segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A Arte da Mentira Política

POR JORDI CASTAN

Na reta final da campanha eleitoral, quando os ânimos estão exacerbados ao extremo e quando a eleição está polarizada entre dois candidatos que tem visões de país e valores diferentes, achei oportuno resgatar um texto publicado em julho de 2010 no jornal A Notícia.

Não lembro de uma campanha de mais baixo nível que a atual. É verdade que a candidata a reeleição ou o ventríloquo que a controla já avisaram que "fariam o diabo" confesso que não esperava tanto. E esse é um erro de avaliação grave, da minha parte, deveria ter imaginado, mas teria ficado curto.

O desespero dos que correm o risco de ser apeados do poder é evidente e os leva a radicalizar isso nunca é bom. Perder o poder é um castigo muito forte para quem durante 12 anos tem tido dificuldade em separar o público do privado. Voltar a ser cidadãos normais pode representar um duro golpe para algumas figuras que sempre têm vivido pendurados nas tetas do dinheiro público.

Igualmente é dura a situação dos que, faz já doze anos, não têm acesso ao Governo Federal. Os ânimos estão acirrados demais, ambos lados radicalizam e na reta final da campanha lembro da cena de um filme de Marx, os irmãos Marx, não o Karl que tantos admiradores tem neste blog. "Mais madeira que é a guerra" é o grito de ordem. Hora de colocar toda a lenha no fogo e de seguir fazendo o diabo.




O Brasil já perdeu o resultado será um país rachado ao meio, entre nós e eles, entre norte e sul, entre ricos e pobres, entre vermelho e azul.

'As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de uma eleição.' (Otto Von Bismarck)

A arte da Mentira Política


Recentes estudos comprovam o que todos já estamos carecas de saber. Todos mentimos, a diferencia reside na quantidade de vezes e no tamanho das mentiras. Mark Twain escreveu que “ Ninguém poderia viver com alguém que falasse sempre a verdade.” E é hoje que a sua afirmação se mostra profética.

Especialistas fazem questão de diferenciar as pequenas mentiras, aquelas chamadas caridosas, como por exemplo quando alguém próximo nos pergunta: você acha que engordei? Ou os contadores de historias, Quando todos sabemos que tudo não passa de um exagero ou de uma fabulação, neste grupo é fácil encontrar pescadores e namoradores. Que não podem ser colocadas no mesmo nível que aquelas proferidas pelos mitômanos profissionais, aqueles que tem como objetivo enganar, burlar e se aproveitar da boa fé dos outros.

Neste quesito ninguém consegue um refinamento maior que os nossos políticos. Inclusive já em 1600 o escritor britânico Jonathan Swift escreveu o seu tratado da Arte da Mentira Política, livro de leitura obrigatória em curso de graduação e doutorado, que mostra com todo luxo de detalhes a refinada técnica que deve ser desenvolvida para poder mentir com profissionalismo.

A arte da mentira, requer alem da teoria, a pratica. Só a pratica diária leva a perfeição. Entre as dicas que devem ser seguidas a risca pelos mitômanos profissionais, destacam a de não estabelecer prazos curtos para as promessas que façam, porque podem ser verificados pelos eleitores. Por isto não é recomendável dar datas exatas para inauguração de Parques, praças, PAs (Pronto Atendimentos), ou para asfaltamento de ruas e construção de binários. Sempre é necessário deixar a porta aberta para o imponderável, como desapropriações ou chuvas.

Outro tema que merece ampla discussão é se o povo, tem ou não direito a saber a verdade, a opinião geral é que o povo formado por gente ignara e pouco preparada, deve ser enganado sistematicamente, que não pode e não deve, pelo seu próprio bem, ser confrontado com a verdade.

