores que cada uma tem recebido.

Quem sabe um dia estas informações também estejam disponíveis. Agora podemos saber que há 21 secretários, fora os presidentes de fundações e assemelhados, cada um deles recebe, em média, mais de R$ 13.000 por mês. Vendo a relação e avaliando o seu desempenho, surgem dúvidas. Quantos deles ganhariam este salário em alguma empresa local? Seriam capazes de gerir o seu próprio negócio e retirar este valor como pró-labore? São dúvidas interessantes.

O portal informa, parcialmente, quantos e quem são os comissionados em cada uma das fundações e autarquias. Parcialmente porque há nos quadros da Prefeitura mais de 500 comissionados. Mais que em todo o governo inglês. Mas essa é outra historia. Dos mais de 500, menos de 150 aparecem na listagem. Há que melhorar o nível de transparência da planilha. 

Agora é possível conhecer os salários, por exemplo, que um Gerente de Unidade comissionado no IPPUJ recebe cada mês mais de R$ 8.000.  Fica mais fácil de entender a importância da aguerrida militância partidária de algumas figuras carimbadas, que permanecem penduradas nas tetas da administração por décadas. Entra administração, sai administração é há os que conseguem se manter em algum emprego público. Na hora de comparar salários é bom lembrar da carga horária, que no serviço público é menor que na iniciativa privada para boa parte dos funcionários.

Um filtro muito útil seria o que permitiria identificar quem foi o padrinho que indicou cada comissionado. Assim seria mais fácil entender o porquê alguns vereadores de oposição votam sistematicamente com o governo, mesmo contra a diretriz do seu partido. Quem sabe acrescentar uma coluna: "padrinho político" ou "filiado a...". Também seria aconselhável acrescentar na planilha a relação sequencial, pois assim facilmente seria possível saber quantos funcionários há em total, em cada órgão ou em determinada situação. 


Até hoje a Prefeitura não tem conseguido implantar um único processo de gestão certificado, como poderia ser uma norma ISO, para colocar como exemplo. E assim vemos com a maior empregadora do município incapaz de atender a maioria das demandas básicas dos munícipes que pagam os seus salários. Eficiência, eficácia e efetividade devem ser palavras de baixo calão em determinados ambientes públicos.

Mas para quem precisou de quase uma década para concluir a obra do mirante do Boa Vista, ou não tem data prevista para concluir a duplicação da Santos Dumont, dá para entender que seja vista com preocupação que os valores recebidos sejam feitos públicos. Vai que alguém começa a questionar o quanto custa a maior empregadora de Joinville. 

sexta-feira, 4 de março de 2016

Cidade inteligente, cidade humana?















POR SALVADOR NETO
Não tenho a menor dúvida que na cidade de Joinville moram pessoas brilhantes, inteligentes, ativas. Tenho a convicção, por conhecer de perto a gente trabalhadora que coloca sua energia e talento nas indústrias, comércios, prestadoras de serviço, associações, entidades civis, e tantos outros segmentos, que somos capazes de produzir os melhores produtos, os mais avançados projetos, as mais incríveis tecnologias. Somos um povo realmente realizador. E trabalhador. E que merece sim uma cidade melhor, mais humana, inteligente.

Difícil é ver os rumos que a gestão (?!) municipal – governo Udo Döhler (PMDB) – escolheu, ou seria tateou, nestes últimos 38 meses, com promessas de gestão qualificada, resolução de problemas da saúde, pavimentação e cuidados dos bairros para o centro, novos parques e praças, entre outras promessas não cumpridas, e ainda aceitar uma nova cenoura, ou doce, no apagar das luzes do governo: o tal Join.Valle. Meritória a iniciativa, temos muita massa crítica ainda na cidade para produzir inteligência, mas a liderança não é realizadora, não motiva. Portanto, quem criou e apoiou, acaba sendo somente usado.

A atual gestão Udo Döhler (PMDB) começou ficando longos oito meses com boa parte da cidade às escuras. Logo de cara cortou o acesso gratuito e livre à internet existente em vários pontos públicos, e até hoje jamais recolocou o serviço para o povo utilizar. Cidade inteligente onde a tecnologia foi cortada dessa forma? As ruas foram tomadas por buracos em todos os bairros, por longos três anos, carros e motos quebraram nos mesmos, e até pessoas acabaram perdendo a vida nestas vias mal cuidadas, sem manutenção. Como propor uma cidade humana nestes termos?

O que dizer da saúde então? Homem testado no setor, diziam na campanha e nas ruas, e na propaganda partidária, iria resolver tudo. O mantra foi “não falta dinheiro, falta gestão”. Pura balela. A população continua a perder dias e dias atrás dos remédios nos postos de saúde, e nada. Faltam leitos, faltam materiais essenciais, falta... um gestor, gestão mesmo. 

Na infraestrutura, nem asfalto nos bairros mais periféricos, mais pobres, nem soluções para a mobilidade urbana, tampouco para melhor a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Nem a ponte do Adhemar Garcia, nem da rua Plácido Olímpio de Oliveira, nada. 

Cidade inteligente, cidade humana? Temos inteligência sim, muitas boas cabeças, talentos, um pólo de tecnologia que borbulha, mas não tem o impulso necessário para dar o salto que nos faria avançar décadas na qualidade de vida, na modernização da cidade. Temos humanidade sim, voluntários se esmeram e se doam em inúmeras entidades sociais, nas igrejas, em projetos sociais, reduzindo assim o sofrimento e os problemas de milhares que passam pelas dificuldades mais diversas. Mas, senhores e senhoras, nos faltam líderes inovadores.

