segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Precisamos mentir tanto?



POR JORDI CASTAN
Na semana passada, comentei aqui o tema do restaurante popular do Bucarein, fechado pelo governo municipal por conta de uma suposta reforma. Quem passe na frente não verá ninguém trabalhando, nem traços de nenhuma reforma, nem qualquer informação referente à dita reforma. Ou seja, nem data de inicio, nem data prevista para conclusão, nem valor do contrato, nem o nome da empresa ganhadora da licitação.

A impressão que fica é a de que o restaurante foi fechado e que ficou por isso mesmo. A escusa da necessidade de uma reforma não parece convincente. Conta a administração municipal com o esquecimento da população e com a impossibilidade de lembrar de todas as obras: iniciadas e não concluídas, sem data prevista de conclusão ou simplesmente abandonadas. Há que acrescentar a isto a falta de um seguimento eficiente por parte da imprensa ou da sociedade organizada, o que permite que o governo nos presenteie todos os dias com novas empulhações.

Nestes dias a SECOM (Secretaria de Comunicação) da Prefeitura Municipal de Joinville informou que  no ano de 2014 a SEINFRA (Secretaria de Infraestrutura) autorizou a construção de 1 milhão e 400 mil metros quadrados de novas edificações. Representa o maior número de metros quadrados da história de Joinville. Nunca se construiu tanto. A média histórica dos últimos quatro anos se situa na faixa do milhão de metros quadrados. 

Os dados são sempre do próprio governo municipal. Os números de 2014 representam um aumento de quase 40%. O que tem a ver este crescimento vigoroso e sustentado do setor da construção civil com a paixão compulsiva pela mitomania dos nossos dirigentes municipais? O prefeito não perdeu nenhuma oportunidade, nos dois últimos anos, para defender a aprovação da LOT (Lei de Ordenamento Territorial), alegando que a cidade estava parada. Ou seja, que Joinville precisa aprovar a LOT urgentemente. 

Tem acusado a judicialização da LOT e as Associações de Moradores que tem capitaneado o processo de propor uma LOT mais democrática, com mais e melhores estudos e com dados claros que evitem que seja aprovada uma lei que comprometa o futuro da cidade para as gerações futuras.

Os dados divulgados pela própria prefeitura provam que não há motivo para forçar a aprovação da LOT, que o debate com a sociedade é necessário e não deve ser apressado por conta de uma suposta paralisia ou um engessamento do setor imobiliário. Mas, mais que qualquer outra coisa, os dados divulgados reforçam a suspeita de que o prefeito ou não sabe o que diz ou, sabendo, usa seu discurso para pressionar uma aprovação expedita. Ou, o que seria mais grave, tem ataques de mitomania compulsiva, e se dedica a praticar a arte de mentira política, sabendo que suas afirmações, mesmo sendo falsas, servirão para alcançar o objetivo que almeja.

Seria melhor para todos se as declarações do prefeito fossem tomadas com menor credibilidade e mais espírito crítico. O prefeito não tem nem o dom da infalibilidade, nem o da verdade absoluta. É um simples mortal ocupando um cargo terreno, por um tempo determinado, ainda que às vezes possa agir como um semideus. E está muito longe da imagem que ele e os seus acólitos querem nos vender.



A quantidade de mentiras que escutamos todos os dias alcança níveis nunca antes imaginados. Nem vou aqui focar na corja de mitômanos que têm tomado o poder no governo federal. Lá o caso é de policia. Acho mais interessante manter o foco aqui na nossa paróquia.



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Transformação


Ou mudamos, ou seremos mudados

                                                                                              
Você já conhece esta frase. Já ouviu em algum lugar. Nos últimos dias cansou de ver políticos a repeti-la como mantra. E cá está este jornalista a utilizar a frase novamente, que saco!

