POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje é feriado em Portugal. É o Dia da Liberdade, como se ensina às crianças nas escolas, ou da Revolução dos Cravos, como ficou mais conhecida em todo o mundo. Mas por que falar de um evento num lugar tão distante do Brasil? Há muitas razões de interesse. Portugal tem sido notícia porque muitos brasileiros de classe média – e são mesmo muitos – decidiram rumar para o outro lado do Atlântico à procura do que pensam ser um novo eldorado.
É um momento sociológico interessante. Ainda não notei pessoalmente, mas tenho lido que começam a surgir anticorpos na sociedade portuguesa em relação a muita dessa gente. Pelo que pude entender, acusam a coxinhada de ter um comportamento pouco condizente com uma sociedade mais igualitária. Eis o problema: no Brasil, essa classe média se considerava superior e agora procede da mesma maneira no novo país. É o jeito errado.
O que isso tem a ver com a Revolução dos Cravos? Não pretendo falar de história, mas de ironias. É importante informar aos coxinhas – que hoje, um belo dia de sol, certamente estão a desfrutar do feriado – que essa foi uma revolução das esquerdas (à qual a direita se juntou, à sua maneira) e na qual os socialistas e os comunistas tiveram papel determinante. Ah... não se estressem. Ser comunista ou socialista em Portugal não assusta.
E temos a grande ironia, em especial para aqueles que no Brasil vivem a pedir a volta dos militares. É que o movimento revolucionário português tinha, entre as suas lideranças, militares com ideais de esquerda. O quê? Militares de esquerda? Não, não é ficção. Mas é claro que não estamos a falar de “generais de dez estrelas que ficam atrás da mesa com o cu na mão”, como no Brasil. Essa gente sempre disposta a defender privilégios, como as tais pensões para filhas de militares, por exemplo.
É bom viver num país onde ninguém pede a volta da ditadura. Se pedir é reconhecido como maluco. Nem ter que aturar os “mourões” que por vezes saltam do pijama e vêm para a praça pública ameaçar com intervenções. Aliás, acabo de ouvir na televisão um líder do movimento de abril a pedir mais atenção para a pobreza que ainda persiste. “Onde não há pão não há democracia”, disse. Eis a diferença. Os militares do abril português são uma espécie de reserva moral da nação, enquanto no Brasil eles apenas zurzem ameaças.
É bom viver numa democracia. E deixo um conselho para a coxinhada. Em Roma sejam como os romanos. Tentem aprender a se comportar como quem vive numa numa sociedade com menos desigualdade. Mais do que isso, que se libertem do ideário de apartheid social que insistem em protagonizar no Brasil. E vão perceber que ter saúde, educação, transportes e segurança é bom, mas que é melhor quando é para todos.
Enfim, são todos bem-vindos, coxinhas ou não. Comunistas, socialistas, sociais democratas, verdes, democratas cristãos e outros estão prontos a recebê-los de braços abertos. Mas mudem o mindset. Não venham estragar uma cultura democrática que a Revolução dos Cravos permitiu construir ao longo dos últimos 44 anos.
É a dança da chuva.
Parabéns Baço, pelo artigo. O paralelo que fizeste entre Brasil e Portugal é muito pertinente. Nossa esperança é que o sangue português que corre em nossas veias brasileiras prevaleça. Ronaldo Aidos - Joinville.
ResponderExcluirQuem não gosta de democracia é a esquerda.
ResponderExcluirAcéfalo...
Excluiracéfala é a esquerda.
Excluir"Acéfala é a esquerda". E lá voltamos nós para a quarta série do primário.
ExcluirTambém teriam sido os coxinhas os responsáveis em estragar a "cultura democrática" de Cuba, Venezuela, China, Coreia do Norte, antiga União Soviética e RDA?
ResponderExcluirHããããã!?!?!?
ExcluirAinda bem que a revolução dos cravos não foi uma revolução da esquerda (vamos encarar os fatos?), mas uma vitória da democracia... a não ser que o Baço acredite piamente que a esquerda marxista, a qual ele defende, é democrática.
ResponderExcluirOh... zeus... que tédio...
ExcluirTedio? imagine a gente aqui no Brasil a aguentar este tipo de discurso fascista o todo momento.
ResponderExcluirBaço, essas colocações estapafúrdias já viraram rotina no Brasil. Temos que aguentar "verdades", como a que diz que o nazismo é de esquerda, em redes sociais e em conversas com amigos e parentes.
ExcluirO nosso "novo normal" é hipersimplificação da realidade e a reinterpretação arrogante da história por quem não a estudou.