terça-feira, 31 de julho de 2012

Público e privado


POR JORDI CASTAN

O post do Guilherme, na sexta-feira, despertou uma enxurrada de comentários de um e outro lado. Curiosamente o seu texto despertou um novo exército de zumbis - na verdade, um segundo exército de zumbis, porque o primeiro está acordado e pentelhando desde umas semanas - postando como enlouquecidos, uma repetição ensandecida de mensagens que insistem em que #joinvilletem.

Mas voltando ao post do Guilherme, é evidente que quando vários comentários do mesmo teor, utilizando as mesmas expressões e postados com diferença de poucos minutos chegam ao Chuva Ácida, é fácil identificar uma articulação de um ou outro interessado em replicar ou retuitar mensagens a favor de um ou em contra de outro.

O interessante dos comentários é que vários deles abordaram o tema do que é público e do que é privado e defendem a ideia que há que saber separar as duas coisas. Este é um tema interessante e que merece um debate mais profundo. O que é o público e o que é privado? Em que momento e como separar ou diferenciar um do outro? É ainda mais interessante este debate, dependendo do papel ou da importância do envolvido ou dos envolvidos.

Primeiro ponto que deveria ficar claro é que tudo o que envolve um candidato a prefeito de Joinville deve ser público. Foi o candidato quem de forma voluntária decidiu participar da campanha e aspira a ser eleito e governar a cidade e os seus cidadãos durante os próximos quatro anos. A partir desta premissa não há duvida, nada pode ser ocultado e tudo precisa ser transparente, diáfano e deve ser informado aos cidadãos.

Se analisarmos cada um dos candidatos a partir das informações que já foram divulgadas, os que são de domínio público e as que surgem dia a dia durante a campanha, os eleitores terão a oportunidade de votar melhor. Reduzir o risco de cometer erros e escolher o melhor candidato para governar Joinville.

Um dos candidatos declara abertamente a sua simpatia com a comunidade GLBT e o faz desde uma posição militante e firme. Ao fazê-lo, sinaliza que, caso seja eleito, seu governo fará uma gestão mais inclusiva, respeitará as diferenças. Um caso claro em que o privado influencia o público.

Outro mostra de forma escancarada o seu patrimônio, evidencia sem remorso que a vida pública lhe fez bem ao seu patrimônio privado, de novo há uma permeabilidade interessante entre um e outro. O eleitor atento saberá fazer a leitura correta do que é melhor para a cidade.

Tem ainda o candidato que exibe o seu bom fazer como gestor. Os resultados estão aí e os balanços das empresas são publicados periodicamente. A forma e o modelo de gestão são também públicos. Numa cidade como Joinville o modelo de gestão de cada uma das maiores empresas da cidade é um segredo a vozes.

O grupo de zumbis que invadiu as redes sociais com dezenas de mensagens com a etiqueta #ficacarlito, #joinvilletem ou #carlito+4 insiste em querer convencer os eleitores, através da exaustão, que agora a coisa engrenou, que ter um candidato honesto é um enorme diferencial nesta campanha e que a gestão do atual prefeito merece um voto de confiança. Alguém insistir de forma estulta que a honestidade do seu candidato é o seu grande diferencial nesta campanha é uma ofensa ao bom senso. Honestidade não é um diferencial para nenhum candidato. O diferencial é a desonestidade e neste caso um diferencial negativo. Por outro lado, a capacidade para arrumar a casa parece mais algo que faria mais sentido no currículo de uma boa faxineira que no de um candidato a prefeito de uma cidade com 500.000 habitantes. Levar quase quatro anos para conseguir fazê-lo mostra ainda pouca produtividade e empenho.

Cantar, gravar vídeos e fazer da pregação um projeto de vida não tem nada de errado, cada um é livre de praticar o culto que desejar. A crítica que se pode fazer, e é pertinente, e se o vídeo este bem produzido, se a música é ruim ou se será um sucesso. Nada disso me parece importante. Me preocupa sim quando alguém perde completamente a noção do ridículo, quando não há mais referencia e parece que tudo vale para alcançar o objetivo. Passo a imaginar alguém com este perfil chegando à prefeitura.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ele mudou de ideia...