Ulysses Guimarães, famoso político brasileiro que sumiu do mapa sem que o tenham encontrado até hoje, tem um livro publicado com este título (1991). Talvez ele não tenha mudado, e alguém o mudou por conta e risco em um acidente aéreo em 1992. Políticos costumam utilizar tais frases de efeito para seduzir o eleitor. Fazer com que pensemos que a mudança que eles bradam é a mesma que nós queremos e desejamos. Pura ilusão nossa.

Vejamos a eleição municipal de 2012 em Joinville (SC). A mudança para algo diferente, novo, era o mote. Mas os candidatos, os mesmos de sempre. O atual Prefeito se elegeu com o discurso da gestão, da qual ele era o grande conhecedor. Pura quimera. Ele também já era figura conhecidíssima, nãos dos pleitos eleitorais, mas de bastidores. Para não deixar no poder quem nunca quiseram, o uso da “mudança” foi maciço. Deu certo. Mudamos? Que nada, fomos mudados para votar no que a elite local desejava. Olhem a cidade e a gestão... paramos ou até regredimos.

Mais um case? Vamos para algo novo, a eleição das mesas diretoras do Senado e Câmara dos Deputados. Notem que fomos nós, brasileiros, que elegemos e reelegemos os ocupantes daquelas confortáveis cadeiras, gabinetes com altos privilégios. No Senado, o ex-governador catarinense Luiz Henrique, ex-pupilo de Ulysses, utilizou a frase famosa do seu eterno líder ao tentar apear Renan Calheiros da presidência. O que mudaria? Apenas os nomes, pois a prática é a mesma, afinal, ambos e grande parte daquela casa não muda faz tempo. Lá estão a manipular os destinos da nação em nome dos Estados.

Eduardo Cunha, veterano na Câmara dos Deputados, também fez uso da máxima ao propor a independência daquele poder. Derrotou o candidato de Dilma, o candidato de Aécio e PSDB, com sobras. Agora manda prá valer, e é o terceiro na linha sucessória do país. Mudou alguma coisa cara pálida? Alguma prática vai mudar? Os grandes temas nacionais que sonhamos ver valendo serão efetivamente votados? Ou mudamos, ou seremos mudados. Pois é. Eles continuam mudando tudo para nada mudar, e nós apenas a observar.

O Congresso Nacional saiu muito mais conservador das últimas eleições. A mudança para a qual milhões foram às ruas em 2013 vai ficar para mais alguns anos à frente. Duvidam? A não ser que ocorram terremotos nas ruas, anotem: serão enterradas a união civil de pessoas do mesmo sexo, a regulação da mídia eletrônica, o imposto sobre fortunas, a reforma política com financiamento público de campanhas, e qualquer outro projeto progressista. 

E que se cuidem os trabalhadores e trabalhadoras, pois ficarão mais 20 anos nas gavetas do Congresso temas como a redução da jornada de trabalho. E direitos trabalhistas, estes sim, poderão ser “flexibilizados”.

Ulysses Guimarães tem mais uma frase importante que compartilho aqui. “Quando as elites políticas pensam apenas na sobrevivência do poder oligárquico, colocam em risco a soberania nacional. A governabilidade está no social. A fome, a miséria, a ignorância, a doença inassistida são ingovernáveis. O estado de direito, consectário da igualdade, não pode conviver com o estado de miséria. Mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria.”


Ainda não superamos a miséria e as desigualdades sociais, e continuamos a nos superar na miséria intelectual, e na participação política. Os movimentos sociais estão preguiçosos, longe das lutas e das ruas. Não entenderam o seu papel nos governos petistas, e estão inertes. Não reagem, perdem a luta midiática. Os partidos são meros balcões de negócios. E assim perdemos todos. 

Olhem para os cenários políticos em todos os níveis. Vejam o que temos como lideranças para escolher nos próximos pleitos. Queremos que algo mude, de fato? Se sim, mudemos nossa ação, analisando e participando ativamente. Se não, deixemos que nos mudem para o último lugar na história.



