sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Nos fios da teia #4















POR SALVADOR NETO

A guerra política pelo poder mexe com o país, e acirra os ânimos de governistas e oposicionistas. O povo, bem, o povo busca entender o que acontece fato, para compreender o que se passa...

Nas Teias do Poder, falamos mais. Falamos sobre Cunha, PMDB, Colombo, Udo, e mais algumas coisas.Vamos a mais fios da teia:

Tchau Cunha – Brasília produz figuras políticas nocivas que o povo nem sequer imagina como nascem, crescem, se desenvolvem e tomam o poder. Eduardo Cunha, do PMDB, ainda presidente da Câmara dos Deputados, é uma delas. Seu histórico de envolvimentos com desvios vem desde a época Collor e PC Farias. Com base nos dutos criados a partir dos cofres públicos em alianças com grandes empresas e empreiteiras, chegou a chantagear a Presidência da República, parlamentares e até o STF. Escrúpulos? Ele não tem nenhum.

Tchau Cunha 2 – Finalmente o procurador geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF a destituição de Cunha da Presidência da Câmara. Atrasadíssimo! Diante das manobras claras de Cunha para intimidar, protelar, burlar o processo contra ele no Conselho de Ética, e impulsionar o processo de impeachment contra Dilma, o pedido já era para ter sido feito há dois meses. Agora, os eminentes ministros do STF avisam: só em fevereiro de 2016. Enquanto isso se dane o Brasil.

PMDB arranhado – O partido fiador da retomada da democracia – claro, também o único autorizado pela ditadura a funcionar à época – derrapou feio nas últimas semanas. O vice-presidente, e presidente do partido, Michel Temer, mostrou o jeitinho golpista, disfarçado, claro. Agiu nas sombras, e com cartinhas chorosas, para desestabilizar o governo do qual faz parte e foi eleito. O desejo? Assumir a Presidência sem sequer um voto. E colocar em marcha um plano neoliberal idêntico ao aplicado no país entre 1994 e 2002. Nem o Brasil, nem o PMDB, merecem.

PMDB arranhado 2 – Rachado, um lado com Temer, e do outro com Renan Calheiros e Picciani e governadores, o PMDB trava uma guerra intestina com seus quadros. O mais incrível é servir de ponte para um golpe branco para assumir outra aliança com tucanos, democratas (?) e outros menos votados, que não ganham eleições presidenciais no voto há quatro pleitos. Dizem, nos corredores de Brasília, que por trás disso tudo estão as “liberdades demais” ao Ministério Público Federal, Polícia Federal, nas investigações. Hummmm. Pelo que se vê na Lava Jato, faz sentido. Será?


Tchau Levy – Ungido por setores econômicos – bancos mais precisamente – o ministro da Fazenda Joaquim Levy chegou ao governo Dilma para dissolver a crise econômica que assumia grandes proporções. Com viés neoliberal, Levy aplicou algumas receitas, outras o Congresso não ajudou a aprovar por conta do clima “quanto pior, melhor para derrubar a Dilma”. O fato é que não deu certo, pois não brecou a inflação, não impediu a redução da atividade econômica, e jogou o governo Dilma contra os movimentos sociais e a maioria da população que a elegeu. Deve sair após o Natal. Vem aí um nome mais político, para a retomada do desenvolvimento.

Colombo – Hábil na comunicação, e no manejo da máquina publica para garantir um governo sem encrencas, Raimundo Colombo fecha mais um ano impedindo que a briga entre seu partido, o PSD, e o PMDB, se amplie a ponte de inviabilizar a convivência. Assinando convênios a torto e a direito, mas efetivando poucos deles, o lageano vai cozinhando todos em banho maria. No plano federal, com Dilma, mas sem muitas falas efusivas – sem dinheiro federal não governaria como hoje. Em SC, deixa seus partidários anti-Dilma descerem a lenha. E assim pavimenta seu caminho ao Senado em 2018. Com o PMDB. Anotem.

