POR FELIPE SILVEIRA
Todas as manhãs, quando abro meu twitter, sou recebido com calorosos bons-dias dos futuros candidatos a Prefeitura de Joinville. Abro um sorrisão, feliz pela simpatia dos nossos homens públicos, e penso: esse dia vai ser bom! Pacientemente, aguardo mais twits, esperando que algum candidato diga algo sobre política mesmo, sobre o que pensa sobre a cidade, sobre direitos, sobre comunicação, sobre cidadania, sobre violência, sobre drogas...
Mas fico só no aguardo mesmo. Tem candidato filósofo, candidato jornalista (aquele que publica informações “importantes”), candidato que quer voltar no tempo, candidato revoltado e candidato analista. Só não tem candidato que discuta a sociedade, suas necessidades e costumes.
E não tem por um simples motivo: porque a sociedade não quer. Candidatos são um reflexo da nossa sociedade e seus discursos são frutos dos nossos anseios e cobranças. E, puta que pariu, nós estamos contentes com o que tem por aí.
Um bom exemplo do que eu estou falando é a questão da segurança pública. Eu não quero saber se o candidato (nesse caso ao governo estadual) promete aumentar o número de policiais. Infelizmente, essa é a discussão que importa para a sociedade, achando que isso resolve alguma coisa do problema da segurança pública.
Eu gostaria de saber qual político vai reformar a polícia. Esse, sim, ganharia meu voto. Qual candidato vai aproximar a polícia da comunidade? Qual vai proibir a prática ilegal de violência da polícia? Qual vai trabalhar pela redução de desigualdades? Afinal, sabemos que a violência é fruto da desigualdade, e não fruto da “vagabundagem”.
Da mesma forma, não quero saber qual político vai alargar ruas para que caibam mais carros (pode transformar tudo em rua que sempre vai ter engarrafamento se não mudar a lógica do transporte). Eu quero saber deles vai propor um verdadeiro debate sobre mobilidade urbana, no qual fique claro que a política individualista do uso do carro no dia a dia é nociva à sociedade. Quero saber qual vai fechar uma via de carro para abrir mais corredores de ônibus, qual vai criar uma empresa pública de transporte para que todos tenham o direito de ir e vir garantidos, já que o modelo atual de transporte privatizado provou o seu retumbante fracasso na garantia desses direitos assegurados pela Constituição.
No entanto, é cada vez mais claro que a sociedade, no geral, não quer saber de nada disso. A maioria só quer saber de entrar no seu carrinho e não ficar tanto tempo no trânsito. Pra isso, quer avenida mais larga. Vão dar com os burros na água. Ou vão se jogar na água... sei lá.