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Qual o papel do ensino médio?

 POR CHARLES HENRIQUE VOOS

O ensino médio no Brasil não cumpre o seu papel, desde a sua gênese. A cada dia que passa vivemos a mercantilização da aprovação no vestibular. Andando pela cidade, ainda mais nesta época do ano, presenciamos inúmeras propagandas das escolas (particulares) locais que "vendem" como seu principal produto o aluno (ou a aluna) que foi bem colocado nos mais concorridos vestibulares da região. Não fica entendido, por exemplo, se aquele aluno "formado" será bem sucedido na sua função de agente social.

A escola não dá, no ensino médio, as bases fundamentais que um jovem necessita para encarar os desafios da maioridade. Não promove o senso crítico, a boa leitura, a boa escrita, a interpretação de sistemas complexos, e não sensibiliza ninguém a ser ativo num mundo cada vez mais passivo e que aceita o status quo. Está muito claro que, para os pobres, geralmente estudantes de escolas públicas, o ensino médio é obsoleto pois não apresenta nada de novo, não prepara a juventude e nem a dá caminhos para a tão falada inclusão social e diminuição das desigualdades.

Pelo contrário. O ensino médio é um reprodutor dos problemas, pois ainda temos grandiosas taxas de jovens que saem da escola antes de completar o "terceirão" em busca de trabalhos (nos mais baixos níveis da estrutura laboral) e do sustento. Dados do Censo 2010 mostram que, em Joinville, aproximadamente 28% dos jovens de 18 a 24 não terminaram o ensino médio e nem estavam estudando para completá-lo. Com certeza este quadro se agrava ao cruzarmos com outros fatores, como a renda, a escolaridade dos membros da família, as questões de gênero e o local de moradia na cidade.

Por outro lado, o ensino médio das escolas particulares é uma preparação para o vestibular. Simulados, exames vocacionados, e aquela decoreba toda fazem parte dos alunos, diariamente. Raras as exceções em que eles são preparados para enxergar o mundo além daquilo que pede o mercado de trabalho. Não é a toa que não temos propagandas com conteúdos de conquistas sociais da formação discente, mas sim de resultados explícitos em vestibulares e etc. Os cursinhos surgiram na mesma linha e potencializaram o cenário.

Precisamos, urgente, repensar o papel do ensino médio. Não podemos achar que a roupagem técnica, de preparação para o trabalho, vai resolver o problema dos mais pobres e nem a aprovação no melhor vestibular vai garantir uma vida de sucesso para o mais rico. O ensino médio deve se voltar para a essência de seu nome, dando as mesmas condições para todos, com ensino integral e integrador, sem segregar e nem dar mais oportunidades para aqueles que carregam consigo todo o capital social de seus familiares. E sem decoreba, por favor.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Vamos parar de falar de racismo

POR FELIPE CARDOSO

Já estou cansado de ouvir essa frase. Em uma época até cheguei a acreditar nisso, mas depois de muitas pesquisas e leituras vi o quão errado é esse pensamento.

Influenciados pela entrevista de Morgan Freeman (que viralizou na internet) na qual ele fala sobre racismo e o mês da consciência negra, muitas pessoas passaram a usar tal argumento para chegarmos a uma solução e vivermos em paz.

Pois bem, o “homem livre” parece não ser tão livre assim.

Para um artista milionário deve ser muito fácil falar isso.

Morgan não é o único (nem será o último, infelizmente) "famoso" negro a ficar distante da luta por igualdade e justiça social. No Brasil temos milhares como ele: Ronaldo Fenômeno, Neymar, Pelé, Alexandre Pires… Para eles, que acreditam não sofrer com o racismo, pode parecer simples a solução para esse terrível problema. Afinal, eles não devem levar a mesma vida que os jovens, adultos e idosos da periferia levam. Alguns deles nem se consideram negros (Ronaldo e Neymar). Logo, eles não devem mais passar pela opressão policial. São tolerados porque são conhecidos e suas contas bancárias podem comprar um pouco de respeito, às vezes. Oprah Winfrey, por exemplo, já sofreu com o racismo mesmo sendo uma "celebridade" mundialmente conhecida (http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2013/08/oprah-winfrey-afirma-ter-sido-vitima-de-racismo-na-suica.html).