É verdade, contudo, que frente as mentiras contumazes dos políticos profissionais, o povo responde com as suas. Numa ingênua forma de resposta e equiparação, comentando e fofocando, que fulano engordou no governo, que comprou casa na praia, ou que uma vizinha assegura que a mulher fez uma plástica, paga por um empreiteiro. Tem quem assegura que aquela ex-miss, teria sido a sua amante. Mentiras tolas, que o povo usa para, tentar se equiparar aos verdadeiros gênios do dissimulo e da truanice.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

16 de outubro: comemorar o fim da fome

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
16 de outubro de 2014. Antes de falar neste dia histórico, faço uma recomendação. Não leia se você  você que não está nem aí para a pobreza ou a fome. Ou se acha que no tempo dos senhores emplumados é que era bom. O texto  é escrito apenas para pessoas que se importam. Ou seja, pessoas que são solidárias com os mais fracos e hoje, pela primeira vez na vida, vão poder comemorar o Dia Mundial da Alimentação com a fome estrutural tendo sido erradicada do Brasil.
O fato é que estamos a falar de uma revolução. Porque no Brasil havia uma revolução simples de realizar: fazer com que todos os brasileiros tivessem refeições à mesa diariamente. Muitos não lembram – ou sequer sabem – mas houve um tempo em que ler “Geografia de Fome”, de Josué de Castro, era uma obrigação acadêmica. A fome era uma vergonha nacional. De décadas.
Mas a revolução aconteceu. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apresentou, há algumas semanas, o seu mapa da fome. E o Brasil não está lá. Ou seja, está a vencer a guerra contra o anacronismo da fome estrutural. É um momento histórico. Mas por que não há grandes reportagens na imprensa? Por que os brasileiros não estão a celebrar? O silêncio é gritante (perdoem o trocadilho).
A notícia foi recebida com indiferença e quase não repercutiu. Talvez por causa da proximidade das eleições e dos interesses específicos. Uns consideram conveniente olhar para o lado e fingir que nada houve. Outros talvez não tenham sabido capitalizar uma notícia tão positiva. Aliás, vi o extremo ridículo: um “jornalista” a culpar o governo por, nos últimos 12 anos, ir “da erradicação da fome à epidemia de obesidade”. Hã!?!?
A notícia é boa, mas o combate à fome não deixa de ser uma prioridade. De acordo com o relatório da FAO, há 3,4 milhões de pessoas (1,7% da população) que ainda não se alimentam de maneira suficiente todos os dias. E saco vazio não para em pé. Mas a saída do Brasil da lista dos países incapazes de prover a segurança alimentar dos seus cidadãos é motivo de otimismo. Até porque permite projetar novas “revoluções”.

O Brasil vive um momento de transição. Vamos esperar pelo veredito das urnas e ver o rumo que o País vai tomar. Se vai investir nas políticas sociais ou se vai trilhar os caminhos neoliberais. De qualquer forma, a revolução do arroz e feijão já aconteceu e agora podemos avançar em direção ao vaticínio daqueles músicos titânicos: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

É como diz o velho deitado: "A fome é má conselheira".

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Empresário vota no PT?

POR GUSTAVO ANDRÉ GUTZ


Recebi alguns questionamentos nos últimos dias. Um deles foi que era uma incongruência eu ser empresário e nessas eleições estar apoiando o PT. Resolvi elencar alguns dos motivos, sendo alguns ligados à área de Tecnologias da Informação.

1) Pequenas e médias empresas renovaram seu parque de informática utilizando-se da MP do Bem para Equipamentos de Informática (desoneração de impostos) e financiaram via Cartão BNDES em 24 vezes. Hoje tablets, computadores e smartphones são vendidos com isenção de PIS e COFINS.

2) Bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil) emprestam dinheiro para compra de veículos e equipamentos, e trocam recebíveis (boletos e compras no cartão) com juros abaixo do mercado. Isso não significa que operam com prejuízo, mas sim que emprestam com juros menos escorchantes que os bancos privados.

3) A fábrica da BMW em Araquari só foi transformada numa realidade porque o Governo Federal editou o pacote INOVAR-AUTO, possibilitando a empresa também se beneficiar da redução de impostos na venda de seus carros.