Colombo e Udo – A relação se mantém porque antes de Prefeito, Udo Döhler é empresário, e como tal, representa a classe, a ACIJ, etc, etc. Mesmo contrariado com a falta de mais presença do governo do Estado nas obras e ações de seu governo, o Prefeito é pragmático e busca não criar um inimigo, tanto para os negócios, quando para a política. Afinal, o PSD, partido de Colombo, vem com Darci de Matos na disputa, e com todo o apoio do deputado estadual Gelson Merísio (PSD), presidente do partido, da Assembleia, e com olho grande no Governo do Estado em 2018. Mas a dupla ColombUdo, UdoLombo, para a cidade inteira, não funcionou ainda.

Udo mãos limpas – A declaração do prefeito Udo Döhler ao jornal A Notícia esta semana foi um tiro que acertou muita gente. Disse ele: — Limpamos a máquina pública. Nos deparamos aqui com um cenário assustador de corrupção e desvios de conduta. A primeira vítima, e talvez a mais atingida, a classe dos servidores públicos municipais. A afirmação do Prefeito é grave, pois aponta que havia, ou há, ou houve há muito tempo, muita roubalheira e desvios! O que respondem os servidores? Vão aceitar a pecha? Mas, o tiro também pode ser no pé. O que foi feito para essa “limpeza” ter se efetivado? Só agora Udo afirma isso? O que pensam Carlito Merss, Marco Tebaldi, e até quem trabalhou com Luiz Henrique em seus dois mandatos e hoje estão com Udo no governo? Será que teremos um discurso a.U. e d.U. para a campanha?

Udo gestor – Na mesma entrevista, o Prefeito diz: — Quando me perguntarem qual a principal realização da minha gestão, vou dizer que foi ter modernizado e otimizado a gestão pública, ter devolvido as crianças às suas escolas, e ao povo os seus espaços de lazer e entretenimento. Estamos fazendo uma gestão honesta e focada no cidadão — disse Udo. Você também vê a cidade com os olhos do gestor Udo Döhler? Devolver crianças às escolas? Ao povo seus espaços? Será que falamos da mesma cidade? A que vivemos está perdida em buracos nas ruas, com praças e áreas de lazer abandonadas e com mato a cobrir seus espaços, e nos bairros... bem, nos bairros... nada.

Udo gestor 2 – O jornalista entrevistador não aprofundou as questões, ficou na superfície. Mas o Prefeito não falou sobre sua principal bandeira e forma de ver a administração pública. “Não falta dinheiro, falta gestão”. Foi nessa bravata que Udo ganhou os corações dos eleitores na reta final contra Kennedy Nunes. E também na fama de grande gestor da saúde. Hoje, a saúde está igual, a gestão atrasa fornecedores, não há pavimentação, obras fundamentais não saem do papel, as que existiam estão paralisadas, e o que diz Udo hoje? Falta dinheiro. Fomos enganados?

Udo 2016 – O Prefeito também diz estar preparado para as eleições do ano que vem. Realmente é invejável a sua saúde. Mas politicamente, terá mesmo essa força toda? Sem seu idealizador, mentor e guru na politica, Luiz Henrique da Silveira, terá a mesma capacidade de articulação, raciocínio e estratégia? O PMDB marchará unido com ele, ou muitos quadros preteridos por Udo estarão torcendo – e trabalhando – por outro nome? Xuxo (PP), Carlito (PT), Tebaldi ou Paulo Bauer (PSDB), Rodrigo Bornholdt (PDT), Adilson Mariano ou Camasão (PSOL), Darci de Matos (PSD), serão adversários de peso. E pode vir ainda um grande desafeto de 2012: Kennedy Nunes. Haja preparo. E resultados para mostrar, que hoje, convenhamos, são pífios.