O que quero dizer é que, muitas vezes, as "celebridades" negras acabam por esquecer suas raízes e acabam servindo de lacaios para seus patrões. Ficam de quatro pelo dinheiro. Trabalham como capitães do mato para garantir o emprego, o padrão de vida, ou seja, acabam pensando somente neles. Sou mais o Tinga, o goleiro Aranha e, mais recente, a jogadora de vôlei Fabiana Claudino, que não se calaram diante do racismo e aproveitaram a visibilidade para denunciar o que milhares de pessoas “anônimas” enfrentam diariamente.

Imagine se mulheres estupradas ficassem caladas. Imagine se os homossexuais agredidos ficassem calados. Imagine se as crianças mal tratadas ficassem caladas. Imagine se nós negros continuarmos calados.

Você realmente acha que mudaria alguma coisa?

Obviamente não.

O que essas "celebridades" reacionárias não percebem é que elas estão contribuindo para o silenciamento dos movimentos sociais, das “pessoas comuns” que enfrentam todos os tipos de preconceitos e humilhações diariamente e, na maioria das vezes, não têm como se defender.

No texto “A importância da voz” destaco a relevância das lutas dos movimentos sociais. Graças à internet podemos mostrar diferentes pontos de vistas, denunciar e encorajar mais pessoas a não ficarem caladas. Confesso que em certo momento até cheguei a reproduzir pensamentos retrógrados como o do Freeman, mas uma professora da faculdade me apresentou uma certa “autonomia do pensamento”. Comecei a confiar mais na minha cabeça. Li, pesquisei, assisti e analisei. Pude me inteirar mais sobre o assunto e tirar a minha própria conclusão. Não tenho a vida de um artista milionário. Minha realidade é muito diferente das deles e tenho certeza que a da maioria da população negra também é.

Eles não nos representam.

Somos mais Tinga, Aranha, Fabi, Zumbi, Dandara, Teresa, Marighella, Angela Davis, Mandela, Luther King, Malcolm X e muitos outros militantes negros que mostraram e comprovaram que ficar calado diante as injustiças não é a saída, muito menos a solução para os nossos problemas.

Não nos calaremos. Para o desespero de Morgan, Pelé, Neymar, Ronaldo e tantos outros lacaios e covardes.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Volta às aulas!


Essa tal de "Geston"

POR JORDI CASTAN


Essa tal de “geston” é um bicho esquisito. Na campanha foi apresentada como a solução a todos os problemas. O problema de Joinville era um problema de gestão e o candidato que venceu se apresentava como garoto propaganda da gestão. Já no discurso de posse veio com aquele papo mole de "cuidar dos centavos" quando todos sabemos que o problema não são os centavos, o problema são os Reais e a vaca começou a ir para o brejo, devagarzinho no começo, com um trote alegre depois e agora num elegante galope. Em quanto a nível federal as vacas têm optado por ficar tossegosas, as sambaquianas têm se dirigido ao brejo.

Essa tal de “geston” não parece estar dando os resultados previstos. Escolhi alguns exemplos a esmo, estou convencido que cada leitor poderá acrescentar outros com pouco esforço. Como inicio de conversa:
- A arborização urbana.
- O restaurante popular do Bucarein.
- PA da Zona Norte
- A Rua das Palmeiras.
- As escolas municipais. 

