POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quem lê gosta de debater. Quem debate se educa para a
democracia. Quem é democrata sabe conviver com ideias diferentes. Mas nos dias
que correm no Brasil, é difícil aceitar muitas dessas “ideias diferentes”.
Porque estão fundadas no sectarismo de classe, na informação precária e na
fragilidade de caráter.
Tudo isso para apresentar Rachel Sheherazade. Já disse aqui
mesmo que é apenas uma burguesinha mimada a quem alguém, de forma imprevidente,
deu um microfone e espaço midiático para dizer besteirinhas. Em tempos de
insanidade intelectual, é natural que ela tenha se tornado referência para energúmenos
que criam aranhas no cérebro.
Mas por que falar nela? Respondo com uma
pergunta aos leitores: que mulher no Brasil seria capaz de vir a público defender
o deputado federal Jair Bolsonaro, na cafajestada a envolver a deputada Maria
do Rosário: “não lhe estupro porque você não merece”. Sim, Rachel Sheherazade
foi capaz de tentar explicar a insanidade. A moça não para de se superar.
Mal surgiu o escândalo, ela correu a escrever um texto
no seu blog para livrar a cara do boçal Bolsonaro. Mas rolou uma comédia de
erros. Porque no seu arrazoado ela recorreu a mentiras já desmascaradas
milhentas vezes, uma delas, inclusive, surgida num blog de humor (que não faz
rir). Ora, um jornalista não deve checar as informações?
Então, qual o problema de Sheherazade? Não é apenas o
fato de ser uma jovem reacionária. O que não se aceita é a fragilidade
intelectual e moral das suas análises. Porque entre as pessoas com projeção na
mídia brasileira, ela deve ser uma das mentes femininas mais tortuosas, iliteratas e
arrogantes. É a incultura a fazer escola.
Tenho saudades daqueles tempos em que era possível
ouvir os caras de direita sem ter frouxos de riso ou vontade de cortar os
pulsos. Essa ascensão da mediocridade, que dá significância a insignificantes como
Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Olavo de Carvalho ou a própria
Sheherazade, só mostra uma cultura ladeira abaixo rumo ao terceiro mundo.
A sorte é que esse exército de "chiens de garde" é formado por lulus intelectuais: fazem muito barulho mas não mordem. E foi por isso que mal viu a cagada, ela correu apagar o post. Foi sensato, mas também covarde. E, claro, uma admissão explícita de fragilidade intelectual.