Novo comando - Assim como em todas as províncias, Joinville não fica longe quando o assunto é troca do delegado regional de polícia, o antigo xerife da cidade. Afinal, não há cidade onde o bispo, o delegado e o prefeito não tenham seu devido poder. Após longos nove anos, Dirceu Silveira deixa o cargo de Delegado Regional de Polícia. Assume Laurito Akira Sato, que já trabalhou na cidade antes, e também com Dirceu. A mudança foi sentida por quem sai - não esperava - e comemorada por muita gente. O antigo delegado deixou marcas nem tão boas na sua gestão, como nos erros nos casos Maníaco da Bicicleta e Oscar do Rosário. O que virá agora, veremos. Se a segurança mudar de fato, sem factóides, e prevenção dos crimes, ótimo. É o que a cidade espera. Mas sintomática foi a reação de setores da força econômica: não gostaram. Mistério.


É assim, os fios da teia nas teias do poder.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Ereções 2016!


A mulher, o amante, o marido e as redes sociais

POR CECÍLIA SANTOS

A evolução da sociedade é realmente algo bizarro e contraditório. Nos últimos 100 anos, a tecnologia mudou radicalmente as formas como as pessoas se relacionam.

Na infância da minha mãe, meu avô levou os filhos de uma cidade de interior ao litoral de São Paulo num Fordinho a manivela, numa viagem de pouco mais de 300 km que levou 3 dias.


Pensar em se comunicar instantaneamente por voz e imagem com uma pessoa em qualquer parte do globo a um custo irrisório era, naquela época, uma fantasia improvável da ficção científica. E ainda assim o comportamento social parece ter evoluído muito pouco desde então. As pessoas continuam a ser quase tão moralistas quanto há 100 anos. 

A gente percebe que os papeis de gênero não mudaram quase nada quando um caso de traição vira assunto público e a mulher é o foco de todo escárnio e humilhação. A diferença é que, se antes era em praça pública, agora é nas redes sociais e no aplicativo Whatsapp.

A grande fofoca do dia aconteceu em Belo Horizonte. Um sujeito flagrou a própria mulher com um amigo seu entrando em um motel. O irmão do marido traído gravou um vídeo, alternando a função de videomaker improvisado com a de juiz da cunhada, a quem ofendeu com uma série de impropérios.

A cena toda é de um constrangimento absurdo. E aí a coisa toda se transforma numa espécie de festival de quem faz a piada mais engraçada e compartilhada, mesmo às custas da vida pessoal de uma mulher que está sendo destruída, que vai ser apontada na rua, pode perder o emprego, os amigos, a liberdade, e muitas vezes a coragem de seguir vivendo. 

Mas o importante é acumular seguidores às custas da dignidade alheia. Tristemente, já prevejo que dirão que ela será a culpada e merecedora de tudo de ruim que lhe acontecer, como castigo por ter traído o marido. Ao mesmo tempo, a traição masculina é prática comum e amplamente entendida e até tolerada.

Não é o caso aqui de discutir fidelidade e o contrato entre um casal. O problema é a diferença de tratamento dado ao homem e à mulher. Parece que, essencialmente, na nossa sociedade, o lugar do prazer não pertence à mulher. Muda a tecnologia, mas não muda a mentalidade.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Castelo de Cartas desmorona...


Ontem foi um dia muito simbólico na luta pelo fim da corrupção no Brasil. No mesmo dia a Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão na casa de Eduardo Cunha e enfim o Conselho de Ética decidiu pela continuidade das investigações contra Eduardo Cunha. Estas investigações podem resultar em censura do deputado ou até mesmo a cassação de seu mandato. 

Para quem convive um pouco no meio político, é nítido que o deputado, ao ser ver acuado, usou sua última arma: a aceitação do processo de impedimento de Dilma Roussef. O que por sua vez, fez o governo entender que ele não tem mais nada nas mãos e, talvez, apenas talvez, tenha caído essa cascata de inferidas contra Cunha. 