A arborização urbana foi objeto de um post recente aqui no Chuva Ácida, e media de perdas das arvores plantadas na ultima empreitada esta sobre os 50%, numa rápida vistoria pela cidade. Ainda há que acrescentar a este numero as arvores que são mortas intencionalmente, as que morrem por falta de manutenção e as que se perdem por causas naturais e que tampouco são repostas. Qualquer leitor atento que passe perto da rotatória do tecelão poderá constatar que verde e arborização não é o ponto forte das empresas que estão perto. É difícil imaginar que quem não planta arvores e não tem um jardim cuidado na sua casa ou na sua empresa se preocupara com isso na sua cidade. “Geston” do verde “0”

O restaurante popular do Bucarein segue fechado. Alguém se lembra do motivo do fechamento e a data anunciada para a sua reapertura? Em novembro de 2013 e com menos de 3 anos de uso o restaurante foi fechado para “reformas” reformas orçadas em mais de R$600.000 e com data prevista de reapertura em junho de 2014. Até agora nada. Já sabemos que cumprimento de prazos e de preços não é o forte desta gestão. Mas ninguém até agora veio a dizer a que ritmo anda a obra e qual o novo prazo. O mais provável é que estem apostando em que logo o joinvilense esqueça que lá um dia teve um restaurante popular.

Fechar o PA da Zona Norte para reformas e transferir os pacientes e usuários para os outros PAs é uma pratica estranha. Já imaginou se uma indústria têxtil fechasse por meio ano a estamparia ou a tinturaria para reformas? Será que as empresas de Joinville não fazem manutenção preventiva dos seus equipamentos e instalações? Se as empresas fazem, essa não é uma pratica que forme parte da “geston” pública. Aqui as coisas se deixam sem manutenção até cair aos pedaços literalmente e depois se fecham “sine die” e se gastam uns bons recursos em grandes reformas que em pouco tempo exigirão novas reformas. Estou tentando lembrar quando foi a ultima vez que o Hospital Dona Helena, por citar um exemplo, fechou durante meio ano para fazer reformas? Alguém me ajuda a lembrar?

A Rua das Palmeiras segue sendo um cartão postal da cidade. Além de um cartão postal é também uma mostra do zelo para com o nosso patrimônio cultural e paisagístico. Depois que o mato tomou conta, que as flores desapareceram e que os canteiros estavam prontos para receber um rebanho de cabritos, a grama foi roçada e o lixo foi recolhido. Os responsáveis pela “geston” do espaço não devem ter sido informados que a grama cresce e deve ser podada regularmente, que a troca de flores e o corte da grama são atividades rotineiras e permanentes que qualquer jardineiro amador conhece bem. Aqui roçar a grama é algo tão extraordinário que vira noticia na imprensa local.

A boa noticia é que não deveremos ter escolas interditadas no inicio do ano escolar, o que não quer dizer que a “geston” municipal tenha feito a sua tarefa bem e tenha se antecipado aos problemas, sempre ao chegar mais perto do inicio das aulas começa a tensão para saber quantas e quais escolas não poderão iniciar o ano letivo por não atender as exigências legais referentes a vigilância sanitária. Deveria ser uma preocupação de toda a sociedade que o poder público cumpra o que exige da sociedade, o cumprimento da lei e que todas as escolas estivessem preparadas para receber os alunos em perfeito estado. Curiosamente neste ano e quando ainda falta fiscalizar 90% das escolas estaduais e mais de 40% das municipais, a única fiscal da vigilância sanitária foi afastada e este ano não teremos nenhuma escola interditada, porque não haverá uma fiscalização adequada. Isso é bom? Em principio que não se fiscalize não é bom. Que se afaste a fiscal Lia Abreu por 60 dias justamente nesta época em que se concentra a maior intensidade do trabalho de fiscalização das escolas é no mínimo estranho. Na verdade quanto mais informação esta disponível sobre o episodio mais aumentam as duvidas e mais estranha parece esta coincidência. A sociedade tem o direito a ser informada e bem sobre se as escolas cumprem o que a lei estabelece e quais os motivos que levaram ao afastamento da fiscal. Transparência é bom e quem não fez nada errado não deve temê-la.  


