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sexta-feira, 4 de março de 2016

Cidade inteligente, cidade humana?















POR SALVADOR NETO
Não tenho a menor dúvida que na cidade de Joinville moram pessoas brilhantes, inteligentes, ativas. Tenho a convicção, por conhecer de perto a gente trabalhadora que coloca sua energia e talento nas indústrias, comércios, prestadoras de serviço, associações, entidades civis, e tantos outros segmentos, que somos capazes de produzir os melhores produtos, os mais avançados projetos, as mais incríveis tecnologias. Somos um povo realmente realizador. E trabalhador. E que merece sim uma cidade melhor, mais humana, inteligente.

Difícil é ver os rumos que a gestão (?!) municipal – governo Udo Döhler (PMDB) – escolheu, ou seria tateou, nestes últimos 38 meses, com promessas de gestão qualificada, resolução de problemas da saúde, pavimentação e cuidados dos bairros para o centro, novos parques e praças, entre outras promessas não cumpridas, e ainda aceitar uma nova cenoura, ou doce, no apagar das luzes do governo: o tal Join.Valle. Meritória a iniciativa, temos muita massa crítica ainda na cidade para produzir inteligência, mas a liderança não é realizadora, não motiva. Portanto, quem criou e apoiou, acaba sendo somente usado.

A atual gestão Udo Döhler (PMDB) começou ficando longos oito meses com boa parte da cidade às escuras. Logo de cara cortou o acesso gratuito e livre à internet existente em vários pontos públicos, e até hoje jamais recolocou o serviço para o povo utilizar. Cidade inteligente onde a tecnologia foi cortada dessa forma? As ruas foram tomadas por buracos em todos os bairros, por longos três anos, carros e motos quebraram nos mesmos, e até pessoas acabaram perdendo a vida nestas vias mal cuidadas, sem manutenção. Como propor uma cidade humana nestes termos?

O que dizer da saúde então? Homem testado no setor, diziam na campanha e nas ruas, e na propaganda partidária, iria resolver tudo. O mantra foi “não falta dinheiro, falta gestão”. Pura balela. A população continua a perder dias e dias atrás dos remédios nos postos de saúde, e nada. Faltam leitos, faltam materiais essenciais, falta... um gestor, gestão mesmo. 

Na infraestrutura, nem asfalto nos bairros mais periféricos, mais pobres, nem soluções para a mobilidade urbana, tampouco para melhor a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Nem a ponte do Adhemar Garcia, nem da rua Plácido Olímpio de Oliveira, nada. 

Cidade inteligente, cidade humana? Temos inteligência sim, muitas boas cabeças, talentos, um pólo de tecnologia que borbulha, mas não tem o impulso necessário para dar o salto que nos faria avançar décadas na qualidade de vida, na modernização da cidade. Temos humanidade sim, voluntários se esmeram e se doam em inúmeras entidades sociais, nas igrejas, em projetos sociais, reduzindo assim o sofrimento e os problemas de milhares que passam pelas dificuldades mais diversas. Mas, senhores e senhoras, nos faltam líderes inovadores.

Realmente temos tudo que uma cidade precisa para seu desenvolvimento, não somente econômico, mas social. Mas precisamos de um choque de verdade, de perceber que não dá mais para ouvir docilmente os discursos feitos via mídia tradicional, ou em associações de classe, sem questionar, cobrar, fiscalizar. Para chegarmos ao patamar de cidade inteligente e humana, há que se inovar nas lideranças, nos projetos, ousar sonhar, e ter coragem e energia para levar Joinville para o século 22 já, e não como ficamos hoje, a passos de tartaruga e pequenos factoides a nos ludibriar, vivendo ainda no modelo industrial do passado.

Parabéns aos idealizadores da smart city, mas cuidado: façam sair do papel o que sonham e pensam, com ações e inovações reais. Senão ficarão frustrados, e a cidade também.

É assim, nas teias do poder...




segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ideias que se espalham como um câncer



Não há nenhuma dúvida de que Joinville tem escolhido ser a maior. A maior cidade do estado, a maior economia, o maior colégio eleitoral, o maior consumo de energia. Enfim, a maior em tudo, mas sem perceber que "ser a maior" quer dizer também ter mais problemas, maiores problemas e mais complexos.  Enquanto o futuro da cidade for traçado pela mesma lógica que segue uma célula cancerígena, a de crescer indefinidamente, sem medida e sem controle, o resultado é previsível. E não é bom.

Surpreende uma cidade que teve a oportunidade de elaborar um planejamento estratégico - em que escolheu ser uma cidade na que se realizariam sonhos - tenha abandonado esta visão para ser uma cidade em que se materializam pesadelos. O desafio por uma cidade sustentável, moderna, inovadora, culta, eficiente e com qualidade foi abandonado em algum lugar do passado recente, para escolher o caminho do crescimento metastástico.

Os índices de saneamento básico, de segurança, de mobilidade ou de qualidade de vida em vez de melhorar têm piorado. O pior é que também os indicadores econômicos têm perdido fôlego, algo que só os nossos dirigentes e os partidários do lucro a qualquer custo não enxergam. Joinville segue apostando num modelo ultrapassado. O resultado é uma participação menor no bolo do ICMS, redução do emprego, aumento da violência urbana e uma cidade que esta cada dia mais ao léu.

O modelo de "quanto maior melhor" é obsoleto e condena a sociedade a viver em cidades com problemas insolúveis de mobilidade, de infraestrutura. Converte o sonho de morar em cidades modernas num autêntico inferno. As pessoas se amontoam em espaços cada vez menores, se reduz o tamanho dos lotes urbanos, se reduzem os índices de ventilação, de insolação, se aumentam os de densidade, se reduzem as áreas verdes, árvores e calçadas cedem espaço ao carro e o resultado é cada vez pior.

Não há nenhuma proposta para limitar o tamanho da cidade. Para melhorar a qualidade de vida dos joinvilenses, para atrair outro perfil de empresas, para potencializar outro tipo de negócios. O modelo segue sendo o de prolongar ao máximo o modelo atual, mesmo que exaurido, permitir que ganhe uma sobrevida, ainda que para isso precisemos comprometer o futuro das novas gerações.

Mas, afinal, a quem importa o futuro? O que interessa é o lucro fácil e imediato. E Joinville segue com este crescimento metastático, sob o olhar cúmplice de todos os que vampirizam a sociedade e dela se beneficiam.