4) Várias empresas da área de TI receberam aportes do BNDESPAR e puderam aumentar seu corpo local e ainda poder atuar no exterior.

Devido a essas políticas destinadas ao crescimento das micros, pequenas e médias empresas, vejo um futuro ainda melhor com a continuação do governo atual. No debate entre o atual ministro da Fazenda e o indicado por Aécio não vislumbrei nas palavras de Armínio Fraga que essas políticas serão continuadas caso o PSDB vença. Pelo contrário, ele sinalizou a redução da participação dos bancos públicos nos investimentos.

Fontes:
MP DO BEM: http://info.abril.com.br/noticias/mercado/governo-prorroga-mp-do-bem-ate-2014-16122009-42.shl
Cartão BNDES: http://conhecer.cartaobndes.gov.br/
Bancos Públicos: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/07/selic-cai-para-8-ao-ano-e-bancos-publicos-reduzem-taxas-de-linha-de-credito
INOVAR AUTO: http://www.novidadesautomotivas.blog.br/2013/02/bmw-e-habilitada-no-inovar-auto-e.html
BNDESPAR: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Noticias/2013/mercado_de_capitais/20130208_linx.html

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

As pirações políticas.


Violência, postes e cachorros

POR JORDI CASTAN

O Brasil é hoje um dos países mais violentos do mundo. Entre as 50 cidades mais violentas do mundo, quase duas dezenas são brasileiras. Aliás, praticamente todas se encontram no hemisfério sul e em países em desenvolvimento. Assusta o nível de violência a que a sociedade brasileira tem se habituado.

É difícil acreditar que este aumento da violência não tenha uma resposta firme da sociedade. Há uma insensibilidade e uma aceitação desta situação, que ganha corpo a ideia que a violência é irreversível e está fora de controle e por isso o Estado não tem condições ou meios de enfrentá-la.

Não há dia em que a imprensa não noticie algum homicídio, assalto, roubo ou a destruição de patrimônio público. Há uma banalização da violência e isso faz com que a sociedade deixe de reagir e acabe anestesiada frente à brutalidade quotidiana. Como resultado, deixamos de acreditar nas polícias e na Justiça e já nem denunciamos crimes menores Um fato que, entre outras coisas, distorce as estatísticas e falseia dados e indicadores, criando a ilusão de normalidade... até que alguém conhecido seja a próxima vítima.

O Brasil tem mais homicídios por arma de fogo que países como os Estados Unidos, aonde a venda e possessão de armas de fogo é livre. O Brasil tem mais mortos por violência que a maioria de países com conflitos armados declarados, incluindo estados em guerra aberta e isso em quanto o país enfrenta uma situação de declarada "normalidade". 

Saúde, educação e segurança deveriam ser pauta obrigatória em qualquer processo eleitoral. Mas no Brasil estes temas ficam fora de um debate sério. A corrupção, o mau uso do dinheiro público e os escândalos que envolvem figuras públicas, em todos os níveis da administração, fazem que o combate a insegurança e à violência deixem de ser prioridade. Pior ainda. Recentemente foi noticia o caso um aposentado preso por disparar para se proteger, dentro da sua residencia, da ação de um criminoso. Essa história é tão comum no Brasil quanto poste mijando no cachorro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

BRANCO

POR CHARLES HENRIQUE VOOS


No primeiro turno destas eleições, conforme manifesto feito aqui no Chuva Ácida, votei na candidata do PSOL. Os motivos estão todos expostos naquele texto e pretendo segui-los. Sendo assim, creio que seja o momento de dizer o porquê do meu voto em branco no próximo dia 26.

O voto em Luciana no primeiro turno foi também um voto de protesto contra os três grandes da eleição - Dilma, Marina e Aécio, os quais monopolizaram a maioria dos debates nos últimos meses. São, também, candidatos que não representam uma "nova política". Independente de quem chegasse ao segundo turno, daria no mesmo.