Quando já transcorreu mais de 50% do mandato desta administração parece que o gestor tem perdido brilho e que o que aparentava ser ouro resplandecente é só latão. A população segue esperando um choque de gestão, até agora só tem recebido lamurias e essa coisa chamada “geston”.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Brainstorming

POR MANOELA DO NASCIMENTO


Assim como tantas outras lendas que fazem parte da cultura de São Francisco do Sul, a lenda do Marinebus já assombra os francisquenses.  Mas, precisando ir a Joinville e cansada de enfrentar as frequentes filas da BR 280, resolvi enfrentar outros perigos e tentar encontrar o tal Marinebus.

Primeiro, vou em busca de notícias: “O transporte começou a operar no dia 6 de janeiro. Em seu primeiro dia de viagens, o Marinebus, que tem capacidade para transportar 47 passageiros, realizou o trajeto entre as duas cidades com uma média de 20 pessoas a bordo.”  (ANoticia, 12 de janeiro)

Então, anoto os horários divulgados e os seus locais de aparição.

Saída de São Francisco do Sul para Joinville
06h20
8h20
12h
14h
18h

Saída de Joinville - para São Francisco do Sul
07h30
9h30
13h15
15h30
19h15

Faço um reza e vou ao encontro no trapiche de São Francisco do Sul. Era aproximadamente 7:45h da manhã e sol já refletia na Babitonga.

Enfim, chego ao trapiche de São Francisco do Sul. Respiração já ofegante, penso que deve ser pelo sobe e desce nas já conhecidas ladeiras do Centro Histórico.

Deparo-me com uma simpática senhora que estava a contar outras histórias a outro simpático rapaz. Para não assustá-los, emito um som baixo e agudo, como de costume, e pergunto como faço para comprar a passagem para o horário das 8h20. Torcendo por uma positiva resposta.

A simpática senhora pede então que eu me aproxime e me fala quase que ao pé do ouvido: - Shhhhhhh! Nas segundas ele costuma não aparecer por aqui... Você devia saber destas coisas menina...

Um buraco abre embaixo dos meus pés e meu coração dispara: - Então é verdade! A lenda existe mesmo! Isto é quase que como ter certeza que o Curupira existe, menos nas segundas-feiras.

E lá vou eu, feliz da vida, até a rodoviária pegar o ônibus, pois perdi a carona depois que decidi me aventurar pelos lados obscuros da nossa cultura.

Chego ao ônibus e para minha surpresa não tem mais lugar para sentar. – Que maravilha! Hoje é mesmo meu dia de sorte. Logo penso.

Começo a ver pessoas idosas, pessoas com necessidades especiais, trabalhadores, estudantes, turistas e crianças. Algumas no corredor. Com eles, suas bolsas, malas, travesseiros, livros e garrafinhas de água para amenizar o sufocante calor.
O ônibus começa a andar tranquilamente até que.............. trânsito parado na 280!

Passadas 3 horas, começo a ouvir turistas dizendo que perderam o horário de outros ônibus, que as senhoras perderam o horário da consulta, que os estudantes perderam o horário da prova, que os trabalhadores perderam tempo e que todo mundo perdeu a paciência.
Reflito: Sim! É verdade.... Este Marinebus existe mesmo! Mas deixa rastros e pistas falsas para despistar sua identidade. De acordo com a lenda, é impossível um francisquense alcança-lo. Após encantar os moradores, ele desaparece e ficamos apenas tentando descobrir seus mistérios. Enquanto isto, nos resta a imaginar como seria se ele existisse...


Obs. Lendas fazem parte do imaginário das pessoas. Assim como esta história.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Movimento LGBT, é preciso mesmo tantas letrinhas?

