POR FELIPE CARDOSO
Recentemente o “humorista” Renato Aragão, vulgo Didi, saudosista que só, relembrou desse período em que negros e homossexuais não se importavam com as piadas racistas e homofóbicas. “Naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam. Elas sabiam que não era para atingir, para sacanear”, desabafou.
O mundo atual está vivendo a época do “politicamente correto”, que está deixando a nossa vida mais chata.
- “Para que tirar as pessoas da miséria? Vamos rir da miséria de quem?”, não é Silvia Pilz? O link está no final deste texto.
- “Negros cursando universidade? Para quê? Quem vai dirigir meu carro? Quem vai lavar minhas cuequinhas?”
- “Homossexuais casando e constituindo família? Por que isso? Pra que adotar crianças abandonadas e ensinar a serem gays?”
- “Lei Maria da Penha? Mulheres ganhando salários maiores do que o meu? Morando sozinhas? Independência feminina? Donas do próprio corpo? Quem vai cozinhar e limpar minha casa agora?”
- “Nós, brancos, heterossexuais, cristãos, pagadores de impostos estamos sendo oprimidos!”
Esses são alguns dos pensamentos dos intolerantes e reacionários que são representados por pessoas que se intitulam humoristas e mostram seus ideais (da Idade Média) por meio de piadas. Acham que estão sendo perseguidos e proibidos de caçoarem dos outros.
É assustador ver a quantidade de comentários preconceituosos de pessoas que, de alguma maneira, querem propagar, incentivar e fazer prosperar o discurso do ódio, da intolerância e da violência.
Se você sente saudade de alguma coisa citada acima, sinto informar, mas você precisa urgentemente de um tratamento psiquiátrico.
Então quer dizer que ensinarmos as pessoas de todas as idades a respeitarem as diferenças e conviver de maneira pacífica e harmônica para contribuir com o crescimento do país é algo simplesmente “chato” e “sem graça”? Lutar por igualdade e justiça é balela? Devemos celebrar a cultura das ofensas e desavenças? Continuar achando que é apenas uma piada?
Certamente essas pessoas que defendem essa época “gloriosa” são as mesmas que reclamam dos assaltos e assassinatos presentes no nosso dia a dia.
- “Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Uma coisa é falar, outra é agir!”.
Lembram da repórter Rachel Sheherazade, que disse ser “compreensível a atitude de justiceiros”? Lembram o que aconteceu depois desse depoimento? As palavras têm poder. Para que a teoria vire prática basta uma simples atitude.
Quando semeamos na nossa cabeça a raiva, a intolerância e a ignorância, nosso subconsciente nos leva a ações maldosas que prejudicam pessoas ao nosso redor quando precisamos resolver nossos problemas.
Rir da diferença do outro é errado, pois você está desqualificando seu semelhante. Você está hierarquizando e segregando a sociedade. Quem se parece com você é bonito, inteligente e merece tudo de bom. Quem é diferente de você é feio, burro e merece tudo de ruim. Acho isso já foi usado em alguns períodos da história mundial. Se não estou enganado foi na escravidão e no nazismo.
Assustador, não? Uma simples piada pode parecer apenas uma simples piada quando não é analisada. Ela se naturaliza e, muitas vezes, é tomada como verdade. Então não tem graça as suas piadas preconceituosas. Na verdade nunca tiveram. A diferença é que tempos atrás quem sofria com tais humilhações não tinha força para reivindicar, mas agora elas têm.
Se estamos evoluindo para uma cultura mais respeitosa e você está descontente com o mundo, não pense que a sociedade está chata. Na verdade é você que não está acompanhando essa evolução. Isso é normal. Acontece com todas as pessoas preconceituosas. Elas não estudam, não sentem empatia e só leem e assistem o que combina com os seus pensamentos. Isso quando leem. Então não pense que nós (que lutamos contra todo o tipo de preconceito e violência) é que estamos errados.
Ensinar e semear o amor, a paz e o respeito para todos é fundamental para uma melhor educação e uma melhor convivência entre os humanos. Fazendo as pessoas pararem de achar graça em ofensas baratas e agressivas nos fará ficar mais exigentes. Não rir de qualquer coisa. Nossos humoristas terão que se esforçar mais. Exigiremos mais piadas inteligentes. As “zoações” nas escolas serão diferentes.
Estamos evoluindo e não podemos dar marcha a ré. Mais paz, amor, união e respeito, por favor.
Ah, e Renato, eu achava (e ainda acho) o negro e o homossexual os mais engraçados daquele grupo “Os Trapalhões”. Não é a toa que você e o Dedé perderam a visibilidade depois que eles faleceram.
Para encerrar, deixo aqui o documentário “O Riso dos Outros”, do Pedro Arantes, que contribui bastante com o debate.
(http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/blogueira-globo-esculacha-pobres-em-artigo-espantoso.html).
https://www.youtube.com/watch?v=uVyKY_qgd54
É, pois é!
ResponderExcluirOlha outra besta que sobrou daqueles tempos:
https://www.youtube.com/watch?v=Rk2aUsw600Q
Eduardo