Com a ida de Dilma e Aécio para o segundo turno, chegou a hora de tomar uma posição coerente com tudo aquilo que defendo. É evidente que o voto no PSDB de Aécio representa um retrocesso, não somente pelas lembranças de Fernando Henrique Cardoso, mas também por tudo o que este partido vem fazendo na história recente do Brasil em São Paulo, Minas Gerais, no Congresso Nacional e em Joinville, principalmente. 

Votar no PSDB de Aécio é concordar com o mensalão mineiro, com a falta de água em SP, com o cartel do metrô, com a intransigência da polícia nas áreas de ocupações irregulares, e todo o conservadorismo que marca os parlamentares tucanos em Brasília. Não consigo concordar com isto e nem com a filosofia dos seus aliados: Bolsonaro, Malafaia, Marina, e tantos outros. Puxando para a questão urbana, tema no qual me dedico a anos, votar em Aécio representa aceitar todo o esquema montado pelas grandes empreiteiras em prol dos tucanos nos últimos anos. É sabido sim que, quanto mais uma empreiteira injeta dinheiro em campanhas e em diretórios partidários, mais as cidades são formatadas em prol de interesses empresariais. 

E em Joinville tivemos secretário da saúde do PSDB preso por corrupção.

Somado a tudo isto, não podemos esquecer os 27 motivos para não votar em Aécio, link que faz sucesso na internet. 

Sobre a Dilma, preciso reconhecer todos os seus avanços no combate à desigualdade, combate à fome e à miséria. O Brasil tem políticas públicas reconhecidas mundialmente pela ONU e por entidades reconhecidas no estudo da desigualdade, como a Oxfam. Seria burrice de qualquer cidadão brasileiro não reconhecer este avanço. Por outro lado, e voltando à questão urbana brasileira, o governo Dilma representa o mesmo retrocesso que o seu oponente tucano. 

Os recentes incentivos às indústrias automobilísticas rasgam todos os preceitos estabelecidos no Estatuto das Cidades, juntamente com o que mais moderno vem se fazendo nos países desenvolvidos: a abolição do automóvel e o incentivo aos modos coletivos e/ou aos modos não-motorizados. Para dar suporte ao projeto da Copa do Mundo, o governo petista se aliou às grandes empreiteiras, diretamente interessadas na construção de novos estádios e suas respectivas obras de apoio (avenidas, pontes, infraestrutura para o transporte coletivo, etc). Ao mesmo passo que isso acontecia, milhares de famílias foram despejadas de suas casas sem o devido tratamento (segundo a BBC Brasil, mais de 250 mil pessoas foram afetadas). 

Por manter uma linha de coerência, creio que o ideal para quem defende a questão urbana brasileira seja, sim, o voto em branco. Antes que o leitor mais desavisado possa pensar que esta posição caminha rumo a uma neutralidade, antecipo o engano: é um posicionamento claro de que nem Dilma e nem Aécio me representam. Creio, por fim, que os dois também não representem as verdadeiras necessidades da política urbana brasileira. Independente de quem ganhar, as cidades serão as principais prejudicadas e, em consequência, os seus moradores. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Sul e o Norte

POR CAROLINA PETERS

O ódio é, acima de tudo, burro.
Quando mudei para São Paulo, aos 15 anos, conseguir uma informação para chegar do ponto A ao B era quase impossível. Começa que já sou meio desorientada mesmo; que não conhecia nadica de nada da cidade; que minha cartografia catarinense não conseguia ainda dimensionar as distâncias paulistanas. E acaba que eu falava cantadinho. Antes que eu terminasse o pedido, vinha a pergunta:

-- Mas você não é daqui, né?

Eu respondia que não. E como o olhar insistia em mais informações, dizia que vinha de Santa Catarina. Floripa? Não, Joinville. Ah, mas você não fala como gaúcho.. Claro que não.

Depois da mostra de ignorância geográfica, vinha uma enxurrada de elogios às belas praias, às gentes bonitas e educadas, a qualidade de vida. Ao pedacinho de Europa, surrada e maltrapilha, mas Europa, que cultivamos como se existisse no sul do país. Mas por que razão? Por que deixar Santa Catarina?