EMANUELLE CARVALHO

Ocorre frequentemente, nas situações mais distintas. Na TV, com uma reportagem  que trata o assunto indevidamente e confunde a população. No rádio, ao trocarem qualquer identidade de gênero ou orientação pela palavra gay. E também quando você está lá, bebendo aquela cerveja com os amigos e de repente alguém toca no assunto: "É como a galera GLS, Manu". Você corrige rapidamente para LGBT, e o logo os questionamentos sobre nomenclaturas, expressões de gênero, orientação sexual começam a surgir, e com eles as dúvidas tão comuns.


Mas será que é preciso tantos nomes diferentes? Será que a gente não pode chamar tudo de homossexualidade pra ficar mais fácil?
Não, a resposta correta é não. 

E não é porque nós somos "tudo bicha pintosa que gosta de frufru, glamour e purpurina" (até por que tem muita sapatão caminhoneira nesse barco, tem muita diversidade  nesse bolo, mas isso é outro papo, ou melhor, outro texto). O fato é que nomear os comportamentos e identidades ajuda a debater sobre elas, cria um ambiente propício a diferenciação dessas identidades, orientações e culturas e a entender um pouco de suas subjetividades e desse conceito tão amplo que é a diversidade.
Quando dividimos os sujeitos LGTBs em letrinhas podemos debater suas demandas uma a uma. Podemos dar atencão a problemas não vistos por outros grupos e por isso, pouco evidenciados. Chamamos isso nos movimentos sociais de visibilidade (guarde bem essa palavra, vou utilizá-las bastante dialogando aqui nesse espaço).
Ao debater as demandas individualmente a gente pode devagarinho, passo a passo, visualizar algumas opressões da sociedade que comumente não veríamos mas que nos afligem e são motivos de muitos traumas. 

Por exemplo, mulheres lésbicas sofrem lesbofobia e dentro disso, problemas como estupros corretivos , onde uma parcelas de homens machistas idiotas acreditam que podem corrigir a sexualidade dessas mulheres estuprando-as.
Já os bissexuais sofrem com as ideias bifóbicas equivocadas de que suas mentes e corpos são indecisos, que querem tão somente a promiscuidade e que não conseguem sustentar relações monogâmicas. Somos na ideia da sociedade atual uma espécie programada para fazer sexo sem se apaixonar independente do outro ser alguém legal ou não, ser inteligente ou não, nos atrair ou não. Algo criado para agradar a homens heterossexuais, já que a bissexualidade masculina é sempre vista como um disfarce e pouco admitida sua existência (sim, é preciso provar que sua sexualidade existe!). Uma grande bobagem do fetichismo e estereótipo televisivo.

Mas será que nomear tanto e trocar frequentemente essas nomenclaturas não piora essa visibilidade? Será que não confunde as pessoas? Será que não era mais fácil falar somente sobre amor?
Claro que sim, mas isso não é de fato um problema. Nesta sociedade plural e pós moderna estamos acostumados a modificar as coisas o tempo todo. Em 1960 a minha mãe teve um lance com meu pai, já minha avó teve um chamego, meu irmão flertou aos 15 e eu fiquei aos 12. Viram só, estamos modificando nossas formas de falar, então por que a nossa sexualidade, sempre tão invisível e agora talvez um pouco mais debatida não pode receber um novo olhar?
Claro que pode.

É preciso atentar que algumas palavrinhas são ressignificadas, ou seja, recebem um novo sentido, uma nova carga simbólica, moral e política e outras podem ser utilizadas pejorativamente. Se você não sabe que termo utilizar com uma determinada pessoa ou determinado grupo, pergunte. Não é feio, não dói, e principalmente, não machuca o outro. 

Além disso, é preciso ter paciência para explicar  (estou trabalhando arduamente nisso gente!), especialmente aos que foram educados para um mundo mais cinza, que essa pluralidade de cores não nos inferioriza enquanto sociedade, pelo contrário, nos fazem sujeitos ainda mais tolerantes, fortes e múltiplos.