Lembram daquele texto do Felipe Silveira a dizer que não votava no Tebaldi nem que o adversário fosse Satanás? Pois nada como o tempo para trazer a conciliação entre as pessoas. E eis que o Facebook revela que afinal ele gosta do Tebaldi. Eis a prova...


Quem é esse guri?


Respeito é bom...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há por aqui um leitor anônimo (espero que seja apenas um, porque se houver mais já será uma burricada) que não perde uma oportunidade para me exigir uma declaração de apoio a Carlito Merss. É uma obsessão do cara. E como eu já estou de saco cheio das abobrinhas desse energúmeno, hoje vou dedicar dois dedos de prosa ao assunto.

Sim, de fato há uma coisa que me liga a Carlito Merss: eu respeito o cara. Mais do que isso, eu respeito a sua história. Não vou ficar a filosofar porque a coisa é muito simples. Eu comecei a trabalhar na imprensa diária de Joinville na década de 80 e nem preciso dizer que era um tempo em que a ditadura - já um tanto enfraquecida, vale salientar -  ainda dava cartas. Permaneciam as estruturas autoritárias e não era fácil peitar o sistema.

É bom lembrar que nesse tempo ainda funcionava a lógica que vinha do tempo dos dois partidos: o partido do “sim” e o partido do “sim senhor” (no papel, o bipartidarismo acabou em 1979, mas os partidos de esquerda só foram legalizados mais tarde). Era o autoritarismo a dominar a vida das pessoas, a impor silêncios. Se na esfera privada as pessoas pensavam em liberdade, na esfera pública pouca gente se atrevia a questionar, brigar ou correr o risco de ir contra o poder instituído.

O jornalista que quisesse fazer alguma reportagem a envolver temas políticos, mesmo os mais irrelevantes, ficava sempre numa situação incômoda. Não havia dois lados a ouvir,  porque o contraditório simplesmente não existia. E não vamos esquecer que por muito tempo Santa Catarina foi governada por oligarquias que estendiam o seu poder por toda a malha social. Mas houve um momento em que surgiu um pessoal de esquerda – Carlito estava entre eles – que tinha os tomates no lugar. Que enfrentava o autoritarismo e mostrava a cara.

É certo que a ditadura perdera muito da sua força, mas ainda havia riscos. Você podia até nem ir preso, mas bastava um simples telefonema de um poderosão e os caras podiam arruinar a sua vida (o famoso "pedir a cabeça"). Eu próprio sou testemunha de que muitos tiveram prejuízos pessoais por terem feito oposição ao sistema. Aliás, pode parecer estranho para os mais jovens, mas houve um tempo em que ter um simples adesivo do Lula no carro podia provocar problemas no trabalho. Havia ameaças de demissão, trabalhadores marcados e aquilo que hoje chamamos assédio moral.

O fato é que como jornalista aproveitei para ouvir também a versão dessas pessoas nas minhas matérias. E como cidadão passei a admirar os caras. Porque finalmente começava a aparecer na cidade uma geração que demonstrava ter coragem intelectual e coragem física para mudar a situação. Aliás, vale o comentário: se é difícil ser de esquerda no Brasil, em Santa Catarina é ainda pior. Porque o fato de uma ditadura acabar não implica no fim da lógica do autoritarismo.

Eis as minhas razões, energúmeno anônimo. Mas duvido que você entenda. Porque parece que a sua noção de militância política é sentar à frente do computador e escrever meia dúzia de besteiras. E com a covardia do anonimato, claro. Os machos do teclado não gostam das pessoas que demonstram coragem física, dão o corpo ao manifesto e vão à luta.

P.S.: Aproveito para fazer uma pergunta: vocês sabem onde estavam, naqueles tempos, muitos desses caras de uma certa comunicação social que hoje faz da crítica Carlito Merss uma profissão de fé? Eu respondo: ou estavam caladinhos como ratos (fazendo do silêncio uma conivência) ou engajados no processo autoritário e aproveitando as benesses do poder para se ajeitarem na vida.