O bom de São Paulo é que as placas são várias e não sabem ainda falar.

Por vezes, um mesmo que elogiava o meu estado vinha confessar que os migrantes do Norte eram a grande mazela de São Paulo. Aprendi que em SP, ser nordestino é xingamento, daqueles mais variados. “Baiano”, por exemplo, pode querer dizer tanto cafona quanto sujo ou mal educado. A xenofobia nunca é arbitrária ou incondicional. Alguns de fora valem menos, outros, valem mais.

Na minha primeira semana em Fortaleza, folheando o jornal, me deparo com o comentário de uma leitora sobre a sondagem eleitoral no estado do Ceará, que dava à presidenta Dilma ampla vantagem sobre Aécio e Campos - era maio: “Depois há quem reclame de ouvir dos habitantes do Sul e Sudeste que nós, nordestinos, não sabemos votar.”

Gosto muito de uma gravura feita pelo pintor uruguaio Joaquín Torres García em 1943, um mapa invertido da América do Sul. “El Sur es el Norte” é um manifesto de independência artística das escolas europeias e uma afirmação de humanidade dos habitantes do sul do globo. Meu Norte é o Sul: Uma noção que me orienta, um nacionalismo que é libertador, que busca romper com os padrões hegemônicos e produzir seus próprios paradigmas. Que não é xenófobo ou excludente. O oposto do sentimento separatista com o qual convivi em Santa Catarina e São Paulo.

Pensei em um livro que li no início desse ano, relatos de uma jornalista portuguesa que cobriu os dias que antecederam a queda do ditador Hosni Mubarak no Egito em janeiro de 2011. Lá pelas tantas, ao comentar o tratamento que a imprensa internacional dispensava ao levante popular e os posicionamentos de diversos chefes de Estado, ela escreve “para o ocidente, a vida dos outros povos pode sempre esperar”.

O Nordeste cresceu nos governos do PT. Os programas de distribuição de renda movimentaram a economia em pequenas e grandes cidades; o aumento do salário aumento o poder de compra. A economia nordestina cresce mais que a média do Brasil. O nordestino que reelege Dilma o faz por convicção e reflexão, não por ignorância.

O ódio aos homossexuais, aos negros, a misoginia, marcaram o primeiro turno nos debates. Proferidos de maneira explícita por dois candidatos menores que não valem citação, encheram a bola de Aécio, para quem fizeram linha auxiliar, colaborando para levar o tucano ao segundo turno. Apesar do desempenho pífio presidencial, o ódio mais caricato mostrou força nas disputas proporcionais e na disputa pela vaga do senado nos estados.

Na segunda volta, toma conta o ódio de classe que separa o Norte e Nordeste explorados do Sul e Sudeste beneficiários.

Este, ao menos, tem sofrido consecutivas derrotas. Pesquisas recentes e conversas entreouvidas no transporte público indicam que a percepção de que a pobreza é resultado da falta de oportunidade e da desigualdade social, não da preguiça e da vadiagem, como se dizia, tem crescido. Espero que a tendência siga.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Um debate polarizado, de novo

POR CLÓVIS GRUNER

Encerrado o primeiro turno, poucas surpresas ‒ a vitória de Aécio Neves sobre Marina Silva é uma “meia surpresa” ‒ e uma certeza: a política brasileira tem dificuldade de se desvencilhar da polarização PT x PSDB. Desde o retorno das eleições diretas para presidente, em 1989, já foram sete campanhas; petistas e tucanos se enfrentaram em seis delas, com a vitória do PSDB em duas (com FHC em 1994 e 1998, no primeiro turno) e do PT em outras três (2002 e 2006 com Lula; e 2010 com Dilma, todas no segundo turno). Fora do governo há mais de uma década, tucanos e aliados tem sede de voltar a ele e farão literalmente qualquer coisa para isso. Os petistas, por sua vez, sabem que enfrentam seu pleito mais difícil, e que pela primeira vez desde a vitória de Lula há o risco real de saírem derrotados no dia 26 de outubro.