Não entro na questão do mérito do impedimento, pois é alvo de ampla análise e os juristas conceituados estão divididos, mas um dos pontos que advogam contra os manifestantes que pedem o impeachment nas ruas é esse apoio louco e inconsequente à Eduardo Cunha. Oras, apoiar um cara que não sai do olho do furacão dos noticiários sobre escândalos de corrupção e propina em troca que ele dê seguimento a um processo de impedimento é apoiar o Coringa para este matar o Pinguim. 

O que poucos observam é a linha sucessória, caso o impedimento, de fato, ocorra. Não há uma alma decente ou competente na linha sucessória e, amigos, cá entre nós, tirar a Dilma não mudará nada neste momento.

O PT e PMDB, em nível nacional, são partidos marcados por estigmas nada bons. O primeiro é tido como incompetente, olhar com atenção apenas para a Política Social e negligenciar a Política Econômica. O outro, é conhecido como uma meretriz de luxo, que nunca vai à cabeça do pleito, mas fica nos bastidores articulando e executando suas maldades. Reitero que o maior erro do PT foi se aliar ao PMDB e a prova disso é o divórcio litigioso que assistimos todos os dias.

É frustrante observar que o jovem se encontra desacreditado da política, e não é pra menos. Qual foi o último político que encampou um projeto bom e o levou até o fim? Dá pra contar nos dedos (de apenas uma mão). 


Nossa civilização chegou neste ponto de evolução através da guerra ou da política. Retroceder à guerra não é necessário tampouco benéfico, mas é imprescindível que melhore-se a qualidade dos que se envolvem na política bem como a participação da população, porque apenas ter contato com a política apenas através dos jornais e a grande mídia não é suficiente tampouco esclarecedor.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O bas-fond e os filhos da puta







POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O que vimos na “mininfestação” (mini+infestação) do último domingo? O bas-fond da sociedade brasileira saiu às ruas. Bas-fond? Sim. Apesar de terem rechonchudas contas bancárias, representam o que há de moralmente mais apodrecido em terras tupiniquins. Aliás, muitos não saíram propriamente às ruas. Em Joinville, por exemplo, os caras foram às ruas a bordo dos seus carros. Afinal, essa coisa da “luta política” exige sacrifícios, mas não é preciso exagerar. O dia estava quente.

E houve para todos os (des)gostos. Alexandre Frota posando de artista - e do bem. Tradição, Família e Propriedade no túnel do tempo a propor a era das trevas. Marombeiros que apareceram na fotografia de forma acidental. Uma professora paranaense com um sério déficit cognitivo. Um senhor que, num cartaz, pedia Tiririca na presidência (será ironia?). Muitas bandeiras dos Isteitis. Uma micareta ridícula feita por dançarinos apatetados. E um inacreditável flashmob num shopping, protagonizado por militantes de ar condicionado.

Uma senhora entrevistada pelo jornal português “Público” se disse decepcionada com a pouca adesão à manifestação. E deu mostras de quanto o brasileiro é solidário: “Sabe quando vai encher? No dia em que ela cortar o Bolsa Família daqueles filhos da puta. Aí vai encher”. Sim, você leu direito. Para essa senhora, que é gente de bem, os beneficiários dos programas sociais não passam de uns “filhos da puta”.

Aliás, a manchete do “Público” foi muito feliz. O jornal lusitano anunciou que o “Tea Party brasileiro” tinha saído às ruas. É a comparação que melhor define essa tranqueira que no domingo espalhou bílis em muitas cidades do Brasil. Gente que faz da ignorância um culto e da intolerância uma profissão de fé. Só é pena que a maioria nem saiba o significado de Tea Party. A qualidade intelectual dos caras não dá para tanto.

Mas há outros detalhes interessantes. O primeiro é a acentuada queda do número de participantes, que chegou a cerca de 70% em São Paulo. Outro é o envelhecimento dos protestantes, uma vez que a idade média passou dos 39,6 anos em março para 48,2 anos no domingo. É caso para pensar. Essa gente deve ter pelo menos sentido alguns eflúvios da ditadura. Já era tempo de terem juízo e deixarem dessa coisa de golpe.


É a dança da chuva.