quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O rigor e o "eu acho"...

POR BELINI MEURER

O pensador grego antigo, Platão, em seus diálogos da República, definia toda a estrutura do conhecimento humano a partir de duas categorias: episteme e doxa. Na primeira, o filósofo retratava o conhecimento a partir de um rigor na sua produção, elaborado sob uma depuração de tudo aquilo que pode interferir na validade; para o segundo, o ateniense apresentava o conhecimento como contrário ao seu anterior, algo apenas opinativo e que por isso, não podia ter a pretensão de verdade.

A preocupação do discípulo do Sócrates não difere tanto daquelas dos pensadores dos tempos atuais que caracterizam outros dois conceitos, mas que obedecem a mesma lógica: estrito senso e lato senso. De um lado a preocupação científica, com seu rigor acadêmico nas pesquisas, e, do outro, o conhecimento sem qualquer elaboração, a opinião. Para alguns, o tal de "eu acho".

Longe de se ter a pretensão de buscar uma verdade absoluta, o que se quer refletir aqui é a força do senso comum, na opinião pública, o tal do "eu acho" que se impõe, criando debates frágeis e com dados insustentáveis. Certamente que o senso comum não deve ser descartado, exatamente porque ele é o próprio conhecimento bruto a ser lapidado.  Entretanto, a pretensão da cientificidade é se despir de toda e qualquer manifestação do senso comum, como ideologias, crenças religiosas, costumes, tradições e concepções sobrenaturais etc.

A dificuldade do tema é que nos tempos atuais, com as facilidades das midias interativas, com publicações facilitadas,  o que perpassa por entre as pessoas é uma visão de mundo despida de qualquer rigor científico. Isso acontece também com mais facilidade porque parece haver entre as pessoas uma predisposição a acreditar em algo simples, mas recheado de símbolos.  

E assim, quando aparece um expoente midiático afirmando algo - mesmo que fechado em uma doxa, em um senso comum, parece logo ocorrer uma onda geral e muitos indivíduos passam a ter algo a dizer, mas requentando o que fora dito. Isso faz lembrar o que já dissera o pensador francês, Jean Baudrillard: "Bobagem, as massas resistem escandalosamente ao imperativo da comunicação racional. O que lhes dá sentido e o elas querem, é espetáculo".




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