Não será uma disputa fácil, portanto. E embora seja uma espécie de mantra afirmar que o segundo turno é uma “nova eleição”, penso que algumas possibilidades podem ser aventadas com base nos resultados do primeiro. A começar pelo destino dos votos de Marina Silva. Desde o começo da semana, a candidata sinalizava o apoio à candidatura de Aécio Neves, confirmado ontem, no mesmo dia em que Aécio recebeu também o apoio do PV de Eduardo Jorge o PSOL de Luciana Genro declinou de apoiar um dos candidatos, embora desaconselhe o voto no tucano. De todos, certamente o de Marina foi o golpe mais duro para o PT, que provavelmente esperava uma posição neutra, a repetir a posição tomada em 2010. Por outro lado, o apoio a Aécio Neves, se confirmado, pode repercutir a médio prazo nas pretensões de Marina, que corre o risco de perder definitivamente a credibilidade adquirida entre aqueles setores mais à esquerda que, descontentes com os seguidos governos do petistas, depositaram nela alguma expectativa de renovação.

Não acredito, como parte da militância marinista, que sua derrota se deva aos ataques desferidos contra ela pela campanha de Dilma. Primeiro, porque Marina não foi exposta nestes dois meses de campanha mais do que o PT nos últimos 12 anos e de Dilma nos últimos quatro. Ambos sobreviveram, e com chances reais de emplacar o quarto mandato. Seu discurso careceu de solidez e pecou por excesso de ambiguidade. Se é verdade que Marina foi exposta pelo programa e pela militância petistas, sua derrocada se deveu também e, penso, principalmente, ao fato dela mesmo ter se exposto, revelando suas muitas contradições. E isso, me parece, contribuiu mais para a perda de votos que o confronto com a candidata petista.

Junto aos eleitores mais à esquerda, Marina perdeu votos em função de seus flertes com as políticas econômicas neoliberais ou sua capitulação frente às pressões de setores conservadores; à direita, porque tentou aproximar sua candidatura justamente daquelas políticas que estes setores rejeitam, como ficou claro no último debate, quando insinuou que seu programa era mais parecido com o de Luciana Genro do que com o dos tucanos. Pretendendo não ser de esquerda, mas também não de direita, defendendo um princípio vago de governar com “os bons” de todos os lados e matizes, Marina não só perdeu votos ao ponto de nem figurar no segundo turno. Mas turbinou a campanha de seus adversários, principalmente a de Aécio Neves, para onde parece ter migrado boa parte deles.

UMA CAMPANHA DE MEDO E ÓDIO – A meu ver, o pior de Marina Silva ter ficado de fora foi, justamente, o retorno à polarização PT x PSDB que a candidata, por um breve momento, chegou perto de dissolver. Particularmente, eu a preferia em uma disputa com Dilma Rousseff, mas certamente as lideranças e os marqueteiros petistas não concordariam comigo. Tanto que investiram parte de seu tempo e energia para forçar um segundo turno com Aécio e os tucanos, e não é difícil entender as razões. Sob certa perspectiva, Marina representava um risco maior à reeleição de Dilma, inclusive porque suas trajetórias e perfis são, em alguns aspectos, bastante próximos, o que dificultaria o discurso polarizado.

A polarização entre petistas e tucanos interessa ao PT, que poderá afrontar seu adversário ao longo dos próximos dias recorrendo a um discurso baseado principalmente no medo de um passado que muitos eleitores não querem de volta e, contra o qual, o PT se apresenta como o único antídoto. Com Marina, este discurso era mais difícil, porque seu passado e de sua legenda provisória, o PSB, incluía uma passagem pelo governo petista. Tendo ela como adversária, a candidatura petista precisaria deslocar o temor do passado para o futuro. Mas este, como sabemos, é um horizonte de expectativas e pode ser tanto lugar de receio como de esperança. Será preciso esperar o resultado do segundo turno para saber se os estrategistas de campanha acertaram. Tenho dúvidas.