Realmente temos tudo que uma cidade precisa para seu desenvolvimento, não somente econômico, mas social. Mas precisamos de um choque de verdade, de perceber que não dá mais para ouvir docilmente os discursos feitos via mídia tradicional, ou em associações de classe, sem questionar, cobrar, fiscalizar. Para chegarmos ao patamar de cidade inteligente e humana, há que se inovar nas lideranças, nos projetos, ousar sonhar, e ter coragem e energia para levar Joinville para o século 22 já, e não como ficamos hoje, a passos de tartaruga e pequenos factoides a nos ludibriar, vivendo ainda no modelo industrial do passado.

Parabéns aos idealizadores da smart city, mas cuidado: façam sair do papel o que sonham e pensam, com ações e inovações reais. Senão ficarão frustrados, e a cidade também.

É assim, nas teias do poder...




quinta-feira, 3 de março de 2016

É ano de eleição...



POR VANDERSON SOARES

Neste ano teremos as eleições municipais. Prefeito e Vereadores serão eleitos ou reeleitos e a roda gira mais uma vez. 

Candidatar-se a um cargo público é tarefa ingrata, por diversos motivos, mas deveria ser uma oportunidade para todos os cidadãos. Ingrata porque a corrida já começa em pé de desigualdade, pois os 19 que lá estão hoje não precisam renunciar a seus cargos para se candidatarem novamente. Já começa que eles tem 7 assessores pagos pelo nosso dinheiro, carro da Câmara e o próprio salário. 

Vejo a Câmara de Vereadores de Joinville como um grande circo nos dias de plenário e uma grande roda de barganha nos dias de comissão. Sem fazer juízo de valor sobre ninguém, você consegue se lembrar de uma lei proposta pelos atuais vereadores que tenha sido útil à Joinville? Não vale contar aquelas leis “Dia Municipal disso ou daquilo” e nem aquelas enviadas pelo Executivo. 

Sabe por que não existem leis arrojadas e úteis à Joinville? É simples. Das duas uma, ou não se tem capacidade ou não se tem interesse de fazê-las. O projeto de poder que move os vereadores é assustador. 

Trabalhei durante alguns meses na Câmara e antes de iniciar os trabalhos lá comentei com um amigo e ele me disse: “Prepare-se, pois as Câmaras Municipais são os locais públicos onde a mesquinharia ganha proporções astronômicas”. 
Não sei das experiências que ele teve para fazer tal afirmação, mas é fato que a gente se assusta. 


Você lembra pra quem votou em vereador 4 anos atrás? Por que votou nele? As expectativas e propostas de campanha foram trabalhadas no mandato? Lembre-se: Não elegemos vereadores pra ficarem passeando com diárias e pensando na reeleição.

terça-feira, 1 de março de 2016

A culpa do outro (ou a terceirização do fracasso)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Anderson Silva perde uma luta lá nas terras de Sua Majestade e desata a espinafrar: “é como no Brasil, corrupção total”. Lobão tem um show cancelado por falta de público - os ingressos custavam apenas 30 reais -  e diz que a culpa é do PT. Estes são apenas dois fatos mais recentes que comprovam uma certa marca no inconsciente coletivo brasileiro: a culpa é sempre dos outros.

Mas vamos ficar num plano específico: há um movimento de terceirização do fracasso no Brasil. Muitos não aceitam a perda de qualidades e procuram atribuir as responsabilidades a um inimigo externo. Neste caso, uma entidade ectoplásmica chamada que chamam “esquerda”, formada por gente que é definida por bolivarianos, petralhas, comunistas etc. Os culpados de tudo.

O grupo é grande e podemos juntar nomes como Fábio Jr., Roger, Alexandre Frota ou Marcelo Madureira, entre tantos outros. Em resumo, são pessoas que já tiveram alguma projeção midiática, mas hoje são arremedos delas próprias. E nem é preciso ser psicanalista para perceber o mal que o ostracismo pode provocar em pessoas com problemas de ego.

Um cantor que constrói a carreira no papel de galã envelhece, engorda e perde admiradoras. Um músico de segunda linha que, pelos limite do talento, nunca consegue sair desse patamar. Um “ator” que não sabe gerir a carreira e acaba em filmes pornô ou numa pose ridícula num vestido de noiva. Um humorista que perde a piada e que não consegue mais fazer rir (neste caso, só provoca pena).

Onde essa gente se encontra? No ódio. Em ir contra “tudo isso que está aí” (seja lá o que for). Pode até ser uma decisão ideológica, mas todos sabemos que também é uma opção de mercado: o Brasil é um país de muitos consumidores ainda dispostos a consumir esse tipo de produto que vem embrulhado num discurso reacionário.

A lógica é simples. Eu não gosto da música de Lobão, mas se ele fala mal do PT, então é meu "ídolo". Desde que eu não tenha que pagar 30 mangos para ir ver um show dele, claro. E sei que Anderson Silva foi condenado por doping é não tem tem exatamente autoridade moral para falar no assunto. Mas se ele critica o governo atual, então já estou com ele. E assim caminha a humanidade.

Enfim, a terceirização do fracasso pode ser resultado de mentes estreitas ou uma simples estratégia de marketing para ganhar sobrevida no mercado. O problema é que muitas vezes a estratégia não funciona. E aí, como dizia Raul Seixas, “é sempre mais fácil achar que a culpa do outro”…

É a dança da chuva.