EMANUELLE CARVALHO
Ocorre frequentemente, nas situações mais distintas. Na TV, com uma reportagem que trata o assunto indevidamente e confunde a população. No rádio, ao trocarem qualquer identidade de gênero ou orientação pela palavra gay. E também quando você está lá, bebendo aquela cerveja com os amigos e de repente alguém toca no assunto: "É como a galera GLS, Manu". Você corrige rapidamente para LGBT, e o logo os questionamentos sobre nomenclaturas, expressões de gênero, orientação sexual começam a surgir, e com eles as dúvidas tão comuns.
Mas será que é preciso tantos nomes diferentes? Será que a
gente não pode chamar tudo de homossexualidade pra ficar mais fácil?
Não, a resposta correta é não.
Não, a resposta correta é não.
E não é porque nós somos "tudo bicha pintosa que gosta
de frufru, glamour e purpurina" (até por que tem muita sapatão
caminhoneira nesse barco, tem muita diversidade nesse bolo, mas isso é
outro papo, ou melhor, outro texto). O fato é que nomear os comportamentos e
identidades ajuda a debater sobre elas, cria um ambiente propício a
diferenciação dessas identidades, orientações e culturas e a entender um pouco
de suas subjetividades e desse conceito tão amplo que é a diversidade.
Quando dividimos os sujeitos LGTBs em letrinhas podemos
debater suas demandas uma a uma. Podemos dar atencão a problemas não vistos por
outros grupos e por isso, pouco evidenciados. Chamamos isso nos movimentos
sociais de visibilidade (guarde bem essa palavra, vou utilizá-las bastante
dialogando aqui nesse espaço).
Ao debater as demandas individualmente a gente pode
devagarinho, passo a passo, visualizar algumas opressões da sociedade que
comumente não veríamos mas que nos afligem e são motivos de muitos
traumas.
Por exemplo, mulheres lésbicas sofrem lesbofobia e dentro
disso, problemas como estupros corretivos , onde uma parcelas de homens
machistas idiotas acreditam que podem corrigir a sexualidade dessas mulheres
estuprando-as.
Já os bissexuais sofrem com as ideias bifóbicas equivocadas de que suas mentes e corpos são indecisos, que querem tão somente a promiscuidade e que não conseguem sustentar relações monogâmicas. Somos na ideia da sociedade atual uma espécie programada para fazer sexo sem se apaixonar independente do outro ser alguém legal ou não, ser inteligente ou não, nos atrair ou não. Algo criado para agradar a homens heterossexuais, já que a bissexualidade masculina é sempre vista como um disfarce e pouco admitida sua existência (sim, é preciso provar que sua sexualidade existe!). Uma grande bobagem do fetichismo e estereótipo televisivo.
Já os bissexuais sofrem com as ideias bifóbicas equivocadas de que suas mentes e corpos são indecisos, que querem tão somente a promiscuidade e que não conseguem sustentar relações monogâmicas. Somos na ideia da sociedade atual uma espécie programada para fazer sexo sem se apaixonar independente do outro ser alguém legal ou não, ser inteligente ou não, nos atrair ou não. Algo criado para agradar a homens heterossexuais, já que a bissexualidade masculina é sempre vista como um disfarce e pouco admitida sua existência (sim, é preciso provar que sua sexualidade existe!). Uma grande bobagem do fetichismo e estereótipo televisivo.
Mas será que nomear tanto e trocar frequentemente essas
nomenclaturas não piora essa visibilidade? Será que não confunde as pessoas?
Será que não era mais fácil falar somente sobre amor?
Claro que sim, mas isso não é de fato um problema. Nesta
sociedade plural e pós moderna estamos acostumados a modificar as coisas o
tempo todo. Em 1960 a minha mãe teve um lance com meu pai, já minha avó teve um
chamego, meu irmão flertou aos 15 e eu fiquei aos 12. Viram só, estamos
modificando nossas formas de falar, então por que a nossa sexualidade, sempre
tão invisível e agora talvez um pouco mais debatida não pode receber um novo
olhar?
Claro que pode.
É preciso atentar que algumas palavrinhas são
ressignificadas, ou seja, recebem um novo sentido, uma nova carga simbólica,
moral e política e outras podem ser utilizadas pejorativamente. Se você não
sabe que termo utilizar com uma determinada pessoa ou determinado grupo,
pergunte. Não é feio, não dói, e principalmente, não machuca o outro.
Além disso, é preciso ter paciência para
explicar (estou trabalhando arduamente nisso gente!), especialmente
aos que foram educados para um mundo mais cinza, que essa pluralidade de cores
não nos inferioriza enquanto sociedade, pelo contrário, nos fazem sujeitos
ainda mais tolerantes, fortes e múltiplos.
Se não publicam os comentários, também não leio o texto.
ResponderExcluir(não é só eu quem pensa assim)
O problema das letrinhas é justamente as letrinhas.... pra que criar uma sigla ou designação pra algo que é extramente variado como o sexo. Daqui a pouco teremos uma sigla de 15 letras e ainda vai faltar letras. Como você mesmo falou, a população muda sua linguagem conforme o tempo passa, e leva tempo para que preconceitos caiam, portanto sempre falarão termos errados. Considero que a designação de como se fala não é o problema, mas o que se fala é problema, um papo carregado em preconceito pode ser muito pior do que o uso de designação incorreta. O que importa é que todos tenham o mesmo direito e que seja normal o convívio com os demais. A palavra gay tinha um significado inicial de alegre em inglês, quer um significado melhor do isto? Pessoas que se aceitam são alegres.
ResponderExcluirOi Rudimar,
ExcluirExatamente por isso que precisamos pensar. LGBT não fala somente de orientação sexual, mas de identidade de gênero, que nada tem a ver com o sexo, mas como ela se entende e como se classifica, se homem, se mulher, de trans não binário.
Como é que vamos explicar a trans não binaridade se não falarmos dela? Se não destrincharmos ficaremos sempre expostos as mesmas classificações. No mais, é uma demanda do grupo, e este grupo se sente muito bem representado nela. Você não acha que é melhor que os próprios oprimidos falem sobre suas opressões?
Grande abraço!