Particularmente, penso que o PT terá de investir mais na tentativa de mostrar aos eleitores que tem capacidade de se reinventar, mesmo depois de 12 anos de governo. E isso me parece fundamental por pelo menos duas razões. Primeiro, porque a quantidade de votos dados aos candidatos de oposição, incluindo os chamados nanicos, sinaliza um claro desejo de renovação. Cabe à candidatura petista mostrar que é capaz de fazê-lo, preservando as conquistas que apresentou ao longo do primeiro turno como seus principais trunfos políticos. Além disso, a quantidade expressiva de votos nulos e brancos, somada a um alto índice de abstenção, deixa claro um outro tipo de descontentamento, não apenas com este governo, mas com o debate político tal como posto hoje, polarizado e pouco criativo. Conquistar parte deste eleitorado é tarefa ainda mais difícil.

Por outro lado, se Aécio Neves tem, a favor dele, o consenso narrativo forjado ao longo dos últimos anos, segundo o qual o PT é a matriz de todos os males, ainda não deixou claro quais são suas propostas e suas soluções para os problemas que acusa no governo petista. Com sua dupla derrota em Minas Gerais, fica mais difícil simplesmente dizer que pretende fazer pelo Brasil o que fez pelo seu estado depois de ter sido rejeitado pela maioria dos mineiros. Sua campanha, fundamentalmente, se alimentou do e repercutiu o ódio contra o PT, e seus eleitores parecem mais odiar o governo petista que, necessariamente, aprová-lo – e a onda de violência contra os votos de nordestinos e pobres nas redes sociais, desqualificando-os, são um indicativo disso. E num ambiente político de paixões exacerbadas e onde, historicamente, poucos são os eleitores que escolhem candidatos baseados em propostas e programas, há o risco que a polarização partidária reverbere em outra, ainda mais nociva à democracia: a que opõem o medo ao ódio. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O Papa Francisco e a ACIJ

Por JORDI CASTAN

Escrevi neste mesmo espaço faz poucas semanas que o resultado das eleições seria um suicídio para Joinville - Suicidio eleitoral 1 e Suicidio eleitoral 2 . Se você é leitor do Chuva, já estava sabendo o que vinha pela frente. Não era preciso ter uma bola de cristal para antever que com tantos candidatos locais e com tantos candidatos de fora garimpando votos em Joinville, o resultado não seria bom para a representatividade política da “maior” cidade do estado.

Sem surpresas. A campanha que a ACIJ capitaneou em prol de candidatos que defendessem os interesses de Joinville foi de uma estultice supina. Metade por pura desídia, e a outra por entender que a força da ACIJ nestes temas é equivalente a do Papa Francisco assomado ao seu balcão na Praça de São Pedro, conclamando palestinos e israelenses a buscar a paz, ou instando Putin a que cesse com suas agressões contra as ex- repúblicas soviéticas, ou a reduzir  as guerras e a violência em prol da paz mundial. O Papa faz o seu papel sabendo que nada mudará. A ACIJ fez o dela, e depois convidou aos eleitos para ocupar espaço na mídia e emplacar a imagem do tigre de papel que a entidade empresarial é em temas político-partidários.  

O resultado das eleições estava previsto: brancos e nulos aumentaram, em Santa Catarina 30%; em Joinville 35%,  bem maior que os 28% de votos perdidos na eleição passada. É bom lembrar que a mais alta de história. Depois ainda batem no peito dizendo que somos um povo politizado.  Candidatos de fora levaram mais votos que nas eleições anteriores, 19% frente aos 15% da eleição anterior, quando é preciso que se diga que  a entidade  se empenhou mais em defender o voto por Joinville. Assim se juntamos os votos brancos e nulos, os votos em candidatos de fora, e o excesso de candidatos sem expressão e sem possibilidades de ser eleitos, temos um quadro bastante claro de porque o resultado desta eleição foi um suicídio anunciado. A quem interessa? Essa é a primeira pergunta. Quem se beneficia? É a segunda.




Sobre as eleições presidenciais e o resultado do primeiro turno, ficou provado que não há nenhuma relação entre o resultado das urnas e o mapa do Bolsa Família. Que os estados em que há um maior numero de beneficiários do bolsa família sejam aqueles em que Dilma tenha tido melhores resultados, é pura casualidade. Todos aqueles que insistem em ver no Bolsa Família uma poderosa ferramenta para manter milhões de brasileiros dependentes de um beneficio público que não prevê a redução do numero de beneficiários, tampouco estimula sua inserção no mercado de trabalho e que estoura foguetes cada vez que aumenta o numero de beneficiados, estão errados. Não há nenhuma relação entre uma coisa e outra. Mesmo que os resultados das eleições insistam em querer mostrar que há. Por isso se alguém identificar alguma relação entre uma coisa e outra, deve ser porque os mapas dos resultados eleitorais foram elaborados  por algum instituto aparelhado para distorcer dados e informações e levar os eleitores a conclusões erradas.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A volta do velho Brasil bipolar

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Dilma Rousseff venceu. Sem surpresa. Mas os eleitores da atual presidente reagiram de maneira tímida, enquanto o pessoal de Aécio Neves comemora de forma efusiva. É uma questão de expectativas. A campanha de Dilma nutria uma esperança – remota – de arrumar a questão logo no primeiro turno. Aécio Neves tinha o pescoço no cepo e ir a segundo turno foi, antes de tudo, um alívio pelo fato de o machado não ter caído.

O entusiasmo dos tucanos é legítimo. Eles passaram as últimas semanas como figurantes e agora voltam à cena como protagonistas. Mas é melhor não ir com tanta sede ao pote. É só lembrar que nas eleições de 2010 o primeiro turno acabou com números não muito diferentes (Dilma 47%, Serra 33% e Marina 19%). Mas o segundo turno aumentou as distâncias e levou a um resultado largo:  Dilma (56%) e José Serra (44%).

Um fator a beneficiar o candidato do PSDB foi a disputa entre Dilma e Marina, nos últimos dias. Longe dos holofotes, Aécio Neves não teve que responder a perguntas incômodas e a sua imagem escapou incólume aos ataques dos adversários. Num segundo turno, o jogo será mais duro e a campanha de Dilma certamente vai recuperar a agenda de meses atrás. E ainda vamos ter que ouvir falar muito no aeroporto do tio, por exemplo.

É lógico imaginar que Marina Silva pode ser um elemento definidor no segundo turno, porque o seu apoio pode resultar em transferência de votos. Não foi assim há quatro anos, quando a sua candidatura tinha menos contradições, e não há razão para que aconteça agora. E a imagem de Marina Silva saiu chamuscada destas eleições. A tendência é de pulverização dos seus votos entre as duas candidaturas.

Tudo indica que há um namoro entre Marina Silva a Aécio Neves. Mas sabe-se que o apoio vai custar muito ao candidato tucano. O grande apoio de Aécio Neves tende a vir de certos setores mais conservadores da mídia, que, inclusive, já tinha atirado a toalha e desistido do seu candidato. É de prever fogo cerrado contra o Partido dos Trabalhadores, em especial com o tema da Petrobras. E também com factoides, claro.

Vai começar tudo outra vez e voltamos ao velho Brasil bipolar (em termos psicanalíticos também). Este segundo turno deve ser o mais apertado de todos, mas pelo menos os eleitores sabem com o que podem contar: o social versus o capital. Pelo que temos visto nos últimos tempos, é possível prever posições extremadas. Resta torcer pelo contrário. Para que não seja a democracia a principal derrotada.

Em tempo: se houve perdedores neste primeiro turno, não há dúvidas de que foram os institutos de pesquisa. Os caras não acertam mesmo.

É como diz o velho deitado: “Previsões só no final”.